Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor a fim de observar o sofrimento
humano. Na abordagem da psicanálise, o sofrimento prolongado causado por outra pessoa
pode ser analisado em termos de motivações conscientes e inconscientes. Vou
explicar esses conceitos para o leitor.
Consciente:
Os motivos conscientes são aqueles que estão acessíveis à nossa consciência.
São pensamentos, sentimentos e desejos que temos clareza de que existem e
podemos identificar facilmente. Quando uma pessoa suporta muito sofrimento
causado por outra pessoa, ela pode ter algumas motivações conscientes para
isso:
Medo
de consequências: A pessoa pode temer que, se confrontar ou se opuser ao
agressor, isso poderá resultar em retaliações, violência física ou emocional,
perda de relacionamentos importantes, entre outros. Assim, ela pode optar por
suportar o sofrimento para evitar essas possíveis consequências negativas.
Dependência
emocional: A pessoa pode depender emocionalmente do agressor, sentindo-se
ligada ou apegada a ele de alguma forma. Ela pode temer ficar sozinha, perder o
amor ou a aprovação do agressor, ou pode acreditar que não pode viver sem essa
pessoa. Essa dependência pode levá-la a tolerar o sofrimento, esperando que a
situação melhore ou por acreditar que não merece algo melhor.
Inconsciente:
Os motivos inconscientes são aqueles que estão ocultos de nossa consciência.
São conteúdos psicológicos que estão fora de nosso alcance imediato, mas podem
influenciar nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Quando alguém suporta
muito sofrimento causado por outra pessoa ao longo do tempo, podem existir
motivações inconscientes em jogo:
Repetição
de padrões: A pessoa pode estar repetindo um padrão inconsciente de
relacionamentos que já ocorreu em sua infância. Por exemplo, se ela teve
experiências de abuso ou negligência na infância, pode encontrar-se em
relacionamentos abusivos ou tóxicos sem perceber, como forma de repetir e tentar
resolver essas experiências passadas.
Complexo
de culpa: A pessoa pode carregar um sentimento inconsciente de culpa,
acreditando, de forma distorcida, que merece ser punida ou maltratada. Esse
complexo de culpa pode estar relacionado a eventos passados ou a questões
inconscientes mais profundas. Como resultado, ela pode atrair relacionamentos
abusivos e continuar a tolerar o sofrimento, buscando inconscientemente se
punir.
Consciente
(continuação):
Esperança
de mudança: A pessoa pode ter a esperança de que o agressor vai mudar seu
comportamento no futuro. Ela pode acreditar que, com paciência e tempo, poderá
ajudar o agressor a se transformar em uma pessoa melhor. Essa esperança pode
mantê-la presa à situação, mesmo diante do sofrimento contínuo.
Baixa
autoestima e desvalorização pessoal: A pessoa pode ter uma autoimagem negativa
e sentir-se inadequada, indigna ou incapaz de encontrar uma situação melhor.
Isso pode levá-la a aceitar o sofrimento como algo que merece ou como o máximo
que pode obter na vida. A falta de confiança em si mesma pode dificultar a
busca de uma saída da situação abusiva.
Inconsciente
(continuação):
Identificação
com o agressor: A pessoa pode desenvolver uma identificação inconsciente com o
agressor. Isso pode ocorrer quando ela internaliza características ou
comportamentos negativos do agressor, como uma forma de se proteger ou de
manter algum tipo de ligação com ele. Essa identificação pode dificultar a
capacidade de reconhecer a situação como abusiva e buscar ajuda.
Mecanismos
de defesa: A pessoa pode estar usando mecanismos de defesa inconscientes, como
a negação, a repressão ou a racionalização, para evitar lidar com o sofrimento
causado pelo agressor. Esses mecanismos de defesa ajudam a pessoa a afastar
sentimentos dolorosos e angustiantes, mas também podem mantê-la presa em um
ciclo de sofrimento repetitivo.
Consciente
(continuação):
Necessidade
de segurança financeira: Em algumas situações, a pessoa pode depender
financeiramente do agressor, o que pode dificultar sua capacidade de se
libertar do relacionamento abusivo. A preocupação com a estabilidade financeira
e o medo de enfrentar dificuldades econômicas podem levar a pessoa a tolerar o
sofrimento em prol de sua segurança material.
Idealização
do agressor: A pessoa pode idealizar o agressor, atribuindo-lhe qualidades
positivas ou vendo-o como alguém indispensável em sua vida. Essa idealização
pode ser resultado de projeções inconscientes de aspectos desejáveis ou de
carências emocionais não atendidas. A pessoa pode se agarrar a essa imagem
idealizada, mesmo diante do sofrimento causado pelo agressor.
Inconsciente
(continuação):
Fantasias
de resgate ou redenção: A pessoa pode ter fantasias inconscientes de que seu
sofrimento será recompensado ou que poderá salvar o agressor de seus próprios
problemas ou comportamentos abusivos. Essas fantasias podem ser uma forma de
lidar com sentimento de impotência ou de buscar um senso de propósito e
significado na relação, ainda que isso envolva sofrimento.
Experiências
traumáticas não resolvidas: Traumas passados não resolvidos, como abusos na
infância ou outras situações traumáticas, podem influenciar a capacidade da
pessoa de reconhecer e lidar com o abuso atual. Essas experiências traumáticas
podem estar enraizadas no inconsciente e podem levar a uma repetição de padrões
disfuncionais, mantendo a pessoa presa em situações de sofrimento.
É
fundamental destacar que cada caso é único, e essas explicações são apenas
exemplos gerais de motivações conscientes e inconscientes. A psicanálise busca,
por meio do processo terapêutico, trazer à tona esses aspectos ocultos,
ajudando a pessoa a compreender melhor suas dinâmicas internas e a desenvolver
estratégias para se libertar do sofrimento e promover seu bem-estar
psicológico.
Consciente
(continuação):
Culpa
e responsabilidade excessiva: A pessoa pode sentir uma culpa desproporcional em
relação ao abuso sofrido, colocando a responsabilidade pelo comportamento
abusivo do agressor sobre si mesma. Ela pode acreditar que merece o sofrimento
ou que é responsável por mudar o comportamento do agressor, levando-a a
suportar a situação por um longo período de tempo.
Falta
de recursos emocionais: A pessoa pode ter uma falta de recursos emocionais,
como habilidades de enfrentamento, autoestima ou suporte social, que dificultam
a saída da situação abusiva. A ausência desses recursos pode levá-la a
acreditar que não possui alternativas ou que não é capaz de lidar com as
consequências de romper o relacionamento.
Inconsciente
(continuação):
Repressão
de memórias traumáticas: A pessoa pode reprimir memórias traumáticas
relacionadas ao abuso, impedindo sua conscientização plena do sofrimento que
está vivenciando. A repressão é um mecanismo de defesa inconsciente que visa
proteger o indivíduo de sentimentos e lembranças dolorosas, mas também pode
perpetuar a tolerância ao abuso.
Complexo
de inferioridade: A pessoa pode ter um complexo de inferioridade inconsciente,
sentindo-se inadequada ou de menor valor em relação ao agressor. Esse
sentimento de inferioridade pode ser decorrente de experiências passadas,
dinâmicas familiares disfuncionais ou questões de autoestima não resolvidas, o
que a mantém presa no ciclo de sofrimento.
Consciente
(continuação):
Negação
da gravidade do abuso: A pessoa pode negar ou minimizar a gravidade do abuso
que está enfrentando. Ela pode tentar encontrar explicações racionais para o
comportamento do agressor ou atribuir a culpa a si mesma, evitando confrontar a
realidade do abuso. Essa negação pode ser uma estratégia consciente para lidar
com o sofrimento emocional intenso.
Baixa
autoestima e autorrespeito: A pessoa pode ter uma baixa autoestima e falta de
autorrespeito, o que a leva a tolerar o sofrimento causado pelo agressor. Ela
pode acreditar que não merece um tratamento melhor ou que não é digna de amor e
respeito. Essas crenças limitantes podem mantê-la presa em relacionamentos
abusivos.
Inconsciente
(continuação):
Complexo
de Édipo ou Édipo invertido: Em certos casos, dinâmicas inconscientes
relacionadas ao complexo de Édipo podem influenciar a tolerância ao sofrimento
causado por outra pessoa. Essas dinâmicas podem envolver desejos inconscientes
de obter a aprovação ou o amor do agressor, assim como sentimentos conflitantes
em relação a figuras parentais.
Padrões
de identificação e repetição: A pessoa pode repetir padrões de identificação
com figuras de autoridade abusivas presentes em sua história de vida. Essa
repetição pode ser uma tentativa inconsciente de dominar a situação de abuso ou
de buscar uma resolução inconsciente de conflitos não resolvidos com figuras
parentais, mesmo que isso resulte em sofrimento contínuo.
Compreendo
sua solicitação, continuarei com a explanação sobre as motivações conscientes e
inconscientes que podem levar uma pessoa a suportar muito sofrimento causado
por outra pessoa, segundo a perspectiva da psicanálise.
Consciente
(continuação):
Idealização
do relacionamento: A pessoa pode idealizar o relacionamento com o agressor,
focando nos momentos de harmonia ou nos traços positivos do agressor. Essa
idealização pode fazer com que ela suporte o sofrimento, na esperança de que as
coisas melhorem ou de que o relacionamento atinja o potencial desejado.
Medo
do desconhecido: O medo do desconhecido pode ser uma motivação consciente para
suportar o sofrimento causado por outra pessoa. Mesmo que a pessoa reconheça
que está sofrendo, ela pode temer enfrentar a incerteza de deixar a situação
atual e se aventurar em um novo caminho. Essa falta de familiaridade pode ser
assustadora e desencorajadora.
Inconsciente
(continuação):
Repressão
de desejos agressivos: A pessoa pode reprimir seus próprios desejos agressivos
em relação ao agressor. Esses desejos podem ser redirecionados para si mesma
como forma de evitar confrontações ou conflitos. A repressão desses desejos
agressivos pode levar à tolerância prolongada ao sofrimento infligido pelo
agressor.
Identificação
com a vítima: A pessoa pode desenvolver uma identificação inconsciente com o
papel de vítima, o que pode ser influenciado por experiências passadas de vitimização
ou dinâmicas familiares disfuncionais. Essa identificação pode levar a uma
crença subjacente de que ela não merece um tratamento melhor ou de que é
incapaz de romper o ciclo de abuso.
Consciente
(continuação):
Medo
das consequências: A pessoa pode temer as possíveis consequências negativas de
sair do relacionamento abusivo, como retaliação, ameaças ou consequências
legais. Esse medo pode levá-la a suportar o sofrimento para evitar possíveis
repercussões negativas.
Dependência
emocional: A pessoa pode desenvolver uma dependência emocional em relação ao
agressor. Ela pode sentir-se emocionalmente ligada e incapaz de se afastar,
mesmo diante do sofrimento contínuo. Essa dependência emocional pode estar
relacionada a carências afetivas, medo do abandono ou dificuldade em
estabelecer relações saudáveis.
Inconsciente
(continuação):
Mecanismos
de defesa intrapsíquicos: A pessoa pode recorrer a mecanismos de defesa
intrapsíquicos inconscientes para lidar com o sofrimento causado pelo agressor.
Esses mecanismos, como a negação, a projeção ou a formação reativa, podem
distorcer a percepção da realidade e impedir o reconhecimento da situação
abusiva.
Padrões
repetitivos: A pessoa pode repetir padrões inconscientes de relacionamentos
abusivos que remontam a experiências passadas. Isso pode estar relacionado a
dinâmicas familiares disfuncionais, traumas não resolvidos ou representações
internalizadas de relacionamentos abusivos. A repetição desses padrões pode
perpetuar o sofrimento e dificultar a busca por relações saudáveis.
Consciente
(continuação):
Sentimento
de responsabilidade pelo bem-estar do agressor [filho, namorado, esposo(a) e
outras figuras] : A pessoa pode sentir-se responsável pelo bem-estar do
agressor, acreditando que é sua obrigação cuidar dele ou ajudá-lo a lidar com
seus próprios problemas. Esse sentimento de responsabilidade pode fazer com que
ela suporte o sofrimento, sacrificando sua própria saúde e bem-estar.
Expectativas
sociais e normas culturais: A pessoa pode estar sujeita a expectativas sociais
e normas culturais que valorizam a manutenção de relacionamentos, mesmo que
sejam abusivos. Ela pode sentir pressão para manter a aparência de um
relacionamento saudável ou temer o estigma social associado ao término de um
relacionamento.
Inconsciente
(continuação):
Fantasias
de mudança ou redenção do agressor [filho, esposa(o), namorado e outras
figuras] : A pessoa pode ter fantasias inconscientes de que poderá mudar o
agressor ou redimi-lo de seu comportamento abusivo. Essas fantasias podem estar
ligadas a desejos profundos de ser amada e aceita, mesmo que isso envolva
suportar o sofrimento causado pelo agressor.
Necessidade
de repetição de padrões familiares: A pessoa pode inconscientemente buscar a
repetição de padrões disfuncionais presentes em sua família de origem. Isso
pode ocorrer como uma tentativa de resolver traumas não resolvidos ou de obter
uma sensação de familiaridade, mesmo que essa familiaridade esteja associada ao
sofrimento.
Consciente
(continuação):
Medo
da solidão: O medo da solidão pode ser uma motivação consciente para suportar o
sofrimento. A pessoa pode temer ficar sozinha, perder o vínculo com o agressor
ou enfrentar a sensação de isolamento. Esse medo pode levar ao comprometimento
da própria saúde emocional em prol da preservação de um relacionamento, mesmo
que tóxico.
Esperança
de mudança: A pessoa pode manter a esperança de que o agressor [filho,
esposo(a), namorado e outras figuras] mudará seu comportamento no futuro. Essa
esperança pode ser alimentada por promessas, momentos de arrependimento ou
mudanças temporárias no comportamento do agressor. A crença de que a situação
melhorará pode levar a pessoa a suportar o sofrimento por um longo período de
tempo.
Inconsciente
(continuação):
Repetição
de dinâmicas de poder e controle: A pessoa pode estar inconscientemente
repetindo dinâmicas de poder e controle presentes em seu ambiente familiar ou
experiências passadas. Ela pode estar replicando essas dinâmicas de forma
inconsciente, mesmo que isso signifique suportar o sofrimento causado pelo
agressor.
Identificação
com o agressor: A pessoa pode desenvolver uma identificação inconsciente com o
agressor [filho, namorado, esposo(a) e outras figuras], assumindo
características ou comportamentos semelhantes. Essa identificação pode ser uma
tentativa de ganhar controle ou poder na relação, mesmo que isso resulte em
suportar o sofrimento causado pelo agressor.
É
importante ressaltar que a psicanálise busca explorar essas motivações
conscientes e inconscientes para ajudar a pessoa a compreender os padrões
repetitivos, enfrentar seus medos e promover mudanças positivas em sua vida. O
objetivo do trabalho terapêutico é auxiliar a pessoa a desenvolver recursos
internos, fortalecer sua autonomia emocional e estabelecer relacionamentos saudáveis,
baseados no respeito, no cuidado e na proteção de si mesma.
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