Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Lídia, Poét.
é uma série da Netflix baseada na vida da primeira mulher advogada na Itália, Lídia
Poét., que lutou contra as normas discriminatórias da época. Na trama, Lídia
investiga crimes enquanto enfrenta desafios legais e sociais impostos a
mulheres no final do século XIX.
Pela
psicologia social, podemos entender que Lídia representa a resistência contra
normas opressivas. Sua história evidencia o impacto das pressões sociais e dos
estereótipos de gênero, revelando como a exclusão e a discriminação moldam
identidades e comportamentos individuais e coletivos
Para
um psicólogo assistindo a série Lídia, Poét., a história pode evocar processos
inconscientes, especialmente por meio dos temas de luta por autonomia,
repressão e confronto com normas sociais. Lídia Poét., desafiando leis e
preconceitos de gênero, pode ativar no psicólogo sentimentos de identificação
com a busca por reconhecimento e luta contra restrições externas – algo comum
na trajetória pessoal e profissional de muitos psicólogos.
Pela
psicanálise, podemos ver que essa série traz à tona questões ligadas ao
superego e aos mecanismos de defesa. O superego age impondo normas sociais e
culturais que podem reprimir certos desejos e vontades. No caso do psicólogo,
ao ver Lídia enfrentando essas normas, ele pode identificar conflitos internos
semelhantes, especialmente no que se refere a expectativas sociais sobre sua
própria prática e o desejo de desafiar o status quo para promover mudanças.
Assim,
ao assistir à série, o inconsciente do psicólogo pode projetar as suas próprias
frustrações, lutas por reconhecimento e desafios na carreira, especialmente se
ele já enfrentou barreiras culturais ou institucionais. A série funciona como
um espelho, onde o psicólogo pode explorar seus próprios desejos reprimidos de
transgressão e crescimento pessoal, enfrentando ou reconciliando-se com seu
superego que impõe limites e censuras.
Continuando
a análise pela psicanálise, a série pode estimular no psicólogo uma reflexão
sobre como seu desejo de ajudar as pessoas e de desafiar normas sociais talvez
seja, em parte, uma expressão de desejos inconscientes de libertação e
autoafirmação. O trabalho de Lídia representa uma busca por autenticidade e um
desejo de romper com padrões repressivos, algo que o psicólogo pode interpretar
como semelhante ao impulso de libertar seus pacientes de repressões internas e
conflitos inconscientes.
A
jornada de Lídia pode despertar no psicólogo um reconhecimento de suas próprias
lutas com o superego — aquela parte da psique que representa as regras e
expectativas da sociedade. O superego frequentemente nos leva a reprimir
desejos que podem ser vistos como “errados” ou inadequados, assim como Lídia
enfrenta essas normas ao desafiar as leis que limitam sua atuação profissional.
Além
disso, essa identificação pode trazer à tona o uso de mecanismos de defesa,
como a sublimação — onde o psicólogo, assim como Lídia, transforma suas
frustrações e tensões em atos produtivos e criativos, como o desejo de
transformar a sociedade ou lutar pela justiça. Em resumo, a série pode ser
vista como uma metáfora para a psicanálise em ação: explorar a tensão entre o
desejo individual e as barreiras impostas pelo inconsciente e pela sociedade.
A
psicologia social pode, sim, ser muito útil para apontar simbolismos na série
Lídia, Poét.. Essa abordagem foca em entender como normas, papéis sociais e o
contexto cultural influenciam o comportamento e as percepções das pessoas, além
de moldar a identidade. A história de Lídia, que desafia as normas sociais e
leis restritivas da época, pode ser interpretada como um estudo de resistência
e de identidade social.
Para
um psicólogo, a psicologia social oferece ferramentas para entender simbolismos
relacionados ao preconceito, à luta contra estereótipos e à influência de
normas de gênero. Ao assistir à série, o psicólogo pode explorar como Lídia
representa a quebra de expectativas sociais e como isso afeta sua identidade e
as reações de outros. Através desse viés, a série ilustra o impacto das normas
coletivas e a luta por autonomia pessoal em contextos de opressão, trazendo
insights que vão além das perspectivas individuais e tocam nas dinâmicas entre
indivíduo e sociedade.
Assistindo
à série Lídia, Poét., o psicólogo, pela perspectiva da psicologia social,
percebe como as normas e expectativas sociais moldam a identidade e o
comportamento dos indivíduos. Ele observa que Lídia desafia papéis de gênero e
enfrenta o preconceito institucionalizado, o que evidencia o peso das normas
sociais na vida das pessoas. Ele também pode ver como esses desafios afetam as
relações interpessoais de Lídia, destacando os conflitos entre as identidades
pessoais e as expectativas coletivas, e como isso reflete lutas por igualdade e
autonomia na sociedade.
A
série torna-se uma representação simbólica da resistência contra estruturas
sociais opressivas, ajudando o psicólogo a entender como o contexto cultural e
as normas podem incentivar ou restringir a autoexpressão e a liberdade dos
indivíduos. Além disso, essa análise permite explorar como os grupos sociais —
família, colegas e sociedade — reagem ao comportamento não conformista,
refletindo na série o impacto de pressões sociais que todos enfrentamos em
diferentes contextos.
Na
série Lídia, Poét., Lídia usa vários mecanismos de defesa psicanalíticos para
lidar com as pressões e obstáculos. Entre eles, destacam-se:
Racionalização:
Lídia justifica suas ações e sua ambição de ser advogada, buscando argumentos
lógicos para enfrentar os preconceitos e o sistema jurídico que a rejeita por
ser mulher.
Repressão:
Lídia reprime a frustração e o medo de ser rejeitada socialmente, focando em
seu trabalho e ignorando, muitas vezes, as emoções desconfortáveis que poderiam
desmotivá-la.
Projeção:
Ao enfrentar o julgamento de figuras autoritárias, Lídia projeta neles suas
próprias inseguranças, transferindo a eles a culpa por suas frustrações.
Sublimação:
Ela canaliza o desejo de reconhecimento social e a frustração com as normas
para uma causa maior: a busca pela justiça e igualdade, convertendo essas
emoções em produtividade e luta pelos direitos das mulheres.
Esses
mecanismos de defesa ajudam Lídia a se manter resiliente, protegendo-a do peso
emocional que as barreiras sociais impõem.
É
possível que o psicólogo, ao assistir a Lídia, Poét., acione inconscientemente
os mesmos mecanismos de defesa que Lídia usa na série. A identificação com a
protagonista, especialmente em sua luta contra normas sociais e em sua busca
por reconhecimento, pode fazer com que o psicólogo projete suas próprias
frustrações profissionais e dificuldades pessoais.
Assim,
ele pode estar usando mecanismos como:
Sublimação:
Canalizando suas frustrações com barreiras profissionais em ações produtivas
para ajudar os pacientes e contribuir para mudanças sociais.
Racionalização:
Justificando escolhas de carreira ou decisões difíceis com argumentos lógicos
que ajudem a contornar a autocensura e a pressão social.
Repressão:
Reprimindo suas próprias inseguranças sobre aceitação social ou sucesso para
manter a dedicação ao trabalho.
Assistir
à série pode, então, ajudar o psicólogo a refletir sobre esses mecanismos,
trazendo à consciência como ele também se protege emocionalmente em seu
contexto profissional e pessoal.
É
possível que Lídia, Poët inspire no psicólogo um desejo de atuar como psicólogo
social, movido pelo mecanismo de defesa da identificação. Ao ver Lídia
desafiando normas e promovendo justiça, o psicólogo pode sentir uma afinidade
com seu propósito de transformação social, o que ativa uma vontade inconsciente
de lutar contra injustiças na sociedade atual, assim como Lídia fez em seu
contexto.
Esse
desejo pode levá-lo a querer usar a psicologia para promover mudanças sociais,
confrontando normas ou práticas que ele considere limitantes ou prejudiciais no
século XXI. A identificação com Lídia reforça um ideal de atuação que vai além
do consultório, motivando o psicólogo a agir como um agente de mudança social e
a aplicar conhecimentos de psicologia social para entender e impactar questões
como preconceito, igualdade e bem-estar coletivo.
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