Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Um sujeito
atua como fiscal de caixa num supermercado e também é formado em psicologia. O
sujeito atua dando descontos de itens de consumo como cervejas, carnes e outros
itens quando entram na promoção. Pega pacotes de cigarros para os clientes. Dá
descontos nos itens de consumo quando os preços estão errados.
Na
abordagem da psicologia comportamental, os conceitos de reforço positivo ,
reforço negativo e esperança estão relacionados a como as consequências de um
comportamento influenciam a probabilidade de que ele ocorra novamente. Vamos
aplicar isso ao cenário que você descreveu:
1.
Reforço Positivo
Definição:
O reforço positivo ocorre quando algo agradável é adicionado ao ambiente após
um comportamento, aumentando a probabilidade de o comportamento se repetir.
Exemplo
no cenário: Quando o fiscal concede descontos em itens (como cervejas ou
carnes) que estão na promoção, isso é um reforço positivo para o cliente. O
desconto é algo estranho que o cliente recebe.
Consequência:
O cliente pode passar a procurar o fiscal, esperar por promoções, ou até mesmo
retornar ao supermercado na expectativa de mais descontos.
2.
Reforço Negativo
Definição:
O reforço negativo ocorre quando algo é removido após um comportamento,
aumentando a probabilidade de o comportamento se repetir.
Exemplo
no cenário: Quando o fiscal corrige um preço errado e aplica o desconto, ele
está removendo um "incômodo" (o cliente pagar mais do que deveria).
Consequência:
O cliente sabe que, ao reclamar ou questionar preços, pode ter o problema
resolvido e, possivelmente, buscar ajuda fiscal em situações semelhantes no
futuro.
3.
Punição
Definição:
A proteção ocorre quando uma consequência é aplicada após um comportamento,
provocando a probabilidade de o comportamento se repetir.
Exemplo
no cenário: Se o cliente tentar pedir um desconto que não é devido ou insistir
em algo não permitido, e o fiscal se recusar a concedê-lo (ou até publicá-lo
educadamente), isso funciona como uma proteção.
Consequência:
O cliente pode evitar repetir o comportamento de insistir por descontos
indevidos.
Análise
Comportamental:
Por
que o cliente volta ao supermercado?
O
cliente associa o local e as interações com o fiscal a experiências
experimentadas (descontos ou resolução de problemas), o que reforça
positivamente o comportamento de comprar no mesmo lugar.
Como
o cliente aprende a pedir descontos?
O
comportamento de questionar preços ou procurar itens em promoção é reforçado,
porque ele recebe um benefício ao fazer isso (descontos ou correções nos
valores).
O
que acontece se o fiscal não conceder o desconto esperado?
A
expectativa frustrada pode funcionar como uma resiliência, e o cliente pode
buscar outro supermercado ou mudar de comportamento.
Na
perspectiva comportamental, suas ações como fiscais moldam os comportamentos
dos clientes através do uso de reforços e punições, muitas vezes de forma não
intencional. Reconhecer esses mecanismos pode ser útil para ajustar o ambiente
e criar comportamentos desejáveis (como
honestidade e compras regulares) enquanto desestimula os indesejáveis (como
pedidos injustos ou abusos).
Será
que o fiscal de caixa que também é psicólogo compreende que seus valores como
psicólogo não estão alinhados com a função que está desempenhando como fiscal
de caixa, pois contribui de modo e até inconsciente para hábitos destrutivos
dos clientes como, vícios do alcoolismo e tabagismo , fome emocional, compulsão
por compras alimentares não saudáveis, reforçam de modo negativo o
comportamento dos clientes a só comprar quando acontecem as promoções.
Essa
questão reflete um conflito de valores entre a identidade profissional como
psicólogo e as responsabilidades como fiscal de caixa. Vamos analisar esse
conflito pela perspectiva ética e psicológica:
1.
Conflito Ético e de Valores
O
psicólogo tem como valores fundamentais promover o bem-estar, ajudar as pessoas
a lidar com hábitos destrutivos e criar escolhas mais saudáveis. Por outro
lado, o fiscal da caixa desempenha um papel que, direta ou indiretamente,
incentiva o consumo de produtos que podem contribuir para comportamentos
relacionados, como:
Alcoolismo
e tabagismo: Atender demandas de produtos como cerveja e cigarros.
Fome
emocional e compulsão alimentar: Facilitar descontos em produtos
ultraprocessados ou promover itens em promoção que muitas vezes são escolhidos por impulso e não por necessidade.
Comportamento
de consumo reativo: Clientes que compram apenas quando há promoções estão
condicionados a buscar vantagens momentâneas, possivelmente ignorando outras
prioridades financeiras ou de saúde.
Esse
descompasso entre valores pode gerar dissonância cognitiva , ou seja, um
desconforto interno ao realizar ações que entram em conflito com as opiniões ou
objetivos pessoais.
2.
Contribuições Conscientes e Inconscientes
Contribuições
conscientes: O fiscal pode estar ciente de que sua função inclui dar suporte às
necessidades imediatas dos clientes, como aplicar descontos e pegar produtos,
mesmo reconhecendo que isso pode hábitos alimentares contratados. No entanto,
pode sentir-se incapaz de agir de forma diferente devido às exigências do
cargo.
Contribuições
inconscientes: Ao estimular comportamentos de consumo (exemplo: clientes que só
compram em promoções ou desejos descontos), ele pode estar fortalecendo padrões
específicos sem compreender. Esses padrões estão associados à dependência de
estímulos externos para decidir o que e quando podem ser consumidos.
3.
Reforço Negativo no Comportamento do Fiscal
O
próprio fiscal pode estar preso a um ciclo de reforço negativo em seu trabalho.
Ele realiza as tarefas porque isso reduz o incômodo imediato de conflitos ou
problemas com os clientes, mas isso o mantém em um papel que não está alinhado
com seus valores como psicólogo.
4.
Reflexão e Alinhamento de Valores
Para
lidar com essa situação, o fiscal de caixa que é psicólogo poderia:
Reconhecer
o impacto do papel atual: Refletir sobre como suas ações recomendadas para o
comportamento dos clientes e como isso está alinhado ou desalinhado com seus
valores.
Buscar
um novo significado na função atual: Talvez implementar ações pequenas, como
promover diálogo sobre escolhas conscientes, mesmo dentro do ambiente de
trabalho.
Planejar
uma transição de carreira: Investir em oportunidades de atuar exclusivamente
como psicólogo, onde ele poderá ajudar diretamente pessoas a lidar com vícios,
compulsões e hábitos destrutivos, alinhando seus valores à prática.
Esse
conflito mostra a importância de autoconhecimento e prejuízos . Embora o
trabalho como fiscal de caixa possa parecer incompatível com os valores do
psicólogo, ele pode servir como um período de transição ou aprendizagem até que
seja possível uma mudança mais significativa que permita a expressão plena dos
valores profissionais e pessoais.
Comentários
Postar um comentário