Autor fiscal- Psicólogo
Sumário
1.
Introdução – O Esquecimento que Revela o
Desejo
2.
Capítulo 1 – O Ego Cansado e o Superego
Vigilante
3.
Capítulo 2 – A Libido em Transição: Do Dever
ao Desejo
4.
Capítulo 3 – O Esquecimento como Mensagem do
Inconsciente
5.
Epílogo – Quando o Corpo Fala o que a Boca
Silencia
6.
Conclusão – Da Falha à Consciência: O
Caminho da Liberdade Interna
7.
Referências Bibliográficas
Introdução
– O Esquecimento que Revela o Desejo
O
dia começava como outro qualquer: o fiscal de caixa preparava seu café da
manhã, deixou ao lado a creatina e o suplemento, planejou tomá-los após o café,
mas esqueceu.
Quando percebeu o frasco na pia, já se preparando para sair, tomou
apressadamente a creatina e partiu para o trabalho.
Esse
esquecimento simples, analisado pela ótica da psicanálise, é um ato falho
— um deslize que revela o conflito entre o desejo e a censura. Freud nos
ensina que os atos falhos “não são simples erros ou distrações, mas expressões
de pensamentos e intenções reprimidas” (Freud, 1901, “Psicopatologia da Vida
Cotidiana”).
O
fiscal, ao esquecer de “tomar força”, parece simbolicamente dizer:
“Não
quero mais me fortalecer para continuar sustentando o que já não desejo.”
Este
livro nasce desse instante: um esquecimento que fala do cansaço do ego,
da censura do superego e do movimento libidinal que se transfere
para um novo ideal — o de tornar-se psicólogo.
Capítulo
1 – O Ego Cansado e o Superego Vigilante
O
ego, mediador entre o desejo e a realidade, encontra-se sobrecarregado. Ele
tenta manter a rotina, mas sente que o trabalho perdeu o sentido.
Freud descreve o ego como “aquele que busca o equilíbrio entre as exigências
pulsionais do id e as imposições morais do superego” (Freud, 1923, “O Ego e
o Id”).
O
superego, por sua vez, se manifesta como uma voz moral que ordena:
“Continue
firme, cumpra seu dever, não falhe.”
Mas
o ego, fatigado, começa a vacilar. Ele cumpre o que o superego exige, mas sem
investimento libidinal, sem prazer.
O ato falho da creatina é o primeiro sinal dessa desobediência silenciosa.
Esquecer de “alimentar-se” simboliza não querer mais sustentar a força para
viver o mesmo papel.
O
inconsciente, portanto, começa a falar através do esquecimento: ele anuncia que
a energia psíquica precisa ser realocada, que o sujeito deve reencontrar o
prazer e o propósito que o sustenta.
Capítulo
2 – A Libido em Transição: Do Dever ao Desejo
Freud
define libido como “a energia do instinto de vida, que pode ser investida em
pessoas, ideias ou ideais” (Freud, 1915, “Pulsões e seus Destinos”).
Quando a libido se retira de um objeto (um trabalho, uma função, um
relacionamento), o sujeito sente vazio, desânimo, esquecimento e tédio.
O
fiscal de caixa, que antes investia prazer e orgulho em seu trabalho, agora o
vive apenas como obrigação.
O esquecimento da creatina é a metáfora desse retraimento libidinal.
O inconsciente anuncia:
“A
energia vital já não pertence a esse lugar.”
Mas
essa energia não se perde — ela se desloca. A libido busca um novo objeto de
amor e criação: o ideal do ego, representado pela figura do psicólogo.
Ser psicólogo, para o sujeito, não é apenas mudar de profissão; é reencontrar
o prazer de existir, o sentido de servir e compreender o outro.
Capítulo
3 – O Esquecimento como Mensagem do Inconsciente
O
esquecimento, longe de ser falha cognitiva, é ato de comunicação simbólica.
Freud descreve:
“O
inconsciente não fala, mas se exprime através de atos falhos, sonhos e
sintomas” (Freud, 1917, “Introdução à Psicanálise”).
Esquecer
a creatina é o modo pelo qual o inconsciente anuncia uma ruptura interna:
o corpo não quer mais sustentar o peso de um papel que o espírito já abandonou.
É o início de um processo de individuação, no qual o sujeito começa a
escutar o desejo e a se libertar da censura superegóica.
Nesse
ponto, o fiscal vive uma transição: o ego ainda obedece à realidade (vai ao
trabalho, toma a creatina), mas o inconsciente prepara o caminho da mudança,
retirando pouco a pouco a força de sustentar o que já não o representa.
Esse
movimento marca o início da cura simbólica: transformar a falha em
consciência, o esquecimento em mensagem, e o medo em autoconfiança.
Epílogo
– Quando o Corpo Fala o que a Boca Silencia
O
corpo se torna mensageiro da alma quando o sujeito não ousa dizer o que sente.
O esquecimento da creatina foi o corpo dizendo:
“Eu
não quero mais ser forte para o que me enfraquece.”
A
psicanálise nos ensina que todo sintoma é linguagem.
Ao escutar o ato falho, o sujeito começa a compreender que a mudança já começou
dentro dele, e que o inconsciente não erra — ele revela.
Nesse
instante, o fiscal deixa de ser apenas funcionário; torna-se paciente de si
mesmo, analisando, compreendendo e transformando sua dor em saber.
Conclusão
– Da Falha à Consciência: O Caminho da Liberdade Interna
O
ato falho da creatina é mais que um esquecimento: é o anúncio do desejo de
mudança.
Ao esquecê-la, o sujeito não negligenciou o corpo, mas escutou o
inconsciente, que já se prepara para libertar a energia do prazer de viver.
A
psicanálise oferece aqui uma leitura profunda:
- O ego ainda tenta se manter
estável;
- O superego exige continuidade
e culpa;
- O inconsciente
anuncia: “É hora de transferir a energia para o novo ideal.”
O
caminho da liberdade não é o da força bruta, mas o da escuta simbólica.
O sujeito que compreende seu ato falho já não teme o esquecimento — ele o
acolhe como mensagem do próprio desejo.
Referências
Bibliográficas
- FREUD, Sigmund. A Psicopatologia da Vida
Cotidiana. (1901).
- FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. (1923).
- FREUD, Sigmund. Pulsões e seus Destinos.
(1915).
- FREUD, Sigmund. Introdução à Psicanálise.
(1917).
- LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.-B. Vocabulário
da Psicanálise. Martins Fontes, 1992.
- WINNICOTT, D. W. A Natureza Humana.
Imago, 1990.
- JUNG, C. G. O Eu e o Inconsciente.
Vozes, 1991.
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