Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Um sujeito
vai passar por uma audiência no fórum porque furtou uma bateria de um carro.
Ele não se lembra do nome do advogado que vai defendê-lo no tribunal perante o
juiz e a vítima.
Na
psicanálise, um ato falho ocorre quando uma pessoa “esquece” ou comete um erro
aparentemente sem importância, mas que revela algo oculto em seu inconsciente.
Freud observou que esquecimentos, como o de um nome, podem expressar conflitos
internos ou desejos reprimidos.
No
caso do sujeito que furtou a bateria do carro e esqueceu o nome do advogado que
o defenderá, o ato falho de não lembrar o nome pode indicar um conflito
inconsciente relacionado à situação em que ele se encontra. Na psicanálise,
podemos interpretar que ele talvez esteja sentindo culpa ou receio em relação à
audiência e, inconscientemente, não quer "aceitar" a ajuda do
advogado para defendê-lo. Esse esquecimento pode ser uma forma inconsciente de
"autopunição" ou uma resistência ao processo judicial, indicando que
ele não se sente totalmente confortável ou que tem uma atitude ambivalente em
relação à sua defesa.
Assim,
o ato falho não é um simples esquecimento, mas uma manifestação do
inconsciente, mostrando sentimentos ou conflitos que ele pode não estar
totalmente ciente. Na psicanálise, um ato falho desse tipo também pode indicar
que o sujeito tem uma sensação de desconforto com o apoio que o advogado
representa. O advogado é a figura que o defenderá, mas, inconscientemente, ele
pode sentir que não merece essa defesa ou que está ansioso quanto ao resultado
da audiência. Esse conflito entre o desejo de ser defendido e a sensação de
culpa ou medo do julgamento pode ser projetado no esquecimento do nome do
advogado.
Outro
ponto importante é que esse ato falho pode simbolizar uma resistência do
sujeito ao processo de enfrentar sua própria culpa ou responsabilidade pelo
furto. Ao esquecer o nome de quem vai representá-lo, ele pode estar
inconscientemente tentando “escapar” do reconhecimento de que está em uma
situação legal complicada, na qual ele depende de outra pessoa para evitar
consequências mais graves. Esse esquecimento, então, reflete uma forma de o
inconsciente tentar "evitar" a realidade desagradável do julgamento e
do confronto com a vítima.
Esse
ato falho é uma oportunidade de olhar para as contradições internas do sujeito.
Na psicanálise, ajudar o sujeito a tomar consciência de tais conflitos pode
abrir espaço para ele entender melhor suas motivações e enfrentar a realidade
de forma mais integrada, ao invés de ser dominado pela culpa ou pelo medo do
julgamento.
Ainda
analisando pela perspectiva psicanalítica, o ato falho do esquecimento pode ser
uma manifestação do mecanismo de defesa da repressão. Reprimir significa
“esconder” do consciente algum conteúdo ou lembrança incômoda, algo que o ego
do sujeito considera ameaçador. Nesse caso, esquecer o nome do advogado pode
ser uma tentativa inconsciente de esconder o desconforto ou a culpa que ele
sente em relação ao próprio crime. Ao "esquecer" quem vai defendê-lo,
o sujeito está, de certo modo, evitando encarar diretamente o fato de que
cometeu um ato que ele próprio considera moralmente errado.
Esse
tipo de esquecimento também pode estar relacionado ao medo do julgamento, tanto
do juiz quanto da vítima. O sujeito pode temer ser visto como alguém “indigno
de defesa” ou como alguém que merece ser punido. Em uma perspectiva
psicanalítica, o superego – que representa as normas e valores morais
internalizados – pode estar “censurando” o sujeito e contribuindo para que ele
esqueça o nome do advogado, como uma forma de autopunição. O esquecimento,
portanto, não seria apenas acidental, mas um reflexo de como o superego impõe o
sentimento de culpa e medo de punição, como se o próprio sujeito acreditasse
que não deve ser defendido.
Por
fim, esse ato falho pode ser trabalhado em análise para ajudar o sujeito a
compreender esses sentimentos inconscientes de culpa e autopunição. Ao explorar
o que o esquecimento significa para ele, o sujeito pode descobrir como a culpa
ou o medo do julgamento estão influenciando seus pensamentos e ações. Esse
processo de compreensão pode permitir que ele desenvolva uma relação mais
saudável consigo mesmo, reconhecendo sua responsabilidade sem a necessidade de
se punir, e encarando o julgamento com maior autocompreensão e menos conflito
interno.
É
possível interpretar o ato falho nesse sentido. Esquecer o nome do advogado
pode simbolizar, inconscientemente, um desejo de não ser adequadamente
defendido, o que, na prática, aumentaria as chances de ele ser condenado. Esse
esquecimento poderia indicar que o sujeito, em algum nível inconsciente, deseja
ou aceita ser punido pelo crime. Esse desejo pode vir de um sentimento de
culpa, onde ele sente que merece a punição e, por isso, o ato falho manifesta o
desejo oculto de terminar a audiência com uma sentença de prisão.
Pela
ótica psicanalítica, isso sugere que o superego está agindo de forma muito
rígida. O superego, que contém as normas e valores internalizados, pode estar
censurando o sujeito ao ponto de ele se sentir indigno de perdão. Essa sensação
de não merecer a defesa poderia levá-lo a um ato falho que, simbolicamente, o
coloca mais próximo da punição e da penitência. Em um nível inconsciente, esse
desejo de punição é uma forma de “alívio” para a culpa, como se, ao ser levado
ao sistema prisional, ele pudesse expiar o erro cometido.
Essa
interpretação, contudo, não é uma certeza, mas sim uma hipótese que pode ser
explorada em análise. Se o sujeito puder reconhecer e elaborar esses
sentimentos de culpa, ele pode se libertar da necessidade de autopunição,
entendendo o crime, assumindo sua responsabilidade e buscando reparar o dano
sem precisar da punição extrema do sistema prisional.
Na
psicanálise, o ato falho pode simbolizar um desejo reprimido de ser conduzido
ao cárcere como uma forma de expiação da culpa. Esse esquecimento do nome do
advogado pode ser uma expressão inconsciente de um desejo de punição, onde a
prisão seria uma maneira de “pagar” pelo crime e aliviar a culpa que ele
carrega.
Esse
desejo reprimido pode vir do superego, que funciona como o juiz interno,
impondo normas e valores morais. Quando uma pessoa comete um ato que o superego
considera errado, isso pode gerar sentimentos intensos de culpa e necessidade
de autopunição. Neste caso, o superego pode estar tão severo que leva o sujeito
a desejar, mesmo sem perceber, a condenação e a prisão, como se a punição
externa fosse a única forma de acalmar sua culpa.
Ao
esquecer o nome do advogado, o sujeito está, de certa forma, “dificultando” a
própria defesa, inconscientemente facilitando o caminho para ser punido. Esse
ato falho, então, pode ser visto como uma maneira simbólica de expressar o
desejo de expiação, revelando que, internamente, ele sente que merece ser
levado ao cárcere para purgar sua culpa.
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