Ano 2025. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor bpara um excelente tópico. Vamos
analisar o filme "Meu Nome Era Eileen" (título original: Eileen),
disponível na Netflix, sob a ótica da psicologia social, com uma
linguagem própria para narração em um podcast como o "Ainda Sou Podcast
por Ayrton Júnior, psicólogo". Aqui vai uma proposta de roteiro com descrição
do enredo e interpretação psicossocial:
🎙️ Título do episódio:
“Meu Nome Era Eileen”: um retrato sombrio da identidade e influência social
🎧 Narrado por Ayrton
Júnior, psicólogo
“Meu
nome era Eileen.”
Assim começa a jornada silenciosa de uma jovem presa entre o tédio de sua
rotina e a força invisível da repressão social. Vivendo numa pequena cidade
americana da década de 1960, Eileen trabalha em um reformatório masculino. Sua
vida é solitária, marcada por uma convivência disfuncional com o pai alcoólatra
e pela rigidez moral da época.
Mas
tudo muda com a chegada de Rebecca, uma psicóloga carismática, elegante e
misteriosa. A nova colega de trabalho não apenas quebra o ambiente conservador
do reformatório — ela quebra também o estado psíquico adormecido de Eileen.
O que começa como fascínio e desejo de pertencimento evolui para uma ligação
intensa e perigosa.
🎙️ Análise pela
psicologia social:
1.
Conformidade e Obediência:
Eileen representa o indivíduo moldado por normas sociais rígidas. Sua aparência
apagada e seu comportamento retraído revelam o quanto ela se ajustou às
expectativas do meio. Ela obedece aos códigos morais da época — da pureza
feminina ao silêncio sobre seus desejos.
A
chegada de Rebecca age como um agente de ruptura, oferecendo uma nova
possibilidade de comportamento. Eileen, movida pelo desejo de aceitação e pela
admiração, passa a imitar o estilo e a ousadia da nova colega. Essa mudança
reflete o fenômeno de conformidade normativa, onde o indivíduo muda seu
comportamento para ser aceito por outro.
2.
Influência social e idealização:
Rebecca representa o arquétipo da mulher moderna e livre. Eileen projeta nela
não apenas desejo, mas uma aspiração inconsciente de libertação. Isso gera um
laço assimétrico de poder. A relação entre elas mostra como figuras
carismáticas podem exercer forte influência social sobre indivíduos
vulneráveis.
3.
Identidade social e papéis:
Eileen vive um conflito entre o papel social que lhe foi atribuído — o de
mulher obediente, filha cuidadora, funcionária discreta — e o papel que deseja
desempenhar: o de uma mulher autônoma e desejada. A presença de Rebecca
intensifica esse conflito. Quando Eileen toma atitudes drásticas ao final da
história, ela está tentando romper com seu self social antigo para
construir uma nova identidade — ainda que de forma disfuncional.
4.
Pressão do grupo e solidão:
O ambiente institucional, frio e masculino, reforça o isolamento emocional de
Eileen. A psicologia social mostra que a ausência de laços sociais fortes pode
levar a comportamentos extremos. Eileen não age por maldade, mas por carência
de vínculos verdadeiros — o que torna Rebecca ainda mais perigosa em sua
influência.
🎙️ Conclusão:
“Meu
Nome Era Eileen” não é apenas um suspense psicológico. É uma história sobre o
poder das relações humanas, a influência social invisível que molda nossos
desejos e o perigo de se perder na busca desesperada por pertencimento.
Ao
final, Eileen renasce, mas com cicatrizes. Ela deixa de ser quem era,
mas não sabemos ao certo quem se tornou.
E
talvez essa seja a pergunta que o filme deixa para todos nós:
Quem somos quando deixamos de obedecer as regras que nos fizeram?
E mais ainda: Somos livres, ou apenas trocamos de prisão?
Um
psicólogo pode ter se sentido atraído a assistir ao filme "Meu Nome Era
Eileen" logo ao ler o título e a sinopse, por várias razões que
dialogam com os temas centrais da psicanálise, mesmo sem recorrer
diretamente às instâncias clássicas como id, ego e superego. A seguir, descrevo
os possíveis motivos desse interesse, em tom reflexivo e próprio para narração
em podcast:
🎙️ Por que um psicólogo
escolheu assistir “Meu Nome Era Eileen”?
Ao
ler o título “Meu Nome Era Eileen”, o psicólogo já é imediatamente
tocado por uma sensação de ruptura com a identidade. O uso do tempo passado — “era”
— sugere que a protagonista passou por uma transformação marcante, talvez até
traumática. Isso desperta uma curiosidade clínica e humana:
O que leva alguém a deixar de ser quem era? Que experiência pode redefinir
um sujeito a ponto de não se reconhecer mais?
A
sinopse, por sua vez, fala de uma jovem solitária, presa em uma vida repleta de
opressão, que passa por uma mudança profunda ao conhecer outra mulher
misteriosa. Para um psicólogo, esse breve resumo acende os sinais de uma
narrativa psíquica potente: relações simbólicas, transferência afetiva,
recalques prestes a emergir.
A
ambientação também é chamativa: um reformatório masculino, um ambiente
disciplinar, fechado, que evoca temas como repressão, controle, exclusão —
contextos férteis para o estudo do inconsciente. O convívio com figuras
autoritárias, a solidão extrema e a presença de uma mulher carismática em meio
à rigidez institucional anunciam um possível desencadeamento de desejos
reprimidos, impulsos não nomeados, e uma busca desesperada por um outro que
desperte aquilo que está adormecido.
O
psicólogo não escolhe o filme apenas por entretenimento. Ele pressente ali a
história de um sujeito em crise, de uma estrutura psíquica prestes a
romper com os condicionamentos da infância, da família, da moral local. Ele
sabe que essa “Eileen” talvez represente tantas pessoas que ele mesmo atendeu
ou deseja compreender: pessoas que nunca puderam viver seus desejos sem medo,
que viveram aprisionadas em papéis sociais e que, diante do inesperado,
finalmente se arriscam — e se perdem.
Há,
também, o fascínio pelo vínculo entre Eileen e Rebecca. Esse encontro entre
duas mulheres tão diferentes pode ser interpretado como o surgimento de uma figura
especular, que revela a Eileen não quem ela é, mas quem ela poderia ser
— e isso é profundamente perturbador e transformador. É o tipo de relação que a
psicanálise entende como um espelho deformado da alma: não se trata de amor ou
amizade simples, mas de um jogo inconsciente de projeções, idealizações e
necessidades não verbalizadas.
Por
fim, o psicólogo assiste ao filme movido por algo que ele conhece bem: o desejo
humano de se reinventar. De enterrar um nome antigo e criar um novo. De romper
com os silêncios impostos, mesmo que o preço seja alto.
Eileen,
para ele, não é apenas um personagem.
É uma metáfora viva do inconsciente clamando por expressão.
Vamos
então aprofundar a relação entre Eileen e Rebecca como uma expressão
simbólica de transferência, desejo e alienação subjetiva — sob o olhar da psicanálise,
sem mencionar diretamente id, ego ou superego. Abaixo está o conteúdo com
linguagem reflexiva, própria para narração em podcast:
🎙️ “A engenheira do
desejo” — Rebecca como figura de transferência e espelho simbólico em ‘Meu Nome
Era Eileen’
Narrado por Ayrton Júnior, psicólogo
Quando
Eileen conhece Rebecca, ela não está apenas diante de uma nova colega de
trabalho. Ela está diante de uma imagem que desperta algo que, até então, vivia
adormecido dentro dela.
Rebecca
surge como uma mulher segura, sedutora, culta, provocativa. Uma presença que
rompe com toda a lógica de obediência, apatia e contenção que até então
definiam a vida de Eileen. Esse encontro não é neutro — ele funciona como um gatilho
simbólico de transferência.
Na
psicanálise, a transferência acontece quando projetamos sobre alguém
sentimentos, desejos e expectativas que foram formados em outras relações
significativas — muitas vezes na infância — mas que nunca puderam ser
plenamente vividos ou compreendidos. Eileen, sozinha, sufocada pela presença de
um pai hostil e por um ambiente moralista, encontra em Rebecca uma oportunidade
inconsciente de reescrever sua história emocional.
Rebecca
torna-se, sem saber, a engenheira do desejo de Eileen. Uma espécie de
arquiteta inconsciente que esboça novas possibilidades de ser mulher, de
desejar, de agir no mundo. Mas essa engenheira não oferece segurança. Pelo
contrário, ela constrói em terreno instável.
Para
Eileen, a relação com Rebecca é marcada por ambivalência. Admiração e
submissão, desejo e medo, liberdade e culpa. Tudo isso se entrelaça
silenciosamente entre olhares, gestos, insinuações — nunca nomeados, sempre
insinuados. A intensidade dessa ligação revela o quanto Eileen está alienada da
própria história. Ela não conhece seus verdadeiros desejos. Não sabe o que é
seu e o que é do outro. Vive fragmentada entre o que sente e o que pode
mostrar.
Rebecca
se torna, então, o espelho simbólico do que Eileen não consegue ser, mas
profundamente anseia. E é nesse espelho que o sujeito se aliena. Porque Rebecca
também não é quem parece ser. Ela carrega sua própria escuridão, seus próprios
traumas, sua manipulação velada.
O
encontro entre elas, por mais encantador que pareça no início, é na verdade um
encontro entre feridas não cicatrizadas. E o que poderia ser um despertar,
torna-se um campo perigoso de identificação projetiva. Eileen não ama Rebecca —
ela ama a si mesma através de Rebecca. E isso é uma armadilha psíquica
poderosa.
Quando
Eileen começa a agir de forma impulsiva, rompendo com as amarras que antes a
seguravam, ela não está necessariamente livre. Ela apenas trocou de prisão.
Saiu da prisão moral, mas entrou na prisão do desejo do outro. E esse é um
ponto central da psicanálise: a liberdade só é verdadeira quando o sujeito
reconhece que está agindo por seus próprios desejos, e não em função das
imagens que projeta nos outros.
🎙️ Encerramento:
A
história de Eileen e Rebecca nos mostra que o desejo, quando não é elaborado,
pode nos levar a caminhos perigosos. E que a idealização do outro como salvador
é, muitas vezes, a maneira mais eficaz de continuar preso.
Eileen
não quer apenas ser amada. Ela quer existir.
Mas para existir de verdade, é preciso se separar do espelho.
É preciso suportar o vazio, o não saber, o silêncio —
E, só então, reinventar seu nome com liberdade.
O
desejo de Eileen de matar o pai alcoólatra no filme “Meu Nome Era Eileen”
pode ser compreendido, sob a ótica da psicanálise, como resultado de uma
combinação profunda de recalque afetivo, raiva acumulada, ambivalência
emocional e um desejo inconsciente de libertação psíquica.
Aqui
está uma análise detalhada, sem recorrer diretamente a termos técnicos como id,
ego ou superego:
🎭 1. O
pai como símbolo de opressão
Desde
o início do filme, o pai de Eileen é retratado como uma figura abusiva,
alcoólatra, dependente e moralmente falido. Ele exerce um tipo de domínio
emocional que vai além da presença física. Sua existência aprisiona Eileen não
só no sentido literal — ela cuida dele, está presa à casa, à cidade — mas
também no sentido psíquico e emocional.
Ela
não vive a própria vida porque, de certa forma, vive para sustentar o pai
— mesmo que o deteste. E o pior: ela reprime essa raiva, pois aprendeu,
culturalmente e emocionalmente, que desejar a morte de um pai é algo
impensável.
No
entanto, o desejo está lá. Calado. Congelado. Esperando o momento de explodir.
🔥 2. A
raiva como emoção recalcada
Na
psicanálise, entende-se que quando sentimentos intensos — como raiva, repulsa
ou desejo de vingança — não podem ser expressos livremente, eles não
desaparecem. Eles se alojam no inconsciente, crescendo de forma
distorcida, e mais cedo ou mais tarde buscam um meio de emergir.
O
desejo de matar o pai é menos um desejo de violência gratuita e mais um grito
de liberdade sufocada. É como se Eileen dissesse, em silêncio:
"Para que eu possa viver, ele precisa deixar de existir dentro de
mim."
🧊 3. A
ambivalência afetiva: amor e ódio juntos
Eileen
sente culpa, ao mesmo tempo em que sente ódio.
Sente responsabilidade, e ao mesmo tempo, nojo.
Ela tem um pai... mas não tem amor.
Essa
ambivalência é uma prisão emocional: ela não pode simplesmente abandoná-lo, mas
também não suporta mais estar ali. O desejo de matar é simbólico da
necessidade de romper com a dependência afetiva doentia. Matar o pai, nesse
sentido, é eliminar aquilo que ainda a amarra psicologicamente a um papel de
filha submissa, frustrada e apagada.
🪞 4. O
encontro com Rebecca: o estopim
Rebecca
aparece como o estopim dessa revolta inconsciente.
Ela representa para Eileen a possibilidade de ser outra mulher: livre, ousada,
desejável, inteligente, desejante. E, para alcançar isso, Eileen sente — mesmo
sem saber — que precisa se livrar daquilo que a mantém presa ao passado.
E
quem é esse passado? O pai.
O
desejo de matá-lo emerge não como frieza, mas como tentativa desesperada de
sobreviver — de fazer nascer uma nova mulher no lugar da filha sufocada.
🔚
Conclusão
Eileen
não é uma assassina. Ela é uma mulher psicologicamente esmagada por anos de
silenciamento, violência simbólica e falta de amor.
O desejo de matar o pai é a expressão bruta e inconsciente de um desejo mais
profundo: nascer para si mesma.
Ela
não quer cometer um crime. Ela quer enterrar a prisão emocional que o pai
representa.
Ela quer, enfim, dizer com verdade:
“Meu nome era Eileen... agora, eu sou outra.”
A
decisão de Eileen ajudar Rebecca a não ir para a cadeia, mesmo depois de
ter sido manipulada e envolvida em uma situação moralmente complexa, pode ser
compreendida pela psicanálise como fruto de uma ligação simbólica intensa,
marcada por transferência emocional, idealização, identificação projetiva e
desejo inconsciente de pertencimento e transformação.
Abaixo,
explico esse movimento psíquico de Eileen — não como cúmplice racional, mas
como sujeito em sofrimento psíquico — e por que ela escolhe proteger
Rebecca, mesmo diante do risco:
💠 1.
Transferência afetiva e idealização
Desde
o primeiro encontro, Eileen projeta em Rebecca uma figura encantadora,
sedutora, quase salvadora.
Rebecca representa tudo que Eileen não é, mas gostaria de ser.
Esse
encantamento não é apenas admiração — é uma transferência emocional profunda,
onde Eileen começa a ver em Rebecca uma espécie de saída para sua vida
sufocada, sem afeto e sem identidade própria. Proteger Rebecca, nesse contexto,
é como proteger o próprio desejo de mudança, como se ela dissesse:
"Se Rebecca for presa, essa nova parte de mim também morre."
🪞 2.
Identificação projetiva: Eileen quer ser Rebecca
Eileen
se vê em Rebecca.
Ou melhor: Eileen quer se ver como Rebecca.
Mesmo
depois de perceber as falhas e as manipulações da psicóloga, Eileen já está
emocionalmente envolvida a ponto de confundir os limites entre o que é dela
e o que é da outra. Isso é um tipo de identificação projetiva: ela absorve
partes de Rebecca como se fossem suas, sem ainda ter consciência disso.
Ao
ajudar Rebecca, Eileen age como alguém que está tentando preservar a imagem
do que ela gostaria de ser: livre, decidida, dona de si. Rebecca é a
representação viva do desejo de Eileen — e ela ainda não está pronta para matar
esse desejo, mesmo sabendo que foi enganada.
💔 3.
Vínculo emocional ambivalente (amor e raiva misturados)
Eileen
sente raiva, sim. Mas também sente gratidão.
Rebecca deu a ela uma faísca de vida, mesmo que tóxica.
Ela foi a única que a olhou de verdade, que a tocou, que a provocou a sair da
apatia.
Esse
tipo de vínculo é ambivalente: amor misturado com ressentimento,
fascínio com decepção. Eileen não protege Rebecca por concordar com ela, mas
porque ainda precisa dela emocionalmente. Ainda está presa à ilusão de
que, ao lado dela, poderá descobrir quem realmente é.
🕯️ 4.
Desejo de renascimento simbólico
Ajudar
Rebecca a escapar da cadeia é, para Eileen, um rito de passagem psíquico.
Ela não apenas livra a outra mulher — ela livra a si mesma de uma vida sem
desejo, sem impulso, sem sentido.
Mesmo
que inconsciente, Eileen sente que seguir com Rebecca, ou pelo menos
ajudá-la a partir, é uma forma de romper de vez com a velha Eileen.
A que ficava trancada na casa, obedecendo o pai, olhando para os outros
viverem.
Proteger
Rebecca, mesmo diante da dúvida e da dor, é um gesto irracional, mas
profundamente simbólico:
Ela está sacrificando a moral para salvar o desejo.
A
decisão de Eileen matar a mulher aprisionada por Rebecca, forjar que o
pai alcoólatra cometeu o crime e, com isso, burlar o sistema prisional
com ajuda da própria Rebecca, é um ato carregado de conflitos psíquicos
profundos, que podem ser compreendidos pela psicanálise como
expressão de uma explosão do recalque, da submissão ao desejo do
outro, da fusão entre amor e destruição, e de uma tentativa
desesperada de conquistar uma nova identidade — ainda que às custas da ética e
da realidade.
Essa
atitude não nasce do crime planejado, mas do colapso de uma subjetividade que
passou tempo demais calada.
🧠 1. O
colapso psíquico: quando o recalque explode
Eileen
passou a vida inteira obedecendo.
Obedecendo o pai, a moral da cidade, as normas do reformatório, a ideia de que
ela deveria ser invisível.
Só
que o desejo reprimido não desaparece.
Ele se acumula. Ele fermenta.
E
o encontro com Rebecca foi o ponto de ruptura.
Não foi apenas amor, nem só fascínio — foi o despertar de tudo que Eileen
nunca viveu.
Ao ver Rebecca transgredir as regras e manter uma mulher presa, Eileen entra
no mundo do desejo bruto, sem regras morais claras.
E, nesse mundo, ela finalmente age.
Pela primeira vez, faz alguma coisa — e essa coisa é violenta.
🪞 2. A
fusão simbólica com Rebecca
Psicanaliticamente,
Eileen não age apenas por ela.
Ela age por e através de Rebecca.
Existe uma fusão simbólica: Rebecca representa o desejo, a coragem, a
mulher que Eileen quer ser — e, ao ajudá-la no crime, Eileen acredita que está se
tornando essa mulher.
Matar
a mulher aprisionada é, para Eileen, matar um obstáculo entre ela e a
nova versão de si mesma.
A mulher presa simboliza a culpa, o limite, a realidade dura.
Ao eliminá-la, Eileen tenta eliminar o que ainda a prende à sua velha
identidade.
🩸 3. O
pai como bode expiatório: matar o opressor sem sujar as mãos
Forjar
que o pai alcoólatra cometeu o crime não é um detalhe qualquer.
É o acerto de contas simbólico com a autoridade que a oprimiu durante toda a
vida.
Mesmo
sem matá-lo fisicamente, Eileen o sacrifica socialmente, faz dele um
criminoso, o marginaliza.
Ela inverte o jogo:
de filha submissa, ela se torna quem decide o destino do pai.
Esse
gesto revela a distorção ética que emerge quando o desejo inconsciente
assume o comando.
Não se trata de justiça — trata-se de libertação psíquica, a qualquer custo.
🧨 4.
Burlar o sistema: transgressão como renascimento
Ao
burlar o sistema prisional com ajuda de Rebecca, Eileen finaliza sua
transformação.
Ela sai da condição de espectadora passiva e entra no mundo da ação — mesmo que
seja por caminhos ilegais, perigosos, cruéis.
Ela
está dizendo, com atos e não com palavras:
"Se é isso que preciso fazer para me libertar da vida que me foi
imposta... então, eu faço."
Não
se trata de frieza.
Trata-se de alguém que foi anestesiada por tanto tempo, que agora não
distingue mais bem ou mal — apenas sente que, enfim, está viva.
Por
que um psicólogo escolheria assistir ao filme Meu nome era Eileen,
disponível na Netflix?
A
princípio, o título pode chamar a atenção por sua ambiguidade: “meu nome era”
sugere ruptura, transformação, talvez até negação de uma identidade anterior.
Isso pode despertar no psicólogo um interesse inconsciente: o desejo de matar,
simbolicamente, uma parte de si – talvez aquela figura autoritária
internalizada, que pode ser representada por um pai, por um cargo institucional
rígido, ou por um superego moralista que impõe repressão aos próprios desejos.
No
enredo, Eileen trabalha em um sistema prisional com adolescentes infratores.
Ela cuida do pai alcoólatra e vive em um cotidiano árido, marcado pela
obrigação, pela submissão e por uma sensação de aprisionamento – tanto físico
quanto psíquico. Quando Rebeca, uma nova psicóloga, entra no sistema, desperta
em Eileen algo que estava adormecido: o desejo de se libertar.
É
nesse ponto que o psicólogo, espectador do filme, pode se identificar
profundamente.
Ao
escolher esse filme, ele talvez esteja lidando com o conflito interno de também
estar aprisionado. Não numa cadeia, mas em um emprego que o limita, numa função
que exige submissão a normas rígidas, em uma rotina que o distancia do seu
verdadeiro desejo: exercer a psicologia de forma plena, humana e ética. Ele
pode estar, como Eileen, desejando matar dentro de si aquilo que o impede de se
reinventar. Matar simbolicamente esse papel social que foi imposto – muitas
vezes carregado de preconceitos, valores morais ultrapassados e estereótipos.
Nesse
sentido, o filme pode ser visto como um espelho. Um reflexo de alguém que,
mesmo diante da rigidez do sistema, ainda deseja romper com o que o oprime e
assumir um novo lugar no mundo. O psicólogo, ao assistir, não apenas analisa a
trama – ele se vê nela. Percebe que precisa abandonar a obediência cega e os
valores morais que foram internalizados ao longo da vida, para então acolher
outros valores – os da escuta, da empatia, do cuidado com o sofrimento humano.
Essa
é a ética que sustenta a psicologia como ciência e como prática.
Portanto,
assistir Meu nome era Eileen pode ser, para esse psicólogo, mais do que
um entretenimento. Pode ser um ato de autoconhecimento. Um passo em direção à
libertação do cárcere interno, rumo a uma identidade mais verdadeira, mais
ética e mais sensível à dor e à transformação do outro – e de si mesmo.
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