Ano 205. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico.
🧠
Situação:
O
fiscal de caixa percebe que está escrevendo o diário de bordo no supermercado
como forma de se distrair, contextualizando os acontecimentos ao redor, mas
suspeita que, no fundo, está fazendo isso para evitar encarar a realidade de
que seu tempo nesse ambiente tóxico já acabou. Parece que busca encontrar
pequenos prazeres nessas observações para justificar continuar ali, mesmo que
isso o faça mal.
🔍 1. O
que está acontecendo internamente, segundo a psicanálise?
Ego,
Id e Superego: os personagens principais
- Id: é a parte do psiquismo
ligada aos desejos e prazeres imediatos, como sair do ambiente
tóxico, descansar, viver o sonho de ser psicólogo.
- Superego: é a voz das
regras, da moral e do dever. Pode estar dizendo: "Você precisa
aguentar mais um pouco", "É errado sair agora", "Você
tem que ser forte e responsável".
- Ego: é o equilibrador,
tentando negociar entre os impulsos do id e as cobranças do superego. Mas,
quando ele fica sobrecarregado, pode recorrer a mecanismos de defesa.
🛡️ 2. Qual
mecanismo de defesa parece estar ativo aqui?
Racionalização
Você
justifica algo emocional (como o desejo de ir embora) com argumentos racionais
(como “o diário de bordo é importante”, “observar o ambiente ajuda a
refletir”).
Isso
é um jeito do ego proteger você dá dor de encarar a verdade: que você
não quer mais estar nesse ambiente.
Fuga
pela sublimação (parcial)
Você
transforma o desconforto no trabalho em algo aparentemente produtivo: escrever,
refletir, interpretar, analisar. Isso pode ser positivo, mas também pode
funcionar como fuga, se estiver escondendo a real necessidade de
mudança.
💥 3. E o
desejo?
Há
um desejo inconsciente (Id) de ir embora, de mudar de vida.
Mas esse desejo ainda não pode se expressar livremente por medo de
julgamento, insegurança ou regras internas (Superego).
Então,
o ego cria uma ponte: “Se eu escrever sobre o que vejo aqui, talvez
ainda tenha algum valor estar nesse lugar.” Isso alivia a angústia
momentaneamente, mas prolonga a permanência num espaço que já não te faz
bem.
🧩 4.
Interpretação simbólica :
O
fiscal de caixa escreve o diário de bordo não apenas para refletir, mas também
como forma de enganar a si mesmo, criando a ilusão de que ainda vale a
pena estar ali. O prazer que encontra nos registros é uma gota de prazer
dentro de um mar de sofrimento, e essa gota é usada como desculpa para
não sair do mar.
✅ Conclusão:
O ego,
para não entrar em conflito direto com o superego e com o medo da mudança,
desvia a energia do desejo de sair e a coloca no diário de bordo.
Mas isso não resolve a dor da permanência. É como pintar a parede de um
quarto onde você não quer mais viver — parece bonito por fora, mas por
dentro o desejo de sair continua pulsando.
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