Autor: [Ayrton Junior Psicólogo] Ano: 2025
Introdução
O
presente livro explora a trajetória de um sujeito que vive a tensão entre dever
e desejo. O fiscal psicólogo, personagem central, atravessa anos de
exaustão, compulsão à repetição e frustração libidinal. Cada gesto cotidiano —
tênis novo, música, esquecimento do relógio, chegada antecipada — carrega significados
profundos sobre desejo, libido e pulsão de vida.
Freud
(1920) afirma:
“A
pulsão de vida e a pulsão de morte coexistem em tensão, e a obra psíquica do
sujeito é o resultado desta luta silenciosa.”
Neste
livro, a psicanálise se combina com a dimensão simbólica da fé, mostrando que o
descanso e a espera não são inação vazia, mas formas de preservação e
entrega do desejo.
Capítulo
1 — O Corpo Exaurido
O fiscal
acorda cansado, carregando anos de trabalho repetitivo e frustrante.
O corpo, pesado, comunica a drenagem da energia libidinal, e os 90
minutos de antecedência no trabalho simbolizam o tempo morto do desejo
suspenso.
“A
energia libidinal é investida em objetos do desejo, mas quando estes se tornam
inatingíveis, a libido se recolhe, produzindo o retraimento narcísico.” (Freud,
1914)
Capítulo
2 — Símbolos do Desejo
Mesmo na
exaustão, surgem gestos significativos:
- Tênis novo:
resistência do desejo, tentativa de reinvestimento da libido no corpo.
- Música: objeto transicional
que sustenta o prazer e a energia afetiva.
- Esquecimento do relógio:
ato falho contra o tempo do superego, pausa do desejo.
“O ato
falho é a manifestação do recalcado; é o triunfo do inconsciente sobre a
censura do ego.” (Freud, 1901)
Capítulo
3 — A Decisão-Limite
O fiscal
decide não investir mais energia na psicologia até receber uma resposta
definitiva. Se positiva, o desejo renasce; se negativa, ele promete mortificar
a psicologia, arriscando-se a viver apenas como fiscal exaurido e
anedônico.
“O
sujeito, ao se recolher, não mata a pulsão; ele apenas a suspende,
preparando-se para um novo investimento ou para o luto simbólico de um ideal do
eu.” (Laplanche & Pontalis, 1967)
Capítulo
4 — O Não Fazer Nada: Entrega e Esperança
O “não
fazer nada” não é preguiça nem desistência, mas gesto simbólico e
psicanalítico de preservação do desejo e entrega ao divino.
- Psicanálise: a
suspensão da ação é proteção da libido, pausa necessária para que o
ego recupere forças antes de investir em algo significativo. O silêncio e
o descanso permitem que o desejo não seja mortificado prematuramente.
- Símbolo espiritual: o
ato de não agir é entrega a Deus. O sujeito confia que o caminho
certo será aberto pelo Senhor, mantendo viva a esperança de renascimento
da psicologia.
- Integração: a
pausa preserva a energia libidinal, evitando a mortificação definitiva do
desejo, e ao mesmo tempo manifesta fé e confiança no tempo divino.
“Eu faço
o que posso, mas confio o resultado ao Senhor. Ele conduzirá o caminho.”
O
descanso e a espera, portanto, são gestos ativos do inconsciente e do
espírito, uma oração silenciosa que mantém o desejo vivo, mesmo quando o
ego se recolhe.
Capítulo
5 — O Último Passo e o Primeiro Renascimento
Cada
gesto cotidiano — tênis novo, música, esquecimento do relógio, antecipação —
torna-se símbolo de travessia psíquica:
- Resistência à exaustão
- Sustento da pulsão de vida
- Entrega e esperança
- Preparação para o renascimento do desejo
“O
desejo nunca morre; ele muda de corpo, de forma e de objeto.” (Lacan, 1973)
O fiscal
psicólogo caminha até o portão do supermercado, não apenas cumprindo um dever,
mas manifestando o equilíbrio entre pausa, esperança e possível
reinvestimento da libido.
Conclusão
O fiscal
psicólogo demonstra que o silêncio e a suspensão da ação não são inatividade,
mas gestos conscientes e inconscientes de preservação do desejo.
Eles protegem a libido, permitem a reorganização psíquica e simbolizam entrega
e confiança no divino. Mesmo na exaustão, o desejo continua respirando
através dos pequenos sinais: tênis novo, música, esquecimento do relógio,
antecipação ao trabalho.
O livro
evidencia que a vida psíquica e espiritual se revela nos detalhes do
cotidiano, e que a espera e o descanso são estratégias de sobrevivência do
desejo e de esperança.
Referências
Bibliográficas
1.
Freud, S. (1901). A interpretação dos sonhos.
Rio de Janeiro: Imago.
2.
Freud, S. (1914). Introdução ao Narcisismo.
Rio de Janeiro: Imago.
3.
Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer.
Rio de Janeiro: Imago.
4.
Lacan, J. (1973). O Seminário, Livro 11: Os
Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
5.
Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (1967). Vocabulário
da Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago.
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