Ano 2025. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Excelente
observação — e muito pertinente para uma análise pela psicologia social,
pois o ambiente do supermercado é um espaço profundamente planejado para influenciar
comportamentos de consumo, inclusive por meio da desorientação espacial
que você descreve.
Vamos
detalhar o fenômeno passo a passo:
🧭 1.
Desorientação espacial como estratégia de controle do comportamento
Na
psicologia social, entende-se que o comportamento humano é fortemente
influenciado pelo ambiente físico e social. Quando os repositores mudam a
disposição dos produtos, ocorre uma quebra do mapa cognitivo que o
cliente havia construído.
- Mapa cognitivo é
o termo usado por Tolman (1948) para descrever a representação
mental que fazemos de um espaço conhecido.
- Quando o cliente vai ao supermercado
regularmente, ele cria um mapa mental da localização dos produtos.
- Quando esse mapa é rompido (produtos mudam
de lugar), o cliente sente confusão e perda de referência, o que é
uma forma de desorientação espacial.
Essa
desorientação tem um efeito direto sobre o comportamento: o cliente demora
mais tempo nas prateleiras, circula por mais corredores e,
consequentemente, se expõe a mais estímulos de consumo.
Trata-se,
portanto, de uma técnica de influência ambiental, muitas vezes
planejada, para aumentar o tempo de permanência no ambiente e estimular
compras por impulso.
😖 2.
Efeitos emocionais e cognitivos: raiva, frustração e sobrecarga
Quando
a pessoa percebe que perdeu o controle de um espaço familiar, ativa-se um
estado emocional de frustração.
Segundo Leon Festinger (1957), quando há uma dissonância entre a
expectativa (“sei onde estão os produtos”) e a realidade (“mudaram tudo de
lugar”), o indivíduo experimenta tensão cognitiva, que gera irritação
e raiva.
Essa
raiva é, na verdade, a manifestação de um conflito de controle: o
consumidor deseja autonomia e previsibilidade, mas o ambiente o coloca numa
condição de dependência e vulnerabilidade.
🧠 3.
Desorientação e manipulação simbólica
Sob
a ótica da psicologia social crítica (inspirada em autores como Adorno e
Marcuse), essa manipulação do espaço é um mecanismo ideológico de
controle social do consumo.
O sujeito, ao se sentir desorientado, tende a se concentrar em recompor a
ordem perdida, o que o torna mais suscetível à influência visual e
emocional das campanhas de marketing e das cores das embalagens.
Assim,
a desorientação não é apenas espacial — é também simbólica:
- Desorienta-se o sujeito para enfraquecer
sua racionalidade.
- Estimula-se o consumo pelo afeto e
impulso, e não pela necessidade real.
🛒 4.
Conclusão: o supermercado como espaço de influência social
O
supermercado, nesse contexto, é um microssistema de controle social, no
qual o layout é continuamente reorganizado para manter o consumidor em estado
de busca e dependência.
A
desorientação espacial, portanto:
- Rompe o senso de controle do
indivíduo sobre o ambiente;
- Ativa emoções negativas
(frustração, raiva, ansiedade);
- Estimula comportamentos compensatórios,
como comprar mais do que o planejado;
- E reforça o poder simbólico da
instituição comercial sobre o consumidor.
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