Ano 2025. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
A
trajetória de um teólogo-psicólogo e a construção do educador social/
Introdução
A
trajetória de um sujeito que transita entre diferentes campos do saber não é
apenas um percurso profissional; é também uma travessia psíquica, simbólica e
ética. Este livro nasce da experiência singular de um psicólogo que, antes de
sua formação em Psicologia, dedicou-se à Teologia, à interpretação das
Escrituras e ao ensino religioso de adolescentes. Essa experiência prévia com
discursos, narrativas, ética comunitária e elaboração textual constituiu o
terreno fértil para seu desejo posterior de se tornar pesquisador, escritor e
educador.
Ao
atravessar a graduação em Psicologia, o autor encontrou na disciplina de
Produção de Texto científico a via de legitimação de um desejo antigo:
escrever, interpretar, orientar e ensinar. A produção de quase mil artigos, a
construção de blogs e sites autorais e a prática de comunicar saber psicológico
ao público funcionaram como uma verdadeira “pré-formação” subjetiva para a
função de educador social, psicólogo orientador ou docente universitário.
Este
livro organiza essa passagem — do púlpito à escrita acadêmica, do ensino
religioso ao educativo-social, da interpretação teológica à hermenêutica
psicológica — mostrando como o conhecimento se transforma sem jamais anular
suas origens. A cada capítulo, articulamos aspectos teóricos da Psicologia,
Psicanálise, Educação e Teologia, bem como a construção identitária do
educador-escritor.
Sumário
1.
Capítulo 1 – A Palavra que Forma: Teologia,
simbolismo e a vocação para ensinar
2.
Capítulo 2 – Da Interpretação Bíblica à
Hermenêutica Psicológica: Um trânsito entre discursos
3.
Capítulo 3 – A Escrita como Processo de
Subjetivação: O nascimento do psicólogo-escritor
4.
Capítulo 4 – O Educador Social e a Função do
Cuidado: Psicologia, ética e vínculo
5.
Capítulo 5 – O Psicólogo como Orientador: A
escuta, o setting e a transmissão de saber
6.
Capítulo 6 – Pedagogia, Psicanálise e
Universidade: O desejo de ensinar e o ensino do desejo
7.
Capítulo 7 – A Vocação Integrada: Da
multiplicidade de identidades à construção profissional madura
Capítulo
1 – A Palavra que Forma: Teologia, simbolismo e a vocação para ensinar
A
teologia, antes de ser um campo de doutrinas, é uma forma de interpretar o
sentido. A função de professor de escola dominical coloca o sujeito em contato
direto com a ética comunitária e com o papel de mediador de significados.
Segundo Tillich (2005), “a fé é uma preocupação última que orienta a totalidade
da pessoa humana”. Essa orientação para o sentido e para a palavra lança as
bases da vocação educativa.
A
experiência de elaborar sermões, ensinar adolescentes e interpretar textos
sagrados desenvolve competências simbólicas essenciais para a prática futura na
Psicologia. Como afirma Ricœur (1990), “o símbolo dá a pensar”: interpretar é
produzir pensamento. Assim, antes mesmo da formação psicológica, já havia um
sujeito que manejava linguagem, narrativa, metáfora e ethos pedagógico.
Essa
base teológica não desaparece — ela se transforma, amplia-se e se torna
matéria-prima para a construção de um educador social mais sensível ao sagrado
cotidiano do sofrimento humano.
Referências
do capítulo 1
- Ricœur, P. (1990). O conflito das
interpretações.
- Tillich, P. (2005). A coragem de ser.
Capítulo
2 – Da Interpretação Bíblica à Hermenêutica Psicológica: Um trânsito entre
discursos
A
passagem da teologia à psicologia não é ruptura, mas tradução. Ambas lidam com
significado, sofrimento, ética e desejo. Para Freud (1912), interpretar é
“tornar consciente o que estava recalcado”. Em Teologia, interpreta-se o texto;
em Psicologia, interpreta-se o sujeito e sua narrativa.
A
hermenêutica psicológica exige uma escuta não julgadora, distinta da
interpretação normativa religiosa. Gadamer (1997) lembra que interpretar é
sempre “um encontro entre horizontes”. O teólogo transforma-se em psicólogo
quando reconhece que o texto agora é vivo: é o paciente.
Assim,
o trânsito entre discursos produz uma identidade híbrida e madura, capaz de
integrar fé, ciência, cultura e subjetividade.
Referências
do capítulo 2
- Freud, S. (1912). A dinâmica da
transferência.
- Gadamer, H.-G. (1997). Verdade e Método.
Capítulo
3 – A Escrita como Processo de Subjetivação: O nascimento do psicólogo-escritor
A
escrita não é apenas técnica; é também subjetivação. Foucault (1994) descreve a
escrita de si como um exercício espiritual que transforma o sujeito. Quando o
psicólogo encontra, na Produção de Texto científico, o espaço para publicar,
ele ressignifica um desejo antigo, antes frustrado: publicar livros como
teólogo.
A
produção de quase mil artigos, blogs e sites representa não apenas
produtividade, mas a constituição de um lugar simbólico: o autor, o
pesquisador, o orientador. Como diz Bakhtin (1997), “a linguagem é o lugar onde
o sujeito se torna”. Ao escrever, o psicólogo torna-se mais psicólogo — e mais
escritor.
Essa
escrita contínua prepara o caminho para funções docentes, de orientação e de
intervenção social.
Referências
do capítulo 3
- Bakhtin, M. (1997). Estética da criação
verbal.
- Foucault, M. (1994). A hermenêutica do
sujeito.
Capítulo
4 – O Educador Social e a Função do Cuidado: Psicologia, ética e vínculo
O
educador social trabalha na fronteira entre vulnerabilidade e cuidado. Rogers
(1961) sustenta que a relação de ajuda só é possível quando há autenticidade,
empatia e aceitação positiva incondicional. Essas condições, desenvolvidas no
púlpito e depois na clínica, tornam-se centrais na prática educativa.
A
ética do cuidado, segundo Boff (1999), exige “uma atitude amorosa que reconhece
o outro em sua dignidade”. O psicólogo encontra no trabalho social a
oportunidade de transformar sofrimento em potência, reconhecendo a
singularidade de cada história.
Assim,
sua trajetória teológica prepara o ethos; sua formação psicológica prepara a
técnica; e sua escrita prepara o discurso.
Referências
do capítulo 4
- Boff, L. (1999). Saber cuidar.
- Rogers,
C. (1961). On becoming a person.
Capítulo
5 – O Psicólogo como Orientador: A escuta, o setting e a transmissão de saber
O
papel de orientador envolve escuta ativa, manejo emocional e capacidade de
traduzir conceitos complexos em linguagem acessível. Winnicott (1965) ressalta
que o ambiente facilitador possibilita o amadurecimento. O orientador torna-se
esse ambiente.
A
capacidade de construir textos, explicar conceitos psicológicos em vídeos,
artigos e lives fortalece a identidade do psicólogo como mediador de
conhecimento. Freire (1996) afirma que ensinar não é transferir saber, mas
“criar as possibilidades para a sua produção”.
Aqui,
a escrita encontra sua função social: orientar, educar, transformar.
Referências
do capítulo 5
- Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia.
- Winnicott,
D. W. (1965). The maturational processes and the facilitating
environment.
Capítulo
6 – Pedagogia, Psicanálise e Universidade: O desejo de ensinar e o ensino do
desejo
A
docência universitária exige domínio conceitual, mas também desejo. Lacan
(1964) afirma que “o desejo do analista é o que funda sua prática”. De modo
análogo, o desejo do docente funda o ensino. O sujeito que sempre escreveu,
pesquisou, produziu conteúdo e ensinou revela um desejo duradouro: transmitir
saber.
A
universidade torna-se, assim, o lugar simbólico onde se juntam suas três
formações:
– Teologia (sentido),
– Psicologia (subjetividade),
– Escrita acadêmica (transmissão).
O
professor universitário é, como diz Perrenoud (2002), um “profissional
reflexivo” capaz de integrar teoria, prática e experiência.
Referências
do capítulo 6
- Lacan, J. (1964). O Seminário, Livro 11:
Os quatro conceitos fundamentais.
- Perrenoud, P. (2002). A prática reflexiva
no ofício de professor.
Capítulo
7 – A Vocação Integrada: Da multiplicidade de identidades à construção
profissional madura
A
identidade profissional não é fixa, mas processual. Erikson (1976) descreve o
desenvolvimento humano como uma construção contínua da identidade. O
psicólogo-teólogo-escritor experimentou fases distintas, mas não
contraditórias.
Hoje,
sua vocação encontra síntese:
• o desejo teológico de transmitir sentido;
• o desejo psicológico de escutar e transformar;
• o desejo pedagógico de ensinar;
• o desejo autoral de escrever.
Jung
(1961) afirma que individuação é tornar-se aquilo que se é. O sujeito que
produz textos, vídeos, artigos e reflexões encontra-se preparado para ocupar
vagas como educador social, psicólogo orientador ou docente universitário. Sua
vida o preparou para isso.
Referências
do capítulo 7
- Erikson, E. (1976). Identidade, juventude
e crise.
- Jung, C. G. (1961). Memórias, sonhos,
reflexões.
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