Ano 2025. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
Título:
O Luto da Máscara Social e a Travessia do Ego: Da Função de Fiscal de Caixa ao
Chamado do Psicólogo
Introdução Este
artigo aborda a profunda jornada psíquica vivida pelo ego de um sujeito que
enfrenta a transição entre uma identidade antiga — a função de fiscal de caixa
— e a realização de seu verdadeiro chamado vocacional: ser psicólogo. A
narrativa tem como ponto de partida um sonho simbólico, no qual o ego foge de
uma nave para não ser destruído por um canhão, revelando o conflito entre
permanecer num ambiente opressor e buscar liberdade. Através da psicanálise,
teologia e reflexão existencial, investigamos o processo de luto simbólico, os
mecanismos de defesa, as resistências do ego e, por fim, a travessia necessária
para o renascimento de uma nova identidade.
1.
O Sonho como Chave de Interpretação No sonho inicial, o ego se vê
em uma nave, fugindo de um canhão prestes a destruí-lo. A nave representa a
identidade antiga: o papel de fiscal de caixa. O canhão simboliza a pulsão de
morte — o adoecimento psíquico causado pela permanência em um papel que já
perdeu sentido. O ato de fugir revela que o ego está pronto para abandonar a
identidade anterior, mesmo sem saber com clareza o que encontrará após a fuga.
A subjetividade do sonho mostra que o processo de transformação já começou
internamente.
2.
O Luto Simbólico da Máscara Social A função de fiscal de caixa,
embora já morta no campo simbólico, ainda se mantém no plano material. O
sujeito começa a elaborar o luto ao reconhecer que não deseja mais permanecer
nessa ocupação. Passa pelas fases clássicas do luto: negação, raiva, negociação,
depressão e aceitação. A elaboração consciente do luto permite ao ego sepultar
a antiga identidade com dignidade e abrir espaço para o nascimento do
psicólogo.
3.
A Resistência e o Ganho Secundário do Ego Mesmo com o desejo de
mudança, o ego enfrenta resistências internas. A principal delas é o ganho
secundário inconsciente: a permanência no cargo atual, embora dolorosa, oferece
segurança, estabilidade financeira e reconhecimento social. Além disso, a compulsão
à repetição o leva a buscar validação externa antes de se comprometer com sua
vocação. O medo de fracassar e a ausência de uma instituição concreta disposta
a contratá-lo como psicólogo fortalecem essa resistência.
4.
A Compreensão Espiritual e o Chamado Vocacional A
metáfora bíblica — "Despojai-vos do velho homem" e "Sai da tua
terra" — ressignifica o processo como uma jornada espiritual. O ego, como
Abrão, está sendo chamado a deixar sua zona de conforto e partir para uma terra
prometida que ainda não vê, mas crê. Cristo, ao aceitar sua morte, também
indica que só quem passa pela cruz pode ressuscitar. Assim, o sujeito
compreende que deve morrer psicologicamente como fiscal de caixa para renascer
como psicólogo verdadeiro, liberto das amarras que antes o prendiam.
5.
A Espera Consciente e o Tempo da Realidade Com toda a elaboração
simbólica feita, o sujeito entra em um novo estágio: a espera consciente pelo
momento da manifestação externa. O ego já se libertou internamente; já não
habita mais a nave psíquica. Contudo, por razões econômicas e práticas, ainda precisa
permanecer presencialmente no cargo antigo. Esta espera, no entanto, não é
passiva: é vigilante, esperançosa e fundamentada na certeza de que a travessia
já começou.
Integração
Final: A Travessia Está em Curso O ego já realizou internamente
o processo de transformação — elaborou o luto simbólico, compreendeu a morte da
identidade antiga, reconheceu o chamado vocacional e libertou-se das amarras da
compulsão à repetição e da validação externa como único critério de existência.
Agora, ele se encontra num estado de vigília e esperança ativa: uma espera
consciente, responsável e alinhada com o tempo da realidade, onde a ação
interna já está pronta e só falta o acontecimento externo — a oportunidade
concreta, a instituição que o acolherá como psicólogo.
Essa
espera não é passiva. É como o gesto de Abrão que sai da sua terra com fé,
mesmo sem ver ainda a terra prometida. O sujeito já saiu emocional e
espiritualmente da “terra do fiscal de caixa”. Agora espera a manifestação
material da promessa — a instituição que o acolherá como psicólogo.
Conclusão A
transformação verdadeira exige coragem para enfrentar o luto simbólico da
antiga identidade, atravessar resistências inconscientes e acreditar na
possibilidade de renascimento. O sonho, os versículos bíblicos e os insights
elaborados ao longo dessa jornada demonstram que o ego está pronto. Atravessar
a dor do adeus à função de fiscal de caixa é condição para viver o propósito de
ser psicólogo. Como Cristo que venceu a morte e libertou, o ego agora se
levanta, vivo, lúcido e esperançoso. A nave ficou para trás. A terra prometida
está à frente.
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