Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Um
psicólogo está treinando na academia e um dia o personal lhe disse posso gravar
um vídeo em que você está exercitando. O psicólogo disse pode. Aí o personal
disse me fala seu Instagram para eu adicionar. O psicólogo lhe disse ayrton
psicólogo. O personal disse você é psicólogo. O psicólogo respondeu sim. Hoje o
personal estava falando com uma garota que estava se exercitando e de repente e
chamou o Ayrton ela está falando sobre sentimentos eu lhe disse não sou
psicólogo, o psicólogo é você. Deste momento em diante qualquer assunto o
personal fala ele é o psicólogo. 
Na
abordagem da psicanálise, podemos explorar a situação levando em conta o
inconsciente, a transferência, e o papel dos mecanismos de defesa. Primeiro, é
importante notar que o personal teve uma reação intensa ao descobrir que Ayrton
é psicólogo. Ele passa a fazer referências frequentes ao fato de Ayrton ser
psicólogo e o coloca em uma posição de autoridade para assuntos emocionais e
psicológicos.
Esse
comportamento pode indicar um processo chamado "transferência". Na
psicanálise, transferência ocorre quando uma pessoa projeta em outra
sentimentos, expectativas ou modelos de relação que originaram em outra
experiência, muitas vezes na infância ou em relações significativas. Ao saber
que Ayrton é psicólogo, o personal pode ter transferido para ele uma imagem de
"figura de autoridade", ou alguém que tem respostas e soluções para
questões emocionais. É comum que pessoas, ao saberem que alguém é psicólogo,
projetem nele características de alguém “sábio” ou “confiável” para lidar com
emoções, o que pode evocar uma transferência onde ele vê o psicólogo como uma
figura de apoio.
Além
disso, o personal parece usar uma espécie de "mecanismo de defesa".
Um mecanismo de defesa é uma estratégia inconsciente que usamos para proteger o
ego de ansiedades ou sentimentos desconfortáveis. Nesse caso, o personal pode
estar usando a "projeção", ou seja, transferindo para o psicólogo a
responsabilidade de lidar com o tema dos sentimentos e emoções. Ao dizer “ele é
o psicólogo” ou “não sou eu o psicólogo”, ele pode estar evitando se envolver
emocionalmente ou assumir uma posição de vulnerabilidade. Esse distanciamento
pode ser uma forma de defender-se contra a ansiedade que temas emocionais podem
provocar para ele.
Esse
comportamento também revela algo sobre o superego do personal. O superego é a
parte da psique que representa as normas, valores e proibições internalizadas.
Para algumas pessoas, expressar sentimentos ou falar sobre emoções pode ser
visto como um sinal de fraqueza ou vulnerabilidade. O personal, ao insistir que
Ayrton é o psicólogo, pode estar protegendo seu ego de um conflito interno,
onde ele evita tocar em temas sensíveis, mantendo-se seguro dentro de uma
imagem de "força" que ele pode querer projetar no ambiente da
academia.
Em
resumo, o personal parece usar o papel do psicólogo para projetar nele a
responsabilidade pelos temas emocionais, utilizando a transferência e a
projeção para evitar seu próprio envolvimento com esses sentimentos. Essa
dinâmica pode ser uma estratégia inconsciente para lidar com possíveis
desconfortos emocionais, enquanto ele preserva uma imagem de controle e força,
coerente com o ambiente onde ele trabalha.
Seguindo
a linha da psicanálise, podemos aprofundar o entendimento sobre os possíveis
conflitos internos do personal ao projetar no psicólogo Ayrton a
responsabilidade pelas questões emocionais. O personal trainer, ao dizer
constantemente "ele é o psicólogo" ou ao transferir para Ayrton
qualquer discussão emocional, pode estar revelando uma resistência inconsciente
em lidar com seus próprios sentimentos. 
A
resistência, em psicanálise, é um mecanismo que atua para impedir que certos
conteúdos, como pensamentos ou emoções reprimidos, venham à tona, causando
desconforto. Ao evitar se posicionar sobre questões emocionais e delegar essa
responsabilidade a Ayrton, o personal mantém uma "distância segura"
de suas próprias vulnerabilidades emocionais.
Essa
resistência também pode estar conectada a um processo de racionalização.
Racionalização é outro mecanismo de defesa, no qual uma pessoa encontra
justificativas racionais para evitar a exposição emocional. O personal pode
estar racionalizando sua postura ao argumentar que Ayrton, por ser psicólogo, é
quem "entende dessas coisas". Esse comportamento permite que ele se
mantenha "protegido", mantendo seu foco em um papel profissional mais
técnico e objetivo (treinamento físico), o que pode ser mais confortável para
ele.
Também
existe um possível componente de inveja inconsciente ou admiração ambivalente.
O personal pode, inconscientemente, desejar o conhecimento que o psicólogo
Ayrton tem sobre emoções e relacionamentos, mas, ao mesmo tempo, sente a
necessidade de diminuir seu próprio envolvimento com esses temas. Essa
ambivalência, que é comum nas relações de transferência, surge quando há uma
mistura de sentimentos contraditórios, como admiração e resistência, em relação
à mesma pessoa. Ao exaltar Ayrton como "o psicólogo", o personal pode
estar tanto admirando quanto se afastando do que Ayrton representa — uma
compreensão das emoções que ele talvez sinta como uma "área
desconhecida" ou que o deixa desconfortável.
Por
fim, esse comportamento pode ser uma forma de defesa contra o medo de exposição
pessoal. Em um ambiente como a academia, onde força e aparência são
valorizados, falar sobre sentimentos pode, para ele, parecer
"inadequado" ou "frágil". Transferir para Ayrton o papel de
lidar com esses temas cria uma fronteira que protege o personal de se expor
emocionalmente, permitindo que ele se mantenha em um papel que se alinha com o
que ele acredita ser "forte" e "adequado" para seu ambiente
de trabalho.
Assim,
em termos psicanalíticos, o personal demonstra mecanismos como a transferência,
resistência, racionalização, e possivelmente uma ambivalência entre admiração e
defesa. Esses processos são comuns e refletem a complexidade dos nossos
mecanismos internos ao lidar com emoções que sentimos como desafiadoras.
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