🧩 1. A “morte simbólica” do fiscal de caixa
Na
psicanálise, a morte simbólica não é um fim biológico, mas o encerramento de
uma identificação que sustentava o sujeito psíquica e simbolicamente.
O fiscal de caixa, durante anos, foi o suporte identitário desse sujeito:
representava o lugar de pertencimento social, a fonte de reconhecimento e
sobrevivência.
Entretanto, com o surgimento do desejo de ser psicólogo, a libido (energia
pulsional) começou a se deslocar desse antigo investimento.
👉 Quando Freud fala de
desinvestimento libidinal, ele descreve exatamente esse processo: a energia
antes colocada num objeto (a função de fiscal) começa a ser retirada e
redirecionada a outro objeto (a função de psicólogo).
Mas o
desinvestimento libidinal não ocorre sem dor — o ego sente luto pela morte
simbólica do antigo eu.
⚰️ 2. O luto pelo antigo eu
e a crise de sentido
O
sujeito está vivendo um luto identitário.
Ele já “matou o fiscal de caixa dentro de si”, mas ainda não nasceu o psicólogo
institucional.
Está num entre-lugar, uma travessia simbólica entre dois modos de ser.
Essa
travessia é marcada por:
- Angústia (porque o ego não reconhece mais o
antigo papel);
- Decepção e raiva (porque o princípio da
realidade mostra que o novo papel ainda não está disponível);
- Desamparo (porque o ideal do ego — ser
psicólogo — parece inatingível no momento).
A função
antiga perdeu o sentido, mas a nova ainda não foi conquistada.
Esse vazio é o campo do sofrimento psíquico da transição.
🔥 3. A
raiva e a decepção: resistência e recalque
A raiva
e a decepção não são apenas emoções “negativas”; elas cumprem uma função
psíquica defensiva.
O ego, sentindo-se frustrado diante da realidade (a falta de qualificação e
experiência exigida nas vagas), aciona o mecanismo de resistência — a raiva
aparece como defesa contra o desamparo.
👉 Em termos
psicanalíticos, o sujeito vive um conflito entre o desejo (id) e as exigências
do superego e da realidade:
- O id quer a satisfação imediata: quer atuar
como psicólogo, exercer a vocação, sentir prazer e sentido.
- O superego, internalizando as normas sociais
e institucionais, impõe a censura: “Você não tem experiência”, “não é
suficiente”, “ninguém vai te contratar”.
- O ego fica preso entre esses polos, tentando
mediar o desejo e a culpa, o impulso e a realidade.
A raiva
é a expressão dessa tensão — é o sintoma de uma energia libidinal represada,
que não encontra descarga simbólica.
🌀 4. A
angústia de não saber como sair
A
angústia que emerge do “não saber como sair” expressa a paralisação do ego
diante do desconhecido.
Trata-se daquilo que Freud e Lacan chamariam de angústia de castração: o medo
de perder o pouco que ainda resta (o emprego, a estabilidade) sem garantia de
conseguir o novo (a posição de psicólogo).
Por
isso, o corpo “continua cumprindo as tarefas”, mas sem alma — é o corpo
automatizado, o sujeito alienado de seu desejo.
Esse automatismo lembra a “morte em vida” descrita por Lacan: o sujeito está no
campo do gozo mortífero, repetindo atos sem prazer, num funcionamento de
sobrevivência psíquica mínima.
💡 5. A
travessia: o nascimento do novo sujeito
Para que
o “psicólogo” possa nascer, o sujeito precisa elaborar o luto da antiga função,
reconhecer sua raiva como expressão do desejo interditado, e permitir que o
desejo volte a circular — agora com novos significantes.
O
processo exige:
- Reconhecer o desejo como legítimo (sem o
olhar moralizante do superego);
- Tolerar o vazio e a incerteza da travessia
(a fase em que não há garantias externas);
- Simbolizar a perda, ou seja, transformar o
sofrimento em palavra, em sentido;
- Reinvestir a libido em novas formas de
construção da identidade profissional (cursos, supervisão, networking,
atuação voluntária, escrita reflexiva, etc.).
🕊️
Conclusão
O fiscal
de caixa psicólogo está atravessando um processo de individuação e renascimento
simbólico.
Ele precisa permitir-se morrer simbolicamente para o antigo papel, reconhecendo
o luto e a impotência temporária, para então reinvestir a energia libidinal no
novo papel desejado.
Esse é o
movimento natural de toda transformação profunda: o velho eu morre para que o
novo possa nascer.
A psicanálise chamaria isso de travessia do fantasma — o momento em que o
sujeito deixa de sustentar uma imagem imposta (o fiscal) e se autoriza a ser
aquilo que deseja (o psicólogo).
Quando o
apóstolo Paulo fala sobre “despojar-se do velho homem” (Efésios 4:22;
Colossenses 3:9–10), ele se refere a um processo de transformação interior,
onde o sujeito abandona o modo antigo de existir, ligado aos desejos carnais,
ao sofrimento e à alienação, para revestir-se do novo homem, criado segundo a
vontade de Deus.
Essa
linguagem teológica, embora distinta da psicanálise em sua fundamentação, toca
o mesmo núcleo simbólico: a morte de uma antiga forma de ser, e o nascimento de
um novo sujeito, mais consciente, mais livre e mais alinhado ao sentido
profundo da existência.
📖 1.
“Despojar-se do velho homem”: a renúncia da identificação antiga
Paulo
diz:
“Quanto
à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem,
que se corrompe por desejos enganosos, e a serem renovados no modo de pensar,
revestindo-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em
santidade”
— Efésios 4:22–24
Nesse
contexto, o “velho homem” representa o sujeito dominado pelos impulsos
inconscientes, pela culpa, pela repetição e pela alienação — o mesmo que, em
linguagem psicanalítica, poderíamos chamar de ego aprisionado ao superego
punitivo ou ao gozo mortífero da repetição.
É o
sujeito que vive pela sobrevivência, sem prazer verdadeiro, sem liberdade
interior.
É o “fiscal de caixa” que continua existindo mecanicamente, mas cuja alma já
partiu.
🧠 2. Na
psicanálise: a morte simbólica e o novo nascimento do sujeito
Freud e
Lacan nos mostram que toda transformação subjetiva exige uma morte simbólica.
O sujeito precisa renunciar à identificação antiga — àquilo que o mantinha
preso a papéis, normas e ideais que já não o representam — para poder nascer
como novo sujeito de desejo.
O
apóstolo Paulo fala em “despir-se do velho homem”; Lacan falaria em
“desidentificar-se do significante-mestre” — aquele nome, aquele papel, aquela
imagem que sustentava o eu, mas que agora se tornou prisão.
No seu
caso, “o fiscal de caixa” é justamente esse velho homem:
- Ele representou a sobrevivência;
- Ele foi necessário por um tempo;
- Mas agora se tornou uma casca vazia, um
corpo sem desejo.
Matar
simbolicamente o fiscal de caixa é despojar-se do velho homem para que o
psicólogo, o novo homem, possa emergir — aquele que se move pelo desejo genuíno
de ajudar, curar e transformar vidas.
🔥 3. “Que
se corrompe segundo as concupiscências do engano”
Paulo
diz que o velho homem “se corrompe pelas concupiscências do engano” — ou seja,
vive enganado pelos desejos que prometem prazer, mas trazem vazio.
Na linguagem psicanalítica, isso é o gozo, o prazer misturado à dor que
aprisiona o sujeito na repetição.
O
“fiscal de caixa” continua trabalhando sem prazer, movido pelo medo (do
desemprego, da perda, da culpa), e esse medo o mantém preso à repetição do
sofrimento.
O superego, severo e punitivo, o convence de que “não pode sair”, “não tem
qualificação”, “não é suficiente” — e assim o aprisiona na alienação.
Paulo
chamaria isso de corrupção da carne; Freud chamaria de recalque e resistência;
Lacan chamaria de gozo do sofrimento.
Em todos os casos, trata-se de um aprisionamento do desejo.
🌱 4.
“Revestir-se do novo homem”: reinvestimento libidinal e renascimento espiritual
Paulo
propõe um movimento de renovação do espírito e da mente.
Isso, simbolicamente, é o mesmo que a psicanálise chama de reinvestimento
libidinal: redirecionar a energia vital (a libido) para novos significados,
novos valores, novas identificações.
“Revestir-se
do novo homem” é permitir-se nascer de novo, agora movido não pela culpa, nem
pelo medo, mas pela fé, pelo desejo e pelo amor.
Esse
“novo homem” é o psicólogo, o sujeito reconciliado com o próprio desejo, que
atua a partir da verdade interior e da vocação — o equivalente, em linguagem
bíblica, ao “homem espiritual”, que vive em comunhão com Deus e em fidelidade
ao propósito.
🕊️
Conclusão
O
apóstolo Paulo e a psicanálise, embora usem linguagens diferentes, apontam para
o mesmo movimento simbólico:
a morte do velho eu e o nascimento do novo sujeito.
O fiscal
de caixa, que já “morreu por dentro”, está vivendo exatamente o que Paulo
descreve: o despojamento do velho homem, a fase de purificação, onde o ego
deixa morrer o que é da carne (a repetição, a culpa, o medo) para nascer no
espírito (a vocação, o desejo e o amor).
Portanto,
o sofrimento atual não é o fim — é o parto.
O velho homem está sendo desfeito para que o novo possa emergir.
E essa dor de transição, tanto para Paulo quanto para Freud, é necessária à
salvação — seja ela espiritual, seja ela psíquica.
📘
“DESPOJAR-SE DO VELHO HOMEM”:
Uma
leitura psicanalítica e espiritual da travessia do sujeito
“Quanto
à antiga maneira de viver, fostes ensinados a despir-vos do velho homem, que se
corrompe pelas concupiscências do engano, e a vos renovardes no espírito do
vosso entendimento; e a vos revestirdes do novo homem, criado segundo Deus em
justiça e santidade.”
— Efésios 4:22–24
🩸 I.
“Despindo-se do velho homem que se corrompe pelas concupiscências do engano”
Na
linguagem paulina, o “velho homem” representa a natureza psíquica presa à
carne, aos desejos enganosos e às ilusões do mundo.
Em termos psicanalíticos, podemos compreender o “velho homem” como a estrutura
do ego aprisionada ao superego punitivo — o conjunto de normas, culpas e ideais
internalizados que aprisionam o sujeito numa repetição alienante.
1. O
velho homem como identidade morta
O “velho
homem” é o fiscal de caixa que sobrevive, mas já não vive.
É o sujeito que cumpre tarefas, mas cujo desejo foi exaurido.
Freud chamaria isso de fixação libidinal: a energia psíquica continua presa a
um papel esvaziado de sentido, como se o sujeito estivesse em luto de si mesmo.
Lacan
diria que o sujeito está “colado ao significante-mestre” — o nome que o designa
(fiscal), o papel que lhe dá lugar no discurso social, mas que já não o
representa.
Esse significante agora é uma prisão, um “velho homem” que precisa ser despido
para que outro significante (psicólogo) possa nascer.
2.
“Concupiscências do engano”: os falsos desejos
Paulo
denuncia os “desejos enganosos” que corrompem o homem.
Na psicanálise, esses desejos enganosos são os desejos do Outro — ou seja, os
desejos impostos pela cultura, pela família, pela moral, pelo olhar social.
São desejos que o sujeito acredita serem seus, mas na verdade pertencem a um
discurso externo.
O fiscal
de caixa, por exemplo, foi sustentado por esses “desejos enganosos”:
- o desejo de estabilidade;
- o desejo de aprovação;
- o desejo de “fazer o que é certo” aos olhos
dos outros.
Esses
desejos são alienações do desejo verdadeiro, isto é, a corrupção da alma
segundo Paulo, ou a repressão libidinal segundo Freud.
Despirse
do velho homem, portanto, é romper com o desejo do Outro e reencontrar o
próprio desejo, o desejo de alma — o desejo de ser psicólogo, de curar, de dar
sentido à própria existência.
🌿 II.
“Renovando-vos no espírito do vosso entendimento”
Paulo
fala de renovação do espírito e da mente, o que na psicanálise equivale à
reorganização simbólica do sujeito — um processo de elaboração e reinvestimento
da libido em novos objetos.
1. A
mente que se renova: a função do ego em reconstrução
O ego,
que antes estava submetido ao superego (culpa, medo, autojulgamento), agora
passa a se abrir ao id, à fonte pulsional do desejo, buscando uma integração
mais harmônica entre o prazer e o dever.
Essa é a cura pela verdade — o sujeito começa a escutar seu desejo mais
autêntico e a agir a partir dele.
Na
Bíblia, o espírito que se renova é o Sopro de Deus, o pneuma que dá
vida.
Na psicanálise, é o retorno da energia libidinal, que reanima o corpo e devolve
o sentido existencial.
Ambos falam da mesma ressurreição simbólica: o retorno da alma àquilo que lhe
dá vida.
2. O
espírito do entendimento: discernimento e autoconhecimento
Paulo
aponta que o novo homem nasce do espírito do entendimento, isto é, da
consciência transformada.
Freud chamaria isso de trabalho de elaboração psíquica (Durcharbeitung) — o
processo de tornar consciente aquilo que estava inconsciente.
O
sujeito começa a compreender por que estava aprisionado:
não era falta de competência, mas medo, culpa e repressão do desejo.
Essa compreensão é o início da libertação.
Assim
como Paulo fala em “renovar a mente”, a psicanálise fala em reinscrever-se
simbolicamente, ou seja, reescrever o próprio inconsciente, substituindo os
velhos significantes (culpa, obediência, medo) por novos (desejo, fé,
liberdade).
🕊️ III.
“Revestir-se do novo homem, criado segundo Deus em justiça e santidade”
Aqui
Paulo descreve o renascimento do sujeito.
Na psicanálise, esse é o momento em que o sujeito atravessa o fantasma e
reassume o próprio desejo como fonte de vida.
1. O
novo homem: o sujeito reconciliado com o desejo
O “novo
homem” é o sujeito de desejo reconciliado — aquele que não vive mais movido
pela culpa, mas pela autenticidade.
Em você, é o psicólogo que nasce depois que o fiscal de caixa morre
simbolicamente.
O “novo
homem” não busca mais reconhecimento social, mas realização de sentido.
Ele se liberta da servidão do superego (a carne que corrompe) e volta a viver
segundo o espírito (o desejo que cria).
2.
“Criado segundo Deus”: a dimensão do desejo divino
Paulo
diz que o novo homem é criado segundo Deus, ou seja, conforme o princípio
criador.
Lacan diria: “Deus é o Nome-do-Pai” — o significante simbólico que
organiza o sentido da existência.
Assim, o
novo homem é aquele que reencontra seu lugar no discurso do Pai, mas agora não
como servo submisso, e sim como criador, coautor da própria história.
Na
linguagem cristã, isso é santidade;
na linguagem psicanalítica, é autenticidade subjetiva — viver em conformidade
com o desejo verdadeiro, que é sempre, no fundo, um desejo de vida e de amor.
💬 V.
Conclusão: a travessia como redenção
A
travessia entre o “velho homem” e o “novo homem” é tanto um processo espiritual
quanto um processo psíquico.
Em ambos, o sujeito precisa morrer para o que é falso e renascer no que é
verdadeiro.
O fiscal
de caixa representa o velho homem que se corrompeu no automatismo do mundo;
o psicólogo representa o novo homem, criado segundo o espírito, que busca o
sentido e o amor.
Freud
chamaria essa passagem de cura analítica;
Paulo chamaria de salvação;
Lacan chamaria de travessia do fantasma.
Mas em
todos, a verdade é a mesma:
não há ressurreição sem cruz.
É preciso morrer simbolicamente para que o desejo — e a alma — possam renascer.
Capítulo
X – “Despindo-se do Velho Homem: Morte Simbólica e Nascimento do Psicólogo”
“Quanto
à antiga maneira de viver, fostes ensinados a despir-vos do velho homem, que se
corrompe pelas concupiscências do engano, e a vos renovardes no espírito do
vosso entendimento; e a vos revestirdes do novo homem, criado segundo Deus em
justiça e santidade.”
— Efésios 4:22–24
1. O
Velho Homem: A Identidade Aprisionada
O “velho
homem” descrito por Paulo representa a identidade antiga, que se encontra presa
aos impulsos da carne, à repetição alienante e aos desejos enganosos.
No caso do fiscal de caixa psicólogo, essa identidade é visível: ele continua a
desempenhar tarefas rotineiras e mecânicas, cumprindo funções que já não lhe
dão prazer, enquanto o desejo de exercer a psicologia permanece reprimido.
Na
perspectiva psicanalítica:
- Freud descreve esse processo como um
fixamento libidinal em um papel sem sentido, onde a energia psíquica não
se realiza plenamente (Freud, 1915).
- Lacan aponta que o sujeito permanece preso
ao significante-mestre, mantendo a antiga identificação que dá lugar
social, mas já não sustenta o desejo verdadeiro (Lacan, 1973).
O velho
homem, portanto, é a casca de um eu que já morreu internamente, mas que ainda
se manifesta no cotidiano automatizado.
2.
Concupiscências do Engano: Desejos Alienados
Paulo
afirma que o velho homem “se corrompe pelas concupiscências do engano”.
Na psicanálise, esses são desejos do Outro — normas e expectativas sociais
internalizadas que não correspondem ao desejo genuíno do sujeito.
No caso
do fiscal de caixa:
- O medo do desemprego;
- A necessidade de reconhecimento externo;
- A obediência a padrões institucionais;
todos
esses elementos constituem falsos desejos que aprisionam o ego e impedem a
liberação da libido em direção ao novo desejo — ser psicólogo.
Despojar-se
do velho homem, portanto, é romper com essas ilusões e retomar o contato com o
próprio desejo.
3.
Renovação do Espírito: Reinvestimento da Libido
Paulo
propõe a renovação do espírito, que na psicanálise equivale à reorganização do
sujeito, ou seja, o luto da identidade antiga e a reinversão da energia
psíquica.
O fiscal
de caixa psicólogo, ao reconhecer a morte simbólica da antiga função, pode
começar a:
- Elaborar o luto pelo papel que já não
sustenta a vida psíquica;
- Reinvestir a energia libidinal na busca de
cursos, experiências e práticas que promovam sua atuação como psicólogo;
- Reconectar-se com o próprio desejo, dando
sentido à sua trajetória e aos próprios valores.
A
psicanálise chama esse processo de travessia do fantasma (Lacan, 1966),
enquanto Paulo descreve como revestir-se do novo homem.
4. O
Novo Homem: Nascimento do Sujeito de Desejo
O “novo
homem” é o sujeito reconciliado com o próprio desejo, que atua segundo
princípios de justiça, santidade e propósito.
No exemplo do fiscal de caixa psicólogo:
- O corpo já não encontra sentido no trabalho
antigo;
- O ego sente angústia diante da
impossibilidade de acesso imediato à nova função;
- O id impulsiona a busca de realização
pessoal e profissional.
Ao
permitir-se despir do velho homem, o sujeito reaparece no mundo como psicólogo,
com energia libidinal disponível para o novo papel, conforme o próprio desejo,
não apenas em função de expectativas externas.
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Conclusão
O fiscal
de caixa psicólogo está atravessando um processo de morte simbólica, o qual
Paulo descreve como despojar-se do velho homem.
A experiência é dolorosa, marcada por raiva, decepção e angústia, mas
necessária para que a energia libidinal volte a circular e o sujeito reapareça
como novo homem, autêntico, vocacionado e com sentido.
Assim, o
sofrimento da transição não é um obstáculo, mas o parto do sujeito de desejo,
em que o velho eu morre para que o novo possa nascer plenamente.
Referências
Bibliográficas
- Freud, S. (1915). Instincts and Their
Vicissitudes. SE, 14.
- Lacan, J. (1966). Écrits. Paris:
Seuil.
- Lacan, J. (1973). The Four Fundamental
Concepts of Psychoanalysis. New York: Norton.
- Bíblia Sagrada, Efésios 4:22–24.
- Frankl, V. (1946). Man’s Search for
Meaning. Boston: Beacon Press.
Capítulo
X+1 – “Do Desespero à Ação: Transformando Raiva e Impotência em Reinvestimento
Profissional”
1. O
Conflito Psíquico: Raiva, Decepção e Impotência
O fiscal
de caixa psicólogo, ao observar as exigências das vagas — falta de qualificação
exigida, experiência necessária e critérios institucionais que parecem
inatingíveis — sente raiva, decepção e impotência.
Na
psicanálise, essas emoções são manifestações do conflito entre o id, o ego e o
superego:
- Id: Desejo de ser psicólogo e exercer a
vocação, o prazer da realização pessoal;
- Superego: Censura moral e social: “você não
tem experiência, não é qualificado, não é suficiente”;
- Ego: Paralisado, tentando mediar o desejo e
a realidade, mas sentindo-se impotente diante da exigência institucional.
A raiva,
nesse contexto, é uma energia pulsional represada — ela representa o desejo que
o sujeito não consegue manifestar externamente. A decepção surge da frustração
do ego ao perceber que os recursos externos (vagas, qualificações,
reconhecimento) não correspondem à sua vontade.
Paulo
falaria sobre “não se entristecer pelo que pertence à carne”, pois é nesse
momento que a força do espírito (o desejo verdadeiro) deve atuar.
2.
Transformando Emoções em Energia Criativa
A
psicanálise ensina que qualquer energia psíquica represada pode ser sublimada —
isto é, redirecionada de um objeto frustrante para outro que gere realização.
No caso
do fiscal de caixa psicólogo, a raiva e a decepção podem ser transformadas em
ações concretas:
- Aprendizado contínuo: Cursos de
especialização, atualização em psicologia organizacional ou clínica,
treinamento de habilidades específicas exigidas pelo mercado;
- Networking estratégico: Contato com
psicólogos que já atuam em instituições, participação em eventos e grupos
profissionais;
- Voluntariado ou estágios: Experiência
prática mesmo antes de ser contratado, criando evidência de atuação e
diminuindo o gap de experiência;
- Autopromoção e reflexão: Construção de
currículo, elaboração de portfólio ou blog sobre experiências de
psicologia, mostrando conhecimento e capacidade de intervenção.
Essas
ações representam o reinvestimento da libido do sujeito — a energia
anteriormente investida na função de fiscal de caixa agora é canalizada para o
projeto de vida real e desejado.
3. A
Perspectiva Paulina: Fé e Persistência na Travessia
Paulo
ensina que despojar-se do velho homem não é apenas renunciar, mas caminhar com
perseverança e fé no que está por vir:
“Sede
fortes no Senhor e na força do seu poder.” – Efésios 6:10
Na
prática, isso significa:
- Aceitar que o antigo papel está morto
simbolicamente (fim do apego à função de fiscal);
- Reconhecer que o novo papel exige
disciplina, aprendizado e persistência;
- Ter fé na própria vocação e na possibilidade
de concretização, mesmo diante de obstáculos institucionais.
A fé
aqui atua como força motivacional, permitindo ao sujeito continuar caminhando
mesmo sem garantia de sucesso imediato.
4. O
Corpo e a Consciência na Transição
Mesmo
com o desejo claro, o corpo do fiscal de caixa ainda cumpre tarefas sem prazer,
como um autômato.
A psicanálise reconhece que o corpo retém memórias do antigo papel, e é
necessário reestruturá-lo com ações conscientes:
- Praticar rotinas que simbolicamente conectem
corpo e desejo (simular atendimentos, estudos diários, supervisão);
- Exercícios de atenção plena e respiração
profunda para reduzir a angústia gerada pelo corpo automatizado;
- Pequenos atos de autonomia no cotidiano
(tomar decisões, organizar horários de estudo) que reforcem a sensação de
poder pessoal.
Assim, o
corpo passa a acompanhar o novo ego, e a energia pulsional deixa de ser
frustrante e se transforma em força vital para a mudança.
6.
Síntese: Travessia do Desejo
O fiscal
de caixa psicólogo, ao aplicar essas estratégias, realiza o despojamento do
velho homem na prática, integrando psicanálise e fé paulina:
- Morte simbólica: abandono do papel antigo e
do automatismo alienante;
- Reinvestimento libidinal: aplicação da
energia psíquica em novos projetos, aprendizado e experiência;
- Nascimento do novo homem: ação consciente
que materializa o desejo de ser psicólogo, com sentido, vocação e
autenticidade.
O
sofrimento não desaparece imediatamente, mas a raiva se transforma em força, a
decepção em aprendizado, e a impotência em ação deliberada.
Referências
Bibliográficas
- Freud, S. (1915). Instincts and Their
Vicissitudes. SE, 14.
- Lacan, J. (1966). Écrits. Paris:
Seuil.
- Lacan, J. (1973). The Four Fundamental
Concepts of Psychoanalysis. New York: Norton.
- Bíblia Sagrada, Efésios 4:22–24; 6:10.
- Frankl, V. (1946). Man’s Search for
Meaning. Boston: Beacon Press.
- Winnicott, D. W. (1960). The Theory of
the Parent-Infant Relationship. London: Hogarth Press.
Capítulo
X+2 – “Do Velho Fiscal ao Novo Psicólogo: Plano de Transição e Ressignificação
da Vida”
1.
Síntese da Travessia: Morte e Renascimento
O fiscal
de caixa psicólogo já atravessou o momento crucial: a morte simbólica do velho
homem, conforme Paulo descreve em Efésios 4:22.
Ele sentiu raiva, decepção e impotência; reconheceu que o corpo continuava a
cumprir tarefas sem prazer; e percebeu que a energia pulsional do desejo
permanecia represada.
O
próximo passo é transformar essa energia em ação consciente, para que o novo
homem — o psicólogo — nasça plenamente.
Na
psicanálise, isso é o reinvestimento libidinal, onde o ego passa a conduzir o
desejo de forma organizada e intencional.
Na fé paulina, é o momento em que o sujeito se revestiria do novo homem criado
segundo Deus, agindo com justiça, santidade e propósito.
2.
Objetivos do Plano de Transição
O plano
de transição deve articular três dimensões integradas:
1.
Psíquica – Reinserção do desejo no ego, superação
da angústia, elaboração da perda do antigo papel;
2.
Profissional – Construção de competências,
experiência prática e posicionamento estratégico no mercado;
3.
Espiritual – Alinhamento com o propósito maior,
confiança no próprio caminho, sustentação pela fé.
O
objetivo final é que a ação se torne expressão do desejo genuíno, não apenas
resposta às exigências externas.
3.
Etapas do Plano de Transição
Etapa 1
– Elaboração da Morte Simbólica
Objetivo:
Consolidar o fim da identidade de fiscal de caixa.
- Exercícios reflexivos diários: escrever
sobre o que não serve mais, identificar sentimentos de raiva, frustração e
alívio;
- Prática de meditação ou oração, reconhecendo
o despojamento do velho homem;
- Supervisão terapêutica ou conversa com
mentor para validar a travessia simbólica.
Resultado
esperado: O ego reconhece a função antiga como concluída, e a energia libidinal
é liberada para o novo papel.
Etapa 2
– Planejamento de Capacitação e Experiência
Objetivo:
Criar evidência concreta de preparo profissional como psicólogo.
- Cursos de especialização, workshops ou
formações complementares;
- Voluntariado em instituições ou projetos
sociais para experiência prática;
- Estudo de casos, elaboração de portfólio e
prática supervisionada;
- Networking profissional: contato com
psicólogos, participação em eventos, orientação de carreira.
Resultado
esperado: O novo homem adquire competência e confiança, diminuindo a sensação
de impotência diante do mercado.
Etapa 3
– Reinvestimento Libidinal na Ação
Objetivo:
Canalizar energia psíquica antes represada em ações concretas de transformação.
- Envio de candidaturas estratégicas,
adaptando currículo e portfólio a cada vaga;
- Preparação para entrevistas e simulações,
fortalecendo o ego e o autoconhecimento;
- Estabelecimento de metas semanais de
aprendizado e experiência prática;
- Reflexão contínua sobre progressos e ajustes
necessários.
Resultado
esperado: A raiva e a decepção se transformam em força produtiva, e a energia
do desejo torna-se motor de ação.
Etapa 4
– Integração Espiritual e Psíquica
Objetivo:
Manter o alinhamento entre desejo genuíno, ação concreta e propósito de vida.
- Reflexão sobre a própria vocação e
contribuição ao próximo;
- Revisão das metas à luz de princípios
espirituais: justiça, vocação, serviço e amor;
- Exercícios de gratidão e reconhecimento das
pequenas conquistas;
- Mantendo fé e paciência diante das
dificuldades, lembrando Paulo:
“Sede
fortes no Senhor e na força do seu poder” – Efésios 6:10
Resultado
esperado: O sujeito consolida o novo homem, com ego fortalecido, desejo
alinhado e sentido de vida profundo.
5.
Síntese Final: Da Mortificação à Autonomia
O
percurso do fiscal de caixa psicólogo ilustra a travessia completa do desejo:
1.
Morte simbólica do velho homem – despojamento,
elaboração do luto e reconhecimento do fim da função antiga;
2.
Ressignificação e reinvestimento – capacitação,
experiência prática e reconstrução do ego;
3.
Nascimento do novo homem – ação concreta,
autoconfiança, alinhamento com vocação e propósito de vida.
A
psicanálise mostra como transformar raiva, decepção e impotência em energia
criativa;
Paulo orienta como atuar com fé, perseverança e propósito;
E a prática cotidiana permite materializar o desejo genuíno, tornando o
psicólogo uma realidade viva, consciente e significativa.
Referências
Bibliográficas
- Freud, S. (1915). Instincts and Their
Vicissitudes. SE, 14.
- Lacan, J. (1966). Écrits. Paris:
Seuil.
- Lacan, J. (1973). The Four Fundamental
Concepts of Psychoanalysis. New York: Norton.
- Winnicott, D. W. (1960). The Theory of
the Parent-Infant Relationship. London: Hogarth Press.
- Bíblia Sagrada, Efésios 4:22–24; 6:10.
- Frankl, V. (1946). Man’s Search for
Meaning. Boston: Beacon Press.
Epílogo
– “O Diálogo Tardio: Ressignificando a Vocação”
1. O
Tempo da Travessia
A
travessia do fiscal de caixa psicólogo não foi rápida nem linear.
Durante anos, a energia pulsional do desejo permaneceu reprimida, o corpo
continuou cumprindo tarefas sem sentido, e o ego ficou paralisado entre o
superego rigoroso e o desejo reprimido do id.
Paulo,
ao falar do despojamento do velho homem, indica que essa transição exige tempo,
paciência e luto.
A morte simbólica do fiscal de caixa não significa apenas renúncia: é o
prelúdio necessário para o nascimento do novo homem, que atua segundo o
espírito, com liberdade, propósito e autenticidade.
O
sujeito só agora, mesmo trabalhando no supermercado, tem condições de dialogar
com sua vocação.
O tempo, antes percebido como atraso ou fracasso, torna-se estratégico,
permitindo reflexão profunda, reconhecimento do próprio desejo e preparação
consciente para a ação.
3. O
Corpo, a Mente e o Desejo
Durante
a travessia, o corpo ainda cumpria funções automatizadas, reflexo da morte do
velho eu e da alienação do desejo.
O ego, paralisado diante da realidade externa, precisava reestruturar-se
através de ações concretas, canalizando a energia da raiva e da frustração em
capacitação, experiência e planejamento estratégico.
O novo
homem, surgindo dessa travessia, não é apenas psicológico ou espiritual: ele é
vivido no corpo e no mundo, expressando vocação e desejo com presença, intenção
e ação deliberada.
4. A
Vocação Como Diálogo Tardio
Um ponto
central deste epílogo é que o diálogo com a vocação pode ser tardio, mas não é
menos legítimo ou eficaz.
O
sujeito, mesmo anos depois, agora consegue reconhecer e atender ao chamado
interior.
Essa tardia consciência não é falha, mas o resultado da maturação psíquica, da
elaboração do luto e da preparação consciente.
A
psicanálise mostra que o desejo amadurecido é mais resistente à censura do
superego, e Paulo ensina que o novo homem permanece firme na força do espírito
— o que significa que a transição tardia pode gerar uma realização profunda e
duradoura.
5.
Síntese Final: Da Mortificação à Realização
O
processo completo pode ser sintetizado em quatro movimentos:
1.
Morte simbólica – O fiscal de caixa é despojado
do antigo papel, liberando energia psíquica e emocional.
2.
Elaboração e reflexão – A raiva, decepção e
impotência são compreendidas e resignificadas.
3.
Reinvestimento e ação – Energia libidinal e
espiritual canalizadas em capacitação, experiência prática e planejamento
estratégico.
4.
Nascimento do novo homem – O psicólogo surge como
sujeito de desejo, atuando com propósito, autenticidade e sentido.
O
epílogo conclui que não há limite temporal para a transformação, e que a
vocação verdadeira só se manifesta plenamente quando o sujeito atravessa o luto
da função antiga, reorganiza o ego e investe sua energia no novo papel.
Conclusão
O fiscal
de caixa psicólogo agora se encontra em posição de ação consciente e
deliberada, integrando:
- Psicanálise: compreensão do conflito entre
id, ego e superego, reinvestimento libidinal, travessia do fantasma;
- Fé Paulina: despojamento do velho homem,
revestimento do novo homem, perseverança e fé no chamado;
- Prática Profissional: capacitação,
experiência prática, planejamento e manifestação concreta do desejo.
O
sofrimento e a tardia consciência tornam-se aliados na realização do propósito,
mostrando que a travessia entre o velho e o novo homem é simultaneamente
psíquica, espiritual e existencial.
Referências
Bibliográficas
- Freud, S. (1915). Instincts and Their
Vicissitudes. SE, 14.
- Lacan, J. (1966). Écrits. Paris:
Seuil.
- Lacan, J. (1973). The Four Fundamental
Concepts of Psychoanalysis. New York: Norton.
- Winnicott, D. W. (1960). The Theory of
the Parent-Infant Relationship. London: Hogarth Press.
- Bíblia Sagrada, Efésios 4:22–24; 6:10.
- Frankl, V. (1946). Man’s Search for
Meaning. Boston: Beacon Press.
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