Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do para um excelente tópico. Um sujeito
trabalhava numa empresa familiar e tinha medo de se aposentar nesta empresa
como retificador plano. Queria sair da empresa, mas tinha medo de pedir ao
empregador para demiti lo para que recebessem seus direitos. Até que adoeceu de
uma doença psicossomático e tevê coragem para pedir ao empregador demiti ló e
recebesse seus direitos. Parece que o Superego censurava a atitude do ego em
pedir para ser demitido com o mecanismo de defesa repressão. Parece que o
superego censurou o ego até que o ego adoecesse e tivesse coragem para pedir ao
empregador para demiti lo. Me explica e interpreta como se eu fosse um
iniciante pela abordagem da psicanálise.
Na
abordagem da psicanálise, vamos dividir essa situação em três partes
principais: o ego, o superego e o id, para que fique mais fácil entender o que
aconteceu.
O
ego: é a parte da mente que lida com a realidade. Ele tenta encontrar soluções
para as necessidades da pessoa, levando em conta o que é possível ou aceitável.
No caso desse sujeito, o ego queria sair da empresa porque não queria continuar
trabalhando lá até a aposentadoria.
O
superego: representa as normas e regras que aprendemos ao longo da vida, como o
que é certo e errado. O superego pode ser muito rígido, e quando ele acha que o
ego está querendo fazer algo "errado" (como pedir para ser demitido e
receber os direitos), ele pode censurar o ego, causando sentimento de culpa,
medo ou vergonha.
O
id: é a parte mais primitiva da mente, que só pensa em satisfazer os desejos e
buscar prazer. No caso desse sujeito, o id queria parar de trabalhar naquela
empresa para se livrar do desconforto.
Agora,
como isso se conecta à doença psicossomática?
Repressão:
o superego usou o mecanismo de defesa chamado repressão. Isso significa que ele
empurrou para o inconsciente o desejo do ego de pedir demissão, porque o
superego achava que isso não era "correto". Esse conflito ficou preso
dentro da mente do sujeito.
Doença
psicossomática: como o desejo do ego de sair da empresa não foi resolvido, isso
causou um estresse interno. A repressão desse desejo fez com que o corpo
manifestasse esse conflito em forma de doença psicossomática, que são problemas
físicos causados por emoções e conflitos mentais não resolvidos.
A
coragem: quando o sujeito adoeceu, o ego finalmente conseguiu enfrentar o medo
que o superego havia imposto. O mal-estar físico (psicossomático) foi o ponto
de ruptura que deu ao ego a "coragem" para pedir demissão e resolver
o conflito interno. Ele conseguiu superar a repressão do superego e agir de
acordo com seu desejo de sair da empresa.
Resumindo,
o sujeito queria sair da empresa, mas o superego censurava esse desejo,
reprimindo-o. Isso gerou um conflito interno tão grande que resultou em uma
doença psicossomática. Só depois de adoecer o ego conseguiu vencer essa censura
e pedir para ser demitido.
As
motivações inconscientes do superego para impor sofrimentos ao ego nesta
situação podem ser compreendidas pela função reguladora e punitiva do superego
dentro da mente. Na psicanálise, o superego representa os valores morais,
normas sociais e as regras internalizadas, muitas vezes adquiridas na infância
por meio de figuras de autoridade como os pais, a religião ou a cultura.
Aqui
estão algumas possíveis motivações inconscientes do superego para impor esse
sofrimento ao ego:
Medo
de transgressão moral ou ética: O superego pode enxergar o ato de pedir
demissão ou ser demitido como algo moralmente errado, associando isso a
conceitos como "falta de gratidão", "traição" ou
"fraqueza". Se o sujeito foi criado em um ambiente onde se valoriza o
comprometimento e a lealdade ao trabalho ou à empresa familiar, o superego pode
punir o ego com sentimentos de culpa e medo por querer romper esse vínculo,
como se estivesse traindo esses valores.
Conformidade
social e dever: O superego pode estar regulando o ego de acordo com normas
sociais sobre o que é aceitável em uma carreira. Por exemplo, a crença de que
"um bom trabalhador não pede para ser demitido" ou "é errado
pedir demissão sem uma justificativa forte". Esses ideais sociais podem
levar o superego a punir o ego por querer sair da empresa, acreditando que o
sujeito deve continuar até se aposentar para cumprir suas
"obrigações".
Medo
de perda de status ou segurança: O superego pode estar agindo para proteger o
sujeito de uma possível perda de estabilidade financeira, status ou
reconhecimento social. Pedir demissão pode ser visto como uma escolha
arriscada, e o superego impõe sofrimentos ao ego para evitar essa ação, como
uma forma de protegê-lo da insegurança financeira ou do medo do futuro,
inconscientemente bloqueando o desejo de sair.
Autoimagem
e perfeccionismo: Outra motivação inconsciente pode estar relacionada à
autoimagem idealizada que o sujeito tem de si mesmo, alimentada pelo superego.
Se o sujeito se vê como alguém responsável, resiliente e comprometido, o
superego pode impor sofrimento ao ego por querer "manchar" essa
autoimagem ao pedir para sair da empresa. O medo de não ser mais visto como
"bom o suficiente" ou "bem-sucedido" pode estar
inconscientemente motivando o superego a reprimir o desejo de mudança.
Sacrifício
como valor inconsciente: O superego pode carregar a crença inconsciente de que
"sofrer faz parte do dever", uma crença muitas vezes enraizada em
sistemas culturais ou religiosos que associam o sacrifício ao valor moral.
Assim, o superego impõe sofrimento ao ego porque entende que suportar
dificuldades e permanecer na empresa, mesmo insatisfeito, é a atitude mais
"nobre" ou "correta".
Essas
motivações são, em grande parte, inconscientes, ou seja, o sujeito não está
plenamente ciente delas. Elas operam nas profundezas da mente, moldando o
comportamento e os sentimentos de culpa, medo ou ansiedade do ego, até que esse
conflito resulte em adoecimento ou uma ação definitiva que rompa o ciclo.
Além
dessas motivações inconscientes, é importante entender que o superego é moldado
por experiências passadas, principalmente na infância, quando figuras de
autoridade — como pais, professores ou líderes religiosos — estabelecem padrões
de comportamento, premiando a obediência e punindo a desobediência. Esses
padrões acabam sendo internalizados e, mesmo na vida adulta, podem se
manifestar como autocensura, mesmo quando a realidade externa não exige o mesmo
nível de rigidez.
Aqui
estão outras motivações inconscientes que podem continuar a alimentar o
sofrimento imposto pelo superego ao ego:
Medo
da desaprovação externa: O superego pode estar agindo para proteger o sujeito
de uma possível desaprovação por parte de familiares, colegas de trabalho ou a
comunidade em geral. Ao reprimir o desejo de pedir demissão, o superego busca
evitar que o sujeito enfrente críticas, julgamentos ou até o sentimento de
vergonha. Para o superego, manter-se na empresa, apesar do sofrimento, pode ser
visto como uma forma de preservar uma "boa imagem" aos olhos dos
outros.
Repetição
de padrões familiares: Muitas vezes, o superego carrega padrões familiares
inconscientes, como a expectativa de seguir tradições, manter vínculos de longa
duração ou "honrar" a família. Se a empresa for uma empresa familiar
ou se houver uma forte conexão emocional com o ambiente de trabalho, o superego
pode associar a saída da empresa à ideia de desonrar esses laços. Essa
motivação inconsciente faz com que o superego veja o desejo do ego de sair como
uma quebra de lealdade ou um rompimento com os valores da família.
Crença
no valor do trabalho duro: Outra possível motivação inconsciente é a crença
arraigada de que o valor pessoal é medido pelo quanto se trabalha ou pelo nível
de sacrifício. Essa visão pode ter sido adquirida ao longo da vida, com a
mensagem de que "trabalhar duro e suportar as dificuldades é o caminho
para o sucesso e reconhecimento". O superego, com essa crença, pode impor
sofrimentos ao ego por temer que sair da empresa seja visto como uma
"fuga" ou uma decisão "covarde", diminuindo assim o valor
pessoal do sujeito.
Medo
de fracasso: O superego pode temer que a saída da empresa seja um sinal de
fracasso. Esse medo inconsciente pode ser projetado no ego, causando uma
sensação de que, ao pedir para ser demitido, o sujeito está
"desistindo" ou "falhando". O superego, nesse caso, age
para manter o sujeito na empresa, mesmo que isso signifique continuar em um
trabalho insatisfatório, porque a saída poderia ser vista como uma confirmação
de fracasso pessoal ou profissional.
Punir
o ego pelo desejo de mudança: Às vezes, o superego age de forma mais punitiva,
vendo o desejo de mudança como algo indesejável ou errado. O simples fato de o
ego querer algo diferente — como sair da empresa — pode ser interpretado pelo
superego como uma falha, algo que merece ser punido com sentimentos de culpa,
ansiedade ou até o desenvolvimento de doenças psicossomáticas. Nesse caso, o
superego tenta "corrigir" o ego, impondo sofrimento como uma forma de
evitar que o ego siga por esse caminho.
Idealização
do sofrimento como virtude: Dependendo da formação moral ou cultural do
sujeito, o superego pode inconscientemente idealizar o sofrimento como uma
virtude. Isso pode estar ligado a ensinamentos religiosos ou culturais que
valorizam o sacrifício pessoal e o trabalho contínuo, independentemente da
satisfação pessoal. Nessa visão, o sofrimento no trabalho pode ser visto como
uma "prova" de valor, e o desejo de sair pode ser percebido pelo
superego como uma falha moral.
Essas
motivações inconscientes fazem com que o superego atue como um
"vigia", tentando garantir que o sujeito se mantenha dentro dos
padrões considerados aceitáveis, mesmo que isso cause sofrimento ao ego. O
conflito surge quando o ego deseja algo que contraria essas normas
internalizadas, levando a um desgaste emocional e físico, como foi o caso da
doença psicossomática.
Esse
sofrimento serve, de certa forma, como uma punição inconsciente imposta pelo
superego, que acredita estar protegendo o sujeito de algo "pior",
como a culpa, a vergonha ou o medo do fracasso. No entanto, ao bloquear o ego
de agir conforme seus verdadeiros desejos, o superego acaba gerando um ciclo de
repressão e sofrimento, que só é rompido quando o ego finalmente encontra uma
forma de se libertar dessa censura, muitas vezes através de crises como a
doença psicossomática.
Quando
o ego finalmente adoece e encontra coragem para confrontar o impasse — pedindo
demissão ou buscando uma saída da empresa —, ocorre uma quebra no ciclo de
repressão. Esse momento de "coragem" pode ser visto, na psicanálise,
como uma expressão do id, que, apesar da censura contínua do superego, encontra
uma forma de emergir, forçando o ego a agir de acordo com suas necessidades
mais básicas de alívio do sofrimento.
Aqui
está como o processo continua:
Adoecimento
como última defesa do ego: Quando o ego não consegue mais sustentar a repressão
e o conflito interno entre suas próprias necessidades e as demandas rígidas do
superego, o corpo se torna o campo de expressão desse conflito. A doença
psicossomática emerge como a última defesa do ego, já que os conflitos não
estão sendo resolvidos de forma consciente. O corpo, então, manifesta esse
sofrimento psicológico por meio de sintomas físicos, forçando o sujeito a
confrontar a realidade.
A
doença como liberação inconsciente: A psicanálise interpreta o adoecimento
psicossomático como um sinal de que o inconsciente está tentando liberar a
tensão acumulada. Quando o ego adoece, isso pode, paradoxalmente, ser um meio
de "driblar" a censura do superego. A doença força uma pausa,
oferecendo ao sujeito uma justificativa aceitável para pedir ajuda ou mudar de
rumo, sem que isso seja interpretado, pelo superego, como um
"fracasso". Assim, o ego encontra, por meio do corpo, uma forma de se
libertar temporariamente do controle rígido do superego.
O
papel da autoconsciência: Ao adoecer, o sujeito começa a perceber, mesmo que
parcialmente, os danos causados pela repressão. O sofrimento físico pode
despertar uma nova forma de consciência, onde o sujeito começa a se dar conta
de que o estado de sofrimento contínuo não é sustentável. Isso permite ao ego
reconsiderar suas opções e, em muitos casos, buscar uma saída que antes parecia
impossível devido à censura do superego.
Coragem
e superação do medo: No auge do adoecimento, o ego muitas vezes encontra
coragem para desafiar o superego e seguir adiante com o desejo de pedir
demissão ou mudar de situação. Esse momento de "coragem" pode ser
visto como uma reação do ego ao perceber que o preço de continuar no mesmo
caminho — a doença e o sofrimento — é mais alto do que o medo imposto pelo
superego. O medo de fracasso, culpa ou desaprovação perde força diante da
necessidade de sobrevivência física e emocional.
A
queda temporária da censura do superego: No processo de adoecimento, o superego
pode afrouxar temporariamente sua censura. Ao ver o ego fragilizado, o superego
pode "recuar" e permitir que o ego tome decisões antes vistas como
inaceitáveis, como pedir demissão. Isso ocorre porque, na mente inconsciente, o
adoecimento serve como uma espécie de "justificativa" para o
superego, que agora vê o sofrimento como algo tangível e, portanto, permite ao
ego seguir um caminho que antes parecia transgressor.
Processo
de cura e reconciliação interna: Uma vez que o sujeito enfrenta a realidade e
decide agir, como no caso de pedir para ser demitido, inicia-se um processo de
cura interna. O ego, agora liberto da censura do superego, pode começar a se
reorganizar, buscando novos caminhos que estejam mais alinhados com suas
verdadeiras necessidades e desejos. A cura física também pode ocorrer à medida
que o conflito psíquico é resolvido, já que o corpo não precisa mais expressar
o sofrimento reprimido.
Reestruturação
do superego: Após o conflito ser resolvido, o superego pode, gradualmente, se
adaptar à nova realidade. Ele pode reavaliar suas normas e flexibilizar algumas
de suas exigências. Nesse processo, o sujeito pode aprender a lidar com suas
necessidades de maneira mais equilibrada, sem precisar reprimir seus desejos.
Isso significa que o superego pode aprender a ser menos punitivo e mais
conciliador, permitindo ao ego buscar satisfação e prazer sem ser
automaticamente censurado.
Integração
de novos valores: No longo prazo, essa experiência pode levar o sujeito a
integrar novos valores e crenças, tanto no nível consciente quanto no
inconsciente. Ele pode começar a perceber que mudanças, como sair de um emprego
insatisfatório, não são necessariamente sinais de fracasso ou imoralidade, mas
de crescimento e autocuidado. Essa mudança de perspectiva ajuda a suavizar a
atuação do superego, permitindo um equilíbrio maior entre as demandas internas
e externas.
Superação
dos preconceitos internos: Ao enfrentar esse processo, o sujeito pode também
desconstruir preconceitos inconscientes que o superego carregava, como a crença
de que abandonar um trabalho é sinônimo de fraqueza ou que buscar novas
oportunidades é algo "errado". Essa superação pode libertar o sujeito
de padrões rígidos de comportamento que antes limitavam seu crescimento pessoal
e profissional.
Resumindo,
o superego impôs sofrimentos ao ego para proteger o sujeito de possíveis
"falhas" percebidas, como a quebra de normas sociais, a perda de
status ou o sentimento de culpa. No entanto, quando o conflito se tornou
insuportável e se manifestou no corpo como uma doença psicossomática, o ego foi
forçado a confrontar o superego e buscar uma saída, quebrando o ciclo de
repressão. Esse processo culmina em uma reconciliação interna, onde o superego
pode se reestruturar e o sujeito passa a agir de maneira mais saudável, sem a
constante censura interna.
Mas
parece que com o adoecimento psicossomático houve o despertar de um desejo
reprimido a muito tempo no ego que foi mantido reprimido também pelo superego,
que era o desejo do ego ser psicólogo. O adoecimento psicossomático
possibilitou o ego a estudar antecipadamente
a abordagem da psicanálise para se curar da doença. O superego forçou o
ego a adoecer para tomar consciência de outro desejo reprimido no inconsciente
e aceitar o desejo para se tornar concreto no tempo adequado. O medo de se
aposentar na profissão de retificador plano, fez com que o superego permitisse
que o ego ficasse adoecido para que se tornasse latente outra profissão
reprimida no inconsciente. E parece que o ego se encontra na mesma compulsão a
repetição do passado, onde busca descobrir orientação para seguir com a
psicologia em alguma instituição. O ego está novamente com medo de se aposentar
na função de fiscal de caixa, entretanto não tem intenção inconsciente de
adoecer para ter desvelado o caminho a seguir na psicologia, pois tem conhecimento
de como o superego opera censurando os desejos do ego. Porém o medo esta
censurado o ego não permitindo ter conhecimento de que caminho seguir para ser
contratado como psicólogo por estar sendo reprimido pela influência do
superego.
Sua
reflexão faz uma análise profunda da dinâmica entre o ego, o superego e os
desejos reprimidos, trazendo à tona a maneira como o adoecimento psicossomático
pode agir como um catalisador para que desejos inconscientes venham à
consciência. Na sua interpretação, o adoecimento funcionou como um mecanismo
que permitiu ao ego tomar consciência de um desejo anteriormente reprimido: o
desejo de se tornar psicólogo. Vamos explorar essa ideia de forma mais
detalhada, dentro da abordagem psicanalítica.
O
adoecimento como "despertar" do desejo reprimido: Na psicanálise,
doenças psicossomáticas muitas vezes surgem como resultado da repressão de
desejos inconscientes que o ego não consegue expressar por causa da censura do
superego. No caso descrito, o medo de se aposentar como retificador plano pode
ter sido uma manifestação desse conflito entre o desejo do ego por mudança e a
resistência do superego em permitir essa mudança. O adoecimento, portanto, não
foi apenas uma forma de "fuga" do trabalho insatisfatório, mas também
uma forma de trazer à tona um desejo mais profundo, que o ego tinha mantido
reprimido — o desejo de se tornar psicólogo.
O
papel do superego na repressão: O superego, atuando como guardião das normas
internalizadas e dos valores morais, muitas vezes age para reprimir desejos que
considera inadequados ou ameaçadores à estabilidade. No contexto do trabalho
como retificador plano, o superego pode ter considerado o desejo de mudar de
profissão como uma transgressão aos valores internalizados de lealdade e
conformidade ao que se espera de um trabalhador "tradicional". Esse
mesmo mecanismo pode estar em ação agora, com o medo de se aposentar como
fiscal de caixa, pois o superego continua a censurar o desejo do ego de seguir
uma nova carreira na psicologia.
A
compulsão à repetição: Freud descreveu a compulsão à repetição como um processo
em que o indivíduo, muitas vezes de forma inconsciente, repete padrões de
comportamento e conflitos não resolvidos do passado. Aqui, o medo atual de se
aposentar como fiscal de caixa é uma repetição do medo anterior de se aposentar
como retificador plano. O ego, ao invés de seguir em direção à realização do
desejo consciente de ser psicólogo, se encontra preso em um ciclo semelhante,
onde o superego impõe novamente barreiras, criando o medo e a insegurança
quanto ao caminho a seguir.
Medo
e repressão no processo atual: Apesar de o ego já ter consciência de como o
superego age para censurar seus desejos, o medo ainda é um poderoso mecanismo
de defesa que pode impedir a ação concreta. O medo, neste caso, está reprimindo
o conhecimento consciente de qual caminho seguir na psicologia. Embora o ego
saiba que deseja ser psicólogo e não deseja repetir o ciclo de adoecimento para
"despertar" esse desejo novamente, o superego continua a atuar de
forma sutil, mantendo o ego numa posição de inércia e bloqueio, através do medo
de falhar, do desconhecido ou de enfrentar desafios novos.
Superego
como um "censor inconsciente do futuro": Um ponto interessante aqui é
que o superego parece estar não apenas censurando os desejos passados, mas
também agindo como um "censor do futuro". Ele está reprimindo a
capacidade do ego de visualizar ou planejar um caminho claro para seguir na
psicologia, perpetuando o medo de mudança. Esse mecanismo impede que o ego
explore plenamente as oportunidades e possibilidades no campo da psicologia,
bloqueando a ação proativa.
Autoconhecimento
e a possibilidade de libertação: O fato de o ego já estar consciente da atuação
do superego é uma vantagem significativa. O conhecimento sobre os mecanismos de
censura do superego e a compreensão de como os desejos reprimidos podem influenciar
o comportamento permite que o ego desenvolva estratégias mais saudáveis para
lidar com esses conflitos. A chave, neste caso, seria o ego se fortalecer
através da autoconfiança e da clareza sobre seus objetivos, enfrentando
diretamente os medos impostos pelo superego.
A
importância de integrar o desejo: Na psicanálise, o processo de cura envolve
trazer à consciência os desejos reprimidos e integrá-los de forma saudável na
vida do indivíduo. Neste caso, o ego deve reconhecer que o desejo de ser
psicólogo não é um desejo transgressor, mas sim uma parte legítima de sua
identidade e do seu caminho de realização pessoal. O superego, ao internalizar
normas que podem não ser mais úteis ou adequadas à realidade atual do sujeito,
deve ser reestruturado para aceitar essa nova direção.
O
caminho à frente: enfrentamento do medo e reconciliação interna: O próximo
passo seria o ego encontrar maneiras de enfrentar os medos e ansiedades atuais,
seja através de apoio terapêutico, seja através de auto-reflexão mais profunda
sobre o que o impede de avançar. A reconciliação interna entre os desejos do
ego e a censura do superego é um processo essencial para quebrar a compulsão à
repetição e permitir que o ego siga em direção ao seu verdadeiro desejo — no
caso, seguir uma carreira na psicologia.
Em
suma, o adoecimento psicossomático foi, de fato, uma forma pela qual o ego
"despertou" para seu verdadeiro desejo de ser psicólogo. No entanto,
o medo atual de se aposentar como fiscal de caixa, assim como o medo passado de
se aposentar como retificador plano, revela que o ego ainda está lidando com os
mesmos mecanismos de censura e repressão do superego. Para quebrar esse ciclo,
o ego precisa enfrentar conscientemente esses medos e reestruturar o superego
para que ele se torne menos punitivo e mais conciliador com os desejos
legítimos de mudança e crescimento.
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