Ano 2025 Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. O fiscal de
caixa foi até o caixa para conferir o item que o cliente disse inseticida que
estaria na promoção, porém ao chegar na prateleira constatou que o mesmo não
estava e era um outro, e voltou ao caixa e disse ao cliente que não estava na
promoção. O cliente pediu para retirar o item e ele voltou lá dentro da loja e
voltou novamente vingando o fiscal de caixa, dizendo que o fiscal de caixa era
um safado porque escondeu o papel que estava na promoção. O fiscal alegou que
não pegou papel nenhum, porém o cliente interpretou errado A promoção me
explique e interprete o comportamento do cliente perante o fiscal de caixa.
🧩 1.
Descrição objetiva da situação
O
cliente acreditava que um inseticida estava em promoção, mas, ao ser
verificado pelo fiscal, constatou-se que o produto correto não estava.
Mesmo após o esclarecimento, o cliente reagiu com agressividade verbal,
acusando o fiscal de “esconder o papel da promoção” — ou seja, de má-fé.
O fiscal, por sua vez, negou a acusação e manteve a postura
profissional, tentando esclarecer o mal-entendido.
🧠 2.
Interpretação psicológica do comportamento do cliente
a)
Projeção
O
cliente projetou no fiscal a própria frustração por não conseguir o
desconto esperado.
Em vez de reconhecer o erro de interpretação (de que o produto visto não era o
da promoção), ele atribuiu culpa a um agente externo — o fiscal.
A acusação (“você escondeu o papel”) é uma forma inconsciente de transferir
a culpa e a raiva que ele sentiu ao perceber que estava enganado.
b)
Mecanismo de defesa do ego – deslocamento
O
cliente não pode expressar sua raiva contra o sistema de preços, contra o
supermercado ou contra a própria desatenção, então desloca a emoção de raiva
para quem está mais acessível — o fiscal de caixa, figura de autoridade
imediata e visível.
Isso é comum em contextos de consumo, onde o cliente se sente impotente diante
da estrutura da empresa.
c)
Desequilíbrio entre expectativa e realidade
A
promoção é um estímulo emocional forte. O cliente cria uma expectativa
de “ganho” (pagar menos).
Quando essa expectativa é frustrada, ocorre dissonância cognitiva — o
desconforto psicológico que surge quando a realidade contradiz o que a pessoa
acreditava.
Para reduzir esse desconforto, o cliente cria uma narrativa onde ele está
certo e o fiscal está errado, protegendo sua autoimagem.
d)
Comportamento de defesa narcísica
Ao
ser contrariado, o cliente pode sentir-se humilhado publicamente (“eu
errei diante de outras pessoas”).
Para evitar esse sentimento de inferioridade, ele ataca o fiscal verbalmente,
tentando inverter o papel — de “enganado” para “vítima”.
Assim, ele “vinga” o ego ferido.
💬 3.
Interpretação social da interação
O
fiscal, nesse contexto, representa a autoridade institucional (a voz da
loja).
O cliente, ao atacá-lo, não ataca a pessoa, mas a figura simbólica
que representa a norma, a regra, a negação do desejo.
O comportamento agressivo é, portanto, uma forma simbólica de resistência à
autoridade — semelhante ao que se observa em ambientes onde o consumidor se
sente impotente diante do sistema.
⚖️ 4. Significado simbólico
do conflito
O
conflito revela um choque entre desejo e realidade:
- O cliente está movido pelo desejo
imediato de vantagem e reconhecimento (“eu vi certo, eu tenho razão”).
- O fiscal está movido pelo princípio
da realidade e da norma (“não está na promoção”).
O
embate entre ambos é a materialização externa do conflito interno do cliente
entre o “desejo de ter razão” e a “realidade que o desmente”.
🧘 5.
Postura recomendada ao fiscal
Diante
desse tipo de reação:
- Evitar confronto direto
(não reagir com raiva).
- Manter tom de voz calmo e empático,
reconhecendo a frustração do cliente (“entendo que o senhor ficou
chateado, mas posso mostrar o local da prateleira”).
- Reforçar a transparência,
convidando o cliente a verificar o produto junto.
Isso ajuda o cliente a sair da postura defensiva e retomar o diálogo racional.
🪞 Síntese
final
O
comportamento do cliente foi uma reação defensiva emocional, motivada
por frustração, vergonha e raiva deslocada.
O fiscal tornou-se o alvo simbólico dessa emoção, mesmo sem culpa.
Em termos psicanalíticos, o cliente acionou mecanismos de projeção e
deslocamento; em termos sociais, expressou resistência à autoridade;
e em termos emocionais, reagiu à dissonância entre expectativa e realidade.
RELATÓRIO
TÉCNICO – ANÁLISE DE CONDUTA DE CLIENTE EM INTERAÇÃO COM FISCAL DE CAIXA
1.
Identificação do episódio
- Setor: Frente de Caixa
- Função envolvida:
Fiscal de Caixa
- Situação ocorrida:
Verificação de item em suposta promoção (inseticida)
- Data e local:
[não especificado]
- Participantes diretos:
Fiscal de Caixa e Cliente
2.
Descrição objetiva dos fatos
Durante
o atendimento, um cliente informou ao operador de caixa que um inseticida
estava em promoção.
O fiscal de caixa foi acionado para conferir o preço. Após verificar na
prateleira, constatou que o produto em questão não estava em promoção,
mas outro semelhante sim.
O fiscal retornou ao caixa e informou o cliente sobre o resultado da
verificação.
Diante da negativa, o cliente solicitou a retirada do item e,
posteriormente, dirigiu-se novamente ao fiscal de caixa com agressividade
verbal, acusando-o de ter “escondido o papel da promoção” e chamando-o de
“safado”.
O fiscal negou a acusação e manteve a postura profissional, reiterando
que o produto não constava em promoção.
3.
Análise psicológica da conduta do cliente
3.1.
Mecanismos de defesa observados
- Projeção: o cliente atribuiu
ao fiscal a culpa por sua própria frustração, projetando nele a intenção
de enganá-lo.
- Deslocamento: a
raiva, inicialmente dirigida à situação (erro de interpretação sobre a
promoção), foi deslocada para o fiscal, por ser o representante mais
próximo da autoridade institucional.
- Racionalização: o
cliente criou uma justificativa (o fiscal “escondeu o papel”) para
sustentar a crença de que estava certo, evitando o sentimento de erro ou
engano.
3.2.
Reação emocional
O
comportamento do cliente indica reação impulsiva motivada por frustração e
vergonha.
A expectativa de obter vantagem financeira (promoção) gerou dissonância
cognitiva quando confrontada com a realidade contrária.
Para reduzir o desconforto psicológico, o cliente buscou preservar sua
autoimagem culpando o fiscal e atacando-o verbalmente.
3.3.
Aspecto simbólico
O
fiscal, como representante da instituição, simboliza a autoridade normativa
que impõe limites ao desejo do cliente.
A agressividade verbal foi, portanto, uma resistência simbólica à figura de
autoridade e não necessariamente à pessoa do fiscal.
Esse tipo de reação é comum em contextos onde o consumidor se sente impotente
diante das regras do sistema ou teme ser enganado.
4.
Análise organizacional
4.1.
Impactos no ambiente de trabalho
- Potencial de constrangimento público
do colaborador.
- Geração de tensão emocional no
fiscal, podendo afetar sua estabilidade emocional e desempenho momentâneo.
- Necessidade de suporte da liderança
imediata (chefe de frente de caixa ou gerente) para mediar situações
de conflito e preservar a integridade psicológica do colaborador.
4.2.
Risco de repetição
Situações
semelhantes podem ocorrer com frequência em ambientes de varejo, sobretudo
quando:
- Há falhas de comunicação visual de preços;
- O cliente interpreta de forma equivocada
a sinalização de promoção;
- O fiscal não é reconhecido socialmente
como autoridade legítima por parte do cliente.
5.
Recomendações técnicas
1.
Treinamento de mediação de conflitos para
fiscais e operadores de caixa, enfatizando:
o Controle
emocional e comunicação assertiva;
o Estratégias
de desescalada verbal;
o Técnicas
de empatia e escuta ativa.
2.
Padronização da sinalização de preços e
promoções para minimizar interpretações equivocadas.
3.
Suporte psicológico institucional:
acompanhamento preventivo a colaboradores que lidam com conflitos diretos com
clientes, a fim de evitar desgaste emocional e adoecimento psicossomático.
4.
Registro formal de ocorrências para
subsidiar futuras intervenções administrativas ou de treinamento.
6.
Conclusão
O
comportamento do cliente foi uma reação emocional defensiva motivada por
frustração e desequilíbrio entre expectativa e realidade.
O fiscal de caixa agiu conforme o papel institucional, mantendo postura
profissional e buscando esclarecer a situação.
A agressividade verbal do cliente não representa uma falha funcional do
colaborador, mas sim uma manifestação de resistência simbólica à autoridade
e de projeção emocional.
Recomenda-se valorização do comportamento ético do fiscal e ações de prevenção
de conflitos com foco em comunicação, empatia e clareza de informações ao
cliente.
7.
Referências teóricas
- FREUD, S. O ego e o id. Rio de
Janeiro: Imago, 1974.
- FESTINGER, L. A theory of cognitive
dissonance. Stanford University Press, 1957.
- GOFFMAN, E. A representação do eu na vida
cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1985.
- MOSCOVICI, S. Psicologia social.
Petrópolis: Vozes, 2012.
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