Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do para um excelente tópico. Um pregador do
evangelho está na igreja pregando para vários fiéis sentados nas cadeiras
ouvindo a seguinte mensagem avançando
apesar da fé, e em dado momento ele fala: eu não sei para quem eu estou
pregando e menciona várias vezes eu não sei para quem eu estou pregando.
Na
abordagem psicanalítica, podemos interpretar essa repetição da frase "eu
não sei para quem eu estou pregando" como um reflexo do inconsciente do
pregador, que está se manifestando em sua fala de maneira simbólica. Vamos
analisar isso passo a passo, como se você fosse um iniciante:
1.
O significado consciente
No
nível consciente, o pregador pode estar expressando humildade ou incerteza
sobre quem na congregação realmente precisa ouvir e aplicar sua mensagem. Ele
reconhece que cada pessoa tem suas próprias lutas, experiências e contextos, e,
portanto, ele não pode saber exatamente quem será impactado por sua pregação.
2.
O inconsciente e a repetição
Na
psicanálise, a repetição pode ser um indicador de algo que está vindo do
inconsciente. Ao repetir várias vezes "eu não sei para quem eu estou
pregando", o pregador pode estar revelando:
Ansiedade
ou insegurança inconsciente: Ele pode ter dúvidas internas sobre a eficácia ou
o impacto de sua mensagem. Talvez, no fundo, ele esteja se perguntando se suas
palavras realmente atingem alguém.
Transferência
e desejo: Ele pode estar projetando um desejo inconsciente de alcançar alguém
específico (ou um grupo), mas, ao mesmo tempo, sente que não está sendo claro
ou compreendido. Isso pode gerar uma espécie de "conflito interno".
3.
A relação com o superego
O
superego, que representa as normas e valores internalizados, pode estar
influenciando essa fala. O pregador pode sentir uma pressão moral ou espiritual
para ser eficaz e atender às expectativas de sua função, o que gera essa
confissão inconsciente de "não saber" se está cumprindo seu papel
adequadamente.
4.
Interpretação simbólica
A
frase também pode ter um significado simbólico mais amplo:
Busca
de validação: Ele pode estar procurando, inconscientemente, uma resposta ou
reconhecimento da plateia para confirmar que sua pregação tem valor e sentido.
Conexão
com Deus: Talvez, ao dizer que não sabe para quem está pregando, ele também
está reconhecendo que, na visão cristã, a mensagem é guiada por Deus, e ele é
apenas um instrumento. Assim, o "não saber" seria uma entrega ao
desconhecido.
Conclusão
simplificada para iniciantes
Na
visão psicanalítica, a repetição "eu não sei para quem eu estou
pregando" pode indicar insegurança, desejo de validação, ou mesmo um
conflito entre a expectativa de seu papel como pregador e sua percepção interna
de impacto. O inconsciente dele pode estar se manifestando como um apelo para
ser ouvido e compreendido, tanto pelos fiéis quanto por ele mesmo em um nível
mais profundo.
O
conflito entre o desejo e o medo (Id, Ego e Superego)
Na
psicanálise, os comportamentos e falas humanas podem ser compreendidos como o
resultado das interações entre três partes da mente: o id, o ego e o superego.
Vamos aplicar isso à fala do pregador:
O
id: Representa os desejos inconscientes. O pregador pode ter um desejo de ser
reconhecido ou admirado, mas esse desejo não é expresso de forma direta porque
seria inadequado para sua posição. Assim, ele o manifesta de forma indireta,
repetindo "eu não sei para quem estou pregando", o que pode ser
interpretado como uma busca por conexão e validação.
O
superego: É a parte da mente que julga e impõe normas. O superego pode estar
pressionando o pregador a ser perfeito em sua missão espiritual, fazendo-o
sentir que deve alcançar todas as pessoas de forma eficaz. Isso gera uma
ansiedade inconsciente, que se reflete em sua fala.
O
ego: Atua como mediador entre o id e o superego. Ao repetir a frase, o pregador
tenta lidar com a pressão do superego e o desejo do id. Ele tenta expressar
humildade (aceitação de sua limitação humana), mas ao mesmo tempo parece buscar
uma resposta do público, aliviando a tensão interna.
6.
A relação com a audiência (transferência e contratransferência)
Na
psicanálise, a transferência ocorre quando uma pessoa projeta sentimentos,
desejos ou conflitos internos sobre outra pessoa. Neste caso:
O
pregador pode estar transferindo seus próprios sentimentos de dúvida ou
insegurança para a congregação. Ao dizer "eu não sei para quem estou
pregando", ele pode estar inconscientemente expressando que não tem
certeza sobre sua própria clareza ou propósito.
Por
outro lado, a contratransferência pode ocorrer no público, onde os ouvintes
projetam suas próprias questões internas na figura do pregador. Alguns podem se
identificar com essa dúvida, enquanto outros podem sentir que a mensagem está
diretamente direcionada a eles.
7.
A mensagem como espelho do próprio inconsciente
Em
psicanálise, acredita-se que, às vezes, as palavras de uma pessoa falam mais sobre
ela mesma do que sobre os outros. A repetição do pregador pode ser uma forma de
ele, inconscientemente, reconhecer suas próprias dúvidas ou dificuldades em sua
caminhada espiritual. Ele pode estar pregando para si mesmo, buscando respostas
para um conflito interno.
8.
Possíveis mecanismos de defesa em ação
Na
fala do pregador, podem estar envolvidos mecanismos de defesa como:
Racionalização:
Ele tenta justificar sua incerteza como algo natural e aceitável.
Projeção:
Ele projeta suas dúvidas internas no público, sugerindo que "não sabe para
quem está pregando".
Sublimação:
Ele transforma sua ansiedade ou insegurança em um discurso que parece humilde e
inspirador.
Conclusão
ampliada
Pela
abordagem psicanalítica, o pregador, ao repetir "eu não sei para quem eu
estou pregando", pode estar lidando com um conflito interno entre o desejo
de ser eficaz, aceito e compreendido (id) e as rígidas expectativas que ele
mesmo ou sua função impõem (superego). Essa repetição reflete um trabalho do
ego para equilibrar essas forças, expressando de forma simbólica seus
sentimentos inconscientes.
Além
disso, a frase pode ser interpretada como um convite ao público para se
conectar emocionalmente com a mensagem, permitindo que cada um dos fiéis se
sinta visto e incluído, enquanto o pregador também busca resolver suas próprias
questões internas.
Quando
o pregador afirma "Deus manda te dizer", essa declaração pode ser
interpretada, pela psicanálise, como uma tentativa de acessar e expressar algo
que vem do inconsciente, usando a figura divina como um mediador simbólico.
Vamos analisar isso em detalhes:
1.
O Consciente e a Autoridade Divina
No
nível consciente, o pregador está se colocando como um intermediário entre Deus
e os ouvintes. Ele utiliza a autoridade divina como uma forma de garantir que a
mensagem seja recebida com seriedade, pois está atribuindo suas palavras a uma
fonte superior, infalível e legítima.
2.
A Projeção do Inconsciente
Pela
psicanálise, é possível que o pregador esteja projetando seus próprios
pensamentos, desejos ou conflitos internos no "discurso de Deus".
Essa frase pode funcionar como um canal para ele expressar algo que ele próprio
acredita ser importante ou necessário, mas que prefere atribuir a Deus para
legitimar o conteúdo. Isso ocorre porque:
Atribuir
a Deus elimina a responsabilidade pessoal: Ele pode não querer que a
congregação questione a origem da mensagem ou associe seus pensamentos
diretamente a ele.
A
voz divina representa o superego: Na psicanálise, Deus pode ser entendido como
um símbolo do superego — uma força que dita normas e valores. Assim, ao dizer
"Deus manda te dizer", o pregador pode estar expressando mensagens
moralizadoras ou espirituais que vêm de sua própria consciência normativa.
3.
Transferência e a relação com a audiência
Quando
o pregador usa essa frase, ele estabelece uma conexão emocional intensa com os
ouvintes. Do ponto de vista psicanalítico:
Os
ouvintes transferem seus próprios desejos ou conflitos para a figura de Deus:
Muitos podem interpretar a mensagem como algo diretamente dirigido a eles,
independentemente do conteúdo. Isso pode ser um reflexo do desejo de cada um
por orientação, conforto ou validação.
O
pregador assume o papel de mediador dos desejos inconscientes: Ele pode estar
inconscientemente atendendo à necessidade coletiva da audiência de se sentir
vista e guiada por uma força superior.
4.
O Pregador e seus Mecanismos de Defesa
Ao
afirmar "Deus manda te dizer", o pregador pode estar utilizando
mecanismos de defesa para lidar com seus próprios sentimentos:
Sublimação:
Ele transforma seus próprios desejos, medos ou crenças em uma mensagem
espiritual, permitindo que esses conteúdos inconscientes sejam aceitos
socialmente.
Racionalização:
Ao atribuir a mensagem a Deus, ele justifica suas palavras como algo superior e
inevitável, diminuindo possíveis críticas ou dúvidas.
Deslocamento:
A mensagem que ele diz ser de Deus pode, na verdade, estar direcionada a si
mesmo, mas é deslocada para a audiência como forma de aliviar suas próprias
questões internas.
5.
O Papel de Deus como Representação Psicológica
Na
psicanálise, Deus pode ser visto como uma representação simbólica do ideal do
superego — o conjunto de valores e normas internalizadas. Assim, quando o
pregador diz "Deus manda te dizer", ele pode estar:
Dando
voz ao superego coletivo: Ele transmite mensagens que reforçam valores e normas
compartilhados pela comunidade religiosa.
Conectando-se
ao inconsciente coletivo: Segundo Carl Jung (que expande a psicanálise), a
figura de Deus pode acessar arquétipos universais que ressoam profundamente com
todos os ouvintes, tornando a mensagem mais impactante.
6.
Conclusão Simplificada
Quando
o pregador diz "Deus manda te dizer", ele está utilizando a figura
divina como uma ponte para transmitir uma mensagem que pode estar tanto
conectada ao desejo inconsciente dele quanto à necessidade inconsciente da
audiência. É uma forma de validar suas palavras e criar um impacto emocional
profundo, usando a autoridade simbólica de Deus como garantia de verdade.
Pela
psicanálise, isso revela um jogo de projeções e identificações inconscientes: o
pregador expressa algo que talvez ele próprio precise ouvir ou acredita que a
audiência necessite, enquanto os ouvintes transferem seus desejos e conflitos
para a mensagem, buscando respostas ou conforto.
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