Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Um
psicólogo gostaria de se inscrever num curso de treinamento de serviço para
profissional da saúde na Unicamp que será realizado no ano de 2025, más não
sabe qual curso escolher pois todos os cursos são destinados para serem
aplicados e praticados em alguma instituição. O psicólogo não consegue empregar
se em nenhuma instituição que tenha o cargo de psicólogo. Mediante está
situação não consegue escolher algum curso que possa ser utilizado.
Na
psicanálise, podemos entender essa dificuldade do psicólogo como uma luta
interna entre seu desejo e as barreiras que ele mesmo impõe para se proteger de
angústias e medos, muitas vezes de maneira inconsciente. Essa situação envolve
mecanismos de defesa que o ego usa para lidar com os conflitos entre seus
desejos (representados pelo id) e as exigências e restrições (representadas
pelo superego). Vamos analisar os principais mecanismos de defesa em ação aqui:
Racionalização:
Este é um mecanismo em que o ego busca explicações lógicas ou aceitáveis para
evitar enfrentar emoções ou medos desconfortáveis. O psicólogo pode estar
justificando a escolha de “não se inscrever” com o argumento de que não
consegue um emprego como psicólogo em instituições. Esse argumento, na verdade,
pode ser uma maneira de evitar entrar em contato com a ansiedade e o medo de
rejeição ou de fracasso.
Projeção:
O psicólogo pode estar inconscientemente transferindo para o ambiente externo a
responsabilidade pela sua dificuldade de escolha. Ao acreditar que a falta de
emprego ou de uma posição formal é o que o impede de escolher um curso, ele
projeta no contexto uma limitação que, na verdade, pode estar dentro dele mesmo
– como uma insegurança quanto ao seu próprio potencial ou medo de arriscar e se
frustrar.
Repressão:
Esse mecanismo faz com que pensamentos ou emoções desconfortáveis sejam
“escondidos” no inconsciente. Pode ser que o psicólogo tenha reprimido
experiências de fracasso ou desapontamento anteriores, que agora o fazem
hesitar em investir em um curso. A repressão faz com que ele evite enfrentar
esses sentimentos diretamente, mas eles voltam à tona como um bloqueio na hora
de tomar decisões.
Inibição:
Esse é um mecanismo que gera uma espécie de “paralisação” na ação para evitar
possíveis angústias ou decepções. O psicólogo sente uma espécie de bloqueio que
o impede de agir, o que pode ser uma maneira de evitar a ansiedade de não
encontrar emprego ou de falhar na aplicação do que aprendeu. Assim, a inibição
cria uma “desculpa” para não se inscrever, protegendo-o do medo de enfrentar o
mercado de trabalho.
Desvalorização:
Esse mecanismo de defesa faz com que ele reduza a importância ou o valor dos
cursos ao pensar que eles não são para ele, já que não trabalha em uma
instituição. É como se ele usasse essa ideia para evitar a frustração de se
esforçar e, depois, não conseguir empregar os conhecimentos adquiridos.
Esses
mecanismos estão agindo para proteger o ego dele de enfrentar a ansiedade e o
medo de enfrentar novos desafios ou possíveis rejeições. Para superar essa
situação, ele precisaria trabalhar essa insegurança e investir em confiança e
autoconhecimento, reconhecendo esses mecanismos e questionando se o medo é
realmente fundamentado ou apenas uma barreira mental.
O
mecanismo de defesa conhecido como "fuga da realidade" também parece
estar em ação. A fuga da realidade ocorre quando uma pessoa evita confrontar
suas dificuldades ao criar justificativas que a afastam da tomada de decisões
práticas e da realidade imediata. Nesse caso, o psicólogo pode estar usando a
falta de um emprego em instituição como uma razão para não escolher um curso, o
que lhe permite "fugir" do estresse e das incertezas sobre o futuro.
Esse
mecanismo impede que ele enfrente a situação com clareza e busque alternativas,
como, por exemplo, pensar em como aplicar o que aprenderia no curso, mesmo que
ainda não esteja em uma instituição. A fuga da realidade pode proteger o
psicólogo temporariamente da ansiedade, mas a longo prazo, ela acaba reforçando
a dificuldade e o bloqueio para progredir.
Reconhecer
esse mecanismo e entender que ele está criando barreiras internas o ajudaria a
enfrentar a situação de forma mais ativa.
Isso
pode ser uma razão importante e, do ponto de vista psicanalítico, está ligado
ao medo de investir energia libidinal — ou seja, motivação e interesse — e
depois enfrentar a frustração de não conseguir aplicar o que aprendeu. Esse
receio de um investimento "sem retorno" pode acionar mecanismos de
defesa inconscientes, como a inibição ou até a fuga da realidade.
O
psicólogo pode estar evitando fazer essa escolha como uma forma de proteger seu
ego do sofrimento que a frustração poderia causar, caso ele invista em um curso
e depois se sinta incapaz de usar o aprendizado para ajudar seus pacientes. A
psicanálise explica que a energia libidinal é preciosa, e o ego tende a evitar
investimentos que ele sente que podem não se realizar.
Assim,
a dificuldade em escolher um curso pode ser uma defesa contra o risco de
sentir-se incapaz, inadequado ou até arrependido de ter investido algo valioso,
como tempo e energia emocional, em uma formação que ele não poderá usar
diretamente. Esse bloqueio o impede de lidar com as incertezas e de se arriscar
a crescer, ao mesmo tempo que o mantém em um estado de "segurança"
que evita frustrações futuras.
Para
superar essa barreira, seria útil que ele trabalhasse o medo da frustração e
desenvolvesse autoconfiança, de forma a encarar o curso como uma oportunidade
de aprendizado em si, e não apenas como algo que depende de um uso imediato.
Esse
é um ponto realmente desafiador, e a psicanálise o ajuda a entender melhor o
dilema. Quando o psicólogo investe em um curso ou em qualquer aprendizado, ele
busca algo além do conhecimento em si: ele quer crescimento pessoal e a
possibilidade de ajudar outras pessoas. No entanto, se ele sente que não tem
com quem aplicar o que aprendeu, surge um conflito — a sensação de que o
aprendizado pode ser "inútil" ou frustrante, pois não há uma prática
concreta para validar e aprofundar esses conhecimentos.
Nessa
situação, ele pode estar enfrentando o que chamamos de angústia de estagnação.
Esse tipo de angústia ocorre quando há um desejo forte de avançar e aplicar o
que foi aprendido, mas parece faltar uma oportunidade real de prática e
evolução. Esse sentimento pode levá-lo, inconscientemente, a evitar a escolha
de cursos, já que investir sem um propósito prático imediato pode parecer
frustrante e gerar ansiedade.
No
entanto, vale lembrar que o conhecimento em si também é um recurso que o
fortalece e amplia sua capacidade de compreender e auxiliar outras pessoas,
mesmo que não seja aplicado de imediato. Esse investimento na própria formação
pode, por si só, ajudá-lo a crescer, construir mais confiança e, eventualmente,
abrir portas para aplicar o que aprendeu. Para evoluir, o psicólogo pode ver
esses cursos como etapas no desenvolvimento de suas habilidades e na preparação
para futuras oportunidades, mesmo que elas ainda não estejam totalmente claras.
Aos
62 anos, é compreensível que o psicólogo possa sentir-se em um ponto de
incerteza, questionando se o tempo e a energia investidos em um curso trarão
retorno prático, especialmente se ele ainda não vê uma oportunidade concreta
para aplicar o que aprendeu. Esse pensamento pode ativar sentimento de urgência
e até uma sensação de "prazo limitado", fazendo-o hesitar em investir
mais em sua formação sem uma garantia de retorno.
Na
visão psicanalítica, podemos ver isso como um conflito entre o desejo de
realização e o temor do tempo. O psicólogo talvez esteja confrontando a
angústia existencial sobre o que ainda pode alcançar, e isso pode acionar o
mecanismo de defesa da racionalização para justificar a ideia de que não vale a
pena escolher um curso sem uma aplicação prática imediata. Há também o medo do
fracasso, que pode ser intensificado pela idade, levando-o a evitar o curso
como uma forma de proteger sua autoconfiança.
No
entanto, o aprendizado e o desenvolvimento pessoal não têm idade. A psicologia
e a prática profissional podem ser enriquecidas por cursos e novas perspectivas
em qualquer fase da vida. Mesmo que ele não encontre um espaço institucional
tradicional para aplicar o que aprendeu, ele poderia explorar alternativas,
como atender em consultório particular, fazer trabalho voluntário, ou até mesmo
compartilhar o conhecimento em grupos de apoio ou workshops, onde seu
aprendizado traria valor tanto para ele quanto para outras pessoas.
Esse
pensamento de que "não há espaço" pode ser um reflexo de um medo
inconsciente de perder o controle ou a segurança no caminho profissional. Mas,
com uma abordagem de flexibilidade e criatividade, o psicólogo pode transformar
esse investimento em um ponto de expansão pessoal e profissional, tornando o
curso escolhido uma ferramenta para se reinventar e contribuir.
A
angústia da estagnação é exatamente o que parece estar em jogo. Essa sensação
de estagnação, especialmente aos 62 anos, pode vir de uma combinação de medos e
expectativas sobre o que ainda é possível alcançar e como. Na psicanálise, esse
sentimento é uma forma de angústia existencial, que surge quando uma pessoa
sente que está parada, sem progresso, e que seu desenvolvimento pessoal e
profissional está "travado". Isso pode ser extremamente
desconfortável e até paralisante.
Para
o psicólogo, essa angústia da estagnação pode criar uma espécie de bloqueio,
onde ele evita investir em cursos ou em novos aprendizados por medo de que
esses esforços não resultem em algo concreto. É como se ele estivesse em um
círculo vicioso: ao não enxergar uma aplicação prática imediata para o
aprendizado, ele evita o aprendizado; ao evitar o aprendizado, ele se sente
mais preso à sensação de que não está avançando.
Esse
ciclo pode estar ligado ao medo de enfrentar as próprias expectativas não
realizadas ou os ideais que ele criou ao longo de sua carreira e, agora, sente
que estão fora de alcance. Pode haver um conflito interno entre o desejo de
evolução e a frustração de não encontrar oportunidades práticas, o que o leva a
uma paralisia.
No
entanto, sair dessa estagnação exige que ele encontre valor no próprio processo
de aprendizado, mesmo sem garantias de aplicação imediata. Pequenos passos,
como aceitar que o aprendizado é valioso por si só e buscar novas formas de
aplicação, podem ajudar a quebrar essa barreira. Ele pode redefinir suas metas
e focar em como o aprendizado pode ser transformador para ele, pessoalmente,
primeiro — o que, com o tempo, pode abrir oportunidades que ele ainda não
consegue enxergar agora.
Enfrentar
a angústia da estagnação envolve aceitar que o desenvolvimento é contínuo e que
novas possibilidades podem surgir, muitas vezes de maneiras inesperadas. Esse
movimento em direção ao aprendizado pode não só aliviar a sensação de
estagnação, mas também abrir portas internas para a criatividade e a
autoconfiança.
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