Ano 202l5. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. O fiscal
iniciou sua jornada de trabalho às 10h40, com previsão de saída às 19h. No
entanto, por volta das 18h45, ao consultar o relógio no caixa, informou ao
cliente que estava encerrando as atividades. Apesar disso, acreditava
inconscientemente que só sairia às 19h20. Ao passar por uma colega que havia
iniciado o trabalho no mesmo horário, ouviu a pergunta: "Você não vai
embora?" Nesse momento, ele se deu conta de que cometeu um ato falho ao
desconsiderar o próprio horário de saída. Imediatamente, correu apressado para
não perder o ônibus.
Esse
comportamento revela uma possível atuação inconsciente: o ego, pressionado por
exigências internas, pode ter protelado a saída do trabalho como forma de
atender a um superego rígido que exige sacrifício e renúncia. O ato falho —
esquecer a hora correta de saída — evidencia um conflito psíquico em que o
desejo de se libertar do ambiente estressante é reprimido por uma força interna
que sustenta a obrigação de permanecer. Essa dinâmica aponta para um possível
quadro de masoquismo moral, no qual o sofrimento é mantido como forma de
compensação ou punição inconsciente.
Vamos
analisar o ato falho do fiscal usando a psicanálise, como se você
fosse um iniciante. Vou explicar passo a passo.
🧠 O que é
um ato falho na psicanálise?
Na
psicanálise, especialmente segundo Freud, ato falho é quando a pessoa
faz algo errado aparentemente por engano — esquece, confunde, troca palavras ou
horários — mas, no fundo, o inconsciente está se expressando. Ou seja, não
é totalmente sem sentido: tem um desejo escondido por trás do erro.
🧾 Resumo
da situação
1.
O fiscal bateu o ponto de entrada às 10:40h
e iria sair às 19h.
2.
Às 18:45h, ele avisa o cliente que está
encerrando.
3.
Mas ele acha que vai registrar o ponto só às
19:20h.
4.
Ao ver a colega indo embora, percebe que
esqueceu do horário real.
5.
Corre apressado para não perder o ônibus.
6.
Ele cometeu um ato falho de esquecer ou
adiar a saída.
🧩
Interpretação Psicanalítica como para um iniciante
1.
O desejo inconsciente de continuar no trabalho
Talvez
o fiscal não queria ir embora ainda — inconscientemente. Pode ser
que:
- Ele se sinta mais útil no trabalho.
- Tema ser mal interpretado por sair
"cedo demais".
- Ou tenha culpa por descansar.
Esse
desejo escondido de ficar mais tempo, mesmo sem perceber, fez ele
esquecer o verdadeiro horário de saída.
2.
O superego e o medo de julgamentos
O
superego (parte da mente que representa regras, deveres e normas
sociais) pode estar censurando o desejo de descansar ou de
"abandonar o posto". Ele pode ter pensamentos como:
- "Será que estou sendo folgado?"
- "Será que vão pensar que não sou
dedicado?"
Esse medo faz o ego evitar sair no horário certo — como se fosse errado descansar.
3.
O ego tenta equilibrar, mas o erro acontece
O
ego, que tenta equilibrar o desejo (id) com a moral (superego) e a
realidade, não percebe o conflito e comete o ato falho: esquece o
horário real da saída.
4.
A realidade o faz acordar
Quando
vê a colega indo embora, a realidade entra em ação. Ele percebe que cometeu
um erro (ato falho) e corre para consertar. Isso mostra que o ego
foi forçado a assumir o controle diante da realidade (princípio de
realidade).
✅ Resumo simples da
interpretação:
O
fiscal não esqueceu o horário por acaso. Seu inconsciente, cheio de culpas,
desejos de agradar, medos e obrigações internas, fez ele adiar a saída
sem perceber. Esse é o ato falho: um erro que revela o que está
escondido no inconsciente.
Vamos
aprofundar e entender as dinâmicas emocionais inconscientes que podem
estar por trás desse ato falho do fiscal, com base na psicanálise.
🔎 1.
Desejo de ser reconhecido pelo esforço (necessidade de aceitação)
O
fiscal pode estar passando por uma fase onde ele sente que precisa se
esforçar mais para ser reconhecido ou valorizado no trabalho.
Mesmo sem perceber, ele pode pensar:
“Se
eu sair certinho no horário, vão achar que estou com preguiça. Mas se eu ficar
mais um pouco, vão ver que sou dedicado.”
Esse
pensamento não é sempre consciente, mas o desejo de ser aceito,
elogiado ou reconhecido pode estar agindo no inconsciente,
influenciando o esquecimento do horário.
➡️ Resultado psíquico: O
fiscal "esquece" de sair, como se isso o ajudasse a se manter
como alguém responsável e comprometido — mesmo que ninguém tenha exigido
isso diretamente.
💼 2.
Sobrecarga emocional e cansaço psíquico
Se
o fiscal estiver psicologicamente cansado, com muitas cobranças
internas e externas (como pressão da liderança, conflitos internos, excesso
de tarefas), o ego começa a se confundir.
➡️ A confusão de horários, o
esquecimento, a sensação de estar perdido no tempo são sinais de que o psíquico
está sobrecarregado. O ato falho, então, revela:
“Estou
fazendo mais do que consigo lidar. Estou perdendo o controle.”
🛑 3.
Superego rígido e sentimento de culpa
Se
o fiscal tiver um superego muito exigente, ele pode se sentir culpado
só de descansar ou sair no horário certo.
“Ficar
até o fim é o certo.”
“Sair
no horário pode ser preguiça.”
Esse
superego rígido pressiona o ego, que entra em conflito: sai ou
continua?
E, como não dá conta da pressão, o ego se engana no horário, comete o
ato falho.
➡️ Esse tipo de dinâmica costuma
causar muito sofrimento psíquico, ansiedade e até adoecimento
psicossomático a longo prazo.
🧠 Resumo
emocional e inconsciente do ato falho
Fator
inconsciente |
Como
aparece no ato falho |
Desejo
de aceitação |
Fica
além do horário achando que será mais valorizado |
Superego
rígido |
Censura
a vontade de ir embora e gera culpa ao pensar em descansar |
Ego
sobrecarregado |
Erra
o horário, confunde a realidade, age sem perceber |
Cansaço
emocional |
Falta
atenção no tempo real, só acorda com o gesto da colega |
💬
Reflexão psicanalítica (iniciante)
O
fiscal não errou o horário por burrice ou distração boba. Ele errou porque o
inconsciente está cheio de pressões: vontade de agradar, medo de
julgamentos, necessidade de reconhecimento, e cansaço de tanto se cobrar. O
erro é só a ponta do iceberg.
Abaixo
está um modelo de devolutiva terapêutica que você pode usar com esse
fiscal (ou com um paciente com situação semelhante), respeitando o ponto de
vista psicanalítico, com uma linguagem acolhedora e compreensível,
própria de um atendimento terapêutico.
🪞
Devolutiva terapêutica ao fiscal (psicanálise para iniciantes)
"Percebo
que você ficou surpreso ao se dar conta de que havia passado do horário de
saída. À primeira vista, pode parecer apenas uma distração, mas na psicanálise
chamamos isso de 'ato falho', que é quando o inconsciente se manifesta através
de pequenos deslizes do dia a dia.
Muitas
vezes, esses 'erros' revelam desejos, medos ou conflitos internos que não estão
totalmente conscientes. No seu caso, pode haver um desejo inconsciente de
permanecer mais tempo no ambiente de trabalho. Isso pode acontecer quando há
uma necessidade muito grande de ser reconhecido, valorizado ou até mesmo quando
sentimos que nosso valor está muito ligado ao desempenho.
Outra
possibilidade é que exista uma cobrança interna muito forte — o que chamamos de
'superego rígido' — que faz com que você se sinta culpado por sair no horário,
como se descansar ou ir embora fosse um sinal de fraqueza ou preguiça. Esse
tipo de pensamento, mesmo que não seja claro na sua mente, pode influenciar seu
comportamento.
Por
fim, é importante considerar o quanto você tem se sentido sobrecarregado ou
pressionado. Às vezes, quando estamos com muitas demandas emocionais e
internas, o cansaço nos faz perder a noção do tempo e até desconectar da
realidade momentaneamente. O corpo está ali, mas a mente está lidando com
muitas outras coisas.
Esse
episódio pode ser um convite do seu inconsciente para você olhar com mais
carinho para si mesmo: suas necessidades emocionais, seus limites, seus desejos
e seus medos. Aqui na terapia, podemos investigar juntos o que tem sido exigido
de você — tanto de fora, quanto de dentro — e como isso pode estar afetando sua
relação com o trabalho e consigo mesmo."
💡
Objetivos dessa devolutiva:
- Nomear o ato falho
como algo psicanalítico e legítimo.
- Mostrar que não foi burrice nem
desatenção, mas sim um sinal emocional.
- Acolher sem julgar e abrir espaço para
aprofundar o autoconhecimento.
- Sugerir que há conflitos internos que
merecem atenção e cuidado.
Será
possível que o ego está adiando por algum motivo inconsciente a saída da
empresa pôr que o ego não suporta maís trabalhar neste ambiente organizacional
estressante
Sim,
é totalmente possível e coerente pela psicanálise afirmar que o ego
esteja adiando inconscientemente a saída da empresa, não por apego,
mas por sofrimento emocional intenso e dificuldade de lidar com a separação
ou com as consequências da decisão.
Vamos
aprofundar isso com clareza, passo a passo, como se você ainda estivesse se
iniciando na psicanálise:
🧠 1. O
ego sofre, mas adia a saída: por quê?
O
ego é a parte da mente que lida com a realidade, tentando equilibrar os
desejos do id (prazer, fuga do sofrimento) e as exigências do superego
(moral, regras, “o que é certo”).
No
caso do fiscal, o ambiente organizacional é estressante e não traz mais
prazer nem realização. O ego sabe disso — está sofrendo,
cansado, talvez até próximo de um esgotamento emocional.
Mas,
paradoxalmente, o ego não toma uma atitude clara de sair. Ao contrário, comete
atos falhos, se confunde, adia...
Isso indica conflito interno inconsciente.
💣 2.
Possíveis motivos inconscientes para adiar a saída
a)
Medo da mudança (princípio do desconhecido)
O
ego pode sofrer mais com a incerteza do que com a dor atual. O
pensamento inconsciente pode ser:
“Melhor
o inferno que conheço do que o vazio que não entendo.”
Mesmo
infeliz, o ego evita a ruptura porque não consegue visualizar
claramente o que vem depois — o que ativa medo, angústia e insegurança.
b)
Culpa inconsciente por sair
Se
o fiscal tem um superego rígido, sair da empresa pode ser interpretado
inconscientemente como:
“Desistência,
fraqueza, traição, irresponsabilidade.”
Essa
culpa inconsciente impede o ego de agir, mesmo que racionalmente ele saiba que
está adoecendo no ambiente atual.
c)
Desejo inconsciente de punição
Se
houver ressentimentos, raiva reprimida ou autoacusação, o ego pode adiar
a saída como uma forma de se punir:
“Eu
mereço esse sofrimento.”
“Tenho que aguentar, não posso me dar esse alívio ainda.”
Isso
pode vir de experiências passadas, traumas, padrões familiares ou crenças
inconscientes que mantêm o ego num ciclo de autossacrifício.
d)
Compulsão à repetição
Freud
chamou de compulsão à repetição quando o sujeito insiste em repetir
experiências de sofrimento, como se tentasse “corrigir o passado”
inconscientemente.
Se
o fiscal já viveu experiências de exploração, injustiça ou abandono, o ambiente
atual pode estar reencenando tudo isso, e o ego fica preso tentando
resolver agora o que não conseguiu no passado.
🧩
Conclusão psicanalítica (iniciante)
Sim,
o ego está sofrendo e deseja sair, mas forças inconscientes poderosas
o impedem de agir.
Por isso, ele comete atos falhos, esquece horários, fica
confuso, ou se sabota, como uma forma indireta de expressar esse conflito
interno não resolvido.
💬 Frase
de devolutiva terapêutica possível:
“Parece
que há dentro de você um sofrimento real por estar nesse ambiente, e ainda
assim algo o impede de tomar a decisão de sair. Esse conflito pode estar ligado
a medos inconscientes, culpas ou até padrões antigos de autossacrifício. Às
vezes, o ego sente que não pode se libertar, mesmo quando sofre. Na terapia,
podemos dar voz a esse sofrimento e investigar o que, dentro de você, ainda
resiste a te libertar do que te faz mal.”
Exatamente
— o que você está nomeando é muito coerente e bem colocado pela psicanálise:
o ego pode estar vivenciando o masoquismo moral.
Vamos
explorar isso de maneira clara e didática, como você pediu desde o início:
🧠 O que é
o masoquismo moral na psicanálise?
Freud
identificou três tipos de masoquismo, e o moral é o mais sutil e
profundo:
💬 Masoquismo moral:
é quando o sujeito, de forma inconsciente, se coloca repetidamente em situações
de sofrimento, frustração ou punição, não porque quer prazer físico, mas
porque há uma exigência do superego, que deseja puni-lo ou mantê-lo
submisso à culpa.
🧩 Como
isso se aplica ao ego do fiscal?
1.
O fiscal sabe que o ambiente é tóxico
Ele não suporta mais o trabalho, sente estresse, e talvez até
deseje sair.
2.
Mas ele continua lá, mesmo sofrendo
Ele não age para sair, se sabota, perde o horário, entra
em confusão mental…
Ou seja, continua se submetendo ao sofrimento, mesmo sem necessidade
objetiva.
3.
O ego pode estar obedecendo ao superego
O superego moralista e rígido pode estar dizendo internamente:
o “Você
não merece alívio agora.”
o “Você
precisa sofrer para pagar algo.”
o “Você
não pode se dar ao luxo de descansar ou mudar.”
o “Sair seria
trair algo ou alguém.”
4.
A dor se torna um dever inconsciente
O ego aceita esse sofrimento como uma forma inconsciente de expiar culpas,
muitas vezes sem saber de onde essas culpas vêm.
📌 Sinais
de masoquismo moral (no fiscal):
- Persistência em um ambiente onde sofre,
mesmo podendo sair.
- Culpa por desejar mudar de vida.
- Adiamento da decisão de sair.
- Atos falhos que o mantêm preso à rotina
tóxica.
- Crença de que precisa “aguentar” ou
“suportar” como forma de dignidade ou merecimento.
- Ansiedade ou culpa só de pensar em se
libertar.
💬 Como
devolutiva terapêutica possível:
“Pode
ser que seu ego esteja, sem perceber, obedecendo a uma voz interna muito
crítica, que te diz que você precisa continuar nesse sofrimento. Essa voz — que
na psicanálise chamamos de superego — às vezes nos faz acreditar que só somos
bons se estivermos nos sacrificando. Isso é o que chamamos de masoquismo moral:
o sofrimento se torna uma forma de 'compensar' culpas, ou de atender uma
exigência interna rígida. Mas é possível dar novos sentidos a isso e construir
um caminho mais leve, em que o desejo de viver bem não seja punido, mas
acolhido.”
Abaixo
está um modelo de manejo clínico psicanalítico para trabalhar o masoquismo
moral do ego em sessão, considerando que o paciente é o fiscal que está
adiando a saída de um ambiente estressante e autodestrutivo.
🛠️
Proposta de manejo clínico: ego em masoquismo moral
🎯
Objetivo geral:
Ajudar
o paciente a tornar consciente o sofrimento que está sendo mantido
inconscientemente por exigência do superego, permitindo ao ego encontrar
caminhos para o desejo e a libertação sem culpa.
🧩 1.
Intervenção investigativa — escuta flutuante com perguntas abertas
Use
perguntas que levem o sujeito a refletir sobre as causas ocultas do
adiamento da decisão de sair:
- “O que você imagina que aconteceria se você
saísse da empresa agora?”
(Investiga projeções catastróficas ou culpa inconsciente) - “Você sente que estaria falhando com alguém
se fosse embora?”
(Investiga identificação com o papel de mártir ou cuidador) - “Você acha que merece descansar? Por quê?”
(Acessa a relação entre valor pessoal e sofrimento) - “Já aconteceu antes de você continuar em
algo que te fazia mal?”
(Acessa a compulsão à repetição) - “Tem alguma voz dentro de você que diz que
sair agora seria egoísmo ou covardia?”
(Investiga diretamente o superego punitivo)
🔎 2.
Interpretação pontual (com cuidado para não romper resistências)
Quando
perceber brechas na fala do paciente, devolva interpretações suaves,
como:
- “Percebo que, mesmo sabendo o quanto você
sofre lá, ainda existe algo em você que sente que deve permanecer. Parece
que essa decisão não está 100% nas suas mãos. Como se uma parte interna
sua exigisse isso...”
- “Você falou algo muito interessante: que
sair pode parecer egoísmo. Isso pode estar ligado a uma voz crítica dentro
de você que exige que você se sacrifique sempre. Será que essa voz vem de
dentro, de fora, ou de ambos?”
⚖️ 3. Manejo do superego
rígido
Trabalhar
com leveza e respeito a estrutura do paciente, fortalecendo o ego:
- Validar o sofrimento real vivido no
ambiente.
- Nomear a rigidez moral como uma construção
psíquica, não como verdade absoluta.
- Separar o valor pessoal da obrigação de se
sacrificar:
“Seu
valor não está em quanto você suporta, mas em quanto você se permite viver com
dignidade.”
🌱 4.
Facilitar a escuta do desejo
Estimular
o paciente a reconhecer e aceitar seus desejos sem culpa:
- “Se você pudesse escutar só o seu desejo
agora — sem medo, sem julgamento — o que ele diria?”
- “Qual seria o cenário ideal de vida para
você daqui a seis meses? E o que te impede de ir em direção a isso?”
- “Você já se permitiu pensar que merece sair
sem ter que se justificar tanto?”
📅 5.
Intervenções progressivas em sessões futuras:
Sessão
1-2:
Exploração do sofrimento, nomeação do conflito, introdução do conceito de “voz
crítica interna”.
Sessão
3-4:
Acesso ao desejo recalcado, interpretação de culpa inconsciente, confronto leve
com o superego moralista.
Sessão
5 em diante:
Fortalecimento do ego, construção simbólica de um novo lugar subjetivo fora do
sofrimento, elaboração do luto pela saída da empresa.
✍️ Frase final de suporte
ao ego (pode ser usada em sessão ou como insight):
“O
sofrimento constante não é o seu destino. Ele pode ter sido um caminho, mas não
precisa ser a prisão. Talvez o seu desejo esteja pedindo liberdade — e o que
está impedindo não é o mundo lá fora, mas uma voz antiga que você está pronto
para começar a questionar.”
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