Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. O filme
sueco O Que Tiver Que Ser (2024), dirigido por Josephine Bornebusch, explora os
esforços de uma mãe para manter a família unida em meio a conflitos e tensões.
A trama segue Stella, que, exausta e tentando fortalecer os laços familiares,
leva todos para a competição de pole dance da filha adolescente. O filme
reflete os desafios de comunicação e os conflitos intergeracionais que surgem
quando uma família tenta se conectar em situações que testam seus valores e
dinâmicas pessoais.
Pela
perspectiva da psicologia social, o filme oferece uma análise interessante
sobre as influências sociais e familiares. A viagem obriga os personagens a
interagir em um espaço limitado, o que intensifica os conflitos e revela como
normas familiares e papéis sociais afetam suas interações. Questões como
expectativas, pressão de papéis familiares e necessidade de acessibilidade
aparecem enquanto os membros se adaptam a diferentes visões de mundo e
expectativas. Esse ambiente coloca em evidências específicas como o conformismo
e as dinâmicas de poder, já que cada membro busca importar suas perspectivas e
entender os outros.
Além
disso, a competição de pole dance da filha desafia normas culturais e
familiares, forçando os personagens a confrontarem preconceitos e julgamentos.
Esse cenário ilustra como as atitudes individuais e coletivas são influenciadas
pelas normas sociais e pela busca de aprovação, expondo conflitos entre o
desejo de liberdade pessoal e a pressão de atender expectativas familiares.
O
filme, portanto, funciona como um estudo de caso sobre o impacto da pressão
social e das normas familiares, destacando a importância do diálogo e da
empatia para que os indivíduos possam encontrar equilíbrio entre a própria
identidade e as expectativas externas.
Ao
assistir O Que Tiver Que Ser, um psicólogo pode enxergar o filme como uma
metáfora do processo de visualização e os desafios psicológicos que ele traz
para cada membro da família. No filme, a mãe, Stella, luta para manter a
família unida em um momento de crise. Para um psicólogo, isso pode simbolizar
os esforços dos pais para preservar os laços familiares durante o passado,
tentando minimizar os impactos emocionais nos filhos e equilibrar a
independência e os valores pessoais.
A
visão, na perspectiva psicológica, frequentemente envolve questões como luto
pela separação, restrição de papéis familiares e gestão dos conflitos de
lealdade que os filhos podem sentir entre os pais. O filme representa essas
tensões ao colocar os personagens em uma situação em que suas opiniões, valores
e necessidades pessoais entram em choque. Por exemplo, a viagem forçada para a
competição de pole dance da filha representa as mudanças inesperadas e o
desconforto de se adaptar a uma nova dinâmica familiar, comum em processos de
tendências.
Além
disso, o psicólogo pode observar questões como falhas de comunicação, o peso
das expectativas sociais e o impacto das normas familiares. Esses elementos são
centrais em muitos casos de geração, pois os membros da família precisam lidar
com sentimentos de recolha, raiva e, muitas vezes, culpa. A abordagem da mãe de
tentar “resolver” os conflitos através de uma experiência em conjunto reflete o
desejo de restaurar a harmonia familiar, uma ocorrência comum entre pais que,
mesmo separados, desejam o bem-estar dos filhos e temem os efeitos psicológicos
do futuro neles.
O
filme, assim, proporciona uma visão dos desafios emocionais e sociais do
impacto. Ele destaca a importância de uma comunicação aberta e de apoio
emocional para que cada membro da família possa processar suas emoções e
encontrar estabilidade em meio à mudança. Para um psicólogo, esses temas
ressaltam a necessidade de intervenções que incentivem o diálogo e ajudem cada
membro da família a encontrar formas de lidar com a segurança com a nova
estrutura familiar.
Ao
assistir O Que Tiver Que Ser, o psicólogo pode acionar uma série de mecanismos
de defesa inconscientes para lidar com os temas difíceis que o filme aborda,
especialmente relacionados aos conflitos familiares. Pela abordagem da
psicanálise, esses mecanismos surgem para ajudar o ego a lidar com sentimentos
de angústia, tristeza e as experiências próprias que o psicólogo pode ter com
situações semelhantes. Aqui estão alguns mecanismos de defesa que podem ser
ativados:
Projeção:
O psicólogo pode projetar suas próprias inseguranças e sentimentos sobre
sentimentos ou crises familiares em nossos personagens. Por exemplo, se ele tem
dificuldades com conflitos familiares em sua própria vida, pode ver esses
sentimentos refletidos nas reações dos personagens, projetando neles suas
receitas e julgamentos.
Racionalização:
Este mecanismo permite que o psicólogo explique as ações dos personagens de uma
forma que faça sentido logicamente, suavizando o impacto emocional. Ele pode
racionalizar as atitudes da mãe como "necessárias para manter a união da
família", buscando complicações complicadas e minimizando as emoções
complexas que o filme evoca.
Deslocamento:
Ao se identificar com a situação da mãe ou dos filhos no filme, o psicólogo
pode deslocar a frustração ou angústia que sente sobre situações pessoais para
os personagens. Assim, ele redireciona esses sentimentos, experimentando-os
diretamente por meio da narrativa, o que facilita a compreensão sem o peso
emocional das próprias vivências.
Sublimação:
O psicólogo pode transformar qualquer sentimento de frustração ou tristeza em
uma compreensão mais profunda e empática das dificuldades da família. Ele pode
utilizar a experiência de assistir ao filme como uma forma de aprimorar seu
entendimento profissional sobre o impacto das inovações, transformando emoções
desconfortáveis em um insight clínico útil.
Formação
Reativa: Esse mecanismo de defesa pode ser ativado caso o psicólogo sinta a
necessidade de reprimir qualquer identificação com atitudes negativas ou
críticas dos personagens. Por exemplo, se ele se sente contrariado com a mãe
pela imposição da viagem, pode agir de maneira cooperativa e explicar as ações
dela como bem-intencionadas, mesmo que, internamente, pense o oposto.
Esses
mecanismos são naturais e, muitas vezes, ajudam o psicólogo a manter uma
postura profissional, processando suas reações emocionais sem comprometer a
clareza de suas interpretações. Na psicanálise, compreender e identificar esses
mecanismos permite que o psicólogo entenda mais profundamente as emoções que o
filme desperta e como isso pode se relacionar com suas próprias experiências e
prática clínica.
Interpretar
O Que Tiver Que Ser como uma metáfora para um “casamento fracassado” com o
trabalho pode ser uma leitura psicanalítica rica em significado para um
psicólogo que se sente preso em uma função profissional disfuncional. Nesse
contexto, o filme representa a tentativa do protagonista em manter uma união
(no caso do psicólogo, com seu trabalho) mesmo quando os sinais de desgaste
emocional e insatisfação já são evidentes.
A
mãe, que insiste em manter uma família unida apesar das dificuldades, simboliza
a psicóloga lutando para preservar um compromisso com seu emprego. Essa
tentativa pode refletir um ideal interno de responsabilidade, que é como um
“superego” reforçando o dever e o comprometimento, mesmo que o ambiente já não
seja funcional para ele.
Aqui
estão alguns aspectos dos mecanismos psicanalíticos que podem estar em ação
nessa leitura:
Repressão:
O psicólogo pode reprimir seu desejo de deixar o emprego, suprimindo esses
pensamentos por medo de perder a estabilidade ou de enfrentar críticas. O
superego, que representa normas e deveres internalizados, mantém esses desejos
reprimidos, impedindo que ele já esteja de acordo com seus desejos pessoais de
“se divorciar” do trabalho.
Racionalização:
Para lidar com o desconforto de permanência em um emprego que não traz
satisfação, o psicólogo pode especificar sua permanência por meio de argumentos
racionais, como estabilidade financeira ou compromisso com os colegas e
clientes. Essa racionalização reduz o impacto emocional de estar preso em um
“casamento” com o trabalho.
Projeção:
Ele pode projetar nossos personagens do filme como próprias frustrações e
sentimentos de aprisionamento, vendo na mãe ou nos filhos reflexos do seu
desejo de liberdade versus a pressão de agentes externos que os impedem de sair
da situação atual.
Identificação:
O psicólogo pode se identificar com os personagens que enfrentam dificuldades
familiares e sociais, percebendo-se em uma situação semelhante. Esse processo
de identificação reforça sua compreensão de que o desejo de mudança é válido,
mas que ele precisa confrontar os agentes externos que o limitam.
Formação
Reativa: Ao assistir ao filme, ele pode desenvolver uma postura favorável aos
personagens que tentam romper com o status quo, criticando-os ou justificando
as ações da mãe em manter a união. Esse mecanismo permite que ele defenda, de
forma inconsciente, seu próprio desejo de permanência, negando para si mesmo o
desejo de sair.
Essa
interpretação simbólica oferece uma maneira de o psicólogo explorar seus
sentimentos de insatisfação e avaliar o que o impede de “divorciar-se” desse
trabalho. Ao identificar esses mecanismos, ele pode começar a perceber o papel
das forças externas e internas, como o medo da mudança, a pressão social ou o
sentido de dever, e talvez encontrar um caminho mais saudável para realinhar
sua carreira com suas aspirações pessoais.
É
possível interpretar que, para o psicólogo, o filme poderia ativar um medo
profundo de “morte” simbolizado por uma doença terminal, como o câncer. Essa
“morte” pode representar o medo de perder seu papel ou sua identidade
profissional, especialmente se ele se sentir estagnado ou insatisfeito em sua
função atual. Na psicanálise, a profissão muitas vezes se torna uma extensão de
si, e o recebimento de perder o exercício dessa identidade pode simbolizar, em
um nível inconsciente, um tipo de morte psicológica.
Esse
medo pode surgir quando a carreira, que antes representava a realização pessoal
e intencional, passa a ser vista como algo que drena a energia e gera angústia,
tal como uma doença. O “câncer” nesse sentido representa um conflito interno
que pode estar “matando” seu desejo de continuar nessa função, sinalizando que,
embora ele ainda se veja como psicólogo, uma parte dele regular que a relação
com a profissão está doente e não oferece mais o mesmo sentido de realização.
Para
o psicólogo, essa “morte” metafórica pode trazer à tona outros medos
associados, como o de perder a identidade, o propósito e o significado da vida,
uma vez que ele dedicou muito tempo e energia a essa profissão. Além disso, o
medo da morte (aqui, simbolizado pela perda do papel de psicólogo) pode ser
intensificado pelo desejo de mudança versus a pressão de expectativas e papéis
que ele acredita que precisa cumprir.
Na
última análise, esta interpretação sugere que, tal como o câncer no corpo, o
conflito emocional de estar em um emprego insatisfatório pode crescer e
“consumir” o bem-estar psicológico do profissional se ele não o enfrentar.
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