Ano 2025. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Na
abordagem do processo grupal, a dinâmica do poder no consultório clínico entre
psicólogo e cliente pode ser analisada sob a ótica das relações interpessoais e
da influência que cada um exerce sobre o outro. Algumas características dessa
dinâmica incluem:
1.
Relação Assimétrica, Mas Não Autoritária
O
psicólogo ocupa uma posição de facilitador e detém conhecimento técnico, o que
lhe confere um certo poder. No entanto, esse poder não deve ser exercido de
forma autoritária, mas sim como um meio de criar um ambiente seguro para a
exploração emocional e psicológica do cliente.
2.
O Cliente Também Possui Poder
O
poder no consultório não está apenas com o psicólogo. O cliente detém o poder
de escolher o que compartilhar, como reagir às intervenções e até mesmo de
interromper o processo. Em um modelo de processo grupal, entende-se que o
cliente pode resistir, negociar significados e até influenciar o terapeuta com
suas demandas e emoções.
3.
Transferência e Contratransferência como Estratégias de Poder
A
transferência ocorre quando o cliente projeta no psicólogo sentimentos e
expectativas baseadas em relações passadas, enquanto a contratransferência
envolve as reações emocionais do terapeuta ao cliente. Esses processos revelam
uma dinâmica de poder sutil, na qual ambos influenciam um ao outro.
4.
Psicólogo Como Facilitador do Processo Grupal (Mesmo em Atendimento Individual)
Embora
o processo grupal seja mais evidente em terapias de grupo, ele também pode ser
observado em atendimentos individuais. O terapeuta age como um líder de grupo
interno, ajudando o cliente a lidar com seus múltiplos "eus"
internos, que podem funcionar como diferentes membros de um grupo (ex.: partes
conflitantes da psique, como desejo e censura).
5.
Poder e Resistência na Mudança
A
resistência do cliente pode ser vista como uma forma de tentar manter o
controle dentro da relação terapêutica. O psicólogo, por sua vez, deve usar
esse momento para compreender os medos e defesas do cliente, ajudando-o a
flexibilizar padrões sem impor mudanças.
6.
Construção de uma Relação Democrática
A
ideia do poder compartilhado é essencial no processo terapêutico. O psicólogo
não deve ser um detentor absoluto da verdade, mas sim alguém que coconstrói o
processo com o cliente, respeitando sua autonomia e promovendo um ambiente onde
ele possa se sentir agente da própria mudança.
Em
resumo, a abordagem do processo grupal na clínica destaca que o poder é uma via
de mão dupla, onde psicólogo e cliente influenciam-se mutuamente, e a eficácia
do tratamento depende de um equilíbrio entre autoridade técnica e empoderamento
do cliente.
Qual
é a dinâmica de poder que o cliente aciona consciente e inconsciente sobre o
psicólogo em relação ao dinheiro do honorário 
A
dinâmica de poder entre cliente e psicólogo em relação ao dinheiro do honorário
envolve tanto fatores conscientes quanto inconscientes, que podem influenciar a
relação terapêutica e as emoções de ambos.
1.
Aspectos Conscientes do Poder do Cliente sobre o Psicólogo
Escolha
e permanência: O cliente tem o poder de escolher continuar ou interromper a
terapia, o que coloca o psicólogo em uma posição onde precisa equilibrar a
ética profissional com a necessidade financeira.
Negociação
do valor: Alguns clientes tentam negociar o valor da sessão, pedindo descontos
ou parcelamentos. Isso pode criar um teste de limites, onde o psicólogo precisa
definir sua posição sem comprometer a relação terapêutica.
Atrasos
e inadimplência: Quando um cliente atrasa ou não paga, ele exerce um poder
sobre o psicólogo, que precisa decidir se continua atendendo, se confronta o
cliente ou se estabelece limites mais rígidos.
.
Aspectos Inconscientes do Poder do Cliente sobre o Psicólogo
Transferência
de poder parental: O cliente pode ver o psicólogo como uma figura de autoridade
e testar até onde ele cede, assim como fazia com os pais. O pagamento pode
simbolizar obediência ou rebeldia.
Culpa
e manipulação: Alguns clientes podem sentir culpa por investir dinheiro em si
mesmos e, inconscientemente, tentar transferir essa culpa para o psicólogo,
fazendo-o sentir-se mal por cobrar.
Dependência
emocional e financeira: Se um cliente sente que precisa muito da terapia, mas
tem dificuldades financeiras, ele pode exercer poder emocional, esperando que o
psicólogo reduza o valor ou o atenda gratuitamente.
Resistência
ao processo terapêutico: A recusa em pagar ou atrasos frequentes podem ser
formas inconscientes de resistência à terapia, simbolizando um desejo de manter
o problema ou testar se o psicólogo se importa com ele além do dinheiro.
Como
o Psicólogo Pode Gerenciar essa Dinâmica de Poder?
Estabelecendo
contratos claros desde o início sobre valores, formas de pagamento e
cancelamento de sessões.
Reconhecendo
as emoções envolvidas, tanto as do cliente quanto as próprias, evitando cair em
armadilhas emocionais.
Trabalhando
questões inconscientes na terapia, ajudando o cliente a perceber se sua relação
com o dinheiro reflete conflitos internos mais profundos.
Mantendo
uma postura profissional e ética, sem ceder a manipulações ou permitir que o
dinheiro se torne um obstáculo para a eficácia do tratamento.
Essa
dinâmica mostra que o dinheiro no setting terapêutico não é apenas um valor
monetário, mas também um símbolo de poder, compromisso e transferência
psíquica.
A
dinâmica de poder que o cliente aciona para diminuir o número de sessões,
responsabilizando a falta de dinheiro, pode ser analisada em três níveis:
consciente, inconsciente e interacional.
1.
Nível Consciente: Estratégia Racional e Justificativa Financeira
O
cliente pode genuinamente estar enfrentando dificuldades financeiras e, por
isso, busca reduzir o número de sessões.
No
entanto, ele também pode usar a justificativa financeira como uma estratégia de
controle, buscando estabelecer seu próprio ritmo de terapia, independentemente
da recomendação do psicólogo.
Ele
pode testar se o terapeuta se sensibiliza com sua situação, tentando negociar
valores ou frequência.
Ao
trazer a questão do dinheiro, o cliente pode inverter a hierarquia de poder,
colocando o psicólogo em uma posição desconfortável de precisar justificar o
valor do seu trabalho.
2.
Nível Inconsciente: Resistência e Mecanismos de Defesa
A
dificuldade financeira pode ser uma racionalização para evitar conteúdos
difíceis que estão emergindo na terapia.
O
cliente pode estar ativando um mecanismo de fuga, reduzindo as sessões para
evitar aprofundamento emocional.
Ele
pode projetar no psicólogo uma figura de autoridade e, inconscientemente,
querer "punir" ou "testar" essa figura ao cortar recursos.
A
culpa por investir em si mesmo pode levá-lo a inconscientemente criar barreiras
para o processo terapêutico.
Se
houver transferência parental, a questão financeira pode representar uma
relação inconsciente com dinheiro herdada da família, como crenças de escassez
ou medo de exploração.
3.
Nível Interacional: O Impacto no Psicólogo e na Relação Terapêutica
O
cliente assume momentaneamente o poder de decisão sobre a terapia, alterando a
frequência sem necessariamente discutir os impactos dessa mudança.
O
psicólogo pode sentir-se pressionado a ceder e flexibilizar, com medo de perder
o cliente ou parecer insensível.
Se
o psicólogo não perceber a dinâmica inconsciente, pode acabar aceitando a
justificativa sem explorar o que está por trás da decisão.
O
cliente pode inconscientemente querer testar se o psicólogo realmente se
importa com ele ou apenas com o dinheiro, criando uma situação de poder
emocional.
Como
o Psicólogo Pode Gerenciar Essa Dinâmica de Poder?
Explorando
a questão na terapia, perguntando como o cliente se sente ao trazer essa
justificativa e se há outros fatores envolvidos.
Observando
padrões emocionais, verificando se a redução das sessões coincide com momentos
de resistência ou medo de mudanças.
Reforçando
o contrato terapêutico, mostrando a importância da frequência para a eficácia
do processo.
Mantendo
uma postura ética e firme, sem ceder a pressões emocionais que comprometam a
qualidade do atendimento.
Se
necessário, ajustando valores ou frequência de forma transparente, mas sem
perder o controle da condução terapêutica.
Essa
dinâmica mostra que o dinheiro, no contexto terapêutico, muitas vezes vai além
da questão financeira e se torna um instrumento simbólico de poder, resistência
e negociação na relação psicólogo-cliente.
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