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Ato Falho Nas Orações

 Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208

O presente artigo chama a atenção do Leitor para um excelente tópico. Um sujeito sempre faz orações a Deus antes de sair de casa para que Deus o proteja de assaltos, ser prejudicado no supermercado na função de fiscal de caixa onde pessoas passam nota falsas, ora pára Deus proteger o filho de acidentes de trânsito por que anda de moto,ora para a nação e outros pedidos. Mas atualmente tem se esquecido de orar. Me explica e interpreta como se eu fosse um iniciante pela abordagem da psicanálise o ato falho.

Na psicanálise, um ato falho é um comportamento ou esquecimento que revela desejos, conflitos ou sentimentos inconscientes que estão fora do alcance da consciência. Ele acontece quando o inconsciente interfere no funcionamento consciente, mesmo que o sujeito não perceba.

No caso apresentado, o fato de o sujeito "esquecer" de orar pode ser interpretado como um ato falho. Esse esquecimento não acontece por acaso; pode estar ligado a algo que está ocorrendo em seu inconsciente. Vamos explorar isso em etapas simples:

Oração como hábito e defesa:

O sujeito desenvolveu o hábito de orar para se proteger e proteger os outros. Isso pode ser visto como uma maneira de lidar com a ansiedade e os medos relacionados aos perigos da vida cotidiana (assaltos, prejuízos no trabalho, acidentes).

Esquecimento e o inconsciente:

Quando ele se esquece de orar, pode ser um sinal de que algo dentro dele está mudando. Talvez ele esteja sentindo dúvidas sobre a eficácia das orações, sentindo-se sobrecarregado ou menos conectado espiritualmente. Isso indica um conflito entre o consciente (desejo de continuar orando) e o inconsciente (desejos ou emoções que o afastam da prática).

Possíveis desejos inconscientes:

 

Cansaço ou desânimo: O sujeito pode estar inconscientemente cansado de repetir o ritual e não perceber resultados imediatos, levando ao esquecimento como forma de "pausa".

Culpa ou punição inconsciente: Ele pode sentir, inconscientemente, que merece algum tipo de punição ou sofrimento, o que faz com que esqueça de orar como uma forma de não se proteger.

Conflito com a fé: O esquecimento pode ser um sinal de que ele está em conflito com sua crença, questionando a necessidade ou a utilidade da oração, mesmo que não admita isso conscientemente.

Mecanismos de defesa:

Repressão: Ele pode estar reprimindo sentimentos de dúvida ou desânimo, e o esquecimento é uma maneira de o inconsciente trazer esses sentimentos à tona.

Negação: Ele pode não querer enfrentar seus medos ou frustrações diretamente, e isso se manifesta no ato falho de esquecer algo tão importante para ele.

Resumo para iniciantes:

O esquecimento de orar não é apenas uma falha comum, mas um sinal de que algo no inconsciente está interferindo. Pode ser um cansaço, uma dúvida sobre sua fé ou um desejo inconsciente de lidar com os medos de outra forma. O ato falho, então, revela um conflito interno entre o que ele conscientemente quer (orar) e o que o inconsciente está tentando comunicar (questionamentos, cansaço ou desânimo).

Sim, é possível interpretar o esquecimento de orar como relacionado à compulsão à repetição, um conceito central na psicanálise. A compulsão à repetição ocorre quando uma pessoa repete inconscientemente comportamentos ou experiências, muitas vezes ligados a desejos, conflitos ou traumas inconscientes, mesmo que isso não lhe traga satisfação ou alívio.

Vamos entender isso aplicado ao caso:

 

1. O hábito repetitivo da oração

O sujeito realiza orações diariamente com os mesmos pedidos, o que pode ter se tornado uma rotina automatizada, quase mecânica. Na perspectiva psicanalítica, esse tipo de repetição pode não estar mais conectado ao significado ou à intenção original, mas funcionar como um padrão compulsivo.

Exemplo: Ele pode estar repetindo as orações não apenas por fé, mas por uma necessidade inconsciente de evitar ansiedade, medo ou culpa. A oração, nesse caso, pode atuar como um ritual para apaziguar sentimentos que ele talvez nem perceba.

2. A exaustão emocional da repetição

Com o tempo, a compulsão à repetição pode levar ao desgaste emocional. O sujeito pode começar a sentir, inconscientemente, que a repetição não resolve seus medos ou angústias. Isso pode provocar o esquecimento, que seria uma forma inconsciente de "quebrar" o ciclo de repetição.

Exemplo: Ao repetir sempre os mesmos pedidos, ele pode sentir, inconscientemente, que suas orações se tornaram insuficientes ou sem efeito. Isso gera um conflito interno que o leva a esquecer como uma "fuga" desse padrão.

3. Conflito entre o superego e o id

Superego: É a instância psíquica que representa as normas, os valores e o dever. No caso, o superego pode estar pressionando o sujeito a continuar orando para ser um "bom" pai, trabalhador e cidadão, protegendo os outros e a si mesmo.

Id: Por outro lado, o id, que busca prazer e alívio das tensões, pode estar cansado dessa rotina de orações e deseja quebrar o padrão repetitivo para buscar novas formas de satisfação ou lidar com os medos.

O esquecimento pode ser um reflexo desse conflito, onde o inconsciente (id) interfere no consciente (superego) para interromper o hábito compulsivo.

4. Ligação com a compulsão à repetição

Se interpretarmos a oração como um ritual que ele sente que precisa repetir para evitar o sofrimento, isso se conecta à compulsão à repetição. Ele pode estar tentando inconscientemente "reparar" ou controlar medos e ansiedades ligados a eventos passados ou temores futuros, sem perceber que a repetição pode estar exacerbando sua angústia em vez de resolvê-la.

Exemplo: Ao sempre pedir proteção contra assaltos, prejuízos ou acidentes, ele pode estar reforçando seus medos em vez de encontrar maneiras mais eficazes de lidar com eles.

Resumo para iniciantes

Sim, o esquecimento pode estar ligado à compulsão à repetição. Ele reza todos os dias pelos mesmos pedidos, o que pode ter se tornado um ritual automático para lidar com o medo e a ansiedade. No entanto, esse padrão repetitivo pode estar esgotando sua energia emocional, e o esquecimento seria uma forma inconsciente de "pausar" o ciclo. A psicanálise ajudaria a compreender os medos e conflitos por trás dessa repetição, permitindo ao sujeito encontrar novas formas de lidar com suas angústias.

 

 

 

 

 

 

 

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