Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do para um excelente tópico. Um indivíduo que
frequenta a academia regularmente, exercitando-se cinco vezes por semana,
sofreu uma lesão nas costas enquanto ajustava o encosto do equipamento para
realizar exercícios no banco flexor. Apesar da dor, ele insistiu em terminar a
sessão, o que o levou a buscar atendimento médico no pronto-socorro para
aliviar o desconforto físico.
Essa
dor nas costas, intensa e limitante, surge como uma consequência inevitável da
exigência que ele impõe a si mesmo, representando um limite que o corpo
manifestou, já que o próprio indivíduo não teve coragem suficiente para
interromper a rotina exaustiva. A dor física, neste caso, parece também assumir
o papel de punição inconsciente, um preço a ser pago por sua falta de
flexibilidade e relutância em reconhecer que seu corpo poderia necessitar de
uma pausa.
Curiosamente,
a lesão aconteceu um dia antes de completar as séries da semana, indicando que
o corpo, através da dor, impôs o descanso que a mente não permitiu. Agora, o
repouso é inevitável para a recuperação, revelando que até mesmo as melhores
intenções e a disciplina podem resultar em consequências adversas se ignorarmos
os sinais de exaustão e não exercermos a autonomia de nos afastarmos, quando
necessário, sem precisar justificar essa decisão para ninguém.
Vamos
olhar para essa situação com a lente da psicanálise, que vê nossos
comportamentos e reações como impulsionados por forças inconscientes. Na
história que você trouxe, podemos explorar diferentes aspectos do ego, do id e
do superego, além dos possíveis mecanismos de defesa.
Primeiro,
imagine que o id é a parte de nós que busca prazer imediato e satisfação,
querendo continuar os exercícios para sentir-se bem fisicamente ou
emocionalmente. O superego, por outro lado, representa a nossa moral e as
regras internas, dizendo o que é certo e errado — é como uma “voz da
consciência” que quer manter o indivíduo seguro e saudável. Entre esses dois,
está o ego, que tenta equilibrar o desejo do id com as normas do superego,
enquanto lida com a realidade externa, que aqui é a dor física e a necessidade
de repouso.
Possível
interpretação
Quando
o indivíduo machucou as costas, seu ego percebeu que continuar os exercícios
poderia piorar a lesão. O id, no entanto, ainda estava motivado para completar
os exercícios, talvez buscando o prazer ou alívio emocional que o exercício
proporciona. Esse desejo do id pode ter feito com que ele ignorasse a dor
inicial, terminando o treino apesar do desconforto.
Por
outro lado, o superego, querendo proteger o corpo, pode ter se manifestado na
decisão de procurar ajuda no hospital — foi uma forma de o ego atender a uma
necessidade física que o id estava ignorando.
Mecanismo
de defesa: negação
Podemos
ver aqui um mecanismo de defesa chamado negação. O indivíduo pode ter
inicialmente negado a dor ou a gravidade da lesão para continuar o treino, como
se dissesse para si mesmo: "Não está tão ruim assim." Essa negação
permite que ele siga com sua rotina de exercícios, evitando a ideia de
"fracasso" ou interrupção que seu id teme.
Repressão
do desejo de parar
Além
disso, quando o ego percebeu que a dor era séria, ele teve que
"reprimir" o desejo de continuar aceitando a realidade de que era
necessário repouso. Esse processo pode ser frustrante, pois o ego precisa
sacrificar o prazer imediato para proteger a saúde.
A
dor e o repouso podem ser vistos como uma mensagem do inconsciente. O corpo
está sinalizando que precisa de cuidado, e o superego reforça essa mensagem.
Assim, o ego deve equilibrar o desejo do id por prazer com as necessidades de
saúde, aprendendo a aceitar as limitações do corpo.
Na
psicanálise, situações como essa mostram como o inconsciente e os desejos
reprimidos influenciam nossas escolhas e nossa relação com o corpo. Esse tipo
de conflito — querer algo, mas saber que não é o melhor no momento — é uma
experiência comum e nos ajuda a entender como funcionam nossas motivações
internas.
Na
psicanálise, a dor física, especialmente em áreas como a coluna, pode
simbolizar tensões e conflitos emocionais que o sujeito talvez não esteja
totalmente consciente. A coluna, como sustentação do corpo, representa também a
estrutura interna de uma pessoa, tanto física quanto emocional. Quando surge
uma dor, ela pode ser vista como uma expressão somática — ou seja, o corpo
manifestando o que a mente não conseguiu processar ou expressar de outra forma.
Possível
simbolismo da dor na coluna
Cargas
e responsabilidades: A coluna pode simbolizar o “peso” que a pessoa carrega,
seja ele literal, como trabalho ou obrigações, ou emocional, como culpas,
responsabilidades e preocupações. Assim, uma dor nas costas poderia sinalizar
que o sujeito está sobrecarregado, carregando um peso excessivo ou se
esforçando além dos seus limites.
Repressão
de desejos ou sentimentos: No caso do sujeito que se exercitava, a dor pode ser
um sinal do inconsciente de que ele está ignorando limites físicos, talvez por
um desejo de desempenho ou perfeição (uma demanda do id) que o faz continuar,
mesmo quando há desconforto.
Conflito
entre ação e descanso: A coluna sustentando o corpo pode representar o apoio
interno para seguir em frente. Quando ela dói, isso pode estar sugerindo uma
necessidade de repouso e autocuidado — como se o corpo estivesse pedindo uma
pausa para processar algo, ou se o ego estivesse tentando comunicar ao id e ao
superego que é hora de atender às próprias necessidades de descanso.
Autopunição
ou culpa inconsciente: Algumas teorias psicanalíticas sugerem que dores físicas
também podem estar relacionadas a uma forma de autopunição. Se a pessoa sente,
por exemplo, que "não deveria parar", o superego pode gerar uma
autocensura intensa, resultando numa tensão física, como se o corpo estivesse
"punindo-se" por desacelerar ou não corresponder às próprias
expectativas.
A
dor física, portanto, pode ser um sinal para o sujeito refletir sobre o que ele
está exigindo de si mesmo, questionando se está carregando responsabilidades
demais, reprimindo desejos, ou ignorando o próprio limite. Na visão
psicanalítica, dar atenção a essa dor poderia ajudar o sujeito a integrar
melhor suas necessidades físicas e emocionais, promovendo um equilíbrio
saudável entre desejo, realidade e cuidado consigo mesmo.
Quais
possíveis desejos o ego pode estar ao acionar mecanismo de defesa repressão,
reprimindo ou somatizando na coluna
Na
psicanálise, o ego usa o mecanismo de defesa da repressão para manter certos
desejos ou conflitos inconscientes fora da consciência, especialmente aqueles
que considera inaceitáveis ou difíceis de lidar. Quando essa repressão é
intensa, o corpo pode somatizar esses desejos ou tensões, como ocorre com a dor
na coluna. Essa dor pode indicar uma tentativa do ego de lidar com desejos
reprimidos sem permitir que eles venham diretamente à tona.
Aqui
estão alguns possíveis desejos ou conflitos que o ego pode estar reprimindo e
somatizando na coluna:
Desejo
de liberdade ou alívio de responsabilidades: A coluna simboliza estrutura e
sustentação, então dores nessa área podem sinalizar que o sujeito está
reprimindo um desejo de se libertar de cargas e responsabilidades. Ele pode
sentir-se “preso” a obrigações que o sobrecarregam, mas não se permite admitir
isso abertamente. O ego, então, usa a repressão para manter o desejo de
descanso fora da consciência, e o corpo manifesta a sobrecarga por meio da dor.
Desejo
de reconhecimento e valorização: Se o sujeito sente que precisa provar seu
valor, especialmente em contextos como o trabalho ou relacionamentos, ele pode
suprimir o desejo de ser reconhecido para evitar parecer “fraco” ou
“dependente”. Esse desejo reprimido de reconhecimento e apreciação pode se
somatizar como tensão na coluna, representando o peso de estar sempre tentando
“ser forte” e atender às expectativas dos outros.
Desejo
de mudança ou de fugir de uma situação desconfortável: A dor na coluna também
pode ser uma expressão de um desejo reprimido de escapar de uma situação
incômoda. Se o sujeito sente que precisa mudar, mas reprime esse desejo (por
medo, insegurança ou censura do superego), o corpo pode reagir, como se a
coluna estivesse tentando “carregar” essa necessidade de fugir ou mudar, mas
sem manifestá-la de forma consciente.
Conflito
entre perfeccionismo e autocuidado: Muitas vezes, o superego impõe um alto
nível de perfeccionismo. O sujeito pode ter o desejo inconsciente de relaxar ou
ser menos exigente consigo, mas reprime esse impulso para continuar cumprindo
padrões rígidos de perfeição. A dor na coluna poderia então refletir a luta
entre a necessidade de autocuidado e a pressão do superego para manter o
desempenho ideal, como se o corpo dissesse: “Você está se sobrecarregando para
atender a expectativas muito altas.”
Desejo
reprimido de autonomia e autoafirmação: A coluna representa também a capacidade
de se manter firme e “se sustentar”. Se o sujeito sente que está suprimindo sua
própria vontade ou se submetendo à vontade de outros para evitar conflitos,
pode haver um desejo inconsciente de expressar sua autonomia e reafirmar seus
próprios limites. A repressão desse desejo pode resultar em tensões na coluna,
como uma forma de resistência inconsciente.
Na
somatização, o corpo expressa aquilo que a mente reprime. A dor na coluna,
nesse caso, pode ser um sinal do inconsciente de que o sujeito está ignorando
certas necessidades internas, seja por medo, culpa, autocobrança ou mesmo a
pressão social e moral do superego. Dar atenção a esses desejos reprimidos e
buscar compreendê-los pode ajudar o ego a encontrar formas mais saudáveis de
lidar com esses conflitos, promovendo tanto alívio emocional quanto físico.
Será
possível que o ego desejasse afastar se das atividades físicas temporariamente
de modo inconsciente e a dor na coluna foi o modo que encontrou para punir se e
afastar se da academia.
Sim,
é possível interpretar dessa forma, especialmente pela ótica da psicanálise,
onde o inconsciente pode expressar desejos e conflitos através do corpo. A dor
na coluna, nesse caso, poderia funcionar como um "mensageiro" do
inconsciente, sinalizando uma necessidade de pausa que o ego não admite
conscientemente.
Explicação
do desejo inconsciente de afastamento
O
ego pode, inconscientemente, desejar afastar-se temporariamente das atividades
físicas por diversos motivos: cansaço, falta de motivação, ou mesmo uma
sobrecarga mental e emocional que exige descanso. No entanto, se o sujeito
sente que "deve" manter o ritmo por questões de disciplina ou por uma
demanda do superego, ele pode acabar ignorando esses sinais de exaustão. Assim,
o inconsciente pode usar a dor física como uma forma de manifestar o desejo de
afastamento de maneira indireta, que o ego poderia aceitar mais facilmente.
Mecanismo
de autopunição
A
dor na coluna, além de permitir o afastamento, pode também servir como uma
forma de autopunição inconsciente. Na psicanálise, a autopunição pode ocorrer
quando o superego censura o ego, fazendo-o sentir que está falhando em atender
a certos padrões (por exemplo, não seguir adiante com os treinos). Nesse caso,
a dor seria uma "penalidade" inconsciente por esse desejo de parar,
como se o ego estivesse dizendo: "Se eu preciso de uma pausa, ela virá com
uma consequência."
Portanto,
sim, a dor na coluna poderia representar tanto o desejo de afastamento quanto
uma punição autoimposta, resultante do conflito entre a necessidade de descanso
e a pressão por desempenho e disciplina. Na psicanálise, isso demonstra como o
corpo pode revelar tensões e desejos inconscientes, ajudando o sujeito a
atender, ainda que de forma indireta, suas necessidades de equilíbrio físico e
emocional.
A
resistência secundária do ego é um conceito psicanalítico que explica como o
ego pode, inconscientemente, bloquear o acesso a certos conteúdos reprimidos
para proteger a mente de dores emocionais intensas. Esse mecanismo pode,
paradoxalmente, fazer com que o corpo se torne um canal para expressar
conflitos reprimidos, como se o ego preferisse um “sofrimento físico” para
evitar lidar com o sofrimento emocional associado a esses conflitos.
Quando
falamos em resistência secundária do ego no adoecimento do corpo, como no caso
da dor na coluna, estamos considerando que o ego cria uma “barreira” para não
confrontar certos desejos, medos, ou conflitos internos. Ao fazer isso, ele
acaba somatizando, ou seja, manifestando esses conflitos através de sintomas
físicos.
Como
a resistência secundária do ego atua na somatização da dor na coluna
Proteção
contra o sofrimento emocional: Se o ego percebe que lidar com certos desejos
reprimidos (como o desejo de afastar-se temporariamente das atividades físicas)
pode trazer sofrimento, culpa ou outros desconfortos emocionais, ele resiste a
enfrentar esses sentimentos diretamente. No entanto, essa resistência cria uma
tensão que o corpo, de forma indireta, absorve e expressa como dor.
Deslocamento
do conflito para o corpo: O ego, ao resistir à conscientização dos conflitos
internos, desloca esse conteúdo reprimido para o corpo. A dor na coluna surge,
então, como um substituto físico para o conflito emocional. Esse deslocamento é
inconsciente, mas eficaz para o ego, pois permite que o conflito exista em um
“nível tolerável”, ou seja, como um desconforto físico, em vez de uma angústia
emocional que poderia ser mais difícil de suportar.
Manutenção
da rotina e evitação da culpa: A dor física imposta pela resistência secundária
permite que o sujeito continue “obedecendo” a expectativas inconscientes do
superego, como a necessidade de manter a disciplina ou a ideia de que não deve
“desistir” dos treinos. A dor na coluna obriga o sujeito a fazer uma pausa, mas
a resistência do ego impede que ele se sinta diretamente responsável ou culpado
por esse afastamento, já que o motivo é uma dor física, e não uma escolha
consciente.
Autopunição
e controle: A resistência secundária do ego também pode incluir uma forma de
autopunição, em que o sujeito inconscientemente aceita a dor como uma forma de
“pagamento” ou “compensação” pelo desejo reprimido de descansar ou de se
afastar das atividades físicas. A dor, então, atua como um substituto de um
possível sentimento de culpa, mantendo o controle sobre o desejo de
afastamento.
A
resistência secundária do ego faz com que o corpo adoeça, apresentando sintomas
físicos como a dor na coluna, que permitem ao sujeito atender a um desejo
reprimido sem confrontar diretamente o conflito emocional. A dor cumpre o papel
de manifestar o conteúdo inconsciente de forma indireta, mantendo o sujeito
protegido do sofrimento emocional, mas, ao mesmo tempo, revelando a tensão
reprimida. É um mecanismo que ilustra como o corpo e a mente podem atuar juntos
para proteger a psique, mesmo que isso resulte em desconforto físico.
É
possível que o ego deseje adoecer psicossomaticamente, de forma inconsciente,
como uma forma de expressar a necessidade de pausa sem confrontar diretamente
esse desejo. Na psicanálise, o adoecimento psicossomático pode ser uma “saída”
inconsciente para que o ego evite tomar decisões ou se impor frente a
expectativas externas e internas que ele acredita que não conseguirá cumprir.
Esse adoecimento pode ser visto como uma forma de o corpo dizer aquilo que a
pessoa não consegue admitir de forma consciente.
Por
que o ego usaria o adoecimento psicossomático para uma pausa?
Medo
de desagradar ou desapontar: O ego pode sentir que admitir a necessidade de uma
pausa sem justificativas pode ser visto pelos outros (ou até por si mesmo) como
um sinal de fraqueza ou falta de comprometimento. Ao adoecer
psicossomaticamente, o sujeito se protege dessa possível desaprovação, já que a
dor física fornece uma “justificativa” objetiva para a pausa, evitando
julgamentos ou explicações.
Evitar
confronto com o próprio superego: O superego, que internaliza normas e
exigências sociais e morais, pode censurar o ego quando ele deseja se afastar
de responsabilidades. Para evitar esse confronto interno, o ego utiliza o
adoecimento físico como uma desculpa, pois assim não precisa justificar ao
superego que está “descumprindo” expectativas — ele adoece, permitindo que a
pausa seja “necessária” e não uma escolha.
Evitar
o peso da culpa ou autocrítica: Quando o ego reprime o desejo de descanso, ele
pode estar tentando evitar a sensação de culpa por “não estar à altura” das
exigências que acredita que precisa cumprir. Ao somatizar essa tensão e
adoecer, o ego diminui a culpa, pois ele se sente “forçado” a parar, o que
torna a pausa mais aceitável.
Adoecer
como uma forma de expressão de limite: A dor ou a doença psicossomática podem
ser uma maneira do ego manifestar um limite que, por outras vias, ele não
consegue impor. Ao adoecer, o corpo sinaliza que chegou ao limite, dispensando
a necessidade de verbalizar ou enfrentar diretamente as demandas externas ou
internas.
Nesse
contexto, o adoecimento psicossomático funciona como um mecanismo de defesa que
permite ao ego manifestar, sem precisar admitir conscientemente, que precisa de
uma pausa e que não deve satisfação a ninguém. A dor física então cumpre o
papel de colocar limites, ao mesmo tempo em que protege o ego da necessidade de
explicar suas escolhas ou de enfrentar conflitos com o superego e as
expectativas dos outros. Essa é uma forma indireta de o ego se preservar, ainda
que seja à custa de um desconforto físico.
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