Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo instiga a atenção do leitor a observar o comportamento da
liderança na organização a qual exerce alguma função. Muito temos ouvido falar
sobre a quiet quitting, ou demissão silenciosa, uma iniciativa praticada pelo
colaborador. Mas você já ouviu falar da quiet firing, caracterizada pela
atitude do gestor de desistir do funcionário, isolando a pessoa pouco a pouco,
gradativamente?
Há
quem esteja avaliando a quiet firing como uma resposta à quiet quitting. Mas o
que tenho visto é que nem sempre essa correlação existe. Até mesmo porque as
duas posturas sempre existiram. O que acontece é que, hoje, elas estão
identificadas de maneira formal e bastante propagadas.
Na
prática, a quiet firing consiste na iniciativa do líder de, aos poucos, retirar
o colaborador de projetos importantes, da lista de escala, das atribuições que
motivam o funcionário e reduzir a comunicação com ele no dia a dia, agrado ou,
até mesmo, diminuir a carga horária do profissional com redução de salário. O
objetivo dessa postura é fazer com que a pessoa se sinta mal e acabe pedindo
demissão.
Um
dia desses, na conversa com um profissional, ele relatou estar passando por
essa situação. Ele comentou que, inclusive, chegou a procurar um advogado
trabalhista para verificar se era possível fazer algo contra a empresa com
relação a essa postura do gestor. Pelo que eu obtive de informação, esse tipo
de postura do empregador nem sempre se enquadra no tradicional dano moral,
principalmente quando não há uma humilhação pública do colaborador. Mas, é
preciso considerar que o dano psicológico costuma ser bastante forte. [...]
Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a
compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Esse
profissional que veio conversar comigo estava, de fato, decidido a processar a
empresa por danos psicológicos. É fato, porém, que ainda não temos uma
jurisprudência muito ampla nesse sentido. Quero dizer com isso que, quando o
tema é o gestor tratar a pessoa com indiferença, fica difícil conseguir
comprovar algo judicialmente. Mas não é por isso que as organizações devem
negligenciar o assunto, pois o risco de ganho de causa para o colaborador
sempre existe.
Eu,
trabalhando no campo em trabalhos inferiores noto o comportamento das pessoas
diariamente e com frequência ouço colaboradores mencionando mal a respeito da
atitude da liderança. Em casos como esses, os colaboradores costumam relatar
que, com relação aos membros do time, se sentem menos prestigiados, com menos
oportunidades e maltratados. No fim, o objetivo de estimular o profissional a
pedir demissão é alcançado, mas essa estratégia, no meu entender, não é a
melhor solução.
Vale
destacar, porém, que nem sempre o gestor pratica a quiet firing de maneira
consciente. É comum que o líder, após uma análise que pode ser fácil ou
difícil, decida que precisa demitir um profissional para substituí-lo ou
descontinuar a existência de uma posição. Então, por não saber lidar bem com o
desafio de ter uma conversa sincera com o colaborador, simplesmente passa a
evitar esse profissional, a assumir internamente que não pode ou não precisa
mais contar com ele.
Exemplo,
verídico de um profissional que trabalhou em certa multinacional, onde havia
conflitos com os supervisores, por falta de habilidades que chamamos de
competências socioemocionais que este profissional não tinha na época. Era um
excelente técnico, pois conhecia a fábrica inteira no trato a equipamentos e a
liderança o requisitava sempre, chegando até orientar funcionários na resolução
de problemas mecânicos através do telefone de sua residência. Este profissional
tinha uma reputação na organização.
Porém,
suas habilidades socioemocionais não eram aprimoradas, muito menos da liderança
e com isto gerava-se sérios conflitos internos no ambiente organizacional. Até
que foi transferido para um setor, onde permaneceu ali até que restabelecesse o
setor no quesito manutenção das maquinas. A partir do momento que levantou o setor,
a liderança o colocou de lado, passando a não requisitar mais seus serviços.
Então
surgiu o boato que estaria voltando para o setor antigo, onde tinha conflitos
com a liderança que o deixou de canto até que houve desmotivação extrínseca e
intrínseca no profissional, e depois de um tempo foi demitido.
Outro
exemplo, acontece na rede de supermercados, onde o colaborador não consta na
lista de operadores de caixa, sinaliza que o encarregado ou líder inconsciente
não deseja ter esse profissional no quadro da sua equipe e por meio do ato
falho se esquece de colocar o nome do colaborador na lista.
O
mesmo se dá diante de fiscais de caixa que orientam os colaboradores a cobrirem
outros caixas. Este ato reproduzido de assumir a responsabilidade por outro
colaborador induz o colaborador a cometer falhas na operação do outro causando
prejuízos para o outro e o ônus da responsabilidade lhe é retirada e é jogada
nas costas do operador responsável, gerando desmotivação.
Ou
a ficar parado esquecido na frente de algum caixa até ser liberado para assumir
o posto. Onde a fiscal passa olha para o colaborador, evita falar com o
colaborador, mas o deixa ali plantado como se fosse um vaso e não lhe orienta para
outro caixa vazio. Também é capaz de posicionar o colaborar em atribuições que
não lhe pertence a fim de causar desconforto.
Neste
exemplo, em se tratando do setor de telecomunicação a gestão força o
funcionário a demissão ao praticar atos de cobranças em relação a metas, são
gestores que praticam o autoritarismo e o feedback dado ao operador de
telemarketing é que o mesmo não cumpre as metas por não estar conseguindo reter
o cliente na linha o tempo suficiente para executar uma venda de telefonia. Culpabilizam
e responsabilizam apenas o operador pela não retenção do cliente e por levar a
equipe a não cumprir com as metas exigidas e com isto o gestor não é
gratificado monetariamente. Para este operador, só resta o pedido de demissão.
Certo
psicólogo foi trabalhar numa instituição de jovens infratores na função de
educador social, porém almejava um cargo na instituição de psicólogo. Em dada
reunião com a liderança da equipe, ouve a seguinte frase, ninguém terá
oportunidade de alcançar um cargo aqui dentro da instituição. Neste exato
momento se deu conta, que o líder consciente desejava que o psicólogo oculto na
função de educar social, demitisse-se do cargo.
No
exemplo a seguir a realidade deste profissional formado em técnico em mecânica trabalhando
em ocupação inferior como operador de retifica plano, ouviu do próprio
empregador, aqui você não terá oportunidade para evoluir, seu serviço será
sempre este. O ser humano compreendeu que o empregador estava sendo sincero com
ele e não o desejava mais na função ao qual estava exercendo, redirecionando-o
a pedir demissão do cargo. Os exemplos citados são casos reais de experiência
vivenciada pelo próprio autor do texto.
Para
este profissional que trilhou por esse caminho de descontinuar a carreira de um
lado foi bom, porque trouxe saber para escrever um artigo com propriedade com a
finalidade de buscar novas perspectivas para evoluir, pois os ambientes que
estava sinalizava por meio da liderança que não iria desenvolver-se nas
habilidades técnicas por que já havia alcançado determinado saber técnico de
evolução dentro de uma multinacional, mas houve desenvolvimentos nas
habilidades de aprendizado informações e analise de comportamentos das pessoas
dentro de uma equipe e como o ser humano é afetado pelas atitudes da liderança
seja autoritária, democrática, autocrática, liberal, situacional.
Este
profissional motivou-se extrinsecamente a permanecer buscando meios de evoluir
em saber em outros ambientes em cargos inferiores. O caminho para quem olha de
fora, enxerga como um profissional fracassado que não permaneceu muito tempo
numa organização pleiteando a aposentadoria. Contudo que profissional
fracassado tem competência para escrever um artigo. Este caminho pode não ter
sido o mais assertivo, entretanto foi o que possibilitou o profissional a expor
seu saber para que você leitor esteja lendo agora.
Na
Bíblia existe um Provérbios 14:23 - Em todo trabalho há proveito, mas ficar só
em palavras leva à pobreza. Observe que este profissional não permaneceu sem
ação, mas buscou saber, conhecimento, ajustar comportamentos para exercer
funções inferiores e isto lhe trouxe destreza e saber para escrever. Este
profissional não um ser humano pobre em conhecimento, mas rico em saber diante
de muitas pessoas que o observa como fracassado financeiramente.
Minha
recomendação, então, é que os gestores/supervisores/ encarregados ou fiscal
mantenham o autoconhecimento em dia para identificar possíveis falhas no
relacionamento e na comunicação com os membros do time que precisem de ajuste.
No
caso dos líderes que praticam a quiet firing de maneira consciente e
proposital, a causa está mais relacionada à imaturidade para lidar com
problemas e situações difíceis. Em geral, são líderes que não praticam o
feedback ou quando o fazem não têm habilidade para serem claros e objetivos o
suficiente.
São
supervisores/ e ou gestores que não desejam serem malvistos pela equipe e, por
isso, em vez de se munir de bons argumentos para demitir optam por forçar o profissional
a pedir demissão ou provocar a desmotivação para terem argumento para
culpabilizar o profissional e classifica-lo como alguém improdutivo. S
São
líderes que expressam medo, insegurança e por meio do mecanismo defesa
deslocamento, deslocam a raiva que sentem do membro da equipe no comportamento
esquivando-se de dialogar. [...] Esse medo marcará nossa memória, de
forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação
de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162).
Recomendações
aos gestores, caso você seja gestor, chefe, supervisor sugiro se fazer os
seguintes questionamentos. Estou abandonando alguém da equipe de maneira
proposital ou inconsciente? Quais são os motivos para essa minha postura? Se
esse afastamento é real, a situação deve ser resolvida com uma reaproximação,
um realinhamento de ideias e expectativas ou o desligamento do profissional?
Ao
meu ver, um dos compromissos do bom líder deve ser não fugir da responsabilidade
de desenvolver as pessoas que estão sob o seu comando, dando periódicos
retornos positivos ou negativos para que a equipe possa crescer.
Excluir
ou isolar um profissional está longe de fazer parte da liderança humanizada,
tão desejada pelos profissionais e tão demandada pelas organizações. Sem contar
que, assim como um profissional satisfeito se torna um embaixador natural e
voluntário da empresa e da liderança, aquele que se sente negligenciado tende a
se tornar um detrator de todo aquele cenário corporativo. Já muitos altos
executivos perderem importantes oportunidades de trabalho porque, na tomada de
referências, foram descritos como líderes difíceis. Isso sem contar no risco
para a própria empresa de ter de arcar com um processo trabalhista no futuro.
Esses
líderes repetem o comportamento em todas as empresas por onde exercem o cargo e
não se dão conta que atuam inconsciente na compulsão a repetição da exclusão. O
mais interessante é que reproduzem o mesmo comportamento na família, perante o
filho, a esposa, a sogra e outros familiares, forçando membros familiares a se
demitir do convívio familiar, da reunião de domingo, na confraternização de
natal e por aí vai.. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e
elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à
repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro
de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior
for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que
esse passado recalcado desperta em nós.
Orientações
aos liderados, se você, como membro de uma equipe, tem se sentido abandonado no
local de trabalho, não fique parado. Se possível, comece agendando uma conversa
com o membro da equipe. Caso essa conversa não seja possível, um caminho é
buscar apoio e aconselhamento de algum profissional do departamento de Recursos
Humanos. Isto quando existir um profissional da psicologia no ambiente
organizacional.
É
muito provável que esse profissional possa te dar uma pista sobre o que está
acontecendo ou sugerir alternativas para o seu caso, como mudar de área ou
melhorar a própria performance, entre outras alternativas para reverter ou
melhorar o quadro.
Não
desistam uns dos outros de maneira precoce. Muitas vezes, as empresas iniciam
processos seletivos para desligar um colaborador e, diante de sinais de
evolução do profissional a ser demitido, a organização desisti do desligamento.
Ou seja, se você ainda não demitiu o profissional ou não foi demitido, sempre
há tempo para ressignificar a situação! Noto que a liderança está as vezes
cativa na heurística afetiva negativa.
Uma
heurística é um atalho mental. É uma estratégia que utilizamos para resolver um
problema pontual de maneira rápida e mais simples possível. Desse modo,
entendemos que as heurísticas afetivas são respostas e escolhas que fazemos de
forma inconsciente, baseando-nos em como nos sentimos no momento. Essas
avaliações baseadas apenas no afeto [não na reflexão] são rápidas e
automáticas.
Mas,
isso significa que qualquer decisão que tomamos com essas heurísticas está
errada? A resposta é não, porém, pode estar errada. Quando tenho um dia ruim no
trabalho, saio para fazer compras. Ajo dessa forma porque sei que em outras
ocasiões isso fez com que eu me sentisse bem, e essa sensação é agradável.
No
entanto, há um risco envolvido. Vou acabar comprando coisas de que não
necessito. Ouço, isto dos clientes no momento de pagar os itens comprados no
supermercado que vieram apenas para comprar um pão e compram outros itens que
não eram necessários no momento.
Quando
um recrutador em uma empresa. Tem que escolher um candidato entre todos que
entrevista no mesmo dia. É provável que vá colher aquele que lhe transmitir
mais confiança, independentemente da sua formação ou experiência, porque em
outras ocasiões isso lhe trouxe bons resultados. Um gestor pode ter o
comportamento ou heurística afetiva negativa, no momento de demitir um
colaborador, apenas pelo fato de não ter identificação com ele, e não levar em
consideração o profissionalismo do ser humano naquele local.
Em
processos seletivos, já pude presenciar que o recrutador elegeu um candidato
mais novo com menor saber e me desclassificou por motivo da meia-idade.
Referência
Bibliográfica
BÍBLIA,
A. T. Provérbios. In BÍBLIA. Português. Bíblia Evangélica: Antigo e Novo
Testamentos. Tradução Versão de João Ferreira de Almeida Corrigida 1948 (JFAC).
São Paulo.
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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