Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo instiga a atenção do leitor a fazer a própria observação, se não
está a atuar nos ambientes inseridos diante de certas situações, por meio de
alguns procedimentos e condutas inadequadas. Qual é a utilidade do mecanismo
atuação? Como o fazemos? O que o estimula? Neste artigo lhe conto! Embora
gostemos de pensar que somos seres totalmente racionais e conscientes, que
quando agimos o fazemos por verdadeira vontade, a verdade é que não é assim.
Muitas
vezes nossas ações expressam os conteúdos mentais que não podemos ou não
queremos ver e controlar. E, embora isso possa ser natural, é interessante
conhecer esse mecanismo de defesa para esclarecer o que nos acontece. Hoje menciono
o mecanismo defesa atuação.
Em
primeiro lugar, vamos entender que um mecanismo de defesa é uma estratégia
psicológica inconsciente que é acionada para proteger ou defender o ego. Ou melhor
dizendo, governar um conflito interno que está promovendo angústia e diante do
qual se opta por negar ou encobrir/ fugindo a realidade. Embora possam ser
eficazes a curto prazo [no sentido de reduzir essa ansiedade], são formas
erradas de resolver conflitos e podem causar problemas.
O
papel dos mecanismos de defesa, segundo a teoria psicanalítica freudiana, o ego
teria que fazer a mediação entre os impulsos do [supereu] e as demandas do
superego. Para isso, utiliza certos procedimentos para manter o equilíbrio
psicológico; mecanismos de defesa.
Estes
surgem porque existem certos conteúdos inconscientes [pensamentos, memórias,
desejos, impulsos…] que simplesmente não podemos tornar conscientes porque são
perturbadores, embaraçosos ou intoleráveis. Assim, os expressamos de forma
atenuada ou distorcida, para que não nos afetem demais.
Desta
forma, encontramos uma saída que nos permite proteger nossa autoestima e nossa
estabilidade mental. Mas, essa no fundo, não é a solução mais adequada ou
correta.
O
que é atuação? No caso que nos interessa, o movimento de agir também surge
diante de um desejo, impulso ou necessidade que se considera proibido ou
ameaçador. Isso gera uma ansiedade da qual queremos nos livrar, que só conseguiríamos
fazendo esse desejo. Porém, como isso não é possível [devido ao seu caráter
intolerável], optamos por fazê-lo em outro contexto/ e ou ambiente.
Não
podemos trazer essa emoção ou necessidade à consciência, não podemos reconhecer
o aspecto real desse desejo. Por isso, optamos por expressá-lo de forma
simbólica e distorcida. Algo que certamente nos permite reduzir aquela tensão
interna incômoda e nos permite sentir aliviados, pelo menos por um momento.
Como
se manifesta a atuação? Por se tratar de um conceito um tanto ambíguo, vamos
dar alguns exemplos que ilustram a expressão desse passo para agir em situações
cotidianas. Uma pessoa tem muitos problemas em seu relacionamento, sente-se
prejudicada e insatisfeita. Inconscientemente, ela deseja terminar o relacionamento,
mas suas crenças [ideais religiosos, um forte senso de lealdade ou moralidade]
a impedem de fazê-lo. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma
desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de
perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162).
Exemplo,
verídico, o sujeito estava namorando uma mulher que havia terminado a algum
tempo com certo homem, porém eram parceiros de trabalho e Stalking no Facebook.
E o namorado atual descobriu e tiveram conflitos no relacionamento e para não
terminar a relação de amizade com o parceiro de trabalho a mulher decidiu-se
por terminar a relação como o namorado.
Por
achar inaceitável seu verdadeiro desejo ou mesmo considerá-lo conscientemente],
ela escolhe terminar outro relacionamento menos significativo. Por exemplo,
para de ir às sessões de terapia, termina uma amizade de longa data ou deixa o
emprego, terminar com o namorado atual. De acordo com este exemplo, verídico a
cliente chegou ao ponto junto com o terapeuta que deveria tomar uma atitude em
relação ao matrimonio, pois já havia expulsado o marido de casa, mas voltou a
traz na decisão e os mesmos comportamento se repetiram.
Contudo
a cliente verbalizou que iria esperar a mudança de comportamento do marido. E
para não expulsar o marido de casa novamente e de sua vida, e não se defrontar
com as consequências dolorosas e angustiante de um divórcio tomou a decisão de
expulsar o psicanalista rompendo com a aliança terapêutica, fugindo por entre o
mecanismo de defesa fuga da realidade, por que julgou a relação como sendo
insignificante.
Outra
situação pode ser aquela em que alguém insulta seu parceiro ou o repreende por
sua atitude egoísta quando, na verdade, gostaria de fazer tais acusações à mãe.
Novamente, já que essa ideia pode parecer insuportável para ela, expresse esse
impulso em um contexto diferente e mais tolerável para ela.
Ou,
por exemplo, quando reagimos exageradamente a um evento relativamente sem
importância, mas na realidade estamos expressando um sentimento relacionado a
outra situação. Digamos que nos sentimos extremamente irritados e furiosos por
termos perdido nossos óculos, mas na realidade essas emoções correspondem à
insatisfação que sentimos porque alguém não nos deu o nosso lugar.
Em
alguns casos, a atuação surge não porque a ideia de desejo real seja uma
transgressão moral, mas porque constitui um risco real. Imagine um adolescente
morando em uma casa com um pai abusivo. Na verdade, seu impulso ou sua necessidade
pode ser atacar esse pai; mas, como isso constitui um alto risco externo, ele
transfere a expressão desse impulso para atacar seus colegas de escola. [...]
Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a
compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Tornar
o inconsciente consciente, como você pode ver nos exemplos anteriores, a
atuação alcança uma redução momentânea da tensão interna, mas não constitui uma
solução útil enquanto o desejo real ainda estiver. Por isso, o caminho passa
pela tomada de consciência desses impulsos, emoções ou necessidades. No
entanto, isso não é fácil.
Outro
exemplo clássico é de profissionais que se formam na universidade e por não
lograrem emprego na carreira de formação encaminham-se para empregos inferiores
e vão atuar em outros cargos se sentindo insatisfeitos. Por causa da raiva
acionam o mecanismo defesa deslocamento e redirecionam a raiva para o emprego
inferior, julgando a carreira através da heurística afetiva negativa como
insignificante.
Um
ser humano é capaz de desistir da sua carreira que lhe trouxe desgosto até o
momento por não conseguir encarar os aspectos frustrantes e romper com a
carreira a qual se preparou para exercer e decidir-se atuar ocultamente numa
carreira de menor prestígio por ser mais fácil de empregar-se no mercado de
trabalho. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914),
texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do
repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que
não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Através
da heurística da representatividade é o nome dado a um fenômeno mental no qual,
diante da necessidade de tomar uma decisão de relativa complexidade, o ser
humano se apoia em seu repertório pessoal para julgar uma coisa, pessoa ou
situação. A heurística da perda, onde as pessoas de um modo geral não conseguem
assimilar o fato de que são falíveis; isto é, que pode falhar, que podem conter
erros, que podem se enganar.
Por
achar inaceitável seu verdadeiro desejo ou mesmo considerá-lo conscientemente],
ela escolhe rescindir o relacionamento que ela tem com a carreira profissional atual
que lhe trouxe desgosto e que torna menos significativo devido a angustia e
elege um trabalho inferior.
Os
mecanismos de defesa existem por uma razão, que é para encobrir aquelas emoções
e desejos embaraçosos e insuportáveis para nós. Portanto, não será fácil para
nós identificar essas estratégias sozinhos. Ter a ajuda de um terapeuta facilita
muito esse processo, porém podemos nos acostumar a nos questionar se o motivo
de nossas ações ou decisões é realmente o que pensamos ou se pode ser outra
coisa.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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