Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Isaías 43:
2. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não
te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá
em ti. 18. Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas.
19. Eis que faço uma coisa nova; agora está saindo à luz; porventura não a
percebeis? eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo.
Na
abordagem da psicanálise, podemos interpretar esse texto bíblico como uma
mensagem simbólica de esperança, transformação e superação dos conflitos
internos. Isaías transmite ao povo de Israel palavras que ajudam a trabalhar o
inconsciente coletivo, cheio de dores e traumas devido ao cativeiro na
Babilônia. Vamos analisar os versículos:
Versículo
2: Superação dos desafios
"Quando
passares pelas águas, eu serei contigo..."
As
“águas” podem simbolizar emoções profundas e inconscientes, como medos,
inseguranças e traumas. Deus está afirmando que, mesmo enfrentando esses
conflitos, Ele estará ao lado de Israel, garantindo que não serão submersos por
essas emoções.
Na
psicanálise, isso pode ser visto como um ego fortalecido pelo apoio de uma
figura protetora (no caso, Deus), que ajuda a lidar com os conteúdos do id
(emoções descontroladas) sem serem consumidos por eles.
"Quando
pelo fogo, não te queimarás..."
O
"fogo" representa momentos de intensa transformação, como conflitos
internos, sofrimento ou situações de grande pressão. Deus promete que, apesar
das dificuldades, o povo não será destruído.
Aqui,
o fogo pode ser associado ao processo de catarse, em que emoções reprimidas são
liberadas, mas de maneira segura, sob a "proteção" divina.
Versículos
18-19: Renovação e futuro
"Não
vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas."
Esse
trecho sugere a necessidade de abandonar traumas e lembranças dolorosas. No
contexto psicanalítico, pode-se entender como um convite para que o
inconsciente libere repressões e recalques ligados ao passado, permitindo que o
ego se reorganize.
Esquecer
"as coisas passadas" não significa negar o passado, mas transformar a
relação com ele, permitindo crescimento e renovação.
"Eis
que faço uma coisa nova; agora está saindo à luz; porventura não a
percebeis?"
Deus
está desvelando uma nova realidade. A "luz" simboliza a
conscientização, um processo psicanalítico em que conteúdos inconscientes
emergem à consciência, trazendo insights e cura.
No
caso de Israel, Deus está mostrando que, apesar do sofrimento, uma nova fase de
liberdade e proteção está prestes a acontecer.
"Eis
que porei um caminho no deserto, e rios no ermo."
O
"deserto" representa um estado de aridez emocional e espiritual. Deus
promete criar "caminhos" e "rios", que simbolizem
orientação, vitalidade e renovação.
Psicanaliticamente,
é como Deus dizendo que ajudará o ego a encontrar soluções mesmo nas situações
mais difíceis, nutrindo-o com energia e esperança para enfrentar os desafios.
Síntese
Psicanalítica
Deus,
na mensagem de Isaías, é como uma figura que fortalece o ego do povo de Israel,
ajudando-o a lidar com os traumas do cativeiro (conteúdos reprimidos ou
recalques) e a superar a compulsão à reprodução (ficar preso ao sofrimento do
passado) . Ele encorajou o povo a abandonar os mecanismos de defesa que os
prendem ao passado e a confiar em um processo de cura e renovação, simbolizado
pelo “novo” que Ele está trazendo. Essa transformação é um convite ao
crescimento psíquico e espiritual, com a garantia de que não será sozinho nesse
caminho.
O
mecanismo de defesa que o povo de Israel está usando de modo inconsciente que
não permite enxergar nem compreender que existe uma saída uma libertação e
precisa que Deus diga ao povo para acreditar na palavra da profecia mencionada
por Isaías
Os
mecanismos de defesa são estratégias inconscientes que o ego usa para lidar com
conflitos internos e externos, protegendo-se de emoções dolorosas. No caso do
povo de Israel, que esteve cativo na Babilônia há 70 anos, esses mecanismos
podem estar impedindo que eles percebam e compreendam a promessa de libertação
revelada por Deus por meio de Isaías. Aqui estão os principais mecanismos de
defesa que podem estar ativos:
1.
Repressão
O
que é: O ego reprime lembranças dolorosas do passado, como os traumas do
exílio, para evitar sofrimento.
Como
afeta Israel: O povo pode estar evitando pensar na liberdade porque relembrar a
destruição de Jerusalém e o exílio seria muito doloroso. Isso os impede de
acreditar que a liberação é possível, pois estão presos a um passado reprimido.
2.
Negação
O
que é: Recusa em aceitar a realidade atual ou a possibilidade de mudança.
Como
afeta Israel: Muitos podem estar negando a possibilidade de liberação, pois
acreditamos que a situação é permanente e que Deus os abandonou. Essa negação
cria resistência em acreditar na mensagem de Isaías.
3.
Identificação com o agressor
O
que é: Adotar características do opressor como forma de lidar com a opressão.
Como
afeta Israel: Alguns podem ter se adaptado tanto à cultura babilônica que já
não enxergam a necessidade de liberação. Conscientemente, assimilamos a
identidade do opressor, o que os impede de desejar ou acreditar em um retorno à
liberdade.
4.
Renúncia (ou submissão)
O
que é: Aceitação passiva de uma situação difícil sem tentar mudá-la.
Como
afeta Israel: O povo pode ter se resignado ao cativeiro, acreditando que não há
saída e que qualquer esperança é inútil. Essa submissão bloqueia a capacidade
de visualizar a promessa de Deus como real.
5.
Projeção
O
que é: Atribuir a outras pessoas ou forças os próprios medos e fracassos.
Como
afeta Israel: Eles podem projetar em Deus a culpa pela situação, acreditando
que Ele os abandonou ou que não é mais fiel às Suas promessas. Essa visão
impede que vejamos Deus como fonte de libertação.
6.
Racionalização
O
que é: Justificar uma situação para torná-la mais aceitável, mesmo que isso
impeça a mudança.
Como
afeta Israel: Alguns podem estar racionalizando o exílio como algo merecido
devido aos pecados passados, acreditando que não são dignos de liberação. Essa
mente os impede de aceitar a profecia de Isaías.
7.
Culpa (introjeção)
O
que é: Internalizar culpa e se punir por erros passados.
Como
afeta Israel: Eles podem estar carregando um sentimento profundo de culpa pelos
pecados que levaram ao exílio. Essa culpa os mantém presos à ideia de que não
merecem a libertação.
Por
que Deus precisa intervir?
Esses
mecanismos de defesa inconscientes bloqueiam o povo de Israel de acreditar e
visualizar a promessa de Deus. Deus, por meio de Isaías, é como um terapeuta
psicanalítico que prepara Isaias e o povo de Israel para enfrentar os
mecanismos de defesa para trazer à consciência a esperança e a possibilidade de
transformação. Ele afirma:
“Não
vos lembreis das coisas passadas” – para combater a repressão e a culpa.
“Eis
que faço uma coisa nova” – para superar a negação e a resignação.
“Eu
serei contigo” – para neutralizar a projeção e restaurar a confiança no cuidado
divino. Ao trazer à luz uma visão de renovação, Deus ajuda o povo a enfrentar
seus medos e bloqueios inconscientes, abrindo caminho para a libertação
espiritual e emocional.
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