Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo aponta para o leitor compreender que a política nada mais é do
que um exercício do poder, da autoridade e autoritarismo, melhor dizendo, uma
competição entre candidatos em busca de seus interesses próprios e dominar
subjugar a população no geral. A massa é extraordinariamente influenciável e
crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela.
Pensa
em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em
estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida
por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e
muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a
extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza
indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.
Quem
quiser influir sobre ela não necessita medir logicamente os argumentos; deve
pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. Como a
massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da
sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade.
Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade,
que para ela é uma espécie de fraqueza. O que exige de seus heróis é fortaleza,
até mesmo violência.
Quer
ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores elegidos no governo para
depois reclamar de seus atos infratores para com a população sinalizando
arrependimento remorso por ter elegido tal candidato. No fundo, inteiramente
conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e
ilimitada reverência pela tradição. As massas pensam em personagens e de forma
muito simplória, sem averiguar as informações, sem consultar as fontes mais
confiáveis dentre outros.
Tenho
a impressão de que as pessoas especializadas em fake news estudaram o
comportamento humano profundamente, porque elas fazem com que as massas fiquem
ensandecidas com suas informações falaciosas. Infelizmente, foi isso o que
vimos por todos os lados durante a campanha política de 2022.
Quero
deixar claro que esse artigo é mais psicológico, não vou me ater na questão
política até porque sei que pela data na qual estou publicando, todos já sabem
muito bem em quem votaram na eleição de 2022 e quem foi o candidato ganhador.
Freud destaca diversos pontos, como a intolerância, na qual as massas vão sempre
para os extremos, ou é uma coisa ou é outra, nunca existe o caminho assertivo.
Só isso já explica boa parte do nosso sofrimento, porque Buda já falou há 2600
que o caminho da cessação do sofrimento se dá pelo famoso caminho óctuplo, que
em resumo é o caminho do meio.
Nossa
sociedade capitalista composta pela geração Y e Z está sofrendo, está adoecida
porque insiste em continuar indo para os extremos. Outro ponto interessante é o
final da citação, na qual ele diz que a massa precisa de um líder autoritário. Fica
a dica de que autoridade é absolutamente diferente de autoritarismo. A palavra
autoridade, isto é, pessoa de grande competência num assunto.
E
autoritarismo, é atitude autoritária ou despótica, desrespeito ou desprezo
pelas vontades ou opiniões dos outros, onde é exercido um tipo de regime
político em que o poder é aplicado sem limitações por uma pequena elite no
governo ou presidência que impõe sua autoridade desconsiderando direitos e
liberdades individuais.
Quem
verdadeiramente tem autoridade ajuda o outro a si tornar autor da sua própria
vida, sem precisar se escorar em ninguém, sem precisar ser dependente de
ninguém. Já o autoritarismo é ditar
regras que ou são obedecidas ou se não forem, os que desobedecerem serão
punidos de alguma forma. A sociedade brasileira parece que tem um fascínio pelo
autoritarismo, pela corrupção, por elite com comportamentos infratores.
Na
nossa bandeira está escrito [Ordem e Progresso]. Estamos exatamente seguindo o
caminho oposto, [Desordem e Retrocesso]. Ordem e progresso se dão nos países
onde as desigualdades sociais são minimizadas, os países de 1º mundo. Desordem
e retrocesso se dão nos países onde reina as desigualdades, que são os de 3º
mundo. Você sabe bem que o Brasil está mergulhado há anos numa crise, e o poder
de compra do nosso povo caiu absurdamente.
Os
índices de pobreza são assustadores e de desemprego mais ainda. Estávamos
superando muita coisa, o Brasil já chegou a ser a 6ª economia do mundo. Hoje,
porém, tenho pouca esperança de que ele volte a esse patamar. A competição pela
presidência leva os candidatos a se atacarem porque querem se tornar senhores das
pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens. A desconfiança impele à
violência para defendê-los, e a glória, que gera a violência por ninharias,
como um sorriso, uma diferença de opinião e outros.
Essa
vontade e disposição que o candidato tem sempre a guerrear expressa uma forma
de lidar com seus conflitos. Desse modo, há que se considerar a respeito dessa
tendência e as consequências disso no mundo hoje, um mundo capitalista, onde os
excessos consumistas não permitem fazer cessar o mal-estar do sujeito e o levam
a desaparecer e fazer viger a imagem. [...] Freud no seu texto “Recordar
repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da
compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado
esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto
mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou
o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Freud
(1930[1929]/1980) situa o tema da agressividade na civilização e o desenvolve
em “O mal-estar” tomando a agressividade como algo inerente ao homem, sendo a
inclinação para a agressão, além de um fator que causa perturbações no
relacionamento entre os homens e forçar a um grande dispêndio de energia, não é
fácil a eles abandonarem a satisfação dessa inclinação.
[…]
os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo,
podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos
dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade.
[…] Em circunstâncias que lhe são favoráveis, quando as forças mentais
contrárias que normalmente a inibem se encontram fora de ação, ela também se
manifesta espontaneamente e revela o homem como uma besta selvagem, a quem a
consideração com a sua própria espécie é algo estranho. (1930[1929]/1980, p.
133).
Tem-se
observado nos dias de hoje, com incomum frequência, que no vaivém das massas,
milhares de pessoas que se aglomeram em manifestações nas ruas de várias
cidades do Brasil, clamando pela defesa da democracia e apontando distorções em
diferentes áreas do comando do país, apresentam-se, muitas vezes, com ânimos inflamados,
o que tem levado a excessos, a agressões físicas, à troca de insultos em larga
escala constatados e registrados em vídeos, fotografias e por aí vai.
Não
existem conversações entre as partes que se opõem, o diálogo está ausente. As
massas gritam palavras de ordem [Fora Lula, Fora Bolsonaro, Somos Lula ou Somos
Bolsonaro e outros], o que não quer dizer que não se encontrem com a fala deprimida,
como é próprio do capitalismo.
O
sujeito torna-se assim, um autômato, em outras palavras, assim, ele se situa na
massa, exemplo, como um autômato alienado a seguir o fluir desta mesma massa.
Isso devido um sentimento de poder que o sujeito adquire e que lhe permite
ceder aos instintos. A condição de anonimato é outra questão, presente nessa
massa, que faz desaparecer o sentimento de responsabilidade que retém os
indivíduos (FREUD, 2011). Desse modo, os novos comportamentos diferentes dos
praticados de forma isolada, se configuram como manifestações dos desejos
inconscientes.
Em
outras palavras, nas manifestações esse sujeito pode tudo, até gritar,
esbravejar, xingar, agredir o candidato que não quer que seja eleito para
governar o país, por meio de linguagem carregada de emoções de raiva, pois,
diante de algumas pessoas ou lugares específicos suas atitudes seriam
reprovadas, censuradas e consideradas disfuncionais inadequadas.
Nessa
perspectiva, o indivíduo pode, quando em massa, liberar os impulsos reprimidos
contidos no Id, diminuindo os valores e regras morais contidos no Superego, já
que em massa se têm o sentimento de proteção e irresponsabilidade social sem
censura, na busca pelo prazer e total desconhecimento da realidade. A massa é,
portanto, impulsiva, guiada quase que exclusivamente pelo inconsciente. Vale
destacar que existe uma condição básica para que uma massa seja formada.
Trata-se
do interesse em comum que faz com que indivíduos heterogêneos se juntem,
engajando-se em causas comuns e encarnando, com isso, um comportamento que não
assumiriam em contextos individuais (MACDOUGALL apud FREUD, 2011). O consumismo
e sua influência no fenômeno de massa. Pode-se dizer que em qualquer época da
história da humanidade, todos os membros da sociedade consumiram e ainda
consomem.
Segundo
Bauman (1999), o consumo enquanto uma necessidade é antiga, além de ser
característica e uma ocupação dos seres humanos enquanto indivíduos. O consumo
muitas vezes não é percebido, por ser rotineiro e prosaico, e pode ser feito
tanto nas atividades do dia-a-dia, quanto em datas festivas, mas na maioria das
vezes é feito sem muito planejamento antecipado, nem reconsiderações (BAUMAN,
2008).
Hoje,
no estágio pós-moderno, o que motiva os indivíduos é o ato do consumo em si e
do prazer imediato, seja o consumo de informações midiáticas, consumo de fake
News, consumo de alimentos dentre outros. O consumo traz o simbolismo de fazer
desaparecer pelo uso ou pelo gasto em dinheiro e também no sentido de fazer esquecer
ao consumir uma informação negativa sobre um candidato, exemplo, Lula cometeu o
ato de roubar, foi preso e solto.
E
ainda assim, se candidatou a presidência e foi elegido. Observo uma massa
influenciável pela corrupção, por comportamentos infratores dentre outros. Onde
deseja ser liderada e subjugada por liderança que aplica autoritarismo e
castiga por meio do sadomasoquismo a população no geral, como forma de expiar
algum tipo de culpa. Essas consequências atingem até aqueles que não votaram no
candidato elegido. Chamo de efeito dominó. O comportamento de manada acaba
prejudicando o restante da população.
Mas,
esse comportamento por meio do mecanismo de defesa ato falho foi esquecido
apagado da memória do brasileiro que o elegeu a presidente. Pois, o superego
infrator, dotado de valores morais infratores deste cidadão se identifica por meio
do mecanismo de defesa identificação com o Superego infrator do candidato para
ocupar o cargo da presidência da república. A população acaba fazendo uma má
escolha de candidatos com medo de não ter quem governa a suas vidas por meio de
autoritarismo. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma
desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de
perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162).
No
grupo, o indivíduo tem um “sentimento de poder invencível”, segundo Le Bon,
citado em Freud [1920-22(1976)]. Seus instintos são aflorados às vezes até de
forma irresponsável. Freud concorda que há influência dos fenômenos sociais na
constituição do sujeito. Uma relação que envolva no mínimo duas pessoas já podem
ser considerada como uma relação social, ao contrário do que se costuma pensar,
ou seja, que a psicologia social estuda as influências de várias pessoas sobre
o indivíduo; além de estudar um grupo de pessoas ou multidão. O grupo massa
também pode ser analisado sob a perspectiva do processo grupal.
O
interesse dessa ciência é estudar o indivíduo como fazendo parte de um grupo, de
uma organização, de uma profissão, de uma instituição ou de um grupo de pessoas
reunidas momentaneamente para atingir um determinado objetivo. Isto porque o
instinto social vem à luz nessas situações. Além disso, há o fenômeno do
contágio, que faz com que os sentimentos e atos sejam contagiosos quando o
indivíduo está no grupo. Muitas vezes o interesse coletivo sobrepõe ao
interesse individual.
Nesse
sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa vida
consciente. A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da
instância psíquica que não temos conhecimento – o inconsciente. Outra
característica evidenciada por Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)] refere-se
aos elementos heterogêneos do grupo. Pessoas com história de vida diferente
reúnem-se entre si, provisoriamente, porque possuem algum objetivo em comum.
Por
isso mesmo devem estar ligadas por um elo. A necessidade de haver um líder [presidente
supervisor, gestor, pastor, encarregado ou a figura paterna ou materna] no
grupo já era um tema discutido por Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)].
Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente, o qual precisa
de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades, como
“prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente. [...]
Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a
compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Freud,
Le Bon e a psicologia das multidões – e das revoluções. Um dos autores que
inspirou Freud foi um escritor de grande sucesso em sua época: o francês
Gustave Le Bon (1841-1931) que foi prolíficomas caiu no esquecimento devido às
suas ideias extravagantes, que foram superadas como não científicas.
Ele,
que foi ideólogo do “racismo científico”, analisou a sociedade do ponto de
vista médico e indicou o que considerou como patologias [doenças] sociais. Seu
livro “Psicologia das Multidões” (1895) influenciou as ideias de Freud sobre a
sociedade e a história. Foi a partir de sua leitura que o criador da psicanálise
se perguntou sobre a formação do poder dos líderes de massa.
E
concluiu que é identificado, por cada pessoa, com o pai, de onde advém a disponibilidade
para ações irracionais e violentas – se o líder assimilado ao [pai] for violento
e pregar o ódio, um indivíduo pode ser levado a ações violentas que rejeitaria
como pessoa educada. (Kehl: 2009).
Neste
caso constatamos que a figura do líder presidencial José Inácio Lula Da Silva,
é percebido como uma figura paterna para alguns carismática, mesmo carregando
uma imagem de infrações corruptas é visto como um pai protetor, no qual foi o
criador do Bolsa Família, onde retira familiares da linha de pobreza. Essa
figura paterna, ou melhor dizendo, o superego dotado de valores corruptos encaminha
a população a se sentir protegida, com esperança de um Brasil melhor e amparada
em alguns aspectos, exemplo livre da fome.
Le
Bon também expôs ideias desse tipo no livro “A revolução francesa e a psicologia
das revoluções” (1922), onde propôs que as multidões são movidas por “leis
psicológicas que funcionam com a cega regularidade de uma engrenagem”, e que os
atores sociais agem como personagens de cenas previamente escritas mas cujo
teor desconhecem.
E
os revolucionários seriam movidos por “forças invisíveis” de cuja existência
sequer suspeitam (Le Bon: 1922). Para ele não há base racional em escolhas
políticas, como nas religiosas –seriam “atos de fé” inconscientes. Escreveu:
uma “crença política e religiosa constitui um ato de fé elaborado no
inconsciente e no qual, a despeito de todas as aparências, a razão não
intervém” (Le Bon: 1922).
Le
Bon também considerou separadamente indivíduo e multidão, supondo que a ação de
uma pessoa difere da ação das massas – “as multidões, com o concurso das quais se efetuam os grandes
movimentos históricos, tem nessa linha, Le Bon inspirou a direita e pensou que
a revolução seria a liberação de “instintos bárbaros”: a “grande força dos
princípios revolucionários foi dar livre curso aos instintos de barbárie
primitiva refreados pelas inibitórias ações seculares do meio, da tradição e
das leis” (Le Bon:1922). Le Bon rejeitou a igualdade entre os homens e o
progresso social.
Os
socialistas, escreveu, erram com “seus planos quiméricos”. A “ânsia desigualdade
não somente perante a lei, como nas situações e nas fortunas” é o eixo da
democracia e seu auge é o socialismo, cuja demanda se manifesta “por toda a
parte, embora em contradição com todas as leis biológicas e econômicas”. E
completa: a “natureza não conhece a igualdade” e as “leis naturais não
concordam com as aspirações democráticas” (Le Bon: 1922).
A conclusão é inevitável: a desigualdade é
natural sendo um fato contra o qual não se pode lutar! Racista – ele foi um dos
teóricos do “racismo científico” – ele falou no “papel da raça na gênese das
perturbações” (nome que dá aos movimentos democráticos e revolucionários) , e
diz que um “povo de mestiços é sempre ingovernável” (Le Bon: 1922).
Freud
reconheceu a fragilidade dessas ideias; teve a atitude prudente que muitos de
seus seguidores não tiveram. E tentou compreender suas próprias ideias dentro
da complexidade dos fenômenos humanos e sociais (históricos) que estudou. Ele
aplicou à análise da história as categorias que usou para compreender a mente.
Mas não se prendeu, antes o relativizou, ao imobilismo do pensamento que vê a
história e a sociedade sob a influência de leis “naturais” que impediriam a
ação humana para promover qualquer mudança.
Referência
Bibliográfica
BAUMAN,
Z. Globalização: As consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar,
1999.
FREUD,
S. Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos. São Paulo:
Companhia
das letras, 2011.
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular,
1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
KEHL.
MARIA RITA. Folha de S. Paulo, 4 de Março de 2009 (sobre Gustave Le Bon).
LE BON,
Gustave. A revolução francesa e a psicologia das revoluções. Rio de Janeiro,
Garnier, 1922
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