Ano 2022. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo conduz o leitor a pensar refletindo o que está por trás da
guerra bélica, isto é, agressividade e conflitos percebido pelo sentido da
visão mostrado pelos canais midiáticos. Nós nos opomos à ideia de que a guerra
é inevitável, e argumentamos que compreender as raízes psicológicas do conflito
pode aumentar a probabilidade de evitar a violência como forma de resolver os
conflitos com os outros.
Sempre
haverá a possibilidade de recorrermos à violência como uma resposta a
determinada situação. O desenvolvimento da cultura, nos conta Freud, permitiu o
deslocamento do poder, que deixou o campo da violência e adentrou o campo do
direito. Quando isso acontece, o poder deixa de estar na mão do mais forte e
passa a pertencer à coletividade, que estabelece códigos para evitar que o mais
forte volte a se tornar um tirano.
Mas
o desenvolvimento da cultura não foi suficiente para eliminar do ser humano seu
lado violento. O fortalecimento dos nossos instintos amorosos foi a grande
conquista evolutiva da nossa espécie e, graças a eles, aprendemos a encontrar
destinos e formatos adequados para lidar com a violência. Não é porque a
presença dos nossos instintos agressivos não foi eliminada pela evolução
cultural que temos desculpas para fazermos a guerra. É justamente porque
podemos ser violentos que precisamos, todos os dias, reafirmar os princípios da
vida, da cultura e da civilização.
E
a guerra na Ucrânia x Rússia é mais um reflexo do descuido com que o nosso tempo
trata das questões fundamentais para nós. Em um momento marcado pelo
esgotamento emocional que a pandemia de Covid-19 provocou na população mundial,
o conflito na Europa nos remete a tantas outras guerras que vivemos, muito mais
perto de nós.
Os
conflitos nas periferias brasileiras, onde sobretudo os negros são mortos
diariamente; guerras entre traficantes e policiais, o genocídio dos grupos
indígenas; o flagelo da fome, a crise do desemprego no país. Tudo isso não nos
deixa esquecer que em nosso próprio país a vida também tem sido violentamente
posta em segundo plano.
Em
o mal-estar da civilização, Freud deixa evidente que, na ótica dele, a cultura
produz mal-estar na humanidade. Isso porque há uma contra posição entre a
civilização e as exigências produzidas pela pulsão, já que um subverte o outro.
Com isso, o indivíduo acaba abrindo mão de si mesmo e se sacrificando e
essência. O mal-estar da civilização por causa de nossas tendências
destrutivas. Ele deixa bem claro que todos nós carregamos movimentos inerentes
à destruição, anticultural e anti-sociabilidade. Com isso, existe uma luta da
civilização para tirar a liberdade do indivíduo e substituir pela da
comunidade.
Segundo
o Professor Darc Costa, citando o seu artigo, cabe, aqui breves digressões.
Antes de analisar o fenômeno da guerra é interessante fazer algumas
considerações sobre política, estratégia e poder. Política, estratégia e poder
estão sempre conjugados em qualquer ação humana. A política é a arte de
estabelecer objetivos. A estratégia é a arte de se empregar o poder para se
alcançar os objetivos colocados pela política. O poder é a conjunção dos meios
que se dispõe para se atingir os objetivos.
O
poder não é senão uma forte influência. Uma influência tão vigorosa, que aquele
sobre o qual ela se aplica comporta se da maneira desejada por quem a aplicou.
Uma demonstração de poder visa convencer aos adversários, de não ser possível
eles impedirem, àquele que o demonstrou, de alcançar seus objetivos. O poder
nacional exerce sua influência pelo conjunto integrado de meios de toda ordem
de que dispõem a nação, acionados pela vontade nacional para conquistar e
manter os objetivos nacionais.
O
conceito se refere ao conjunto completo de ferramentas à disposição, bem como à
seleção da ferramenta ou da combinação de ferramentas adequadas para cada
situação, quais sejam: a de meios diplomáticos, militares, políticos,
jurídicos, econômicos e psicossociais. Hoje, quando se fala de estratégia de
guerra, deve-se destacar que esta não é vista como era antigamente, somente
como a arte de empregar forças militares para se alcançar um determinado
objetivo estabelecido pela política.
Segundo
o conceito moderno, a estratégia de guerra é muito mais a arte de empregar o
poder como tal, seja como força, seja como influência de qualquer outro tipo,
para se atingir objetivos políticos. Quando há um choque de vontades, a arte de
impor uma das vontades se traduz em uma estratégia de guerra. A estratégia
militar é necessariamente uma estratégia de guerra e quando há o emprego de
violência, isto é, de meios bélicos, um dos meios específicos do poder.
A
estratégia militar caracteriza-se pelo recurso à violência para impor uma
vontade ao inimigo. Mas, a melhor arte da guerra como estratégia consiste em
alcançar um objetivo político sem se recorrer ao emprego da violência. Isto
pode ser conseguido através de uma demonstração de poder econômico, financeiro
ou de uma exclusiva demonstração de poder militar. A estratégia de guerra é,
então, uma estratégia de dissuasão. Nesta, não há o emprego da força, somente a
ameaça do uso da força.
Ou,
também pode ser conseguida mediante o enfraquecimento progressivo da visão de
objetivo político do adversário. Isto pode ser feito sem o emprego da força militar,
mas pelo emprego do poder, através da estratégia do uso de operações psico informativas
- Opsinf - (que serão explicadas adiante) e instrumentos midiáticos no interior
do adversário.
A
criação de um caos na ordenação das metas políticas do oponente pode ser o
resultado estratégico de um desses novos tipos de guerra. A estratégia de
guerra, a partir da qual a demonstração de poder é intensificada até o emprego
real da força é a estratégia militar. A estratégia militar sempre é uma possível
forma de aplicação da estratégia de guerra. Na verdade, a estratégia militar
deve ser vista como a última forma do emprego da estratégia de guerra, posto
que é a forma resultante do emprego do poder militar.
Ela
se caracteriza pelo emprego da violência, quando o sucesso desejado não pode
ser alcançado através de outros meios. A estratégia da guerra, em muitos casos,
leva a estratégia militar a tentar atingir seus objetivos mediante uma
confrontação direta e imediata de forças oponentes. Neste caso, temos a
estratégia de ação direta, onde se busca uma grande batalha decisiva, na qual o
objetivo é destruir a parte essencial das forças adversárias, através de alguns
golpes potentes.
Outras
vezes, a estratégia da guerra levará a estratégia militar a procurar vencer,
pela manobra, um adversário, usando o espaço e o tempo e evitando o confronto
direto com a força principal do inimigo, ou com as forças oponentes. Esta forma
é conhecida como estratégia de ação indireta e busca desorientar o adversário,
atraindo-o para uma posição mais desfavorável. Sem se engajar na batalha
principal, procura desgastá-lo, progressivamente, de tal forma, que no final da
guerra, ele estará exaurido.
Na
estratégia da ação indireta, o adversário não é decididamente derrotado, mas é
vencido pela manobra. A guerra é uma forma de fazer política, ou pelo menos um
meio de fazer política, já que, na verdade, a guerra é a luta pelo poder.
Guerra é o estado em que vivem aqueles que lutam. Na guerra, ambos os lados
buscam impor uma vontade e uma paz da sua conveniência. O recurso à violência
na busca ao poder é o que tem caracterizado o conceito de guerra.
Contudo,
a guerra é um fenômeno muito mais abrangente que o conflito armado. Guerra só
existe se houver choque de vontades, tem que haver uma dialética de vontades. Entretanto,
uma vontade não necessita, obrigatoriamente, de se explicitar formalmente.
Influir psicologicamente não é apenas determinante no conflito político, mas,
também, o é na guerra, que é, fundamentalmente, uma batalha pela alma e pela
vontade do adversário.
A
guerra não deve ser vista como a conquista do terreno ou de determinadas
posições. Apossar-se do terreno e conquistar certas posições são apenas
instrumentos para se estruturarem de forma prevalente os desejos expressos na
vontade de alguém sobre a vontade do outrem. Enquanto esse objetivo não for
atingido, a guerra não será vencida. Repetindo, o que importa são os desejos
expressos na vontade de alguém sobre a vontade do outrem.
Guerra
com armamento usual é aquela que é feita empregando-se armas brancas, de fogo e
explosivos convencionais. Guerra Radiológica. A forma de guerra radiológica é
aquela que é feita mediante o emprego de materiais físseis. Podem ser
radioativas, pelo emprego de materiais radioativos ou, nucleares mediante o
emprego de artefatos nucleares. A forma de guerra biológica é aquela que é
feita mediante o emprego de agentes patológicos. Pode ser bacteriológica ou
virótica.
A
forma de guerra cibernética é aquela que é feita mediante o emprego de
equipamentos e máquinas centradas basicamente em informação e energia. A forma
de guerra química é aquela que é feita pelo emprego de agentes químicos. Guerra Econômica. A forma de guerra econômica
não é assim classificada por muitos puristas que a nomeiam como um conjunto de
agressões econômicas, já que entendem que a guerra é um fenômeno que
necessariamente implica em uma ação física violenta.
Contudo,
a guerra é um fenômeno decorrente do choque de vontades, em que as vontades se
pretendem afirmar com o uso dos meios que dispõem o que necessariamente implica
em agressões. Agressões que podem não ser físicas. Agressões que podem ser
psicológicas e econômicas. Guerra da forma econômica é toda aquela decorrente
de uma agressão de natureza econômica. Suas formas mais usuais são agressões
financeiras dirigidas a moedas, tidos, agora, como ataques especulativos e que
podem desestabilizar a economia de um país, ou, agressões comerciais
decorrentes da ação fechar mercados ou para controlar fluxos de recursos.
Guerra
da forma econômica tem sido usualmente praticada no final do século XX e no
início do século XXI, sob o manto da paz e do discurso da estabilidade. Guerra
Psicológica. Das formas citadas, a que é menos entendida é a forma de guerra
psicológica. Uma guerra psicológica pode estar sendo travada sob um aparente
discurso de paz. Ela é uma forma de guerra que aparentemente não mata, não
aleija, não machuca fisicamente. Contudo seu poder destrutivo pode ser imenso.
Pode
colonizar, pode subordinar, pode escravizar. É uma forma que quando vem sozinha
é a expressão virtual da guerra. Mas se há uma guerra real ela estará sempre
presente. A imagem bélica da guerra de destruição em massa, em especial sua
vertente nuclear, requereu diferentes planejamentos estratégicos, diferentes
armamentos, diferentes organizações de unidade, e finalmente, o que não é menos
importante, um diferente treinamento dos oficiais e de suas unidades, algo que
normalmente manteve relação direta com os padrões convencionais.
Assim,
também, se passa com todos os demais tipos de guerra, inclusive para estes
recentes tipos que surgiram, a guerra assimétrica e hibrida. Contudo, hoje,
está claro que a guerra de destruição em massa parece ser a mais improvável das
futuras guerras. Na verdade, a sua possibilidade nuclear, demonstrada em
Hiroshima e Nagasaki, diferentemente do que muitos pensavam, não acabou com a
guerra. Enfatizou outros tipos ou ensejou novos tipos de guerras.
Só
as transferiu para outros espaços de concepção e de realização. Como a guerra
nuclear tornou-se, de certa forma, impensável, a humanidade transferiu seus
conflitos armados para as sarjetas, para as cavernas e para as florestas. A guerra
assimétrica, após os atentados de onze de setembro, surgiu, contudo, um novo
tipo de guerra, que figurava, exclusivamente, no plano das hipóteses, a guerra
assimétrica, que nada mais é que uma guerra irregular travada no espaço
mundial.
Voltemos
à tese do conceito moderno a estratégia de guerra é muito mais a arte de
empregar o poder como tal, seja como força, seja como influência de qualquer
outro tipo, para se atingir objetivos políticos. Guerra assimétrica, talvez
pudesse ser definida, como foi dito, de guerra irregular em escala mundial, ou
como a guerra irregular, que não se cinge a um espaço nacional.
Assimetria
de poder econômico e financeiro, muitos recursos versus poucos; Assimetria de
capacidade bélica, relativa e absoluta; Assimetria de estruturação
organizacional, hierarquia versus rede; e entre outras, das seguintes assimetrias,
do outro lado: Assimetria de objetivação, quase número infinito de alvos versus
poucos para o adversário; Assimetria de resultados, indiferença de resultados
no curto e médio prazo contra a necessidade de resultados expressivos do
adversário no curto prazo; e, Assimetria comportamental, não sujeito a nenhuma
regra, inclusive admitindo o suicídio na ação versus o adversário preso a regras
e as convenções.
A
guerra assimétrica, assim como a guerra irregular, é, devido a sua natureza, a
guerra dos fracos contra os fortes, a guerra dos pobres contra os ricos. Como mostraremos
a guerra irregular e os novos tipos de guerra; hibrida e a assimétrica, são
fundamentalmente guerras de desgaste. Seguindo o conceito moderno, a estratégia
de guerra é muito mais a arte de empregar o poder como tal, seja como força,
seja como influência de qualquer outro tipo, para se atingir objetivos
políticos.
A
guerra hibrida é o emprego do poder através de um conjunto de intervenções de
toda ordem preparada sobre um Estado Nacional, para exercer um fim
fundamentalmente político. Ou qualquer tipo de agressão organizada que procura
causar dano a um Estado Nacional, buscando desestruturá-lo, transformando-o em
um estado falido, com o fim de apropriar-se de seu território, e/ou de seu imaginário
coletivo, e/ou de seus recursos. Pode-se considerar que a guerra híbrida é um
conflito no qual todos os agressores, exploram todos os modos de guerra,
simultaneamente, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares,
tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade, visando desestabilizar a
ordem vigente em um Estado Nacional.
Entende-se
o que se busca numa guerra hibrida é a criação do caos no território inimigo.
Sobre o caos há uma teoria, a teoria do caos que estabelece que fatores
insignificantes, distantes, podem, eventualmente, produzir resultados catastróficos
imprevisíveis e absolutamente desconhecidos no futuro. Tais eventos levariam o
adversário a se defrontar com desdobramentos imprevisíveis e a perdas dos
monopólios de gestão intrínsecos a um Estado Nacional.
Os
novos tipos de guerra não têm começo. Só historicamente é que se define o tempo
da guerra. Tem aí total similaridade com a guerra irregular. Os envolvidos
nessas guerras têm um interesse notório em prolongar um falso período de paz,
antes da definição explícita de seu início. A mobilização exige muito tempo.
Ambas, devem ser vistas como o combate em sua totalidade, tendo sempre como
atributos tanto a longa duração quanto a baixa intensidade.
Nos
novos tipos de guerra, tanto a assimétrica como a hibrida, a exemplo da guerra
irregular, não deve haver uma distinção tão objetiva, como existe em outros
tipos de guerra, entre civil e militar, entre armas e não armas, entre espaço
de guerra e espaço de paz. Uma guerra do novo tipo é uma guerra sem
delineamento definido. É uma guerra de várias facetas. O novo tipo de guerra é
uma guerra em que não se combate e, sim, se vive.
Toda
a guerra busca objetivos políticos. O recurso à violência na busca do poder,
como vimos, caracteriza a estratégia militar. Contudo, a definição clara de um
tipo de guerra é muito difícil. Mas, tanto a guerra irregular quanto os novos
tipos de guerra se inserem no contexto de uma rebelião ou de uma revolução.
Revolução se dirige a certo objetivo, enquanto que rebelião se refere a certo
comportamento. Existem revoluções, sem rebelião, e rebeliões, sem revolução.
Revolução
une credo, vontade, decisão e ação na política e buscam a mudança integral na
ordem, seja ela política, social e ou econômica. Rebelião busca a fuga a uma
dominação. A perda na fórmula política pode conduzir a uma revolução ou esta
pode decorrer da inexistência de desenvolvimento econômico e social. Todavia,
rebelião sempre está relacionada à tensão que deriva da percepção de que há uma
privação na sociedade de bens e serviços econômicos, ou de prestígio social e
ou de poder político.
Expectativas
religiosas ou de caráter nacional que não são correspondidas também podem dar
lastro a uma rebelião. Os novos tipos de guerra também podem vir a anular a
distância entre países grandes e pequenos. Um país como a Coreia do Norte, se
provido de armas de destruição em massa, pode se colocar tão forte como a
Rússia ou a China.
Se
tiver vontade e capacidade de conduzir uma guerra hibrida ou assimétrica, um
pequeno país pode vir a se contrapor com razoável êxito contra a pretensa
múltipla superioridade de uma potência. Ninguém vence um inimigo mais forte
pela força, mas, sim, devido a uma causa justa e através de uma liderança
dedicada. Todo ato de guerra é um trabalho de equipe. Líder e liderados,
planejadores e operadores, todos trabalham em conjunto. A ligação, entre
comando e execução, é importantíssima.
Respeito
e reconhecimento geral do comandante são fundamentais para quem exerce a
liderança. A guerra assimétrica e a guerra irregular são guerras da liderança
democrática. Manter a todo custo disciplina é o objetivo maior do seu líder.
Contudo, é como estrategista e como tático que o líder deve exercer o seu
poder. É usando o tempo e o terreno e aproveitando as oportunidades que ele se
consolida na liderança.
Os
novos tipos de guerra se colocam como tipos de guerra praticados pela estratégia
da ação indireta. Mas, os novos tipos de guerra, da mesma forma que a guerra
irregular, não é o único meio para se conduzir uma estratégia de ação indireta.
Tanto os novos tipos de guerra quanto à guerra irregular são sempre
instrumentos de ação da estratégia indireta e pretendem conseguir um efeito
psicológico.
Seus
objetivos serão o de fazer os seus próprios objetivos políticos parecerem
historicamente necessários, inevitáveis, e até mesmo, imprescindíveis, aos
olhos do adversário. A estratégia nos novos tipos de guerra, portanto, é sempre
a estratégia de ação indireta. O que existe em termos de estratégia nos novos
tipos de guerra são os mesmos princípios gerais de estratégia militar.
Surpreender o inimigo, romper a continuidade de suas forças, atacar seus pontos
fracos e contra-atacar, aproveitando o esforço do adversário, permanecem elementos
válidos e metas a serem perseguidas na construção e no decorrer dos combates.
Os
novos tipos de guerra apresentam um sentido claro para se desencadear as ações
militares por parte dos militantes: as operações caminham daquelas desconhecidas
e não dominadas pelos adversários, para aquelas em que eles são especialistas.
Caminham da periferia para o centro. A luta pode surgir em qualquer espaço e a
qualquer tempo. A liberdade para operar nestes tipos de guerra constrói a sua
própria força. Liberdade vista aqui como liberdade sobre o espaço e sobre o
tempo. A guerra irregular é a guerra do espaço amplo. A guerra assimétrica é a
guerra do espaço ilimitado. A guerra hibrida é a guerra do espaço delimitado.
Nas
três, não existem frentes de combate. A retaguarda não existe para elas. Nas
três, o poder de fogo é menos relevante que a mobilidade. São guerras de
mobilidade. Nas três, o espaço não é mantido, nem ocupado. O espaço é
contaminado. Mas a contaminação exige a presença do adversário. Em quase todas
as condições, nesses três tipos de guerra, mais que a força, os determinantes
últimos da vitória são o espaço e o tempo. O espaço e o tempo se materializam
nos movimentos. Não são guerras de posição. São guerras de movimento e não de
poder de fogo.
A
guerra psicológica tem de ser conduzida por operações psicoinformativas –
Opsinf. Opsinf são fundamentais para entender os novos tipos de guerra. Guerra
de forma psicológica é feita basicamente utilizando-se as Opsinf. São nas
Opsinf que os novos tipos de guerra se sustentam. Durante todas as fases dos
novos tipos de guerra, como acontece na guerra irregular, as Opsinf estarão
presentes.
O
plano de propaganda é peça importante para uma guerra, mas é peça fundamental
para o detalhamento das Opsinf de uma guerra irregular ou de um dos dois dos
novos tipos de guerra. Este plano deve conter a identificação dos instrumentos
disponíveis, seus alvos setoriais, ou de áreas, a indicação dos seus caminhos,
mas, principalmente, quais são os seus objetivos.
A
arte da propaganda consiste em colocar o êxito do inimigo como fracasso e o
nosso fracasso como êxito. Todavia, propaganda sozinha nada faz. Quando falamos
em Opsinf, estamos falando de um conceito revolucionário que está se
transformando em elemento central nas ações políticas entre Estados Nacionais, nas
ações de ataque e defesa que se processam tanto em época de paz quanto em época
de guerra. Todavia, propaganda sozinha nada faz.
Quando
falamos em Opsinf, estamos falando de um conceito revolucionário que está se
transformando em elemento central nas ações políticas entre Estados Nacionais, nas
ações de ataque e defesa que se processam tanto em época de paz quanto em época
de guerra. Todavia, propaganda sozinha nada faz. Quando falamos em Opsinf, estamos
falando de um conceito revolucionário que está se transformando em elemento
central nas ações políticas entre Estados Nacionais, nas ações de ataque e
defesa que se processam tanto em época de paz quanto em época de guerra.
Cada
vez mais, o domínio do campo da percepção e do processamento criará condições
para o direcionamento e o controle das ações. Estes espaços, da percepção e do
processamento, são exatamente os da atuação essencial e excelente das Opsinf –
cujos resultados reverberam e se refletem sobre o momento de ação. O objetivo
das Opsinf é o de manter em um dado espaço (teatro de operações, espaço do
conflito, país ou região, ou mundo) não só o domínio das informações, mas muito
mais a administração das percepções com vistas à construção de consensos para a
estruturação e desestruturação de imaginários.
Os
objetivos das Opsinf são o de acordar ideias, ou de promover associações
mentais, ou mexer com imaginários. Com as Opsinf busca-se formar quadros;
difundir ideias, para mobilizar simpatizantes; e enfraquecer o poder do inimigo
e sua vontade de resistir, diminuindo a sua fé na vitória. A guerra leva a
muitos sacrifícios; o sacrifício da vida, o sacrifício da saúde, o sacrifício
da liberdade e principalmente à privação das comodidades favoritas. As únicas
pessoas que buscam um sacrifício de forma voluntária são aquelas que acreditam que
existe um valor muito maior que o sacrifício, algo que para eles parece
profundamente significativo.
O
estabelecimento de um valor transcendental é a base sobre a qual se estrutura
todo e qualquer sacrifício. Portanto, ao se engajar em um combate deve-se
buscar lançar mão de todos os meios disponíveis para se estabelecer este valor
transcendental.
O
objetivo de toda a ação psicológica deve ser o de procurar convencer cada
cidadão de que ele deve se colocar a serviço deste valor transcendental que
pode ser uma ideia, transfigurada numa formulação política, ou retratada num
imaginário e que deve justificar todo sacrifício necessário. As Opsinf dependem
também dos discursos políticos e dos eventos militares. Elas visam tanto o
público interno, como a mídia, como as sociedades amigas, neutras e inimigas.
A
Opsinf tem de se ajustar ao nível de audiência para o qual ela se dirige. Daí
porque a Opsinf deve explorar e utilizar primordialmente os instrumentos e
argumentos que mexem com a emoção. O conflito, por sua vez, realimenta as ações
derivadas dos princípios das Opsinf. A movimentação da informação será cada vez
mais relevante em situações de conflito, podendo-se sobrepor até mesmo à
movimentação de tropas ou de equipamentos nos espaços e antecedendo a,
necessariamente, no tempo.
Para
estas operações o tempo é um fator essencial. Incidentes, no mundo, são hoje
comunicados em tempo real. Para tanto, faz-se necessário compreender as Opsinf
como parte de uma política de Estado Maior, como reflexo e voz da vontade política
de um Estado Nacional. As Opsinf atuam sobre os imaginários. Existem três tipos
de Opsinf: 1. A Opsinf destrutiva que desestrutura e destrói um imaginário, 2.
A Opsinf construtiva que estrutura e constrói um imaginário e 3. A Opsinf
subversiva que modifica um imaginário dissuade e atemoriza.
A
Opsinf subversiva objetiva atacar parte das certezas ou das ideias e formas de
ver o mundo que o inimigo possui, ou, caso não seja possível destruir a
formulação central do inimigo, abalá-la nos seus fundamentos, de forma a
desestruturar o imaginário do inimigo. Por exemplo, um objetivo de uma Opsinf
subversiva pode ser o de apelar para a necessidade de se prover segurança às pessoas,
principalmente, as pessoas que vivem nesse nosso tempo e se encontram nos
países centrais, os mais civilizados.
Para
esse fim, deverão ser utilizadas todas as formas possíveis para ilustrar
visualmente: seja por imagens, ou gráficos, os perigos à espreita de todos os
soldados e cidadãos do inimigo. Isto numa guerra assimétrica terá mais êxito se
vier acompanhado de operações terroristas. Outro exemplo, o discurso da defesa
da liberdade do inimigo numa guerra assimétrica deve ser combatido pelas Opsinf
subversivas, de forma a acusá-lo, de forma convincente, de ter sido responsável
por uma onda de repressão, de qualquer tipo, já realizada ou pretendida, de
modo que o próprio inimigo começa a questionar a veracidade do apelo a
liberdade em que acreditava de forma irrefletida.
O
êxito será completo caso consiga-se condenar o adversário aos olhos do mundo e
assim, em última análise, colocá-lo como imperial e totalitário ou, então, como
vinculado a uma, senão a própria minoria racista, ou religiosa a ser sempre
desacreditada. Munição das Opsinf. As Opsinf usam três munições para as suas
diversas armas: palavras, músicas e imagens. As palavras podem ser faladas ou
escritas, abrangentes ou específicas, corretas ou falsificadas. As músicas
podem ser de denuncia ou de exaltação. As imagens podem ser públicas ou
restritas.
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