Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do para um excelente tópico. João trabalha como
fiscal de caixa em um supermercado, porém é formado como psicólogo e não deseja
mais exercer a função de fiscal de caixa, mas sim têm o desejo de ser
contratado como psicólogo por alguma instituição. Então resolveu fazer uma
prova com Deus que se Denise que é psicóloga lhe enviar qualquer mensagem por WhatsApp
até a data 21/10/24, entenderá que Deus vai lhe conceder o desejo de exercer a
psicologia em alguma instituição. Entretanto se Denise não lhe enviar nenhuma
mensagem por WhatsApp até a data prevista, compreenderá que não sairá do
supermercado.
Na
psicanálise, essa situação pode ser interpretada considerando os conceitos de
desejo, superego, e mecanismos de defesa. Vamos por partes: O desejo de João:
Ele deseja mudar de carreira, saindo da função de fiscal de caixa para exercer
a psicologia. Esse desejo é uma manifestação do id, a parte da nossa mente que
busca satisfazer nossos desejos mais profundos e imediatos.
A
prova com Deus: João cria uma "prova" para tentar obter uma
confirmação externa de que seu desejo será realizado. Ele coloca uma condição
externa — receber uma mensagem de Denise — para validar a mudança de vida que
deseja. Esse comportamento pode ser visto como uma forma de aliviar a ansiedade
relacionada à tomada de decisão. A dependência de um sinal externo (mensagem de
Denise) sugere que João está buscando algo fora de si mesmo para tomar uma
decisão importante.
O
papel do superego: O superego representa a parte da mente responsável pelos
padrões morais e sociais. Ele pode estar influenciando João a acreditar que
precisa de uma confirmação divina ou de um sinal claro para seguir em frente. O
superego pode estar fazendo João sentir que ele não tem controle completo sobre
sua decisão ou que precisa seguir regras mais rígidas antes de agir.
Mecanismos
de defesa: Ao colocar a decisão nas mãos de uma "prova" divina, João
pode estar usando mecanismos de defesa, como a racionalização ou projeção. A
racionalização ocorre quando ele justifica sua incerteza com a prova (sinal
externo), em vez de lidar diretamente com seus medos e inseguranças sobre a
mudança de carreira. A projeção ocorre quando ele transfere para Deus a
responsabilidade por sua decisão, aliviando a pressão interna.
Medo
e incerteza: A criação dessa "prova" revela o medo e a incerteza de
João sobre tomar uma decisão importante. Ele pode estar com medo do
desconhecido, da possibilidade de fracasso ou de tomar uma decisão errada. O
medo pode estar reprimindo seu desejo de mudar, fazendo-o buscar um sinal
externo para legitimar a decisão.
Em
resumo, na abordagem psicanalítica, João está lidando com um conflito entre o
desejo do id (ser psicólogo) e as regras impostas pelo superego (esperar por um
sinal claro e externo). Ao usar essa "prova com Deus", ele tenta
evitar lidar diretamente com a ansiedade e a responsabilidade da decisão,
projetando essa responsabilidade em algo externo. A solução, do ponto de vista
psicanalítico, seria ajudar João a entender que a decisão de mudar de carreira
depende de sua própria autoconfiança e de seu desejo, e não de uma confirmação
externa.
O
sujeito, João, parece estar lidando com um medo profundo de não conseguir sair
da função de fiscal de caixa, e busca na "prova com Deus" uma forma
de validação para lidar com essa insegurança. Na psicanálise, esse
comportamento pode ser visto como uma forma de transferência de
responsabilidade e uma manifestação da angústia diante da tomada de decisões
importantes.
João,
ao propor essa "prova", revela um conflito interno entre o id, que
deseja fortemente a mudança para a psicologia, e o superego, que pode estar
reforçando medos, culpas e incertezas, o que faz com que ele busque a
autorização ou a confirmação de uma figura superior (Deus) para sentir que sua
decisão está "correta" ou "justa". O ego, nesse caso, tenta
equilibrar esse desejo e essa censura através da criação de uma situação
externa (a mensagem de Denise) para resolver o conflito.
O
medo de João pode ser interpretado como uma expressão do superego tentando
evitar o risco de uma decisão autônoma, onde o fracasso poderia trazer
sentimento de culpa ou inadequação. Ele teme não conseguir realizar a
transição, e por isso, ao jogar a responsabilidade nas mãos de um "sinal
divino", ele se protege de lidar diretamente com o medo do fracasso ou da
incerteza. Essa estratégia, no entanto, mostra que o medo está reprimindo o
desejo do ego de sair da função de fiscal de caixa.
Na
prática, o que se vê aqui é que o sujeito está usando mecanismos de defesa,
como a repressão e a projeção. Ele reprime o medo de agir por conta própria e
projeta essa responsabilidade em Deus. Isso alivia momentaneamente a angústia,
mas o mantém numa situação de dependência e incerteza. Se a "prova"
falhar, ele terá uma justificativa externa para não agir, mantendo-se na função
que o insatisfaz.
A
saída psicanalítica seria ajudar João a tomar consciência desse medo e,
gradualmente, desenvolver sua autoconfiança e autonomia para tomar decisões
importantes sem depender de validações externas. Isso o libertaria da
necessidade de uma "prova" e o colocaria no caminho de realizar seus
desejos de acordo com sua própria vontade e capacidade.
Se
Denise não enviar a mensagem, o mecanismo de defesa que provavelmente entrará
em ação é a racionalização. A racionalização é um mecanismo que o ego usa para
justificar uma situação frustrante de maneira lógica ou aceitável, evitando o
desconforto emocional. No caso de João, ele poderia racionalizar a falta de
mensagem interpretando como uma "resposta divina" de que não é o
momento certo para ele mudar de carreira ou que Deus não aprova essa transição,
o que aliviaria sua angústia por não seguir seu desejo.
Além
disso, outro mecanismo de defesa que poderia surgir é a repressão. Nesse caso,
o desejo de se tornar psicólogo seria reprimido ou abafado pelo ego, em
resposta à percepção de que ele não deve sair da função de fiscal de caixa. A
repressão ajudaria João a evitar lidar diretamente com a frustração do desejo
não realizado, empurrando esses sentimentos para o inconsciente.
Também
pode ocorrer o uso da projeção, onde João poderia começar a acreditar que
forças externas, como o mercado de trabalho ou mesmo Deus, estão contra ele, em
vez de lidar com o próprio medo ou insegurança sobre a mudança de carreira. Esses
mecanismos de defesa agiriam para proteger o ego de enfrentar a angústia de não
conseguir realizar seu desejo, ajudando-o a lidar com a frustração de uma
maneira que evita o sofrimento consciente, mas que, a longo prazo, pode manter
João preso à situação insatisfatória.
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