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Fiscal De Caixa E A Exaustão No Trabalho

 Ano 2024. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208

O presente artigo chama a atenção do leitor para um excelente tópico. Na abordagem psicanalítica, podemos entender essa situação através do conceito de "recalque" e "retorno do recalcado".

O sujeito, sendo um fiscal de caixa ou operador de caixa ao trabalhar seis dias por semana e folgar no sétimo, está constantemente suprimindo seus desejos e necessidades de descanso e lazer durante a semana, o que gera um acumulo de tensão psíquica. Essa tensão é reprimida durante os dias de trabalho, mas ressurge de forma intensificada no dia que antecede a folga, manifestando-se como exaustão.

Essa exaustão é uma expressão do "retorno do recalcado", ou seja, dos desejos e necessidades reprimidos que retornam de maneira inconsciente e afetam o sujeito de forma negativa. Da mesma forma, ao retornar ao trabalho após a folga, o sujeito inicia o trabalho afadigado e cansado porque a tensão acumulada durante a semana não foi adequadamente liberada durante o período de descanso, resultando em uma continuidade do estado de cansaço e fadiga. Esse ciclo se repete também nos domingos, intensificando a sensação de cansaço e exaustão.

Além do recalque e do retorno do recalcado, podemos também analisar essa situação à luz do conceito de "repetição compulsiva" na psicanálise. O sujeito parece estar preso em um ciclo repetitivo de trabalho e exaustão, no qual ele continua a se esforçar mesmo quando seu corpo e mente estão clamando por descanso.

Esse padrão de comportamento pode ser interpretado como uma forma de lidar com conflitos internos ou ansiedades através da repetição de certos comportamentos, mesmo que esses comportamentos não sejam saudáveis ou produtivos. Nesse caso, o sujeito pode estar utilizando o trabalho como uma forma de evitar lidar com questões mais profundas ou desconfortáveis em sua vida.

 

A psicanálise também sugere que esse ciclo de trabalho e exaustão pode estar ligado a aspectos da infância do sujeito, como padrões de relacionamento com figuras de autoridade ou expectativas internalizadas sobre produtividade e sucesso. Explorar essas origens inconscientes pode ajudar o sujeito a romper com esse ciclo repetitivo e encontrar formas mais saudáveis de lidar com suas necessidades emocionais e físicas.

Além disso, na psicanálise, também consideramos a importância do "princípio do prazer" e do "princípio da realidade". O sujeito pode estar preso em um conflito entre o desejo de descansar e o imperativo de trabalhar para atender às demandas da realidade, como ganhar dinheiro ou cumprir responsabilidades profissionais.

O princípio do prazer refere-se ao impulso inconsciente de buscar o prazer e evitar o desconforto, enquanto o princípio da realidade reconhece as limitações do mundo exterior e a necessidade de adiar gratificações em prol de objetivos a longo prazo. Nesse caso, o sujeito pode estar enfrentando uma tensão entre esses dois princípios, resultando em um ciclo de trabalho excessivo e exaustão.

Explorar esses conflitos internos e entender suas origens pode ajudar o sujeito a encontrar um equilíbrio mais saudável entre suas necessidades de descanso e suas responsabilidades profissionais. Isso pode envolver aprender a estabelecer limites claros entre o trabalho e o tempo de lazer, bem como desenvolver estratégias para lidar com o estresse e a ansiedade de forma mais eficaz.

Além disso, na psicanálise, consideramos a importância da relação entre o sujeito e seu ambiente de trabalho. O ambiente de trabalho pode desempenhar um papel significativo na maneira como o sujeito se sente e se comporta, influenciando sua saúde mental e emocional.

Por exemplo, se o ambiente de trabalho é estressante, tóxico ou desafiador, isso pode contribuir para o ciclo de exaustão e fadiga do sujeito. Questões como sobrecarga de trabalho, falta de apoio dos colegas e superiores, ou conflitos interpessoais podem aumentar o estresse e a ansiedade do sujeito, tornando mais difícil para ele encontrar um equilíbrio saudável entre trabalho e descanso.

Nesse sentido, é importante considerar não apenas os aspectos internos do sujeito, mas também o contexto externo em que ele está inserido. Abordar questões relacionadas ao ambiente de trabalho pode ser fundamental para ajudar o sujeito a quebrar o ciclo de exaustão e encontrar uma relação mais equilibrada e saudável com o trabalho.

Além disso, na psicanálise, também exploramos os padrões de relacionamento interpessoal do sujeito e como esses padrões podem influenciar sua experiência de trabalho e descanso. Por exemplo, se o sujeito tem dificuldade em estabelecer limites saudáveis com os outros, ele pode se sentir constantemente obrigado a atender às demandas dos outros, mesmo que isso prejudique sua própria saúde e bem-estar.

Esses padrões podem ser enraizados em experiências passadas, como dinâmicas familiares ou experiências de socialização na infância. Ao explorar essas origens, o sujeito pode ganhar insights sobre como seus padrões de relacionamento afetam sua relação com o trabalho e o descanso, e aprender a estabelecer limites mais saudáveis com os outros.

Em suma, a abordagem psicanalítica oferece uma lente valiosa para entender os padrões de trabalho e descanso do sujeito, destacando a interconexão entre suas experiências internas, o ambiente externo e seus relacionamentos interpessoais. Ao explorar esses aspectos, o sujeito pode começar a trabalhar em direção a uma relação mais equilibrada e satisfatória com o trabalho e o descanso.

Vamos, explorar alguns exemplos mais práticos de como esses mecanismos de defesa podem se manifestar no comportamento do fiscal:

Racionalização:

O fiscal pode dizer a si mesmo que precisa trabalhar muitas horas extras para garantir uma promoção ou um aumento salarial, mesmo que isso o deixe exausto.

Ele pode justificar sua exaustão dizendo que é necessário para sustentar sua família ou para alcançar metas de trabalho ambiciosas.

Negação:

Mesmo sentindo-se fisicamente cansado, o fiscal pode ignorar os sinais de exaustão e continuar trabalhando sem tirar tempo para descansar.

Ele pode negar a si mesmo que está exausto, dizendo que apenas precisa "superar" esse período difícil e que logo se sentirá melhor.

Deslocamento:

O fiscal pode transferir sua frustração e irritabilidade causadas pela exaustão para seus colegas de trabalho, criando conflitos desnecessários no ambiente de trabalho.

Ele pode culpar o trabalho excessivo pela falta de tempo para passar com sua família, deslocando assim a responsabilidade de sua exaustão para suas obrigações profissionais.

Sublimação:

Em vez de reconhecer e lidar diretamente com sua exaustão, o fiscal pode canalizar sua energia para projetos adicionais ou responsabilidades voluntárias em outro tipo de trabalho, mantendo-se ocupado para evitar enfrentar sua fadiga.

Ele pode se envolver em atividades extracurriculares relacionadas ao trabalho, como participar de eventos de networking ou treinamentos adicionais, como uma forma de justificar sua exaustão como um esforço em direção ao avanço na carreira.

Formação de reação:

Mesmo que se sinta extenuado internamente, o fiscal pode adotar uma atitude extremamente entusiasta e otimista no trabalho, tentando mascarar sua verdadeira condição emocional.

Ele pode expressar um exagerado interesse e dedicação às tarefas, procurando demonstrar para si mesmo e para os outros que está lidando bem com a carga de trabalho, apesar de estar profundamente cansado.

Esses exemplos ilustram como os mecanismos de defesa podem ser acionados pelo ego para lidar com a exaustão no trabalho, muitas vezes obscurecendo a percepção consciente da própria condição e mantendo o indivíduo preso em padrões prejudiciais de comportamento.

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