Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo tem a intenção de dissecar para o leitor que o exercício da
liberdade em um mundo, onde não sabemos para onde nossas escolhas nos levarão,
causa sincope. É como se caminhássemos cegos em uma floresta densa, repleta de
perigos, e tivéssemos que decidir a cada instante, para onde seguir a partir de
cada passo dado. E as vezes por termos uma única opção a ser feita entre
escolhas limitadas.
O
que te impede de ser livre ou o que te aprisiona? Temos total responsabilidade
por aquilo que sentimos e por aquilo que somos, sendo assim, podemos
compreender a liberdade como algo incondicional. Para Sartre, somos todos
condenados a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio, e, no
entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, nos tornamos responsáveis por
tudo que fizemos.
É
preciso muita maturidade para se alcançar a liberdade. Apenas quando estivermos
conscientes do que sentimos, do que queremos e do que não desejamos sentir, é
que seremos protagonistas da nossa própria história. Desta forma, é preciso ir
em busca da nossa liberdade emocional. Seja refém apenas do que te liberta e a vida
lhe proporcionará mais leveza em seu caminhar. [...] Em sua obra “Além
do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição
também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de
prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram.
Somos
mais livres porque sabemos mais, temos mais informações sobre o mundo e sobre
nós mesmos, logo mais poder de escolha. Isto nos torna mais livres, mas não
absolutamente livres. Adotar a ideia de que estamos condenados inelutavelmente
à liberdade, parece-me uma fascinação provocada pela ilusão que a própria
condição de possuir um eu posso despertar, a ilusão de Narciso, que se
entusiasma com a própria imagem e em seus labirintos se perde.
Nossa
liberdade está sempre condicionada a nossos contextos e limitações. A concepção
de que existem escolhas absolutamente livres é uma ilusão de nosso próprio
narcisismo. É possível, por outro lado, nos sentirmos mais ou menos livres,
conforme o contexto no qual estamos inseridos.
Exemplo,
um desempregado pode se sentir detido, mesmo sabendo que está em liberdade.
Porém se apercebe enclausurado pelo medo de não conseguir emprego; insegurança
quanto a não prover as necessidades básicas da casa; as angustias que não
consegue se defrontar; o espaço restringido no lar que dá a impressão de uma
cela de cadeia; refém das instabilidades da conexão de internet; a pouquidade
do papel moeda que não permite comprar além do necessário; aprisionado numa
residência pagando aluguel em um bairro repleto de infratores; contrariedades
que dão a impressão de não terem solução dentre outras.
Ou
ainda um cidadão envelhecido tem limitações físicas na sua mobilidade em
consequência a sua liberdade também é limitada pela própria mobilidade. Ou pela
mobilidade reduzida, que é a limitação temporária ou permanente da sua
capacidade para utilizar um meio ou serviço ou aceder a um determinado espaço
físico levando-o a se sentir detido pelas próprias limitações físicas.
Um
cidadão ao chegar na meia-idade encontrará limitações condicionadas à sua
liberdade por meio das normas impostas pelos empregadores e o mercado de
trabalho ocorrendo uma demarcação dos limites dos seus direitos a fim de não se
senhorear da liberdade dos mais jovens na questão de emprego.
Nossa
ação no mundo sempre tem alguma função. O que não tem função tende a se
extinguir. Agimos seja para obter algo que nos apraz, seja para nos afastarmos
do que nos é aversivo. Deste modo, há
situações que produzem sensações de maior liberdade, quando agimos em função do
que nos apraz. E há aquelas situações em que nos sentimos menos livres, quando
agimos por dever, por medo, em função de ameaças; e quando agimos para evitar
algum mal. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa,
e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma
situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
Liberdade
significa a condição daquele que é livre, independente, autonomia, capacidade
de agir por si próprio segundo seu livre arbítrio, de acordo com sua própria
vontade de maneira que não prejudique ninguém a partir de suas escolhas.
Liberdade é o direito de qualquer cidadão.
A
busca por uma definição única é quase impossível, pois ela apresenta
significados diferentes dependendo de sua implantação, momento histórico,
circunstância e até da percepção pessoal, pois não se trata de uma coisa
concreta para onde se aponta e sim uma coisa que desperta sentimento diferente
para cada um.
Quando
empregamos a palavra liberdade não temos a certeza de que seremos perfeitamente
compreendidos sem antes dar nossa própria definição, já que a liberdade não tem
uma definição geral para todas as situações.
O
esforço pelo significado de liberdade através dos seus propósitos, onde a pesquisa
pelo significado da liberdade pode estar nos os propósitos que ela tenta
alcançar, já que a palavra atrai inúmeros significados no cotidiano das pessoas
e cada uma atribui uma definição conforme as suas próprias experiências
psicológicas.
Exemplo,
liberdade financeira, liberdade empregatícia, liberdade de expressão, digo,
direito que qualquer cidadão tem de agir sem coerção ou impedimento segundo a
sua vontade, desde que dentro dos limites da lei. Ou em outros termos,
capacidade própria do ser humano de escolher de forma autônoma, segundo motivos
definidos pela sua consciência.
Um
dos propósitos que a liberdade apresenta é a relação com a coerção, que é usada
pelos cidadãos quando eles sentem a sua própria liberdade ameaçada. Para se
defender usam das forças garantidas pelas leis para reprimir quem os coagiu
primeiro. O propósito da liberdade está no sentido de proteger o indivíduo de
ser submetido à coerção alheia.
Exemplo,
um cidadão que não está trabalhando se sente ameaçado com a sua própria
liberdade, pois está sendo coagido no momento no direito de exercer o ofício.
Coerção essa exercida por outros indivíduos através da violência, tirando
qualquer tipo de possibilidade de escolha a quem é coagido, isso acontece
quando uma pessoa faz uso de sua total liberdade e invade a liberdade do outro.
Então para proteger a liberdade de todos, o Estado proporciona a alternativa da
pessoa coagida se defender e contra-atacar usando a força da lei.
No
momento em que um indivíduo não consegue e não pode exercer sua ocupação profissional
por preconceito e estigma da meia-idade, ele se acha aprisionado na condição do
ser que não é capaz de conduzir-se consoante as leis da sua natureza. Ou
melhor, é como se estivesse vivendo sob o regime de liberdade condicional. Ou
seja, sua liberdade é condicionada a certos requisitos normativos estipulados
pelos empregadores.
É
capaz de estar pagando um delito sem saber na representação de ausência de
experiência, falta de pós graduação, idade superior a 55 anos, onde o apenado
tem o direito de trabalhar, contudo esses requisitos limitam o campo de acesso
a liberdade, mantendo-o em liberdade privada.
Criando
outros aprisionamentos inconscientes como medo, insegurança, descrença que será
refletido na sua liberdade privada dando a impressão e o estado de quem está
preso ou detido provisoriamente por algum motivo desconhecido a ele, embora
seja livre.
Qualquer
indivíduo que por algum motivo não consiga exercer a profissão com eficiência
se sente interceptado no desempenho livre do seu papel, apontando que sua liberdade
foi usurpada em algum momento levando-o a demorar-se no aprisionamento, por
meio da compulsão a repetição. [...] Freud no seu texto “Recordar
repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da
compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado
esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto
mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou
o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Apesar
de o Estado condicionar a liberdade das pessoas através das normas, ele não a
usurpa, nem impõe as mesmas o que devem fazer, o que acontece é uma
determinação dos limites dos direitos para que ninguém venha a ter a sua
liberdade tomada pela do outro e vice-versa.
Todos
são livres para exercer seus direitos desde que respeitem o do próximo. A
liberdade individual é respeitada pelo Estado desde que a coletiva esteja sendo
respeitada pelo próprio indivíduo. “[...] Ao sentido que a pessoa tem de
conduzir sua vida por se mesma, sem direcionamentos públicos, venham estes do
Estado, da sociedade ou de outro indivíduo ou grupos de indivíduos, desde que
suas ações não causem danos a terceiros.” (BORGES, 2007, P. 113).
O
Estado e a sociedade não direcionam o que o indivíduo deve fazer com sua
liberdade, a escolhas e decisões são arbitrarias, desde que não se exceda,
interfira ou cause danos à liberdade dos outros. O cidadão dentro de uma
sociedade é livre para fazer escolhas, porém está sujeito a punição pelo
eventual dano que essas escolhas venham a causar aos outros cidadãos. E quando
só resta uma única opção a ser feita entre as escolhas limitadas, indica que
também sua liberdade está limitada.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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