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Memória, Dissociação E Perda

 Ano 2022. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208

O presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender a amnésia dissociativa consiste em um tipo de amnésia [perda da memória] provocada por trauma ou estresse e resulta na incapacidade de recordar informações pessoais importantes. Relembrar as circunstâncias traumáticas que deram origem à perda de memória costuma ser muito angustiante. O esquecimento tem um carácter seletivo e até mesmo adaptativo, digo isto com base no facto de este selecionar o que nos é útil e eliminar aquilo que temos em desuso.

A amnésia se caracteriza por uma perda de memória temporária ou um estado confusional agudo. O paciente tem um certo lapso, perde a lembrança daquele período e depois retorna ao seu estado normal. Geralmente, é mais comum em pessoas acima dos 65 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. Perda de memória sinaliza que algo não está bem com o corpo. Os esquecimentos podem ser sintomas de que algo não vai bem no corpo e as causas são diversas. Hipotiroidismo, diabetes, falta de vitaminas e até medicamentos para o sono podem influenciar no bom funcionamento da memória.

Perda de memória temporária é a perda de informação que, após um período sem lembranças, volta ao normal. Por exemplo, se você não é capaz de lembrar do nome de um ator durante a tarde, mas depois se lembra durante a noite, ou se você toma remédios que causam blackouts, você está sofrendo de perda de memória temporária.

Na amnésia dissociativa, a memória perdida costuma envolver informações que normalmente fazem parte do conhecimento consciente rotineiro ou da memória autobiográfica, exemplo, 1. Quem a pessoa é 2. Aonde a pessoa foi 3. Com quem a pessoa falou 4. O que fez, disse, pensou e sentiu. Geralmente, a memória perdida são informações sobre eventos traumáticos ou estressantes, como abuso na infância.

Outras vezes, mesmo informações esquecidas continuam influenciando o comportamento das pessoas. Por exemplo, mesmo que uma mulher tenha sido estuprada em um elevador não consiga se lembrar de detalhes do ataque, ainda assim, ela evita elevadores e não quer entrar neles.

A amnésia dissociativa é mais frequente em mulheres que em homens, normalmente pessoas que passaram ou testemunharam eventos traumáticos, como abuso físico ou sexual, estupro, guerras, genocídio, acidentes, desastres naturais ou morte de um ente querido. Ela também pode surgir de preocupações com problemas financeiros graves ou um sério conflito interno [como sentimento de culpa sobre alguns impulsos ou atos, dificuldades interpessoais aparentemente sem solução ou crimes cometidos]. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).

A amnésia dissociativa pode persistir durante algum tempo depois de um evento traumático. Às vezes, a pessoa parece recuperar as lembranças espontaneamente. A menos que haja confirmação por outra pessoa ou outras evidências, pode não ser claro se essas memórias recuperadas refletem eventos reais do passado de forma fiel e precisa. O sintoma mais frequente da amnésia dissociativa é a perda de memória.

A amnésia dissociativa é caracterizada por esquecer um evento com uma carga negativa elevada. Exemplo de um sonho, um indivíduo está entre pessoas, e se recorda que não está vestindo cueca por baixo da calça comprida, então resolve perguntar a um sujeito ao seu lado, onde está a sua cueca. E o sujeito lhe responde que está com seu primo. É nítido que o ego se encontra com algum tipo de dificuldade, no qual provoca a perda de memória temporária. Indicando que o ego bloqueou algum evento estressante que lhe consome a energia libidinal, o vigor físico.

Há experiências traumáticas que podem nos marcar por toda vida. Elas podem alterar muitos aspectos da nossa vida e dos nossos relacionamentos. O sofrimento intenso produz um forte impacto e, com o objetivo de nos proteger, nossa mente afasta do processo de recuperação o evento traumático ou certas características associadas a ele. A amnésia dissociativa não necessariamente ocorre imediatamente após o início do evento estressante, ela pode ocorrer após várias horas ou até mesmo dias. Amnésia dissociativa ocorre quando uma pessoa bloqueia determinadas informações, geralmente associadas a um evento estressante ou traumático, deixando ele ou ela incapaz de recordar informações pessoais importantes.

A perda de memória pode envolver qualquer um dos casos a seguir, um ou vários eventos específicos ou um período específico, como os meses ou anos de abuso de uma criança ou os dias passados em combate intenso [amnésia localizada]. Apenas certos aspectos de um evento ou apenas certos eventos de um período [amnésia seletiva].

Identidade pessoal e toda a história de uma vida, às vezes incluindo habilidades consolidadas e informações sobre o mundo [amnésia generalizada]. Informações em uma categoria específica, como todas as informações sobre uma pessoa em particular ou sobre sua família [amnésia sistematizada]. Cada novo evento conforme ocorre [amnésia contínua]. A amnésia generalizada é rara, é mais comum entre veteranos de guerra, pessoas que foram violentadas sexualmente e pessoas que passaram por estresse ou conflitos extremos e geralmente começa de repente. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.

A amnésia pode não aparecer imediatamente após um evento traumático ou estressante. Pode levar horas, dias ou mais tempo para aparecer. Logo após a perda de memória, algumas pessoas parecem confusas. Algumas se sentem bastante angustiadas. Outras se sentem estranhamente discordantes. A maioria das pessoas com amnésia dissociativa tem uma ou mais falhas de memória.

As falhas duram em geral de alguns minutos até algumas horas ou dias, mas também podem durar anos, décadas ou a vida inteira. A maioria das pessoas não tem consciência ou tem apenas consciência parcial de que tem falhas em sua memória. Elas só percebem posteriormente, quando a lembrança reaparece ou quando são confrontadas com evidências de coisas que fizeram, mas das quais não se lembram. A pessoa afetada tem dificuldade de formar e manter relacionamentos.

Como diferenciar um esquecimento ou lapso de memória de um problema mais grave? O importante é observar qual é o incomodo apresentado e com qual frequência ela aparece. Esquecimentos eventuais, especialmente em momentos de muito cansaço ou estresse emocional, costumam ser aceitáveis. Principais causas de esquecimento ou lapso de memória. Estresse e ansiedade, a ansiedade é a principal causa de perda de memória em todas as faixas etárias, principalmente em jovens. Nesta condição, ocorre ativação de múltiplas regiões cerebrais e aumento da atenção e hiper vigilância a estímulos ameaçadores, levando a lapsos de memória por desatenção e falta de concentração. Por esse motivo, é comum haver uma perda de memória repentina em situações como uma apresentação oral, uma prova ou após um acontecimento estressante.

Além disso, estudos científicos vêm demonstrando que situações de estresse crônico levam à liberação excessiva do hormônio cortisol. Isso pode prejudicar a memória a curto prazo ou até mesmo causar a atrofia regiões do cérebro relacionadas ao armazenamento de informações.

Depressão, importante causa de esquecimentos em jovens, principalmente devido à redução de neurotransmissores essenciais para as funções cognitivas, como a serotonina, dopamina e noradrenalina. Além de causar disfunção executiva [dificuldade no planejamento e realização de tarefas] e déficit de atenção. É comum déficit na velocidade de processamento das informações. Pacientes habitualmente queixam-se de estarem mais lentos para realizar as tarefas do dia a dia.

Privação de sono crônica, durante o sono ocorrem diversas funções importantes para o nosso organismo como a regulação das funções endócrinas, restauração da energia e do metabolismo cerebral, a reparação dos tecidos, além da consolidação das memórias.

Assim, a privação do sono [dormir menos que 6 a 8 horas], especialmente quando é crônica ou acontece de forma repetida, pode trazer graves consequências à saúde, como prejuízos à memória e aprendizado, dificuldade em tomar decisões, redução da atenção, alterações do humor e risco de desenvolver doenças psiquiátricas.

Medicamentos, o uso prolongado e indiscriminado de remédios sedativos, hipnóticos [como o zolpidem], ansiolíticos, antidepressivos, relaxantes musculares, anticonvulsivantes e calmantes [como Rivotril e Diazepam] podem afetar a memória e causar esquecimentos.

Falta de atenção, a simples falta de atenção em alguma atividade ou situação, faz com que se esqueça muito mais rápido de alguma informação, portanto, quando se está ou se é muito distraído, é mais fácil esquecer de detalhes como um endereço, o número de telefone ou onde se guardou as chaves, por exemplo, não sendo necessariamente um problema de saúde.

Falta de vitamina B12 ou a deficiência de vitamina B12 acontece em veganos sem acompanhamento nutricional, pessoas com desnutrição, alcoólatras ou pessoas que tenham alterações na capacidade de absorção do estômago, como na cirurgia bariátrica, pois é uma vitamina que adquirimos através da alimentação equilibrada e, preferencialmente, com carne. A falta desta vitamina altera o funcionamento cerebral, e prejudica a memória e o raciocínio.

Uso de drogas, o álcool em excesso e o uso de drogas ilícitas, como maconha e cocaína, além de interferirem no nível de consciência, têm um efeito tóxico sobre os neurônios, o que pode prejudicar as funções do cérebro e a memória. Relembrar as circunstâncias traumáticas que deram origem à perda de memória costuma ser muito angustiante. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.

Por que guardamos algumas informações e outras não? Isso acontece, pois, a aquisição da memória depende do interesse. Quanto mais atenção você dedica a um assunto, mais fácil será aprende-lo. O interesse, por sua vez, liga-se a motivação, a sua percepção e a importância que têm para você. Um bom exemplo está no colégio.

Minhas notas de psicologia social eram medianas, quando não, inferiores à média. Em todo o caso, as de psicologia cognitiva e psicanálise eram muito boas. Isso pois, eu gostava do assunto, percebia minha habilidade em argumentar, refletir e tinha em mente a psicologia. A memória de curto prazo permite guardarmos pequenas informações por um período curto de tempo.

E a memória de longo prazo permite o indivíduo a guardar uma grande quantidade de informação por muito tempo. Ela resulta na aprendizagem. Há pessoas que conseguem guardar um número de telefone imediatamente. Porém, são incapazes de dizer o que comeram ontem. A memória implícita envolve as atividades motoras, como aprender a andar, costurar e praticar esporte.

Tudo que envolve habilidades. De imediato a memória explícita é responsável pelo conhecimento acadêmico e pessoal. A memória sensorial é um sistema de memória que através da percepção da realidade pelos sentidos retém por alguns segundos a imagem detalhada da informação sensorial recebida por algum dos órgãos de sentido. A memória sensorial é responsável pelo processamento inicial da informação sensorial e sua codificação.

A memória associativa e memória não associativa, estão ligadas a alguma resposta ou comportamento. A associativa é usada, por exemplo, quando ao olharmos para um alimento saboroso começamos a salivar associado a lembrança do cheiro, sabor ou aspecto do alimento. Com antecedência a memória não associativa aprendemos sem perceber. Exemplo, o latido de um cão não traz riscos, fato que nos faz ignorá-lo.

Portanto, às vezes essa perda de memória surge como a única maneira de escapar de um sentimento de profunda angústia ou vergonha. Por isso, pode ser confundida com fingimento, já que, em última análise, ambos fazem a pessoa fugir das suas responsabilidades. Amnésia seletiva, na qual o sujeito se recorda de algumas informações, mas não completamente. Por exemplo, a pessoa pode se lembrar de uma parte de um trauma, mas não completamente.

 

Referência Bibliográfica

AMERICAN Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.

FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968

FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.

FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII

MARKOWISTSCH HJ, Kessler J, Weber-Luxenburger G, Van der Ven C, Heiss W-D. Neuroimaging and behavioral correlates of recovery from ‘mnestic block syndrome’ and other cognitive deteriorations. Neuropsychiatry Neuropsychol Behav Neurol 2000; 13: 60–66

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