Ano 2022. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender o sentimento de culpa
mediante a ação da desistência de alguma coisa na vida, um processo seletivo,
um emprego, um relacionamento, uma viagem, um curso acadêmico, um investimento,
de frequentar uma igreja, uma amizade, um tratamento médico, de um desejo
incestuoso e o que você pensar enquanto lê este artigo. Neste artigo vou
discorrer o tema processo seletivo. O texto permite que você leitor se coloque
nas perguntas e se questione. A culpa acontece nos momentos em que o indivíduo
escolhe uma tomada de decisão, mesmo se fundamentando nas mais diversas
informações para tomar a decisão mais assertada. o ego do indivíduo desenvolve
uma proteção contra a ansiedade que consiste em negações inconscientes ou
distorção da realidade. Chamamos essa proteção de mecanismos de defesas,
simplificando, poderíamos dizer que os mecanismos fazem com que o sujeito
possua algumas anormalidades para preservação de seu ego.
Sigmund
Freud, classificava a ansiedade em três tipos: Realística, Neurótica e Moral.
Sendo elas: A realística seria o medo de alguma coisa do mundo externo [por
exemplo: punição dos pais, dos amigos, do desemprego]. [A ansiedade moral seria
aquela que decorre do medo de ser punido [sentirei culpa se fizer o que estou
querendo fazer, exemplo não participar do processo seletivo para a vaga de
repositor]. E a ansiedade neurótica que é o medo inconsciente, não se sabe qual
é o objeto. Esta última ocorre devido a natureza perturbadora e assustadora,
cuja consciência não possui estruturas no momento, porém quando é analisada a
ansiedade se torna realista ou moral.
Analisamos
a ansiedade como uma sensação virtualmente presente em qualquer pessoa e
funciona como importante sinal de alerta, ou seja, todos os indivíduos possuem
ansiedade em maior ou menor grau. Tornando-se patológico caso traga prejuízos
significativos na vida do indivíduo. Por exemplo, é normal quando um indivíduo participa
de um processo seletivo que se sinta ansioso alguns minutos antes de iniciar,
porém, quando a ansiedade apresenta prejuízos na vida tais como: insônia,
taquicardia, calafrios, sudorese, falta de ar, tremores e outros. Podemos
analisar que é necessária uma intervenção psicoterapêutica [psicólogo] e
psiquiátrica [médico psiquiatra]. Ou ainda quando o sujeito vai marcar um
encontro de namoro, na aquisição de um automóvel novo na concessionária, na
escolha de um curso universitário que será sua profissão no futuro, ao embarcar
num navio para realizar o tão esperado cruzeiro, na compra da casa própria e
outros.
Assim,
o que se percebe, e o que Freud elucida, é a busca inconsciente pela lei [norma
de conduta, poder soberano]; ou ainda, a necessidade da procura de uma lei
externa [poder soberano, regra] que venha aliviar o conflito gerado pela briga
entre o superego e o ego. A culpa talvez seja um dos tipos de sentimento mais
familiar aos homens. Se pensarmos em culpa, rapidamente podemos imaginar
inúmeras situações ou experiências onde a culpa se mostrou presente ou ainda
muito presente. Exemplo, um indivíduo desempregado, recebe por Whatsapp convite
para participar de processo seletivo para a vaga de repositor e o mesmo aceita.
Porém o sujeito não tem experiência na vaga e por ter sido desclassificado
outras vezes neste processo acaba por desistir do processo seletivo. E dias
depois, passa a sentir sentimento de culpa, pois começa a pensar que poderia
ter sido aprovado no processo, porque está na meia-idade e precisa trabalhar.
Talvez
por ser este sentimento algo muito próprio à natureza humana, ou ainda
estruturante ao psiquismo. Mas certamente esse tipo de culpa comum a todos ou facilmente
imaginado, não se trata do sentimento de culpa que Freud observou na clínica ou
ainda imaginou ser o resultado de um conflito muito particular entre superego e
o ego. A culpa que estamos de uma certa forma familiarizados é resultado de uma
causa, ou ainda um estado consciente. Sentimos culpa por termos feito algo
errado [o sujeito desistiu do processo seletivo e pensa ter feito algo errado] ou
ficamos culpados por não termos assumidos algo que havíamos nos comprometidos
[a participar do processo seletivo, mas mudou de postura]. Isto é, o sentimento de culpa possui uma
origem, é uma consequência, não originário. Neste sentido é consciente, como os
sentimentos o são.
O
sentimento de culpa teria uma origem inicial no medo da perda da vaga de
repositor de loja no Atacado Tenda. Assim, o sentimento de culpa consciente
estaria intimamente ligado ao pavor de desproteção [desemprego]. Perder a vaga
do Atacado Tenda significa continuar exposto aos perigos do desemprego, sobretudo
ao perigo de sofrer a punição que o desemprego e a desistência da vaga de
repositor pode provocar.
Portanto,
tudo que provoque uma sensação de ameaça a perda da vaga de repositor, pode ser
marcado como um sentimento mau. Neste sentido, a culpa está diretamente ligada
a uma angústia empregatícia. Sentimento este que é muito próprio dos
desempregados que se percebem desprotegidos no processo seletivo ou em adultos
que mesmo conscientes desafiam o recrutador em busca de prazer; ainda que o
medo de serem descobertos esteja bastante presente. Desta forma o perigo só se
instaura quando a recrutador descobre a infração. Por isso, faz tão pouca
diferença pretender fazer algo irregular ou mesmo faze-lo; a culpa está no
perigo de ser apanhado ou de ser repreendido.
A
entrada do superego no funcionamento psíquico provoca uma importante mudança na
relação entre o ego e suas vinculações. Ao internalizar o processo seletivo, ao
estabelecer uma instância superegoica, o trabalho psíquico promove uma ordem
interna julgadora. A lei [norma de conduta], ou seja, a noção de certo ou
errado já não mais está fora do sujeito e sim presente em sua consciência.
Perante o superego não há segredos, não se distingue pensamento de ato, ainda
que a efetivação de um pensamento traga importantes consequências à vida social
do sujeito. É fundamental saber que a punição não virá de fora, ela já está
presente consciente ou inconscientemente por que o sujeito escolheu desistir do
processo seletivo da vaga tal.
O
superego atormenta o ego que desistiu da vaga de repositor com o mesmo
sentimento de ansiedade e fica à espera de oportunidade, e espera fazê-lo ser
punido pelo mundo externo/ e ou desemprego. O sentimento de culpa e a tensão
permanente entre o ego e o superego tomam um caráter permanente e amplifica o
medo do desemprego. O sentimento de culpa, seja anterior ao superego e anterior
mesmo a consciência, pois tem origem na relação do ego com o desemprego e suas vagas
de empregos; é derivado substancialmente dos conflitos entre ego e o medo da
perda da vaga de repositor e sobretudo da tensão.
A
consciência é o lugar do sofrimento. É o ego a instância psíquica que
responderá pelo conflito entre o id e o superego. O sentimento de culpa é,
portanto, anterior à consciência, mas sobretudo um produto pulsional reprimido,
ou, a atuação deste superego, em linhas gerais, teria como impulso o sentimento
de culpa e como força propulsora a agressividade do id, defletida/desviada da
vaga de repositor e redirecionada para o ego. No masoquismo moral o próprio
sofrimento é que importa.
No
masoquismo moral a pulsão destrutiva se voltou para o próprio ego e estabelece
um duro poder contra essa instância. O sentimento de culpa então ganha uma
aparência mais clara. Ainda que possa parecer estranho para todos nós,
sobretudo para os desempregados, algo inconsciente provoca um tipo de
sentimento culposo; é isso que se observa no masoquismo moral. Pressionado pela
necessidade de punição [função do superego], o ego reage com angústia e com
enorme sofrimento à consciência de estar a quem do ideal a ele exigido. Esse
tipo de sentimento e opressão é misturado ao desejo de identificação.
O
superego reteve características essenciais dos processos seletivos introjetados
a sua força, sua severidade, e sua inclinação a supervisar e punir. (...) O superego,
a consciência em ação no ego pode então tornar-se dura, cruel e inexorável
contra o ego que está a seu cargo. O fato de o sujeito necessitar da punição
para satisfazer um desejo inconsciente produz a busca por um emprego. Emprego este
que está acima do processo seletivo internalizado, ainda que rigorosa é uma
vaga de emprego insuficiente, portanto se faz necessário outro representante de
outra vaga, agora suprema. O superego, aqui, assume a sua característica sádica,
atormenta o ego desempregado com o mesmo sentimento de ansiedade citado no
início do artigo.
Neste
estágio, a consciência passa a apresentar uma característica paradoxal, quanto
mais virtuoso é um desempregado, mais severo e desconfiado o seu comportamento.
Freud assinala que, em última análise, são exatamente as pessoas que levaram
mais longe a sua santidade as que se censuram dos piores pecados/ e ou transgressões.
Desta forma, o sentimento de culpa pode ter duas origens, uma que surge do medo
do desemprego e outra, posterior, que surge do medo do superego. A primeira
insiste em uma renúncia às satisfações impulsivas; e a segunda, ao mesmo tempo
em que faz isto, exige punição, já que não é possível esconder do superego a
continuação dos desejos proibidos de desistir da vaga de repositor.
Portanto,
a renúncia à satisfação das pulsões não é suficiente, pois o desejo persiste e
não pode ser ocultado do superego. Como já vimos, a tensão entre o ego e o
superego clama por punição. O indivíduo se sente culpado, sem saber de que, e o
superego lhe diz, cometestes um crime e deves ser punido por desistir da vaga
de repositor, porque está desempregado. Este
sentimento é tão forte que a pessoa acaba por cometer alguma ação má [exemplo,
contando a alguém que desistiu da vaga de repositor para que possa ser absolvido
pelo ato ou julgado como insano, ou seja, qual desempregado em são consciência
desisti de participar de processo seletivo] que lhe traga a punição pela qual o
superego anseia, ou fica preocupado querendo buscar na consciência resposta se
agiu certo desistindo da vaga de repositor, exemplo.
Mas de onde surgi este obscuro sentimento de
culpa? Diz Freud: "O resultado invariável do trabalho analítico era
demonstrar que esse obscuro sentimento de culpa provinha do complexo de édipo substituía
uma reação às duas grandes intenções criminosas de matar o pai e de ter
relações sexuais com a mãe." Ou
seja, o candidato tem o desejo de aliviar-se da culpa por desistir da vaga de
repositor e ter prazer com outra vaga de emprego no processo seletivo.
De
acordo com Freud, o sentimento de culpa seria uma forma de manifestação deste
medo e expressaria a angústia sentida pelo ego quando não consegue se colocar à
altura das exigências superegóicas, e por isto teme ser punido (castrado) por
ele, assim como temia ser punido pelo pai. O superego vem desempenhar,
portanto, o papel que era próprio à autoridade externa, exigindo renúncia
pulsional e punição. A diferença entre o superego e as autoridades externas é
que o superego é onisciente em relação aos desejos inconscientes. O resultado é
que “uma ameaça de infelicidade externa – perda do amor e castigo por parte da
autoridade externa – foi permutada por uma permanente infelicidade interna,
pela tensão do sentimento de culpa” (Freud 1930, p. 131).
A
culpa inconsciente está quase sempre relacionada a eventos ou situações contra
as quais existe algum tabu [preconceito] ou que são considerados insuportáveis,
desistir de processo seletivo, desistir do namoro ou casamento, desistir do
emprego, desistir da viagem e por aí vai. Às vezes, tem a ver com ações que
foram realizadas, mas outras vezes está simplesmente relacionado a pensamentos
ou desejos que são conscientemente rejeitados.
Uma
das formas habituais de manifestação da culpa inconsciente é através de um
constante desconforto consigo mesmo. A culpa inconsciente e a ansiedade são uma
das manifestações mais frequentes e, mais especificamente, a angústia. É uma
preocupação imprecisa e intensa. É como se algo terrível fosse acontecer, mas
não se sabe de onde vem a ameaça ou por que esse evento catastrófico ocorrerá.
Esse tipo de culpa é chamado de culpa persecutória. Às vezes, é muito invasiva
e deixa as pessoas muito ansiosas. Geralmente, nela há algo que é temido e se
torna um perseguidor. Pode ser uma doença, a velhice, um deus, o diabo, o filho
que imagina sendo assassinado pela figura paterna ou qualquer outra coisa.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1930). O mal-estar na civilização. In: FREUD, S. Obras completas. Rio de
Janeiro: Imago, 1996. vol. XXI.
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