Ano 2022. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender o sentido e significado
de trabalho na sua vida. Qual razão para não trabalhar ou trabalhar em
subempregos? Qual o sentido e significado para permanecer prospectando clientes
nas redes sociais sem êxito? Qual a diferença entre significado e sentido?
Podemos dizer que o significado expressa com clareza o que algo quer dizer ou
representar. O sentido pode estar relacionado a atenção, ou sensações de origem
interna ou externa. Foram produzidos para nos mostrar o significado, o sentido
e a importância da palavra trabalho.
O
ser humano está sendo forçado a dar um salto evolucionário para o qual não teve
tempo de se preparar. A História nos mostra períodos de inovações que exigiram
adaptações quanto a conhecimentos, atitudes e habilidades, mais ou menos
intensas, todas sem precedentes. A busca desta adaptação tem sido colocada como
prioritária pelo homem moderno, como condição de sobrevivência. Parecem não
haver alternativas a curto prazo, a não ser a de interagir com o movimento.
Empresas e empregados respondem procurando se antecipar às necessidades, antevendo
novas regras de mercado, propondo outras realidades, concretas e virtuais. É
preciso desenvolver novos valores, tecnologias e produtos, a fim de alcançar
parâmetros mínimos de competitividade e subsistência. É o primeiro contato
objetivo com o mundo do trabalho.
O
adulto estará exposto a oportunidades que tanto poderão comprovar suas
possibilidades de industriosidade quanto de conduzi-la a sentimentos de
inadequação e inferioridade. A comprovação de que é capaz de produzir facilita
a inserção e locomoção no grupo social, e o fracasso nas habilidades de
produção desencoraja a participação no grupo e no mundo das ferramentas. O
insucesso traz à tona raivas submersas decorrentes da frustração dos impulsos.
A partir da entrada efetiva no mundo do trabalho, o adulto começa a testar e
validar as expectativas criadas.
O
vínculo se dá a partir do momento em que o trabalho mostra relação com as
expectativas, interesses pessoais, e perspectivas de crescimento pessoal e
profissional. O nível de comprometimento, e porquanto da qualidade do produto,
estão diretamente afetados pelo sentido que faz na vida do sujeito o objeto de
seu trabalho. O fato de que a maioria dos trabalhadores hoje não consegue
visualizar sentido em seu trabalho, não significa que a simples sobrevivência
basta. O indivíduo deixa para viver a vida fora do contexto ocupacional,
indicando que o vazio precisa ser preenchido de alguma forma. Defronta-se com
conflitos como, não dever esperar do trabalho mais do que ele lhe pode
oferecer, pois é apenas uma parte da vida, ao mesmo tempo em que se obriga a
ter que se dedicar cada vez mais a ele, em tempo e energia. O mesmo acontece na
prospecção de clientes nas redes sociais, sinalizando um vazio a ser
preenchido, encontra-se num emaranhado de conflitos, onde não pode esperar do
cliente/paciente mais do que lhe pode ofertar o lhe obriga a dedicar-se mais
ainda consumindo tempo e energia libidinal.
O
desequilíbrio ocasionado pelo peso maior colocado neste papel traz consequências
pessoais e sociais, atingindo diretamente a qualidade de vida pessoal, familiar
e comunitária. Em última instância, o próprio trabalho tende a ser prejudicado
porque é mantido a partir de um superfuncionamento, em detrimento do
subfuncionamento dos aspectos pessoais do indivíduo. A repercussão, seja em
nível técnico, seja em nível interpessoal, é inevitável. A crise atual de
valores, as buscas de respostas mágicas, a corrida ao misticismo, a procura do
significado da vida, por vezes de formas tão tortuosas, demonstram claramente
que anseios profundos do ser humano têm sido amplamente desconsiderados pela
sociedade atual.
O
espaço que o trabalho ocupa na vida de qualquer ser humano produtivo é
imensamente maior do que o de subsistência pura e simples. Quer a ele seja
agregado prazer ou desprazer, jamais passa desapercebido. Ou é uma carga a ser angustiadamente
carregada, ou um meio de se atingir uma meta maior, parte de um objetivo de
vida. O trabalho é percebido como missão, vocação, caminho, valor, fonte de
prazer, satisfação e autorrealização, sendo estes significados predominantes na
sociedade moderna industrial. O trabalho é percebido como, castigo, um meio de
sobrevivência. É visto como um caminho para realizar objetivos/sonhos. Se
formos avaliar pela palavra trabalho, ou seja, instrumento de tortura,
percebemos que não é raro ver pessoas desmotivadas no ambiente de trabalho, por
acreditarem que oportunidade de crescimento e maiores ganhos financeiros
raramente possam surgir. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer”
(1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Assim
ao invés de buscarem mostrar desempenho e motivação, para conseguir esses
benefícios de promoção ou mérito, ficam desmotivadas esperando que algo
aconteça para que elas comecem a melhorar. Mais o que nós trabalhadores
precisamos entender, qualquer que seja a função ou atividade que estejamos
exercendo, quem dá o sentido ou o devido significado, para o que fazemos somos
nós e esse vai determinar qual dedicação iremos colocar na execução das
atividades, portanto, se o significado for muito forte você fará seu trabalho
motivado, com eficiência e eficácia. Entretanto se o significado for muito
baixo a dedicação que será investida na execução das tarefas ocasionará a perda
de motivação.
À
medida que a sociedade fica mais bem sucedida, as expectativas das pessoas
aumentam e, por isso, elas ficam ingratas sobre coisas que seus pais ou seus
avós ficariam muito agradecidos. Nós somos uma espécie ingrata. Nós sempre
pensamos naquilo que nós não temos. Então temos que encontrar um sentido
importante para o trabalho, senão passaremos parte das nossas vidas
desmotivados, desanimados e sem esperanças. O trabalho nos ajudará a
conquistarmos o que desejamos, então, se mantermos essa visão sobre o trabalho,
teremos um sentido amplo em nossas vidas.
Trabalhar
sem vontade ou sem grandes significados, faz com que a rotina nos distancie dos
nossos sonhos, portanto, temos que tentar visualizar o nosso trabalho como uma
missão, como uma forma de ser útil, de servir outras pessoas e sermos
importantes naquilo que fazemos. Mas como um indivíduo com formação acadêmica
em psicologia pode perceber no seu trabalho de telemarketing ou qualquer outro
subemprego uma missão, como forma de ser útil, de servir outras pessoas e ser
importante naquilo que está fazendo se não está atuando na sua área de
psicologia e ainda sofre com a falta de cliente no consultório seja online ou
presencial?
Ou
seja, trabalhar naquela função que não traz sentido para você, como,
telemarketing, subempregos ou qualquer que seja o emprego que o afasta do campo
da psicologia se aperceberá com a sensação de inutilidade, porque não está
contribuindo para a saúde mental das pessoas. Ou seja, o psicólogo se afastou
dos objetivos acadêmicos, científicos o que não contribui para a evolução dos
cidadãos no trato da saúde mental na sociedade. Não há a função social enquanto
psicólogo, muito menos a abrangência social porque seu trabalho não está sendo
realizado para gerar prevenção ou remediação nas questões de doenças
emocionais.
Quando
temos um devido sentido no nosso trabalho, não temos preguiça ao acordar [Claro
se estivermos respeitando a regra de dormir ente 7 e 8hs por dia, acompanhada
também de qualidade de vida, exercícios físicos, e saúde psíquica e orgânica],
não temos resistência para nos dedicarmos um pouco mais às nossas atividades e
concluímos os trabalhos iniciados. Rememore que o trabalho é o ambiente mais
apropriado para evoluirmos e crescermos como seres humanos, pois através do
trabalho é possível desenvolvermos nossas habilidades, contribuirmos com o
nosso progresso e de outros, aprimorar relacionamentos interpessoais,
conhecermos nossas limitações e como já dito ajudar com nossos objetivos,
portanto, não escolha fazer de seu trabalho um sacrifício diário. Até no
subemprego que é percebido como ambiente desfavorável é possível evoluir e
crescer na competência, habilidades e atitudes, mas também é possível
desenvolver comportamentos repetitivos que levam a um quadro de doenças
psicossomáticas.
Três
estados psicológicos teriam, assim, um impacto importante na motivação e na
satisfação de uma pessoa no seu trabalho: o sentido que uma pessoa encontra na
função exercida, o sentimento de responsabilidade que ela vivencia em relação
aos resultados obtidos e o conhecimento de seu desempenho no trabalho. Para
Hackman e Oldham, um trabalho tem sentido para uma pessoa quando ela o acha
importante, útil e legítimo. Segundo o modelo de Hackman e Oldham, três
características contribuem para dar sentido ao trabalho:
1.
A variedade das tarefas, a capacidade de um trabalho requerer uma variedade de
tarefas que exijam uma variedade de competências. 2. A identidade do trabalho, a
capacidade de um trabalho permitir a realização de algo do começo ao fim, com
um resultado tangível, identificável. 3. O significado do trabalho, a
capacidade de um trabalho ter um impacto significativo sobre o bem-estar ou
sobre o trabalho de outras pessoas, seja na sua organização, seja no ambiente
social.
Segundo
Brief e Nord (1990), o único elemento que reúne os múltiplos significados é: uma
atividade que tem um objetivo. Geralmente, essa noção designa um gasto de
energia mediante um conjunto de atividades coordenadas que visam produzir algo
de útil (Fryer e Payne, 1984; Shepherdson, 1984). O trabalho pode ser agradável
ou desagradável; ele pode ser associado ou não a trocas de natureza econômica.
Ele pode ser executado ou não dentro de um emprego. De acordo com Fryer e Payne
(1984), o trabalho seria uma atividade útil, determinada por um objetivo
definido além do prazer gerado por sua execução.
Qual
sentido o trabalho tem em sua vida? O trabalho transforma as pessoas,
desenvolve habilidades, ensina sobre nossas forças e limitações, auxilia a nos
relacionarmos melhor com outras pessoas e, principalmente, altera a visão que
temos do mundo e de nós mesmos. Por tanto qual o sentido e significado que um
indivíduo tem em permanecer procurando vagas em subempregos, sendo que possui
uma formação acadêmica. Qual a razão para não se permitir desistir deste
comportamento repetitivo?
O
trabalho comum é entendido como algo repetitivo, maçante, muitas vezes
perigoso, penoso, sujo e fisicamente esgotante. Diante dessas características,
ele passa despercebido pela sociedade frente à invisibilidade pública e ao
desprestígio social que lhe é atrelado. A resistência em renunciar de modo
voluntário e consciente a não querer continuar trabalhando em subempregos,
mantem o indivíduo na compulsão a repetição da autopunição. [...] Esse
medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
Segundo
Rose, mesmo sendo um trabalho duro, alvo de reclamações, instável e uma ameaça
ao corpo e a dignidade, o indivíduo tende a procurar sentido no desenvolvimento
da sua atividade, pois tem no trabalho um amparo contra a pobreza, visto que,
na sua ausência, as implicações podem ser graves (Rose, 2007).
Além
de fonte de sustento (Morin, 2001) e atividade autodeterminada, externa à
relação dinheiro-mercadoria (Dourado, Holanda, Silva & Bispo, 2009), o
trabalho é também um meio para se relacionar com os outros, uma ocupação e uma
forma de se sentir pertencente a uma comunidade (Morin, 2001). Assim, o
trabalho tem diversos sentidos para os sujeitos.
O
trabalho pode ser definido como uma atividade intencional de transformação da
realidade e de si mesmo. É visto também como um importante elo do ser humano
com a natureza. O trabalho, especialmente mediante o uso de instrumentos
fabricados pelo homem, faz parte da condição humana e nos diferencia de outros
animais. Somos capazes de criar e usar recursos intelectuais, físicos,
materiais e simbólicos para promover transformações. Buscamos continuamente
meios mais eficazes de realizá-lo.
Entretanto,
a forma como o trabalho é dividido na maioria das vezes não é justa,
estabelecendo situações de exploração baseadas na apropriação da mais-valia
pelos empregadores. Além disso, ao estar sustentada na tradição que separa
trabalho intelectual e braçal, a nossa sociedade valoriza de modo distinto, por
meio de recompensas econômicas e simbólicas, algumas atividades de trabalho em
detrimento de outras (Anthony, 1977). Algumas são consideradas mais nobres do
que outras com efeitos no status social ocupacional e nas condições de trabalho
e de remuneração.
Os
significados e sentidos do trabalho são conceitos interrelacionados e nos
ajudam a criar vínculos com as atividades que realizamos, principalmente
aquelas pelas quais somos remunerados. Ambos os conceitos envolvem a
subjetividade humana, compreendida como a forma de vinculação com o mundo. Os
significados e sentidos revelam-se também como manifestações singulares [refletindo
as trajetórias individuais] e socioculturais [formas diferenciadas de inserção
social]. Supõem a interação humana mediada por múltiplos símbolos culturais
incorporados e processos de socialização distintos. Por isso, acabam por
expressar várias contradições. O trabalho pode significar dignidade e
humilhação, saúde e adoecimento ocupacional, prazer e sofrimento, sustento
econômico e dureza de enfrentamento, desafios e riscos de acidentes, fonte de
amizades e discórdias etc. (Bendassoli, 2009; Borges & Barros, 2015; Borges
& Tamayo, 2001).
Numa
perspectiva cognitiva-construtivista, os significados atribuídos ao trabalho
são componentes de um processo subjetivo que inclui tanto a história do
indivíduo como sua inserção social. Assim sendo, os autores abordam o
significado do trabalho como uma cognição subjetiva, sócio-histórica e
dinâmica, sendo então compreendido como o processo incessante de mudança do
mundo e do indivíduo, portanto, um constructo inacabado (Borges & Tamayo, 2001).
Para
a compreensão dos significados e sentido do trabalho na contemporaneidade,
deve-se considerar que o trabalho, apesar de passar por constantes
transformações, continua representando um valor fundamental nas sociedades
contemporâneas, como fonte de subsistência das pessoas e autoestima e
realização, exercendo uma influência relevante na motivação dos trabalhadores,
assim como na sua satisfação e produtividade (Morin, 2001).
Uma
contribuição social que faz sentido: o trabalho deve permitir a união entre o
exercício de atividades e suas consequências sociais. Isto contribui à
construção da identidade social e protege a dignidade pessoal. Esse âmbito do
trabalho reconhece o prazer de contribuir para a sociedade. Por meio do
trabalho temos oportunidades de: construir a identidade, interagir e ter
suporte social, encontrar um propósito ao qual valha a pena se dedicar,
despender tempo de modo relevante, encontrar desafios, adquirir status e obter
renda (Zanelli, Silva & Soares, 2010).
Nessas
circunstâncias, temos o que Snyder e Lopez (2009) denominam de atividade
gratificante. O que significa fazer trabalhos que confiram propósitos
importantes à existência humana, de modo que, ao serem feitos, contribuam para
a formação de percepções e sentimentos decorrentes de que a vida no trabalho
vale a pena. Entre outros fatores determinantes, um trabalho provido de
significado contempla em suas características essenciais a participação do
trabalhador na identificação e solução de problemas, que de modo direto ou indireto
poderão repercutir na sua vida pessoal e no trabalho (Roche & Mackinnon,
1976).
Qual
a razão para trabalhar em função que não faz sentido e não traz significado? O
pensar na aposentadoria, leva o sujeito a submeter-se às vezes a qualquer tipo
de mão-de-obra para que possa contar tempo de registro na carteira
profissional. Às vezes o sentimento de não pertencer surge quando somos mal
interpretados ou quando sentimos que nossas opiniões e habilidades são
desvalorizadas por pessoas que consideramos próximas. A necessidade de amor,
aceitação e valoração da pessoa que somos é básica e por isso quando sentimos
que não estamos sendo vistos ou reconhecidas temos a sensação de não pertencer
e, às vezes, a partir da avaliação do outro, passamos a desconfiar de nós
mesmos.
Precisamos
analisar nossas identidades e valores, e nosso relacionamento conosco mesmo,
criando pertencimento interno. A partir daí, podemos encontrar maneiras de
conectar nosso eu autêntico com o que está ao nosso redor. Com essa perspectiva,
podemos realmente encontrar pertencimento em quase todos os lugares. Nos
sentirmos pertencentes a algo, a pessoas, a lugares é fundamental para a nossa
existência como pessoas, e conseguimos através das nossas relações humanas,
começando com a relação que temos com nós mesmos e com o que sentimos.
Há
uma necessidade de pertencer a mim, com a pessoa que sou, restabelecer os
vínculos e o amor próprio para também estar vinculada ao outro. Por meio do
trabalho o indivíduo constrói a identidade profissional e quando esse mesmo
sujeito trabalhou em vagas de subempregos, constata-se que construiu
identidades profissionais relacionadas a subempregos. E quando não mais
consegue se reinserir no mercado de trabalho através destas identidades subempregos
construídos, gera decepção e como consequência a perdas das identidades
subempregos que perdem o sentido e significado do subemprego.
Será
que este sujeito se permite, desistir das identidades profissionais subempregos
construídos ao longo dos empregos? E como se sentira ao desistir dos
subempregos? É provável que a desistência traga junto consigo sentimentos de
fracasso, compreensão que o mercado de trabalho não absorve sujeitos na
meia-idade, raiva, culpa por ter investido tempo, dinheiro, esforços físicos e
mentais em outra formação que também não apresenta êxito, desorientação quanto
o caminho a ser trilhado, preocupação com o que as pessoas podem pensar sobre a
desistência dos subempregos. Aceitar as perdas de identidades construídas no
subemprego. Mas se o sujeito desistir de continuar procurando se reinserir no
mercado de trabalho por meio de subempregos, como ficará a sua aposentadoria?
Que outra opção resta a este sujeito para que possa ter o sustento através de
uma renda fixa.
Perceber
que está sozinho e não pertence a nenhuma instituição ou organização, pois não
possui vínculo afetivo e nem empregatício. Está privado de interação social ao
estar não reinserido no mercado. Perda de autonomia financeira por falta de trabalho.
Porém traz alivio consciente da compulsão a repetição da angustia. Embora esse
alívio seja temporário, o que faz içar outra angustia pela busca de um novo
caminho a ser seguido, onde ainda não sequer foi visto, pensado, compreendido. [...]
Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que
começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
O
sentimento de pertencimento e amor começa quando conseguimos desenvolver esse
sentido de existência em nós mesmos. A experiência de se sentir acompanhado por
si nos dará a chance de nos conectar com pessoas que sentem o mesmo por nós e
nós por elas. Tem quem veja o trabalho apenas como uma forma de garantir o
próprio sustento. Porém, mais do que fornece o sustento, o trabalho tem uma
grande importância na vida de um indivíduo. Trabalho tem a ver com ser útil e
contribuir com uma causa maior. É daí que vem a motivação e a satisfação
pessoal.
Contudo
para aquele que trabalha em subemprego o trabalho tem apenas a forma de
garantir o próprio sustento evitando cair de vez na pobreza ou mendicância.
Neste caso não tem grande importância na vida deste sujeito e não traz a
sensação de útil o que não desperta motivação e nem satisfação pessoal. A
finalidade da ação, a eficiência da atividade, a possibilidade de satisfação
intrínseca e a garantia de segurança e autonomia são os pontos que conduzem o
trabalhador a realizar um trabalho com sentido. Porém no caso daquele que
realiza trabalho desagradável, acaba minando a ação, a eficiência da atividade,
existe o desgosto intrínseco e extrínseco, com ausência de segurança e
autonomia o que contribui para realizar um trabalho sem sentido apenas com o
significado de prover o sustento para não passar fome.
Pelo
salário que ele ganha, o indivíduo tenta afirmar sua independência; por meio de
suas atividades, onde este tipo de trabalho lhe permite desenvolver o potencial
e fortalecer a identidade individual; pelas relações que o trabalho gera, ele
consolida a identidade social subemprego; pelos seus resultados, e ainda permite
ao indivíduo contribuir ao mundo do outro gerando ganhos financeiros para o
outro com sua mão-de-obra. Mas em contra partida gera para si insatisfação ao
realizar um trabalho com ausência de sentido e significado, mesmo que tenha
desenvolvido outras habilidades.
Referência
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