Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo aproxima a atenção do leitor a compreender que durante a vida,
podemos nos deparar com momentos em que nos percebemos afastados de quem somos
ou de quem queremos ser, exemplo, psicólogo, médico, advogado, trader, operador
de caixa, técnico de informática, professor e outros. Nesses momentos, é
essencial parar e olhar para dentro. Ir buscar aquele nosso eu que deixamos no
caminho. Nos reencontrar. Como você está? Esta pergunta é capaz de desvelar a
desconexão consigo mesmo se você responder honestamente voltando o olhar para
dentro de si.
É
extremamente comum sentir-se desconectado em determinadas fases da vida. Alguns
chamam este processo de crise existencial. É como se a vida se tornasse um
enigma sem solução. As perguntas chegam muito mais rápido do que as respostas,
que parecem insuficientes, até o trabalho pode perder o brilho.
Os
relacionamentos podem parecer superficiais. Escolhas passadas e até a própria
existência podem perder o sentido. Sentimos como se tivéssemos perdido a
conexão com nós mesmos, com o outro e com o mundo. Somos tomados pela
inquietação e pela angústia. Mas se existe uma lição útil em psicologia é que
todas as emoções, por mais desconfortáveis que sejam, são valiosas.
As
emoções são fontes de informação. Por exemplo, sentir se desconectado é um
sintoma desconfortável da crise existencial. Mas, ao mesmo tempo, é uma pista
para o que precisa da sua atenção. É claro que não existe uma receita única
para uma vida com sentido.
Por
exemplo, enquanto alguns encontram a realização no trabalho, outros encontram
criando filhos ou lutando por uma causa, outros realizam-se em cursos de pós
graduação e mestrado, outros na academia, outros realizando trabalhos
voluntários ou assistindo filmes no Netflix e o que você penar agora que lê o
artigo.
Por
mais que o objeto que dê sentido à vida das pessoas seja diferente, todos
encontramos sentido preenchendo necessidades básicas de conexão. Ou seja, a
crise existencial sinaliza que precisamos nos reconectar. Se você já assistiu
um filme sem pé nem cabeça, sabe que o ser humano não gosta de histórias sem
sentido.
Um
exemplo, onde um sujeito sonha que está pelado na frente de um espelho e
observa que sua barriga está gorda e procura encolher e olha para o pênis
observando o tamanho e se excita para aumentar o tamanho do pênis e ficar
contente com o tamanho. Interpretação do sonho na qual o Ego tem desejo de
conectar-se consigo mesmo e por isso volta o olhar para a sua nudez que
simboliza a vontade de ser quem realmente deseja e aquilo que julga imperfeito
segundo a sua percepção o impede de manifestar-se como é de fato e procura
enfatizar a aparência física e aumentar tamanho do pênis provocando em si a
excitação ou motivação intrínseca.
Gostamos
de juntar pistas para descobrir o que acontece no final. Com a nossa vida não é
diferente. Precisamos entender onde se encaixa cada peça da nossa história se
desejamos construir um maior senso de coerência e identidade. Precisamos
descobrir como a nossa história nos moldou em quem somos. Isso significa
refletir e processar inclusive aquilo que preferiríamos esquecer. Por exemplo,
um divórcio, por mais trágico que seja, pode trazer como consequência a
valorização da família.
Outra
consequência de nos conectarmos com a nossa história, é que isso traz mais
clareza sobre nossos valores. E valores são uma bússola eficiente para guiar os
nossos passos em direção a uma vida com sentido. Enquanto os seus objetivos e
metas podem mudar a qualquer tempo, valores são estáveis. Eles são aquilo com
que você sempre se importou, aquilo que nesta existência é importante para
você.
Exemplos
são a dedicação aos relacionamentos, o autodesenvolvimento, ou a generosidade.
Fazendo escolhas coerentes com os seus valores, você colherá frutos que são
verdadeiramente importantes. Isso contribui para que vejamos a vida como algo
significativo e valioso. Conecte-se com o outro: vínculos autênticos A cultura
do cancelamento deixa claro que, para sermos aceitos, é comum reprimir aquilo
que pensamos e sentimos.
Podemos
inclusive assumir objetivos e metas por conta do valor que eles têm para a
sociedade, amigos ou família. Mas se você se relacionar com o mundo a partir de
uma imagem ou escolhas que não condizem com quem você é, você vai se sentir
desconectado. Isto é verdade mesmo que os outros admirem, aplaudam e sigam o
personagem que você criou. Ou seja, é possível sentir-se desconectado mesmo
entre amigos ou em família. Isto revela que relacionamentos superficiais não
suprem nossa necessidade de conexão.
Precisamos
de vínculos profundos, e não de pessoas que conhecem apenas aquilo que gostamos
sobre nós. Sentimos profundamente conectados a alguém quando essa pessoa
conhece nosso íntimo e nos aceita como somos – defeitos inclusos. O propósito
também traz realização porque nos permite sentir que fazemos a diferença. Em
outras palavras, sentimos que somos importantes para o mundo.
E,
por mais que a palavra propósito seja usada em associação com causas
grandiosas, ele não é um luxo disponível apenas para os que podem largar o
emprego ou investir horas sem fim em uma causa. Propósito é sobre usar as suas
habilidades para adicionar valor para o mundo. Tem a ver com contribuir para
uma, ou algumas, causas que são coerentes com os seus valores.
Quantas
vezes procuramos uma explicação que nos ajude a compreender o que estamos
fazendo aqui? Uma quarta forma de encontrar mais sentido, é conectando se com
algo maior. Nós transcendemos a nossa realidade cotidiana, composta por boletos
e obrigações, quando nos permitimos conectar com o mistério da vida. Para alguns,
isso pode acontecer observando os espetáculos da natureza, para outros em
meditação, oração ou até em um ritual ou experiência religiosa. Momentos de
transcendência não acontecem todos os dias, mas são comuns na experiência
humana.
Um
exemplo, certo aluno de psicologia, fez a si mesmo esta pergunta num dado
momento sentado em sala de aula o que estou fazendo aqui? E não obteve a
resposta merecida por não ter o saber e reflexão no momento. Mas hoje é
possível que responda a esta pergunta, o que estou fazendo aqui sentado nesta
sala de aula em meio a pessoas com idade inferior a minha.
Resposta
estava ali para adquirir o saber nas disciplinas de psicologia, alterar
comportamentos; desconstruir-se de crenças ao longo dos cinco anos de curso;
aprender a refletir e compreender a si mesmo e o outro; investir energia
libidinal no propósito de graduar-se mesmo com as contrariedades e não desistir
da graduação difícil; aplicar e praticar a psicologia para melhorar a qualidade
de vida de pessoas; compreender que conseguirá graduar-se em meio as
dificuldades financeiras e outros.
Outro
exemplo, pratico é um indivíduo que faz a seguinte pergunta a si mesmo estando
trabalhando na função de operador de caixa, porém sendo detentor do saber em
psicologia. O que estou fazendo aqui neste estabelecimento? Qual será a sua resposta?
Bem a resposta pode ser esta, primeiro aceitou
desempenhar a ocupação de operador de caixa, por ter vendido a mão de
obra ao empregador em troca da recompensa salarial.
Segundo
colocou-se na posição como jovem aprendiz, independente de estar na meia-idade,
assim dizendo, ser um jovem aprendiz é aprimorar-se constantemente; são jovens
e adolescentes que almejam desenvolvimento e crescimento profissional,
valorizam a educação e, principalmente, desejam realizar sonhos; é a descoberta
de oportunidades e a possibilidade de inserção no mundo do trabalho.
Por
tanto neste sentido este adulto fez a escolha de desempenhar o papel de jovem
aprendiz, vestindo a mascara social de operador de caixa e mantendo não
desvelado a identidade profissional de psicólogo no ambiente organizacional. E
deste modo o que este sujeito está fazendo ali naquele ambiente? Em terceiro
lugar, experimenta e vivência os processos básicos psicológicos originados pela
atuação de ator operador de caixa.
Em
seguida defronta-se com as próprias falhas, inseguranças, incertezas advindas
da profissão de operador de caixa, assumindo a responsabilidade inconsciente ao
lidar com o dinheiro do cliente, do empregador e suas e consequências das
falhas no manuseio do papel moeda, ressarcindo sempre o empregador em caso de
prejuízos no caixa. Aceitou o desafio de desempenhar este papel para escapar do
desemprego e conseguir realizar algum prazer que o dinheiro pode proporcionar.
Também
estará entre pessoas aprimorando a comunicação verbal, a interação e afeto,
aprimorando competências socioemocionais como resiliência, tolerância a
frustração, controle de ansiedade, escapa do isolamento social ao trabalhar
presencial e não no home office; se posiciona para evoluir contextualizando no
ambiente as psicologias social, comportamental, cognitiva, psicanálise e outras
observando e avaliando os comportamentos dos colaboradores, liderança,
consumidores no loca. E muito mais se você leitor parar um pouco para refletir.
Então, acredito que você, seja capaz de responder a si mesmo quando fizer esta
pergunta? O que estou fazendo aqui? Volte o olhar para si, distanciando
psicologicamente da situação pontual. E observe o que você faz no ambiente,
como age, como interage com as pessoas, aonde deseja chegar permanecendo
naquele ambiente e outros.
É
quando nos vemos pequenos, porém conectados, com algo grandioso e que vai além
da nossa experiência imediata. Para sentir que a vida faz sentido, precisamos
suprir muitas necessidades. Dificilmente um único relacionamento ou papel
social é capaz de dar conta de tudo. Mas de certa forma, construímos essa
expectativa. Queremos que um relacionamento, trabalho ou maternidade nos
preencha por completo.
A
idealização é um problema porque qualquer coisa comparada ao seu ideal é sem
graça. Ou seja, a busca pelo ideal nos leva a desvalorizar o que já temos.
Perdemos a capacidade de descobrir e cultivar aquilo que já poderia nos fazer
feliz. Além disso, a idealização pode nos levar a investir todo o nosso tempo
em uma esfera específica. Quando uma esfera importante da nossa vida está em
crise, são as outras que nos dão força para seguir.
A
família nos apoia em uma crise profissional, o trabalho pode trazer conforto
quando os filhos saem de casa. É comum que procuremos sempre nos afastar
daquilo que nos incomoda, que é difícil de ser resolvido e optemos por
“soluções” que nos distanciam daquilo que precisamos resolver. Conhecer-se de
maneira verdadeira e profunda, requer um exercício constante de aceitação, de
autoavaliação e de compreensão. E tudo isso que é tão importante, quase sempre
é o último na fila das prioridades, infelizmente.
Associado
a isto vem a rotina corrida de trabalho, tarefas domésticas e os problemas
alheios que achamos que precisamos resolver. Além do nosso passado que muitas
vezes nos acompanha e impede de enxergar perspectivas de vida.
Com
frequência constato em atendimentos às pessoas que agendam consultas iniciais,
a ideia de que seria mais fácil ignorar tudo que precisa ser pensado e
reinventado e “fugir” de si mesmo. [...] Freud no seu texto “Recordar
repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da
compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado
esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto
mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou
o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
No
entanto, isso se deve a constatação de que se conhecer, mudar é um processo
muito difícil. Abrir mão de algumas garantias e alguns ganhos que se tem a
partir de determinadas formas de ser e de se comportar exige muito desejo e
coragem de lidar com o imprevisível. Esse processo tão necessário nos torna
mais tolerantes, primeiro conosco e depois com o próximo. Adquirimos
conhecimento e ferramentas para mudar nossa visão sobre o mundo e assim
resolver nossas questões internas que trazem qualquer tipo de desconforto. O autoconhecimento
é poder.
Imagina
agora nós estamos sempre atuando como um ator de novela em determinadas
situações, exemplo, um indivíduo que se formou em engenharia mecânica e depois
de concluído a graduação vai trabalhar em um cargo considerado subemprego que
destoa da sua formação. A partir deste momento desempenhara a máscara social
referente a aquele cargo no subemprego e neste caso perderá a essência da
identidade de engenheiro mecânico.
O
sujeito estará atuando como um ator de novela em outra profissão apenas para
garantir a sobrevivência. Mostrando que está afastado da essência identidade
profissional protagonista de engenheiro mecânico. Como você já sabe, atores ou
atrizes são artistas que representam ou apresentam uma ação dramática ou
cômica. E para isso, criam seu próprio processo criativo, no qual precisam
imaginar, elaborar, construir, interpretar personagens por meio dos seus
recursos vocais, emocionais e corporais.
No
momento em que o psicólogo está fora do seu campo de atuação relacionado a
psicologia, se encontra afastado da essência real, porém trabalhando como
operador de caixa de supermercado, o mesmo aponta que age como um ator
representando no ambiente organizacional em oculto dos colaboradores e
liderança do estabelecimento o papel originado no processo criativo, no qual
precisa imaginar-se, elaborar, construir e interpretar o personagem operador de
caixa através dos seus recursos internos verbais, emocionais e corporais
contando com as competências, habilidades e atitudes do papel expresso.
No
interim que este indivíduo desperta a consciência voltando o olhar para dentro
de si e constata que vem atuando como um ator de novela representando papeis
com máscara sociais em outras ocupações é provável que se dê conta de que está
afastado de sua essência a muito tempo por não trabalhar nas profissões de
acordo a formação acadêmica, contudo em apenas papeis que exigem pouco
conhecimento. Está longe de expressar a atuação de protagonista nas carreiras a
qual se preparou para o exercício.
É
aceitar seus desafios na busca pela identificação das suas potencialidades.
Quando escolhermos estar conectados com nossas emoções, sentimentos e
pensamentos, viveremos melhor. Tristeza, baixa autoestima, medo, receio das
opiniões dos outros, raiva, culpa, nervosismo, tensão, preocupação, estresse,
ansiedade. Essa lista de sentimentos negativos é assustadora, mas,
infelizmente, todos os itens que a compõem fazem parte de alguns momentos das
nossas vidas. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma
desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de
perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162).
O
problema é que, quando os pensamentos e emoções relacionados a esses
sentimentos surgem em nossas mentes, parece que estamos sendo controlados por
eles. Entramos num acelerado fluxo de pensamentos automáticos que nos dá a
sensação de que deixamos de mandar na mente e que estamos sendo controlados por
ela. O problema é que há momentos na vida em que esses sentimentos
desagradáveis parecem nos dominar.
Nessas
horas, surge aquela terrível sensação de que a vida parece ter mais aspectos
negativos do que positivos. E o pior de tudo é que, quando esses terríveis
pensamentos automáticos aparecem, eles dão a impressão de que nós não somos
mais os controladores da nossa mente. E isso nos aterroriza. Você não pode se
deixar controlar pela sua mente, mas também não deve tentar controlá-la.
Aliás,
os psicólogos em geral têm verdadeira aversão a esse verbo. A ideia de controlar
caminha lado a lado com o conceito de repressão, o que nunca é bom. Por isso,
observe os seus pensamentos. Entenda que eles nem sempre refletem a realidade,
pois podem ser apenas projeções trágicas que a sua mente cria para tentar
proteger você. Esse reencontro começa quando temos a intenção de nos
(auto)conhecer.
Não
depende da sua idade, embora a maturidade possa te ajudar bastante a se
reavaliar com mais precisão. Essa é uma oportunidade de se reconectar com o
presente, com a sua experiência de vida em primeira pessoa. Claro que essa
experiência não mudará sua vida por completo, mas abrirá as portas para que a
sua reunião com você mesmo aconteça. Na maioria das vezes, afastamos o que nos
causa dor e procuramos por situações que nos façam esquecer dos problemas ou
das feridas.
Normalmente
procuramos soluções paliativas de alívio ou optamos pelo mais simples, que nem
sempre é o melhor caminho (embora muitas vezes possa ser!). Conecte-se às suas
emoções, sentimentos e pensamentos. Reconhecer e aceitar é o primeiro passo da
cura e da realização na vida. Por isso, não tenha vergonha de sentir emoções
negativas. Não afaste o que te perturba. Utilize esses sentimentos como
motivação para seguir em frente, enfrentar seus medos e encontrar o seu
propósito. O autoconhecimento é aceitar as suas potencialidades e os seus
desafios.
Quando
você precisa escolher um parceiro, uma profissão, um vestido, ou um molho para
saladas, ou mudar a aparência física ou aumentar o tamanho do pênis é
importante ter muitas alternativas. Afinal de contas, quanto mais opções você
tiver, maior a chance de escolher algo capaz de te satisfazer de verdade,
certo? Errado. O ponto é que quando temos opções demais, podemos até escolher
uma alternativa melhor do que aquela que escolheríamos se tivéssemos poucas
opções. Mesmo assim, nos sentimos menos satisfeitos.
Parece
contraditório, eu sei. Tanto que Barry Schwartz, um dos meus professores de
mestrado na Universidade da Pensilvânia, chamou o fenômeno – e o livro que
escreveu para explicá-lo – de Paradoxo da Escolha. E você pode me dizer: “Mas Adriana, é
impossível fugir das escolhas! Pelo contrário, se tem algo que a tecnologia faz
de forma brilhante é eliminar as barreiras e tornar – praticamente tudo – acessível.
Poucos
títulos na locadora? Netflix. Poucas pessoas interessantes no seu círculo
social? Tinder. Quer mais opções de carreira? LinkedIn”. E eu te respondo: “É verdade, estamos
afundados em um mar de catálogos e escolher é preciso. Mas também é preciso
saber como a nossa mente funciona neste contexto. Enquanto não ter escolhas é
aprisionador, ter escolhas demais pode ser receita para a crise. A não ser, é
claro, que você entenda como fazê-las”.
A
dificuldade de escolher, onde a primeira consequência do excesso de
alternativas é que ele torna as nossas escolhas excessivamente complexas a
ponto de nos recusarmos a escolher. Não literalmente, claro. Não é que fazemos
birra e nos retiramos em protesto pelo excesso de opções. É mais sutil do que
isso. Funciona assim, queremos achar a opção perfeita. Mas, como temos medo de
errar, deixamos para decidir amanhã. Achamos que estamos ganhando tempo para
pensar, mas, na prática, estamos paralisados.
Veja
os dados da seguinte pesquisa. Ela foi feita em uma empresa que se comprometeu
a coinvestir com os funcionários caso eles optassem por colocar dinheiro para
aposentadoria em fundos de investimento. Ou seja, se o funcionário optasse por
investir 50 dólares em um fundo, a empresa colocaria outros 50 dólares, de graça.
Pois bem, a cada 10 novos fundos que a empresa acrescentou em seu cardápio de
opções, a adesão dos funcionários caiu 2%. Sabe por quê?
Os
funcionários não queriam errar na escolha. Portanto, deixavam para o dia
seguinte. Só que, por definição, o dia seguinte nunca chega. Preferimos perder
dinheiro a escolher uma opção. Portanto, pode ser útil entender que, por melhor
que seja a sua escolha, ela nunca será perfeita. Isso vale para qualquer
vestido, destino de viagem, relacionamento ou profissão. Vou explicar com um
exemplo. Imagine que você não tira férias há anos e está cansado da cidade, do
trânsito e da correria.
O
seu corpo, a sua mente e o seu espírito anseiam por sossego. Então, você compra
um pacote para passar os seus 30 dias de férias na montanha. Logo que você chega, a mudança de ambiente te
encanta. Você pode até fantasiar sobre como seria largar tudo e abrir uma
pousada bem longe da civilização. Mas, com o tempo, a instabilidade do wi-fi
começa a te irritar profundamente.
E
também as goteiras em dia de chuva. Além disso, as muriçocas parecem cada dia
mais famintas. E, para dizer bem a verdade, você anseia pela programação
cultural da cidade. Pois é, o encanto acabou. E sobre isso a ciência nos diz
que mudanças produzem respostas, ou seja, afetos positivos e negativos. Mas à
medida que nos acostumamos, as mesmas coisas deixam de produzir efeitos
emocionais tão intensos. Ou seja, no início – quando chegamos à montanha – o
entusiasmo com o sossego tão esperado sequestra a nossa atenção e as nossas
emoções.
Com
o tempo, os ganhos se tornam parte daquilo que já é conhecido. Ou seja, você se
adapta. Então, você ganha espaço mental para focar naquilo que não vai bem – a
instabilidade do wi-fi e as muriçocas. E o cérebro se adapta a quase tudo. Isso
significa que qualquer encanto chegará ao fim. Se, por um lado, isso pode te
desanimar, por outro, pode te libertar. Afinal, se todos os encantos terminam,
o fim do encanto não significa necessariamente que você escolheu errado.
Não
existem opções capazes de nos encantar indefinidamente. Mas, quando temos
opções demais – por exemplo, o catálogo do Tinder ou da Netflix – fantasiamos
que, em algum lugar entre essas milhares de alternativas, há de existir uma
opção excepcionalmente incrível. Ou então aquela opção imperfeitamente perfeita
para você, com a medida certa de defeitos que você adora, ou que pelo menos não
te incomodem tanto assim. Paradoxalmente, ter muitas opções alimenta a ilusão
de que pode haver uma alternativa perfeita. [...] Em sua obra “Além do
Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também
rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer
e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
Portanto,
quando as pessoas saem do transe apaixonado e se deparam com os custos de suas
escolhas, elas se sentem mais insatisfeitas e tem maior propensão ao
arrependimento. Mais do que isso. Se você idealiza que existem opções ideais e
você não as escolheu, isso significa que o problema é você. Ou seja, em vez de
interpretar os custos das nossas escolhas como parte inexorável da realidade,
achamos que a nossa insatisfação é a prova da nossa incapacidade de escolher.
E
quando isso se repete vezes suficiente, nos tornamos inseguros, desesperançados
e deprimidos. Some a isso o fato de que, quanto mais alternativas você tiver,
menos atrativo será aquilo que você escolheu. E a razão chama-se custo de
oportunidade. Custo de oportunidade é a soma dos benefícios de todas as
alternativas que você não escolheu.
Por
exemplo, se você vai passar férias na praia, o seu custo de oportunidade é a
soma dos benefícios das férias no campo, mais as aventuras da viagem ao
Pantanal que você poderia ter feito, e os prazeres da visita adiada aos seus
amigos que moram no Rio de Janeiro. E enquanto seria impossível viajar para
múltiplos lugares ao mesmo tempo, em termos de sofrimento não somos tão
racionais.
Por
exemplo, quando você ficar entediado com os programas da praia, você vai
lamentar não ter escolhido as aventuras do Pantanal. E se neste mesmo dia
chover à noite, você sofrerá porque não foi para o Rio de Janeiro – afinal, lá
tem programas culturais para noites chuvosas. Sofremos por não ganhar os
benefícios das duas escolhas, quando, na realidade, só poderíamos ter feito uma
delas.
Quanto
mais opções, mais benefícios deixamos de ganhar quando nos comprometemos com
uma alternativa. Não topamos mais vidas reais, profissões reais, pessoais
reais. Queremos algo sem defeitos, que arranque suspiros indefinidamente. Mas,
anote: só o novo é capaz de gerar uma dose tão grande de entusiasmo a ponto de
nos faltar espaço mental para considerar os custos.
Enquanto
você buscar uma alternativa perfeita, você pulará de uma paixão para outra, de
um projeto para outro, ou de relacionamento para relacionamento. E não teria
nada de errado com isso se fôssemos felizes desta forma. A questão é que o que
procuramos nas nossas escolhas frequentemente só nos é dado no longo prazo. Por
exemplo, a intimidade nas relações nos traz segurança e pertencimento, mas
intimidade só se constrói com o tempo.
A
autoridade profissional nos traz recursos materiais e autoestima, mas
autoridade profissional também requer tempo. Precisamos nos comprometer. Mas nem tudo está perdido. Existe uma forma
de encarar as nossas escolhas que pode nos trazer resultados mais
satisfatórios. A solução vem do trabalho de Herbet Simon, que ganhou o Prêmio
Nobel de Economia em 1978 por seu trabalho em tomada de decisão. E a solução é:
seja um satisficer.
Vou
explicar. Satisfazer-se é contentar-se com algo que é bom o suficiente. Ou
seja, um satisficer tem critérios. Ele investiga opções até encontrar um item
que atenda a esses critérios e, quando ele encontra, ele para de procurar. O
contrário de satisficer é ser um maximizer – pessoas que buscam e se satisfazem
apenas com o melhor. Maximizers são aqueles que, mesmo quando escolhem,
continuam de orelha em pé caso surja algo mais atrativo.
Pois
bem, de acordo com a ciência, porque maximizers buscam a alternativa perfeita,
eles têm mais dificuldade e levam mais tempo para escolher. Além disso, eles
comparam mais as suas escolhas com alternativas não escolhidas, portanto,
inflacionam os custos de oportunidade. Mesmo que terminem com alternativas
objetivamente melhores, os maximizers tem menor satisfação subjetiva, ou seja,
se arrependem mais das escolhas que fazem. Eles são menos felizes e tem mais
ansiedade e depressão.
Portanto,
Schwartz alerta para que fiquemos atento para quais esferas da nossa vida
tendemos a maximizar e exercitemos o ato de dar-nos por satisfeitos com uma
realidade imperfeita, porém satisfatória. Pode ser que o fim do encanto não
seja tão trágico assim, mas um sinal de que agora você consegue – com mais
maturidade e menos dopamina – entender os prós e contras da sua escolha e
avaliá-los à luz dos seus valores e dos critérios que realmente importam. Enquanto
estivermos vivendo em um planeta de alternativas imperfeitas e sob o comando de
um cérebro imperfeito, talvez valha ser um satisficer.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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