Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender a situação que se
encontra e decidir-se seguir em frente, renunciando ao passado. Talvez o mais
trágico, no entanto, sejam os sentimentos negativos que as decepções de ontem,
as perdas e fracassos foram criando, edificando uma base de mágoa e infortúnio
para o resto da vida, levando a que a pessoa perca, a esperança e firme a ideia
de que é tarde demais para mudar a sua vida para melhor.
Apesar
do fato de todos nós sabermos, que a vida nunca nos deu uma garantia de que
seríamos tratados de forma justa e que as coisas ruins não acontecem para nós,
por vezes somos tomados de surpresa quando levamos um golpe que achamos não
merecer. Ficamos presos no passado e paralisamos a nossa vida. Por mais que se
tente seguir em frente depois de um revés, muitas vezes os golpes sofridos no
passado tornam-se numa tormenta ao bem-estar no presente.
As
vezes a pessoa se coloca, ou seja, transita entre o mundo virtual e o real no
sentido de encontrar um caminho. No mundo real encontra o mercado de trabalho,
as instituições, as organizações, ongs e outros. Já no virtual encontrará as
pessoas, o ser humano para ofertar serviços e produtos. E quando já investiu
energia nos dois mundos na procura de colocação profissional e não obteve
êxitos não consegue entender que é hora de seguir em gente e deixar para trás
esse passado. Será que existe outro mundo ou rumo a ser redirecionado a energia
libidinal. [...] Enquanto no mundo offline, manter uma conexão social,
seja forte ou fraca, necessita investimento de atenção, sentimento e etc. tanto
para a sua criação quanto para a sua manutenção, nos sites de rede social as
conexões são inicialmente mantidas pela própria ferramenta (Elison, Steinfeld
& Lampe, 2007). Mesmo que nenhuma interação ocorra, a menos que um dos atores
delete a conexão, esta, uma vez estabelecida, permanece.
Saiba
deixar para trás, ou seja, as pessoas com mais problemas para seguir em frente
são aquelas apegadas a alguns momentos específicos, bons ou ruins, ou seja,
quem não consegue deixar para trás o que já viveu. Aprender a se desligar do
que os outros falam a seu respeito de mal; é um passo decisivo para ser alguém
que olha para o futuro e dá um passo significativo para ele. Comece não
remoendo uma fala que te magoou, deixe de pensar naquela frase perdida de uma
conversa que você vem tentando interpretar sem sucesso ou naquele riso
involuntário que, de alguma maneira, estragou as coisas ou ainda naquela pessoa
que te magoou. Viva o momento presente esquecendo as amarras que te prendem no
passado, seja, um relacionamento que não deu certo, um divórcio, um cargo em
uma organização em fim, seja o que for.
Percorrendo
o caminho em direção à ação propriamente dita, de fato, tudo começa com o
desejo. No entanto, é imprescindível que seja reconhecido corretamente. Acerca
disso, Polster & Polster (2001, p. 232) notadamente mostram que […] Na
falta de um desejo claro, o indivíduo ou se torna imobilizado, ou fica num
impasse com um grande conjunto de sensações e sentimentos, ou se torna
desorganizado e se envolve numa busca ávida por gratificação, que pode levar à
atividade – mas não à gratificação. Quando um desejo pode ser reconhecido e
expresso, a pessoa que o deseja experiencia o senso de acertar o alvo e
mover-se para um senso de completude e liberação […]. Realmente, quando
buscamos algo em consonância com o que almejamos, o trajeto tende a ser muito
mais focado e organizado, apesar dos contratempos. É bem diferente alguém
estudar para passar em um concurso cuja pressão parte dos pais do que insistir
em uma profissão que verdadeiramente deseje para si. É aí que vai fazer toda a
diferença a energia da mobilização. Se não me sinto mobilizado, motivado, minha
atividade é falha, vazia, desproporcional.
O
segredo para conseguir seguir em frente é começar de novo. Conseguir seguir em
frente sem olhar para trás nem sempre é fácil. Não quando a tristeza pesa em
excesso e arrastamos conosco a dor de tantas batalhas e feridas. Às vezes, é
necessário parar no caminho para curar, nos recompormos e até mesmo nos
reinventarmos. Somente quando tivermos moldado uma nova e melhor versão de nós
mesmos estaremos prontos para continuar. Você não vai conseguir seguir em
frente com excesso de bagagem. Avançar não é o mesmo que seguir em frente. É
comum, por exemplo, que muitas pessoas recorram a uma terapia psicológica em
busca de ajuda porque insistiram em seguir em frente depois de sofrer uma
separação ou a perda de um ente querido, perda de um trabalho esquecendo um
aspecto antes; o luto. É necessário integrar em nosso registro pessoal um termo
muito básico; avançar. O que esta palavra implica é o seguinte:
ü Avançar
significa não ficar preso no mesmo lugar.
ü Avançar
implica entender que devo definir uma nova estratégia de vida.
ü Gerar um
avanço requer começar do próprio interior (sem fugir).
ü É dizer
para mim mesmo que tenho que aceitar o que sinto, entendê-lo, lidar com ele,
curá-lo e me permitir uma nova oportunidade. Desta forma, “progredimos”
emocional e psicologicamente.
ü Além
disso, devemos estar atentos a um detalhe: a tristeza ou a dor de uma perda não
desaparece. Ninguém pode apagar esse tipo de sentimento. Precisamos criar um
espaço em nosso interior e aprender a viver com ele.
Começar
de novo com uma versão mais forte; as pessoas podem mudar suas crenças,
pensamentos e atitudes e começar a avançar. O ser humano se transforma quantas
vezes for necessário, não por capricho, nem por prazer, mas para enfrentar a
adversidade e se erguer como um ser mais resistente, habilidoso e preparado.
Somos conscientes de que conseguir seguir em frente é a única opção vital que
temos, pois a oposta é ficarmos presos. No entanto, façamos da melhor maneira; sem
fugir de nós mesmos e desse interior que, como um quarto bagunçado e escuro,
requer nossa atenção, requer ordem, oxigênio e mudança. [...] Esse medo
marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
Estudos
sobre resiliência mostraram que três são os diferenciais das pessoas que
superam mais facilmente suas dificuldades, assim como seus traumas auto diretividade
[confiança em seus recursos pessoais]; cooperação [visão que envolve o bem do
entorno, e não apenas o benefício pessoal] e auto transcendência [prática da
espiritualidade e religiosidade].
Contudo,
devo esclarecer que a resiliência não é uma característica rígida ou fechada
que simplesmente o indivíduo apresenta ou não. Ao contrário, a resiliência se
relaciona com permeabilidade e aprendizado. A psicoterapia tem ajudado muitas
pessoas que atravessam dificuldades severas ou apresentam respostas pós traumáticas
a desenvolverem traços de resiliência para a construção do alicerce e pavimento
de seus caminhos de superação. Em geral, elas conseguem exercer influência
sobre quem convive com elas?
Perceba,
aceite e supere o seu passado. No entanto, muitos distúrbios ao nosso
equilíbrio emocional não são visíveis a olho nu. Mágoas e cicatrizes invisíveis
oriundas de decepções acerca de nós mesmos e dos outros podem levar a
questionarmos as escolhas passadas, fazendo questões como: Porquê, Porque não, porque
é que eu não, e Se pelo menos. Apesar do fato de percebermos que nada pode
mudar o passado [os acontecimentos vividos], parece às vezes quase impossível
ultrapassar esses sentimentos dolorosos de oportunidades perdidas, chances
falhadas, escolhas ruins, amizades e relacionamentos quebrados e
irrecuperáveis.
O
profundo sentimento de perda e desilusões, promovem a dúvida acerca de se
conseguimos realmente superar isso. Eu acredito que sim. Muitas pessoas têm
conseguido ultrapassar as angústias do passado. No entanto, apesar de não ser
possível mudar e/ou apagar os acontecimentos dolorosos vividos no passado, é
possível reinterpretar a dor e a perda de forma a libertarmo-nos da mágoa
paralisante. Há alguns acontecimentos que alteram tanto a nossa vida, que
realmente nunca poderemos apagá-los da nossa memória ou fazermos de conta que
não existiram. A perda significativa ou o coração partido por acontecimentos,
como a morte de uma criança, um trauma grave, uma doença fatal ou terminal,
acidentes que mudam radicalmente a vida em que você ou um ente querido fica
permanentemente inválido ou desfigurado, desemprego, pandemia são apenas alguns
exemplos. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914),
texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do
repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que
não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Quanto
mais trágico for o prejuízo ou perda, mais somos desafiados a erguer-nos acima
dos acontecimentos. Quanto mais somos pressionados ao crescimento
pós-traumático, mais precisamos procurar apoio e ajuda para continuar. Aqueles
que estão decididos a aceitar o sucedido e a abrir os seus corações para tentar
novamente, voltar a amar, a confiar de novo, irão superar o trauma muito melhor
do que aqueles que caem numa espiral de negatividade, isolamento e amargura.
Imagine a luz de aviso de um sinal de trânsito na rua. O sinal de aviso que
você deve parar e respeitar o sinal é um sinal protetor, é um sinal que chama a
sua atenção no sentido de lembrá-lo para atestar a sua vida, evitando que possa
vir a passar por um incómodo.
Da
mesma forma, algumas das coisas nas nossas vidas que não conseguimos superar
transmitem-nos uma mensagem de que existem assuntos que necessitam da nossa
atenção, no sentido de termos de fazer algo, aprender algo, ou lidar com algo. No
fundo, os sentimentos negativos oriundos dos acontecimentos passados, fazem-nos
sentir sensações desagradáveis para que possamos perceber que temos de fazer
alguma coisa para voltarmos a ficar bem e a sentirmo-nos bem.
Em
vez de concentrar-se no que não pode ser alterado, concentre-se no que pode ser
alterado.Na maioria dos casos, os acontecimentos ou as outras pessoas não nos
levam a sentir de uma certa maneira. Nós é que fazemos isso. Nós é que
decidimos manter-nos num sentimento incapacitante. Claro, que dado a natureza
de alguns acontecimentos de vida, temos toda a legitimidade para nos sentirmos
mal. No entanto, esses sentimentos negativos não invalidam que possamos fazer
algo para superar os acontecimentos e promover melhores sentimentos.
Assumir
a responsabilidade pelos seus próprios pensamentos e sentimentos, sair de uma
mentalidade de vítima, irá capacitá-lo para ultrapassar os arrependimentos
passados? derrotas, decepções, desgostos e traumas, ao invés de usar isso como
uma carga insuportável de transportar. Muitas vezes não podemos superar algo
por causa de histórias que contamos a nós mesmos, que não são baseadas em
fatos. Mas sim na interpretação que fazemos do que nos aconteceu. E, em alguns
acontecimentos podemos distorcer a magnitude e impacto real do sucedido.
Por
exemplo, algumas pessoas que perdem um emprego ficam desapontadas, mas ainda
têm a confiança para seguir em frente sabendo que pode haver melhores
oportunidades. Ou ainda, um divórcio não significa o fim da linha. Em
contrapartida, outros não seriam capazes de superar o trauma da rejeição e
rotular-se-iam, como perdedores e fracassados. As pessoas quando atravessam uma
crise, muitas vezes criam histórias sobre si próprios personalizando a
crueldade da vida como algo que reflete a sua autoestima, resultante de antigos
hábitos enraizados de pensamentos de julgamento depreciativo. [...] Em
sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão
a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
O
diálogo interno autocrítico de cariz ou aspecto negativo torna-se tão
sedimentado, que muitas vezes não percebemos que temos o poder de mudá-lo. Em
alguns casos, não se pode esperar superar algo de forma rápida se não se passar
pelo processo de luto. O luto, não é um processo com o qual apenas lidamos
quando enfrentamos a morte ou a perda de um ente querido. Existem perdas menos
visíveis e concretas, tais como a percepção de que você não pode ter a vida que
pensou que seria possível, que o seu entusiasmo relativamente a um determinado
objetivo de vida não o conduziu a bom porto, dando lugar à decepção.
Na
grande maioria das situações, do mais terrível sofrimento a uma perda comum, o
processo de luto é essencial para o processo de cicatrização. Às vezes
precisamos passar por fases de raiva e amargura, a fim de sermos capazes de
passar à fase de aceitação. Para aprofundar o assunto, lembre-se que na grande
maioria das situações não é tarde demais para começar de novo. Se você entendeu
o que anteriormente descrevi, que você não pode passar por cima, e começar a
partir de hoje a tomar decisões saudáveis com base no que você aprendeu neste
artigo, vai realmente conseguir novas soluções para velhas questões.
Mudar
alguns comportamentos para passar a lidar com as coisas infelizes ou evitar que
ocorram novamente irá capacitá-lo. Ser proativo ao invés de reativo, e fazer
alterações com base nas suas lições de vida, pode curar mágoas do passado. Coisas
boas e ruins acontecem a todo momento na vida de todo mundo, ninguém tem
controle sobre essa teia de acontecimentos. Aceitar isso verdadeiramente te
ajudará a passar menos tempo remoendo aquilo que não pode ser alterado. Muitas
vezes, as pessoas se perguntam o que teria acontecido se eu não tivesse dito
isso ou não tivesse feito aquilo, como, aceitar aquela oferta de trabalho, ter
afeito aquele curso, namorado com aquela pessoa ou se casado, a verdade é que
jamais saberá.
Não,
não é preciso abandonar tudo, de uma única vez. Mas também não precisa fingir
que nada aconteceu ou que nada está acontecendo. Você pode encarar isso e olhar
os problemas de frente, mesmo que eles sejam tão assustadores a ponto de
fazerem você se encher de medo. Saiba que duvidar do caminho que está sendo traçado
é coisa comum entre os que não se contentam com estradas pré-definidas e
desejam definir seu próprio horizonte. Mesmo que o caminho seja incerto, essa
busca encontra justificativas no direito de ter uma nova visão. Seja assim,
permita-se ter esta nova visão, permita-se seguir em frente, mesmo que precise
que lidar com grandes desafios ou tenha que encarar a crueldade das opiniões
contrárias.
ELLISON,
N. B., Steinfield, C., & Lampe, C. (2007). The benefits of Facebook “friends:” Social capital and
college students’ use of online social network sites. Journal of
Computer-Mediated Communication, 12(4), article 1. Disponível em:
<http://jcmc.indiana.edu/vol12/issue4/ellison. html> Acesso em junho de
2012.
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
Comentários
Postar um comentário