Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender o sentido de fugir da
realidade por meio do mecanismo de defesa da fuga. A vida de hoje é uma aventura
estressante, uma jornada cada vez mais acelerada para lugar nenhum que muitas
vezes acaba transbordando. Para lidar com os problemas do dia a dia, e aqueles
que não são tão comuns todos colocamos em prática diferentes estratégias de
enfrentamento. A fuga da realidade é um mecanismo, que muitos costumam usar
quando não se sentem fortes o suficiente para enfrentar determinada situação,
que pode ser, por exemplo, a perda de um ente querido, uma demissão ou não assumir
um cargo específico, treinamento em plataformas de Day trader, a insatisfação
com algo ou o fim de um relacionamento.
A
defesa psicológica, portanto, é uma atitude mental que usamos para lidar com
uma verdade que não queremos ou não estamos prontos para ver neste momento da
vida. Exemplo, a pandemia, o desemprego, a perda de moradia, a meia-idade, a
velhice que impossibilita a reinserção no mercado de trabalho, a falta de
experiência na carreira, o número de candidatos para competir no processo
seletivo alto e o que você pensar agora enquanto lê o texto. Até certo ponto
ela é necessária, como, por exemplo, quando uma pessoa querida morre e você
fica com excesso de sono, o qual é a defesa que sua mente escolheu para fazê-lo
dormir muito e não pensar na dor. Ou ainda, assistir filmes na busca de obter
um tema que leve a reflexão para encontrar a saída do desprazer. Isto é válido.
Exemplo,
normal, então, mais adiante você começa a pensar na dor pela morte da pessoa
amada e resolve enfrentar este desconforto emocional, e superá-lo. Daí o sono
exagerado desaparece por que você não precisar mais desta defesa, por ter se
fortalecido para lidar com o que a defesa encobria. Outro exemplo, normal, é
quando você ao assistir ao filme Degrassi Next Class. no Netflix, consegui
extrair diversos temas relacionados a conflitos que adolescentes encaram e usam
o mecanismo de defesa da fuga de modo inconsciente e o escapismo se faz
presente na vida destes adolescentes e você contextualiza para a realidade.
Precisamos
de defesas psicológicas que nos protejam da dor insuportável. Porém, usá-las
exagerada e persistentemente pode nos levar a nos fechar tanto como pessoa que
nos impedem de dar e receber coisas boas nos relacionamentos humanos. A fuga e refúgio
na internet, o objeto internet, à princípio, no início de seu uso, está sob o
controle onipotente do usuário, porém, quando este vivencia tristeza, perda,
solidão ou qualquer experiência angustiosa para ele insuportável, lança mão da
internet como um recurso apaziguador, que o remete a uma plenitude ilusória,
onde a angústia e a dor dão lugar a um sentimento de plenitude satisfatória.
Dessa
forma, o usuário tenta manter sob controle tanto a realidade externa quanto a
interna, tornando-as menos ameaçadoras e, por conseguinte, toleráveis. O
usuário, em seu vício [seja qualquer], vê-se seduzido por expectativas e
promessas vãs, por satisfações e prazeres ilusórios, por uma magia que o afasta
da realidade e da vida, levando a perdas e sofrimentos em seu fim um
não-sofrer, um não-pensar, um não-existir momentâneos, que acabam levando a um não-ser
permanente. Quem sou, ou seja, ela não sabe mais quem é; e precisar desta
confirmação perguntando a outra pessoa para que possa confirmar a sua
identidade.
A
falta de controle da situação faz com que o sujeito se depare mais uma vez com
sua dependência e desamparo, e ele necessitará cada vez mais da internet para
aplacar a sua angústia, que vai crescendo cada vez mais e o círculo vicioso
está, assim, instaurado, e a rede social mostra seu lado de logro, burla,
engano da compulsão a repetição do escapismo. [...] Freud no seu texto
“Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
A
vida não é fácil para ninguém, isso é um fato. Para alguns pode ser o estresse
de conviver com a ameaça da perda de uma ocupação que garante a sobrevivência,
para outros pode ser a perda de um ente muito querido e para alguns o fator
desencadeante, o gatilho da fuga da realidade, pode ser a pura fantasia de que
a vida, até aquele momento, não valeu a pena por se encontrar na meia-idade
desempregado, sem recursos financeiros. Freud diz que nós aperamos em dois
níveis. O primeiro deles, característico das crianças, é o pensamento primário,
onde a realidade é incapaz de tocar e aquilo que ela cria como verdade para si
mesmo é inabalável e a faz ser feliz. Com o tempo a criança cresce e é
confrontada com as frustrações. É neste momento que ela passa a tentar resolver
seus problemas e passa a operar no pensamento secundário, ou seja, dentro da
realidade, aceitando suas limitações e achando a melhor maneira para resolver
os seus problemas.
Os
muito defensivos emocionalmente se protegem demais da dor, da tomada de
consciência de pensamentos e sentimentos difíceis de encarar, assim, se afastam
da verdade sobre si mesmas. Quanto mais vivem na defesa não mais necessária,
mais impedimento há para o amadurecimento mental. Permanecer na defesa é não
admitir seus problemas. É negar suas limitações, medos, desesperanças, fé, tristezas,
angústias, defeitos de caráter. A defesa protege da dor e, serve como fuga da
verdade. Saúde tem a ver com verdade. Saímos da mentira, da defesa neurótica,
ao estarmos prontos e querendo mesmo a verdade sobre nós mesmos. E é decisão
pessoal. Qual a verdade que a pessoa está conferindo ao problema? [...]
Negação, É a defesa que se baseia em negar a dor, ou outras sensações de
desprazer. É considerado um dos mecanismos de defesa menos eficazes. Podemos
citar como exemplo o comportamento de crianças de “mentir”, negando ações que
realizaram e que gerariam castigos.
O
Psicólogo trabalha com o sentido das coisas e não com a verdade. Por tanto não
é preciso descobrir qual é a verdade de um problema para que possamos ajudar um
sujeito a enfrentá-lo. Basta descobrir qual a verdade do sujeito sobre este
problema, isso sim é essencial. Quando alguém nega ou foge da realidade não
está fazendo de caso pensado, propositalmente e muito menos para irritar
alguém. O sujeito faz porque naquele momento é o que pode fazer. O indivíduo
não acredita ser capaz de sair da situação e nem capaz de enfrentar a situação
provocada pela pandemia, pelo desemprego, pela meia-idade, pela doença, pela
falta de experiência profissional ou especialização, e geralmente percebe seu
estado de vulnerabilidade como sendo mais grave do que realmente é. Mas se
sentir vulnerável é bom e é sinal de força, porém muitos tem a concepção
equivocada que se sentir vulnerável é sinal de fraqueza. Ou seja, a uma
confusão entre se sentir vulnerável, com estar em vulnerabilidade que é
totalmente diferente.
Usamos
os mais diversos meios que encontramos na realidade para escaparmos dos problemas,
inclusive a religião, contudo de modo positivo e a superstição como meio para
atingir um fim. Diante de qualquer situação por pior que seja, podemos fazer
alguma coisa. A vontade do sujeito é aplacada, seus desejos coibidos, sua
intimidade invadida, se vê anestesiado, seu mundo de relações rompido. Ele
deixa de ser sujeito, ou seja, deixa de ser ele mesmo. A fuga dos fatos é
indício de fraqueza emocional, pois não se consegue aguentar a emoção de ver a
tragédia, mas é também sinônimo de fraqueza mental, pois não a se consegue
pensar e processar, a tragédia. Cérebro e consciência fogem do real e, assim, o
indivíduo permanece num estado de minoridade. É do adulto, ou seja, da pessoa
madura, saber lidar com o que é, já a criança não consegue lidar com o que é, e
as vezes o adulto se porta como criança ao usar inconsciente o mecanismo de
defesa da regressão.
Portanto,
por trás de todo vício [seja qual for] há uma condição infantil estruturada em
torno de crenças, racionalizações e convicções. O vício é uma forma de
fanatismo. Para C.G. Jung todo fanatismo é indício de insegurança interior, da
presença de uma dúvida a respeito da própria coisa da qual se é fanático. O
fanatismo é, portanto, a obsessão e o grito que calam a pergunta que não quer
calar: Você tem certeza? A verdade é que não se tem certeza de nada nessa vida.
Saber viver na incerteza, saber lidar com a dúvida como ferramenta criativa
para aumentar o conhecimento e a capacidade de objetividade é para mentes
cultas e corações maduros.
Num
contexto de ausência de horizontes libertadores na direção dos quais se
desenvolver, não resta ao indivíduo que se inserir nos nichos doentios das
redes sociais para encontrar neles sentido para a própria existência, ou
melhor, para afogar neles a angústia pela falta de sentido de sua vida. O
sentido só se manifesta se houver as condições mentais [ou seja, culturais e
educacionais] e emocionais [ou seja, estabilidade e tolerância].
O
único sentido existencial que faz sentido na vida de uma pessoa, o que
significa que a leva adiante pelo resto de sua vida, é aquele que brotar
livremente de dentro dela. Na falta das condições disso acontecer, a pessoa
pega emprestado algo de fora, já pronto. [Exemplo, cursos de marketeiros nas
redes sociais, livros de autoajuda, assistir no Yotube vídeos de pessoas que
não tem formação acadêmica para falar sobre determinados assuntos., seguir de
modo alienado todo tipo de pessoa nas redes sociais com a intenção de obter conhecimento
para sair da solução que se encontram, pois, estas pessoas prometem a solução
com a compra de seus cursos e produtos e o que você imaginar enquanto lê o
artigo.
Ela
é obrigada a se identificar com os produtos culturais em circulação, de acordo
com sua origem familiar. Mas estes produtos nunca podem satisfazer plenamente a
alma, ao contrário, eles a mantém afastada da realidade individual. Quanto mais
uma pessoa recheia sua cabeça de conteúdos prontos produzidos por outras
pessoas em outros contextos, como nas redes sociais, mais ela se afasta de sua
realidade pessoal e íntima, e mais se aliena de si mesma. Com a alienação
cresce o desconforto interno e conforme se evita encará-lo refugiando-se em
produtos externos, mais, aumenta o medo de estar consigo. Quanto mais intenso
esse desconforto interno maior a necessidade de se apegar com desespero a
crenças e hábitos que salvem do abismo interior. E surgem os fanatismos e os
vícios.
Urge
a Psicologia da Evasão; o escapismo é uma estratégia de enfrentamento que
implica a tendência de fugir do mundo real, procurando a segurança e
tranquilidade desejadas em um mundo de fantasia. Geralmente, implica
desenraizamento da realidade para encontrar refúgio em um universo ficcional e
paralelo, embora também possa envolver fantasias relacionadas a um eu melhor,
mais poderoso, bem-sucedido ou importante. Também é conhecida como síndrome de
Houdini, aludindo às faculdades do lendário escapista húngaro do século XIX. No
entanto, em Psicologia, o escapismo é um mecanismo de prevenção que envolve
escapar de conflitos, problemas/e ou responsabilidades diárias.
Exemplo
de escapismo para fugir de problemas, criando outros problemas, algumas pessoas
podem passar horas tentando desbloquear o próximo nível de um videogame,
enquanto outras se perdem no buraco negro das redes sociais., outras passam
horas bebendo num bar. A quantidade de horas que os adultos passam assistindo
televisão é um indicador de seu nível de escapismo. Os psicólogos descobriram
que aqueles que experimentam uma pequena necessidade de auto reflexão e
introspecção tendem a dedicar mais horas do dia à televisão.
No
mundo de hoje, a forma preferida de escapismo é a necessidade compulsiva de
estar constantemente envolvido na vida eletrônica, procurando informações
aparentemente importantes, tocando ou remexendo nas redes sociais. Especialmente quando o objetivo dessas
viagens não é descobrir um novo lugar, mas apenas fugir do lugar onde estamos,
porque é insuportável. O desejo de escapar, por si só, não é bom nem ruim.
Fazer uma pausa, relaxar e desconectar-se de certas preocupações pode ser
saudável. De tempos em tempos, você quer viajar para um mundo mais confortável,
sem responsabilidades, sem problemas, sem lutas. Esses momentos podem nos
ajudar a assumir a distância psicológica necessária para resolver o problema.
Como
todos nós, em maior ou menor grau, implementamos estratégias escapistas, é
importante estarmos cientes delas. Praticamente qualquer atividade pode se
tornar uma válvula de escape da realidade, muitos desses comportamentos podem
até parecer positivos. A chave é perguntar se é uma desculpa para evitar a auto
reflexão necessária. Quanto, mais tempo gastamos para escapar, menos tempo
teremos para refletir sobre o que está acontecendo conosco e o que sentimos.
Precisamos estar cientes de que correr constantemente não deixará para trás os
medos, a desesperança, apenas os exacerbará porque não há lugar no mundo em que
você possa fugir de si mesmo. [...] Fuga – Ocorre durante um período
difícil, uma situação aversiva em que a pessoa sente uma necessidade muito
grande de remover, sair do incômodo que causa a situação atual. Dormir,
devaneios, drogas, hiperatividade, etc. Nota: Muito comum em situações ou fases
difíceis, quando estamos insatisfeitos com a vida ou quando acessamos o vazio
deixado pela auto alienação de nosso self (Eu verdadeiro), nessas três
situações, é muito comum devanear ou fugir. Fazemos isso de diversas formas,
dormindo excessivamente, sonhando acordado evitando ação e construção da
realidade, drogas, álcool, jogos, internet, trabalhando comendo, comprando,
praticando sexo e fazendo exercícios de uma forma exagerada, tudo isso para não
entrarmos em contato conosco mesmos e nossos incômodos.
Portanto,
é importante lembrar que, por mais reconfortante que seja escapar entre as
páginas de livros, jornais, revistas, cursos online, drogas, redes sociais,
televisão, culinária, academia, ou qualquer outra atividade que nos permita
desconectar-se das preocupações, os problemas geralmente não desaparecem por si
mesmos, nem as situações estressantes ou os conflitos que as geraram
desaparecerão. Embora o escapismo possa servir como uma técnica para lidar com
o estresse pontual quando nos sentimos sobrecarregados, precisamos estar
maduros o suficiente para saber quando chegou a hora de retornar à realidade e
enfrentar o problema. O primeiro passo para romper o ciclo escapista é
reconhecer que estamos fugindo. Para fazer isso, basta responder a uma pergunta
com sinceridade. O que estamos fazendo, nos ajuda a resolver o problema? O
segundo passo é detectar exatamente do que estamos escapando, que problema nos
domina. Para fazer isso, podemos nos fazer uma pergunta simples. O que nos
incomoda, assusta, preocupa?
Quando
o presente é percebido como ameaçador, lidamos com isto de forma presentificada
e estruturante ou lidamos com isto através de filtros medos, desejos,
ansiedades, valores, perdendo autonomia, gerando conflitos, vivenciando tudo
como insuportável, seja na família, seja na escola, no trabalho, entre os amigos
ou nos relacionamentos íntimos. Não se detendo no percebido, não se detendo na
realidade, não integrando limites, o indivíduo cria deslocamentos, fugas que se
expressam em sintomas psicossomáticos, isolamentos e vícios [drogas lícitas ou
ilícitas, trabalho, sexo, comida, redes sociais, e por aí vai]. A repetição
imobilizadora, na tentativa de evitar tensões configura o submisso, esvaziado,
posicionado entre se sentir bem e evitar se sentir mal. [...] Esse medo
marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
Esta
imobilidade adquirida cria pontos de tensão, dores equivalentes aos pontos
criados por escaras, ou seja, crosta de ferida. Quanto mais aumenta o processo
de imobilidade, de subordinação, de falta de autonomia, mais se protege da dor,
da frustração e mais atinge a impossibilidade de qualquer ação. Esta vivência
atordoa, a realidade machuca. Drogas, vícios, televisão, internet, são os
deslocamentos que se impõem para evitar a dor, para evitar o fracasso. Neste
momento, a droga, a fuga da realidade, é transformada em proteção contra a
realidade; é um amortecedor que permite conviver com humilhação, frustração,
impotência, incapacidade, e assim se sentir capaz e operoso no caça à droga ou
nos esconderijos perpetrados contra vigilâncias familiares ou policiais. O
organismo cria hábitos e dependências na busca de saciedade, de êxito, mas é a
vivência psicológica, contextuada em bem-estar/mal-estar que vai estabelecer o
vício [seja qual for].
Viciados
posicionados nas drogas ilícitas, no sexo, na comida, no trabalho, nos jogos,
nas redes sociais, televisão, restringem enormemente suas possibilidades, pois
são fixados em seus desejos. Tudo converge para satisfazê-los e este objetivo
passa a ser o estruturante do ser; as possibilidades de relacionamento ficam
reduzidas à busca do que satisfaz, do que alivia dores e mal-estares, enfim,
comer é ser, embriagar-se é ser, picar-se é ser, trabalhar é ser, desempregar-se
é ser, e assim por diante. O drogado, o fugitivo, é o esvaziado cheio de
escudos, desculpas, álibis e propósitos. Muitas, fugas parecem representar um
desejo de realização disfarçado ou a única maneira permitida de escapar de
angústia ou embaraço graves. Por exemplo, um desempregado com dificuldades
financeiras deixa uma vida agitada e vai viver como mentor na rede social. Outro
exemplo, um professor com dificuldades de lidar com alunos em classe, vai
lecionar de modo online.
Lidar
com sentimentos como medo, desesperança, sofrimento e dor é um grande desafio
na vida dos seres humanos e, por diversos motivos, nem todos estão dispostos a
enfrentá-los. Contudo, os momentos difíceis são responsáveis por uma parcela
significativa da formação de um indivíduo, incluindo seu caráter, maturidade e
força emocional. É importante aprender a voltar para si a fim de se conhecer e
entender o que sente e as emoções que isso gera. Se você está passando por
isso, saiba que o poder para superar os problemas está em seu interior, e é
perfeitamente possível encontrá-lo e fazer dele seu aliado para vencer seus
fantasmas. Uma pessoa pode fugir da realidade de várias formas, através de
comportamentos que a distraia daquilo que está sentindo e promovam sensações de
prazer e um breve esquecimento do seu incomodo.
Vale
lembrar, ainda, que nem sempre a fuga da realidade se dá através de alguma
atividade que provoque uma clara mudança de comportamento, como é o caso do uso
de drogas. Atualmente, a tecnologia oferece diversas possibilidades para quem
deseja fugir do que está sentindo, seja através de jogos eletrônicos ou das
redes sociais, por exemplo. Isso acontece porque, enquanto o indivíduo está
realizando uma atividade que considere prazerosa, tem a sensação de que os
problemas sumiram. Como consequência, do desejo de se sentir cada vez mais
anestesiado e longe do sofrimento, começa, então, a repetir as mesmas atitudes,
o que, muitas vezes, resulta em vícios e compulsões. [...] Em sua obra
“Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a
repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade
alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo
para impulsos instintuais que foram reprimidos.
É
necessário entender que fugir não fará com que o problema desapareça ou
diminua, na realidade o que pode acontecer é que a situação se agrave. Enxergar
os acontecimentos de forma racional é a melhor maneira de parar de sentir medo
e ir em busca de soluções. Lembre-se, que sempre é tempo para mudar algo que
esteja te impedindo de ser feliz. Existem, algumas atitudes que podem ajudar
uma pessoa que esteja fugindo da realidade a quebrar esse padrão e parar de
sufocar suas insatisfações.
O
primeiro passo para ter coragem de mudar algo que está te incomodando é aceitar
a realidade e encará-la de frente. Dessa forma, a aceitação te dará a força de
que precisa para buscar a transformação que procura e precisa. Já o conformismo
é diferente, pois envolve a passividade perante as insatisfações. Então, o
ideal é parar de fugir e buscar entender a situação, aceitando que existe algo
que precisa ser mudado. Sempre, que sentir vontade de recorrer a algum tipo de
fuga, pare e reflita a respeito do que está te motivando a agir dessa forma.
Está
descontente com a sua situação atual, tem dívidas ou é infeliz em seu
relacionamento? Independente, do que seja, pense em que atitudes pode ter para
chegar o mais próximo possível da resolução. Mesmo que exija uma grande mudança
interna e externa, acredite; certamente esta transformação valerá a pena. Falar
sobre o que está sentindo é uma ótima maneira de entender melhor a situação e,
quem sabe, encontrar uma solução. Então, procure conversar com uma pessoa em
quem confie e que se mostre disposta a te ouvir. Se preferir uma visão
imparcial e com garantia de sigilo, recorra a um especialista da psicologia. O
ato de falar sobre seus sentimentos pode promover uma grande transformação em
sua vida. Evite, a autopunição por ter tentado fugir dos seus problemas, pois
se trata de um mecanismo mais comum do que se imagina e a que todos os seres
humanos estão sujeitos.
O
importante é que reconheceu que deveria mudar e está se esforçando para isso.
Pare de prolongar o sofrimento e vá à busca da sua paz emocional. Tenha
autocompaixão e reconheça seus esforços. Por maiores que sejam os problemas,
todo mundo tem algo positivo em sua vida, algo pelo qual valha a pena viver.
Então, pare para refletir sobre isso, pense naqueles que ama e que são
importantes para você e em sua importância para eles também. A felicidade pode
ser uma questão de perspectiva, então, é possível que aprenda a enxergar o lado
positivo e se descubra uma pessoa feliz. Ao perceber qualquer sinal de fuga da
realidade em alguém próximo, é necessário manter a atenção para evitar que esse
comportamento se torne um hábito.
O
ideal é chamar essa pessoa para conversar e demonstrar disposição para
ajudá-la. Muitos indivíduos agem dessa maneira sem nem ao menos perceber que
estão fugindo e mentem para si mesmos dizendo que estão apenas realizando tal
atividade para se divertir. Pode ser desafiador convencer alguém de que aquele
comportamento que está apresentando se trata de uma fuga da realidade. Contudo,
sua ajuda pode ser fundamental para quebrar esse ciclo, que pode ser tão prejudicial
para a saúde física e mental das pessoas. Vale lembrar que, em casos mais
graves, procurar o suporte de um profissional é fundamental.
E
você, como está a sua relação com a realidade? Acredita que já recorreu ao
mecanismo de fuga como forma de se proteger? Reflita! Por fim, busque seu
autoconhecimento de modo a entender como os acontecimentos e experiências
passadas influenciam os seus sentimentos e comportamentos atuais. Isto é
indispensável para você viver sua realidade sem atalhos e para conquistar uma
vida mais plena, madura e feliz como merece. Quando nos sentirmos assim,
frenéticos, inquietos, ansiosos, insatisfeitos ou impacientes usando desses
vários recursos, vale sempre perguntarmos. O que está por baixo disso tudo? O
que estou tentando evitar com tanta sofreguidão? Será que não seria melhor
enfrentar a dor do que amortecê-la?
Referência
Bibliográfica
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