Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender, a importância de
conhecer qual é o lugar do psicólogo frente aos campos de atuação. Pois existem
profissionais que iniciam com tentativas nas redes sociais, em instituições
sociais, organizações hospitalares, organizacional, clinica, CAPS, clinicas de
reabilitação, igreja, equoterapia, SOS mulher, delegacias de polícia. A questão
surge a partir de uma negação amplamente difundida: Consegue-se ou não atuar
como psicólogo nas redes sociais.
Na
busca de um lugar, o psicólogo precisa entender que esse lugar não é de ajudante,
porém se alguém não se sente bem em oferecer a sua escuta, é preciso trabalhar
isto em sua própria analise pessoal, se deseja ser analista, pois o que pode
fazer um analista é, antes de tudo, oferecer-se ao Outro como objeto de
tratamento. Pois existem profissionais e pessoas do senso comum que pensam
conscientemente e inconscientemente que o psicólogo está sob a sua tutela, sob
as suas ordenanças e não passa de um ajudante. Aqueles tem a demanda analise em
seus consultórios com um número considerável de clientes, ali indica que esse
profissional encontrou o seu lugar no psiquismo do cliente.
Porém
existem outros profissionais em que ocorre a demora para encontrar um lugar no
psiquismo do sujeito, pois depende da demanda do sujeito pela análise. Exemplo,
aqueles que atuam na área hospitalar encontraram um lugar no psiquismo de
indivíduos que buscam o hospital. Agora encontrar um lugar no psiquismo de
pessoas que estão dentro das redes sociais não é tarefa muito fácil, e isto traz
desprazer ainda mais tendo que se oferecer. [...] Em sua obra “Além do
Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também
rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer
e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
É
lógico que dentro de qualquer instituição e organização existe posições de
hierarquia e neste contexto o psicólogo se encontra mesmo sob a hierarquia de
alguém. Se o psicólogo se esquecer de que seu lugar é no psiquismo do sujeito,
só resta a posição de ajudante.
Nas
redes sociais o psicólogo caminha em busca de um lugar no psiquismo do usuário,
ou um nicho específico, seja, criança, adolescente, adulto, idoso, portadores
de necessidades especiais, sujeitos com transtornos mentais, população
LGBTQIA+, Day trader, pessoas que vão a academia, professores, evangélicos,
católicos, espiritas, estudantes e pessoas do senso comum e diversos
profissionais.
Essa
presença é peculiar, pois não é uma presença como outra qualquer, mas deve ser
incluída no conceito de inconsciente dos usuários. O discurso da rede social
não só exclui a subjetividade do analista, que é chamado a calar os seus
sentimentos, pois é isso que a ordem internet exige dele, mas também despossui
o indivíduo de sua doença, de seu sofrimento, de sua posição subjetiva. Ao
mesmo tempo que o doente, como indivíduo, se apaga diante da doença, o analista
enquanto pessoa também se apaga diante das exigências da rede social.
Evidenciando que é a exclusão das posições subjetivas do analista e da rede
social o que funda a relação analista-rede social.
Enquanto
a transferência do analista com sua rede social se manifestar como confiança e obediência
as ordens que lhe é dada, ele não constitui um problema para rede social. Mas
quando, poderíamos dizer assim, essa transferência fica exacerbada, ou melhor,
quando fica evidente que o analista está deslocando para a cena rede social
outros problemas e solicitando da rede social muito mais que o sua ordem e regras, ou quando o seu mal-estar vai
além daquele mal que a rede social, pode dar conta, é ai que se instala um mal
entendido de ambas as partes.
E
quando essa transferência se estende para outros aspectos de sua vida que a
rede social é capturada como objeto de desejo do analista, que na falta de
poder tomar o seu saber de analista para si próprio, o toma diluído nos posts
que encaminha nas redes sociais.
E,
é na cena rede social, até porque se encontra numa posição menos privilegiada
que lhe permitiria agir sem raciocínio, que o analista encontra a possibilidade
de expressar e usar o drama de sua existência, transferindo para a cena
internet aquilo que ali não pode ser escutado senão estresse e nervosismo.
Entendo
que é sempre numa situação, onde a rede social invade a subjetividade de forma
abrupta e como um obstáculo que o usuário é solicitado, muito mais para
salvaguarda-la fazendo calar ali o analista [não abrindo um outro canal e
cenário] do que para tratar o sujeito em questão.
Quer
dizer que a entrada do analista na cena internet e a instalação de um outro
discurso eliminaria a transferência do usuário com a internet, na medida em que
ele dirige um sair para o analista. O que ocorre é que ele deixa de dirigir a
rede social questões referentes ao seu ser, ao ser doente, conhecido pela própria
experiencia de que a rede social tem limitações.
Dito
isto, eu que a certa altura ao tentar a reinserção na internet, e não sabendo
como enxergar com outra lente que não fosse a da psicanalise, me perguntei o
que então faria um analista na rede de internet, tendo de deixar de lado aquilo
que sabia fazer? Mas eu estava na internet me propondo a trabalhar, foi porque
assim escolhi até o momento.
E,
portanto, tomado de desejo e proibição da atuação psicanalítica como uma
questão inclusive e principalmente de analise, começa a nascer este artigo. Lacan
(1985[1964]) utilizou o termo “presença do analista” para colocar o
psicanalista no campo de uma função, ampliando a sua presença para além da
presença física, firmando que se trata de uma presença simbólica que testemunha
e viabiliza a presentificação do inconsciente do sujeito. Essa presença é
peculiar, pois não é uma presença como outra qualquer, mas deve ser incluída no
conceito de inconsciente. Essa posição do analista pode engendrar algumas
dificuldades na condução dos casos e este é o paradoxo do conceito de
transferência: ela pode facilitar ou ser o maior entrave na direção do
tratamento: “a transferência é a atualização da realidade do inconsciente”
(Lacan, p.139 e 142).
Dentro
dessa lógica, observa-se que a demanda endereçada ao psicólogo na rede social é
a de especialista da subjetividade, localizando-o como um mais de poder da
medicina, aquele que opera num campo onde o médico, o pastor de igreja não
alcançam na subjetividade. E, é esse o lugar que o psicólogo é convocado a
ocupar.
A
demanda das redes sociais é quase sempre a de resolver urgentemente e sem
recursos, mas de forma absolutamente eficiente, o problema, das pessoas que é
localizado sempre neste algo da subjetividade que escapa ao saber do senso
comum. Do ponto de vista da gestão da qualidade, ser eficiente consiste em
alcançar a eficácia atingir o resultado planejado com o menor recurso possível.
Diante dessa demanda colocada pelas redes sociais, o analista oferece sua
presença consistente embora vazia de significação que tem como efeito um espaço
para emergir o sujeito através da representação na fala e inscrição simbólica
daquilo que está fora da linguagem. É a partir deste lugar que o psicanalista
vai operar, e por ser um lugar incerto, carece de indagações sobre os efeitos
dessa presença e formalização constante acerca da sua práxis.
O
lugar do psicanalista na internet, isto é importante basicamente para o psicanalista,
porque o que se percebe é uma certa confusão de posicionamento quando ele se
põe a trabalhar a serviço da internet. É como se para ser reconhecido
precisasse sair do seu lugar do consultório. A rede social coloca o psicanalista
numa posição subordinada. Mas o problema não é a internet colocar o psicanalista
nesta posição marginal subordinada; o problema é quando o próprio psicanalista
na falta de identificar a originalidade do seu próprio discurso e de sua clínica
em relação à rede social, se deixa confinar nessa alternativa.
Essa
posição subordinada, mesmo se não é considerada como menor, não pode ser aceita
porque não põe em evidência o fato de que o psicanalista instaura um outro
discurso, portanto uma outra clínica. Na cena rede social, o psicanalista se dá
em outra cena clínica. O que pode o analista na internet? Atender ao paciente a
fim de descobrir as causas psíquicas que estão determinando um sintoma cuja
etiologia foi impossível de ser detectada pelos modernos recursos médicos. E
compreender o seu lugar no psiquismo do sujeito, e que não é de ajudante de
outros profissionais.
Alguns
profissionais e as redes sociais querem esvaziar o paciente de sua
subjetividade, e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma
subjetividade, acreditando que mais fácil do que secar o mar, é aprender a
navegar. A transferência é movida por uma suposição de saber que o doente se
dirige ao consultório do psicanalista, são enquanto sujeito suposto saber que o
doente visualiza o psicanalisa a quem procura, e o desejo dirigido a sua pessoa
muitas vezes, é o que expressa o desejo que o doente tem de se apropriar do seu
saber, ou dos benefícios do seu saber.
Noto
então que a transferência na rede social pode ser movida por uma crença de que
o doente que não se dirige ao consultório online do psicólogo, é enquanto
sujeito o suposto doente que não visualiza o psicólogo a quem não procura, e o
desejo não dirigido a sua pessoa, muitas vezes é o que expressa o desejo que o
doente não tem de se apropriar do seu saber, ou dos benefícios do seu saber.
Enfim,
o que se constata na rede social é que pode se dar a necessidade subjetiva do
paciente de não buscar um saber de que não sabe, a partir do não reconhecimento
na posição de doente. Se o desejo de não reconhecimento é, antes o desejo da não
existência e para não existir no discurso psicanalista, por tanto junto ao
psicanalista, é preciso não estar doente, então é para não buscar esse saber
absoluto, capaz de livra-lo da angustia e apaziguar o seu mal-estar, que ele,
não pede cura, pede também que o enxerguem como saudável, que o tratem como uma
pessoa que não sofre. [...] Negação, provavelmente é o mecanismo de
defesa mais simples e direto, pois alguém simplesmente recusa a aceitar a
existência de uma situação penosa demais para ser tolerada. Ex: Um gerente é
rebaixado de cargo e se vê obrigado a prestar os mesmos serviços que exercia
outrora.
O
sintoma é o cartão de visita com o qual o sujeito apresenta formulada a sua
demanda. A demanda feita ao psicanalista é recebida por ele como sendo o modelo
particular do paciente interpretar para si mesmo seu próprio sintoma, a partir
do que ele sabe e também do que ele não sabe, a partir do desconforto de tipo
especial que lhe causa seu sintoma.
É
muito comum o psicólogo reclamar incessantemente dos usuários da rede social
por não ter um lugar para trabalhar. De que lugar ele está se queixando, e logo
dos internautas? É preciso se pensar na possibilidade de sua queixa se referir
não exatamente a falta de sala porque ter uma sala [virtual ou física] é ou
deveria ser uma consequência lógica da contratação de um psicólogo quando ele é
necessário], mas ele pode estar se queixando da falta de um outro espaço, [instituição,
organização, clínica] sem muitas vezes se dar conta disso. Pode ser também a
falta de estabelecer o contrato psicológico entre analista-paciente [aliança
terapêutica].
Quando
o psicólogo responde a solicitação do usuário na rede social nessas condições
quer dizer se ele vai ajudar quando é necessário, ele se confirma nessa posição
de ajudante da internet. Ao mesmo tempo sem dar conta quando não é necessário à
sua ajuda, ele sente-se esquecido, desprestigiado e se queixa de que não tem
lugar no psiquismo dos indivíduos da internet. Essa queixa pode se manifestar,
por exemplo pela reivindicação de internautas clientes.
Explicando
melhor; para o médico, para o pastor, o psicólogo é necessário para ajuda-lo
quando algo estranho [a ele, médico, pastor] está conturbado a execução de suas
atividades. Se estiver tudo bem para o médico, para o pastor [o que não
significa dizer que está tudo bem com o paciente], o seu ajudante psicólogo
será destinado, sem sombra de dúvida, ao esquecimento, até que algo venha a
conturba-lo novamente. Quando o psicólogo responde a solicitação médica, ou
pastoral nessas condições, quer dizer, se ele vai ajudar quando é necessário,
ele se confirma nessa posição de ajudante do médico, do pastor. Ao mesmo tempo,
sem se dar conta, quando não é necessária à sua ajuda, ele se sente esquecido,
desprestigiado, e se queixa de que não tem sala [paciente ou trabalho]. Essa
queixa pode se manifestar, por exemplo, pela reivindicação de sala presencial
ou online.
Então
quando dizemos que o lugar do analista não é o de ajudante na rede social é
para marcar que ele não está na mesma ordem que os profissionais não psicólogos
que estão na internet, que estão ali para executarem as suas atividades em
função de obedecer às ordens das redes sociais ou dos usuários.
O
que constitui um problema complicadíssimo para o analista na internet é [exatamente
e isso ele precisa ter muito claro] esse efeito positivo para as redes sociais,
ainda que necessário para garantir o seu lugar, não pode ser o seu objetivo principal,
mas sim uma consequência de sua intervenção. Porque se ele se mete a intervir
com os pacientes apenas no sentido de ajudar na manutenção das redes sociais a
manter a sua ordem, ele pode até conseguir isso, mas necessariamente estará
fazendo qualquer coisa [política, jogo de interesse, ou o que preferirem],
menos psicanalise, pois está deixando de lado a questão sujeito ao colocar em
primeiro plano a questão da rede social.
O
analista sabe do seu lugar, e este é, portanto, se ele também faz parte de uma
equipe multiprofissional ou pode atuar individual ou até junto com outros
colegas de diversas abordagens, este é o referencial que tem para se relacionar.
As redes sociais pode ser o palco, onde se evidenciam os papeis de cada
personagem.
A
questão da demanda de analise, na rede social quem se oferece é o analista. É
muito mais confortável a situação do analista que está no consultório à espera
de uma demanda do que o analista que estando na internet se apresenta aos
pacientes e diz que veio para escuta-lo por meio de posts. De que forma é mais confortável?
Em que situações ser procurado pode ser mais confortável do que ser oferecido?
Nem sempre que se oferece a escuta se tem demandas, mas se se oferece a escuta
é porque se presume a existência de demandas. Quando algum analista abre um consultório
físico ou online, isso é um lugar de oferta e se espera com isso a criação de
demandas, se não, ninguém se arriscaria a um negócio desses.
Observa-se
que as vezes a demanda do psicólogo encontra-se fora de seu espaço geográfico e
psicográfico em relação à rede social que está inserido, necessitando ampliar
por meio de recursos financeiros o impulsionamento de post e anúncios do
alcance para encontrar demanda amentando o espaço geográfico ou território
virtual. O mesmo acontece no consultório. Então onde há oferta pode surgir
demanda e se surge a demanda é porque existe em algum lugar a possibilidade de
ser escutada. Mas o fato de estar no consultório físico ou online também não é
estar se oferecendo para o possível paciente que está a caminho.
O
psicanalista é o lugar dessa oferta, um tratamento. A questão da oferta e da
demanda, tanto no consultório quanto na rede social quem se oferece é o
analista. A oferta está sempre do lado do analista, a demanda de analise, do
lado do paciente. O que há de peculiar para o analista na internet é que ele
vai virtualmente comunicar ao paciente que existe o lugar dessa oferta para que
o cliente possa vir a um encontro se assim desejar. Se não desejar, ele não tem
o que demandar, o que significa que o analista deixe de ser o lugar de oferta
de tratamento. Ele não demanda e daí? O psicólogo pode se aperceber faltante de
ser oferta de tratamento para o outro, ou seja, pode sinalizar que o psicólogo esteja
passando por um processo, indicando que a falta de cliente é para ele observar
algo ou que se estivesse com o consultório cheio passaria despercebido.
É
importante notar que o que impede o início ou andamento de uma análise não é o
fato do analista caminhar em direção ao paciente na rede social e dizer que está
ali por meio dos posts, mas é a falta de demanda de análise. Por fim; se
sabemos que a oferta está do lado do analista e a demandado lado do paciente,
essa questão de ir até a internet me parece que só pode impedir que a análise
se de, se não há um analista de fato, e sim uma pessoa que se incomoda que se
não se sente bem em fazer isso e tem angustia, medo de ser rejeitada pelo
internauta. Sendo assim é melhor que se não ofereça mesmo porque se a partir de
sua oferta se criar uma demanda de analise, essa pessoa não teria o que fazer
com isso, nem na internet, nem no consultório. [...] “A angústia é,
dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode
reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a
que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Somente
a psicanálise sabe e defende que o único remédio efetivo para a angústia é o desejo.
E para haver desejo, é necessário que o sujeito suporte a falta, ou seja, que
nele se inscreva aquilo que, em psicanálise, chamamos de castração simbólica [privação
do outro]. Para haver desejo é preciso haver, primeiro, a falta. Se eu desejo
algo ou alguém, é porque esse algo ou alguém me faz falta. Se, ao contrário, me
sinto completo, nada tenho a desejar, pois nada me falta. Mas se não desejo, me
angustio, pois um sujeito sem desejo não é mais um sujeito, ele se torna um
objeto para o desejo e para o gozo do Outro. Por isso Lacan dizia que a
angústia é a sensação do desejo do Outro, o temor de ser um objeto para esse
Outro. Ou medo de ser um objeto para o outro em que será usado nas questões dos
saberes, abusado aproveitando-se do afeto do profissional e descartado
rejeitado por não ter mais utilidade para análise depois de um período.
Agora
há o psicólogo que através de blog na internet, acaba postando artigos de
psicologia, este sim consegue ser objeto de desejo para uma minoria de leit@r e
ocupa um lugar no seu psiquismo e não como ajudante, contribuindo para que
tenham acesso a informação e conhecimento. Para esse psicólogo é um prazer
constatar as três atitudes do leitor. A primeira, o leitor está lendo seu
artigo e por tanto se permite ser usado por estar transmitindo saber ao leitor,
em seguida, é abusado por que tem consciência que o leitor está aproveitando do
conhecimento ali depositado e sente prazer nesta ação e na terceira será descartado,
pois sabe que o leitor ao terminar a leitura do artigo ficará gravado na
memória o conhecimento adquirido de graça. Por tanto o psicólogo consciente se
transforma num objeto de gozo para o leitor e livre do temor de ser um objeto,
pois ocupou o lugar no psiquismo do leitor por oferecer-se ao outro por meio de
artigos.
O
mesmo ocorre com o psicólogo que posta vídeos no Instagram e post contribuindo para
o usuário com saber e conhecimento, mas não representa que terá demanda de
analise ou psicoterapia. Assim como Cristo Jesus, não consegue ser objeto de
desejo para muitos cidadãos, o psicanalista também não consegue ser objeto de
desejo de indivíduos nas redes sociais, sinalizando que não há demanda de análise.
Por tanto pode se sentir faltante de ser usado, abusado e descartado ou ainda
com medo que isso possa acontecer de fato.
Ou
seja, se nem ao menos consegue ser tornar um objeto para o gozo do outro, então
resta o temor de não ser objeto para o gozo. Em outras palavras, o sujeito
angustiado está sempre preso na ilusão de que deve satisfazer as demandas
daqueles a sua volta e, ao mesmo tempo, o seu desejo fica em último plano ou
ele nem mesmo o conhece. É, possível superar a angústia pela sua evitação? Na
neurose, a angústia é evitada de todas as formas; pelos sintomas ruminantes do
neurótico obsessivo, nas queixas intermináveis do histérico, nos temores do
sujeito fóbico, no uso de drogas pelo toxicômano.
A
psicanálise é a única prática que faz o contrário; ela não foge da angústia,
ela possibilita ao sujeito uma escuta que tem por efeito dar-lhe a chance de
suportar sua angústia para, então, atravessá-la e chegar ao desejo. Mas, como
assim “atravessar” a angústia? Ou seja, não é possível superar a angústia por
meio de sua evasiva, pode-se apenas atravessá-la no caminho para chegar ao
desejo. Pode-se mesmo dizer, então, que a angústia serve para sustentar o
desejo, porquanto este requer uma diferenciação entre o buscado e o obtido.
Produzir
o desejo é o melhor remédio para a angústia e, vale dizer mais uma vez, somente
a psicanálise combate a angústia precisamente com esse remédio. A entrada de um
psicanalista na internet, numa instituição de saúde não corresponde,
necessariamente, à sua inserção, assim como o lugar do psicanalista numa equipe
de saúde não corresponde a uma vaga disponível no quadro funcional de uma
instituição. É um lugar que precisa ser construído de modo a que ele, o
psicanalista, possa operar. Chamemos de inserção o processo de construção desse
lugar. A inserção do psicanalista é um processo que tem a ver com o seu ato, o
ato do psicanalista.
Estamos
falando de algo que tem a ver com um posicionamento simbólico, uma localização
subjetiva, e que, portanto, leva em conta um processo psíquico que envolve, no
mínimo, um eu, um outro e uma estrutura que os contém e delimita de forma a
garantir a qualidade de dentro/fora de qualquer que seja o elemento que a
constitua.
Pode
ser útil tomar como referência o que ocorre na clínica psicanalítica, na
situação que se estabelece entre o analista e o analisando, no campo
transferencial, quando se discute o tema da entrada em análise. Sabe-se bem que
o fato de uma pessoa frequentar assiduamente o consultório de um analista,
pagando com regularidade, não é suficiente para que se possa dizer que este
alguém entrou em análise, posto que o que garante está entrada não é,
exclusivamente, o bom cumprimento de um contrato.
O
processo de inserção e o lugar do psicanalista na internet estão relacionados
com os dois aspectos seguintes:
a)
O tipo de demanda que a internet lhe dirige que, por sua vez, é determinada pelo
tipo de relação que os internautas estabelecem com a subjetividade, sendo que são
de acordo com esta relação que se pode verificar o tipo de postura que a rede
social assume em relação à subjetividade do paciente, determinando, logicamente,
o tipo de demanda apresentada ao psicanalista;
b)
A forma pela qual está demanda é escutada pelo analista e o tipo de resposta
que a ela dá, favorecendo ou, até mesmo, impossibilitando a sua própria
inserção.
Aí
temos dois pontos fundamentais, que devem ser esclarecidos:
a)
A ideia pré-concebida do próprio profissional de que a inserção de um [analista]
depende da ação do outro [internauta] e não da Inter-relação dos dois num
campo;
b)
A não consideração da possibilidade de diferença entre demandar trabalho e
demandar presença.
Para
localizar a inserção do analista no campo da relação dele com a rede social é
preciso dizer que tal inserção só se dará a posteriori. Pela lógica, a rigor,
não podemos dizer que alguém vai se inserir, mas que alguém se inseriu. Isto é
algo que só podemos saber depois de estabelecido este campo. Só depois da
compulsão a repetição das ações do psicólogo. [...] Freud no seu texto
“Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Portanto,
encaminhar não é necessariamente demandar, no sentido de desejar saber, assim
como procurar um analista não é, necessariamente, a mesma coisa de desejar uma
análise. O analista ainda que possa tratar do paciente, não consegue a princípio
trabalhar com a interconsulta [paciente indicados por outros colegas],
terminando por fazer um trabalho isolado nas redes sociais. De forma alguma o
que se espera de um analista na internet é a sua não inserção, ainda que do
ponto de vista clinico, faça um trabalho importante com o paciente da internet.
Aí teremos um trabalho isolado na vertente clínica, sem o trabalho na vertente internet.
Para fazer um trabalho clinico não é necessário estar na internet.
O
fato de estar na internet traz especificidades ao trabalho do analista que nela
opera. Assim sendo a inserção do analista no contexto internet não é uma
condição que lhe é dada. É o resultado de seu próprio esforço decorrente da
responsabilidade de seu ato e não é um pré requisito para que o trabalho
aconteça. Se a proposição inicial era se há possibilidade de inserção, então
posso trabalhar, a proposição a que chegamos a partir desse dispositivo é
outra: Se posso trabalhar, então há possibilidade de inserção.
O
lugar do analista na internet é um lugar de esforço, de promoção de trabalho, e
a inserção só é possível como consequência a partir do estabelecimento de um
campo de relação transferencial no qual o lugar de onde o analista opera não
corresponde, necessariamente ao lugar no qual a internet o coloca. As vezes o psicólogo
ocupa o espaço vazio nas redes sociais que é uma transferência do usuário que
precisa ser preenchida com sua participação, transmissão de saber psicológico e
informação ao internauta, mas sem demanda para o consultório presencial ou
online, desvelando a inserção do analista na rede de internet. A inserção
acontece através de várias ações de estratégias que independe da demanda.
Faz-se
necessário a partir de então compreender como se dá a suspenção desse lugar na
internet frente a diversidade dos discursos e das ancoragens éticas, lembrando
que o analista inserido na internet vai apresentar sua contribuição por meio de
sua participação, e isso não se faz sem consequências nem para ele, nem para o
paciente, nem para a internet.
O
fato de não haver propriamente uma relação subjetiva analista-doente não impede
de entender que o desejo do analista é definido pelo objeto da psicanálise, o
inconsciente, pois é ele que o constitui como tal. Se o analista se interessa
pelo inconsciente, não é senão porque ele é o lugar onde a doença se inscreve,
e enquanto objeto do seu interesse, fica assegurado que o único discurso valido
sobre a doença seria o discurso psicanalítico, pois o discurso do doente sobre
sua doença fica desacreditado, já que poderia ser contaminado pelos
preconceitos que o impede de raciocinar claramente.
Se
o analista encontra um lugar para se situar na casa da internet é porque, antes
de mais nada, do ponto de vista dos internautas, há um lugar para a psicanalise
na internet o que não necessariamente coincide com o lugar ocupado aí pelo analista.
O lugar do analista na internet, isto é importante para o analista porque o que
se enxerga é uma certa confusão de posicionamento quando eles se põem a
trabalhar a serviço da ordem internet, nas redes sociais. É como se para ser
reconhecido precisasse sair do seu lugar.
Ora,
teoricamente, se o psicólogo é contratado para trabalhar em uma instituição, ou
como voluntário é porque ali ele tem um lugar reservado. A questão é que na
maioria das vezes, esse lugar que lhe é reservado é o de ajudante do médico, do
pastor, do psicólogo principal da instituição, do juiz, e se o psicólogo
aceitar esse lugar, se se colocar nessa posição de ajudante, se cair nessa
armadilha, ele não pode vir a se queixar depois, principalmente da falta de
sala que não lhe foi permitido ter, já que ele próprio fez desaparecer o lugar
que, apesar de distorcido, lhe havia sido aberto, mesmo as vezes com
profissionais lhe demonstrando que não o quer neste lugar.
Evidentemente
não estamos dizendo com isso que o psicólogo deve negar ao pedido de
atendimento médico, pastoral, nem que ele está impedido de ajudar o médico, o
pastor quando isso for necessário, pois se fizesse isto estaria cometendo uma
violência contra si mesmo, contra a ética moral ou até um ato irresponsável.
Não, não se trata de nada disso.
A
questão é que propomos como modelo de intervenção é o modelo psicanalítico.
Então, a colocação de que o lugar do analista não é de ajudante das redes
socias, nem de pastor, nem de médico é para mostrar que o lugar do analista é
no psiquismo do paciente E a posição que ele ocupa, a princípio, é a de sujeito
suposto saber. O analista é, para o seu paciente, ora aquele que sabe sobre o
seu inconsciente, ora o objeto de amor que irá satisfaze-lo para sempre [é isso
que ele imagina]. Se ele sabe manejar a transferência, a partir da demanda de
analise, o seu lugar está garantido.
.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD, S.
(1990). O ego e o id. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 423).
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