Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
Chamo
a atenção do leit@r a repensar sobre a possibilidade de perda do prestígio. Será
que perdemos o respeito por nós mesmos e nos sentimos faltantes de respeito que
precisamos e esperamos do outro ser respeitado, enquanto que apenas recebemos o
desrespeito do próximo ou até de familiares. Ou nos portamos inconscientemente
que aceitamos o desrespeito como forma de nos punirmos, por nos sentirmos
desrespeitado e faltantes de desrespeito que esperamos projetando no outro a pseudo
esperança de receber o respeito de pessoas alheias e familiares.
A
perda de identidade. É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de
castração, da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público. Pode ser a
perda da identidade profissional de técnico em mecânico que o indivíduo perdeu
no passado com o prestígio que tinha na família e na organização; ou perda da
identidade profissional de teólogo, exemplo de conselheiro pastoral exercido
como voluntário na igreja e ao sair do ministério, perdeu o prestígio com os
membros da congregação e no ceio familiar; e a perda da identidade profissional
de psicólogo, onde não reside o prestígio no meio familiar e nem na sociedade
diante das pessoas. O que levaria a perda do objeto amado, onde o sujeito está
privado nas identidades profissionais que deseja atuar por razões
desconhecidas. Em consequência se apercebe como sujeito faltante de prestígio.
[...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma:
a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
A
ameaça desses ou de outros eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois
modos de diminuir a ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a
situação. Resolvemos problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de
ameaças, e chegamos a termo de um problema a fim de minimizar seu impacto.
Desta forma, lutamos para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de
sua repetição, reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no
futuro.
A
outra forma de defesa contra a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O
Ego protege a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os
modos pelos quais se dão as distorções são denominados Mecanismos de Defesa.
Quando o Ego está consciente das condições reinantes, consegue ele sair-se bem
das situações sendo lógico, objetivo e racional, mas quando se desencadeiam
situações que possam vir a provocar sentimento de culpa ou ansiedade, o Ego
perde as qualidades.
É
quando a ansiedade-sinal [ou sinal de angústia], de forma inconsciente, ativa
uma série de mecanismos de defesa, com o fim de proteger o Ego contra uma dor
psíquica iminente. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e
modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de
sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na
monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem
elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas
mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais
profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Há
vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que outros. Há os
que exigem menos dispêndio de energia para funcionar a contento. Outros há que
são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia psíquica. Com
isto urge a Angústia depressiva, ou seja, o ego sente culpa e teme pelo dano
causado ao objeto amado. Por fazer uma leitura mental e interpretação
equivocada sobre a situação complicada de desprestígio. [...] Freud no
seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a
pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
Mas
qual o conceito de prestígio, ou seja, é uma avaliação que normalmente descreve
reputação, embora ela tenha outros significados relacionados que podem, em
certo grau, ser contraditórios. Qual significado deve ser aplicado, depende do
contexto histórico e da pessoa que usa o termo prestígio para si mesmo. O termo
abarca múltiplos significados, por exemplo, a importância social; a autoridade
moral; a sedução admirativa exercida por uma pessoa, instituição ou coisa; a consideração
ou respeito avaliado pelas qualidades pessoais diante do desempenho do papel e
pela posição social de alguém ou algo.
Em
todos estes significados o lugar do prestígio pode estar na estrutura social,
nas qualidades intrínsecas da pessoa ou grupo ou na relação entre o indivíduo e
a audiência dos ouvintes ou espectadores. Assim, para alguns autores, o
prestígio simboliza o poder simbólico, para outros, o estatuto individual. O
prestígio conquista-se através do investimento e esforço pessoais ou através de
qualidades inatas, demonstrando-se através de recompensas simbólicas ou
materiais, podendo ser maior ou menor e ser atribuído a uma pessoa, a um grupo
ou a uma unidade social. O reconhecimento de prestígio a alguém ou a algo
depende da posse de qualidades, que variam com o tempo e as sociedades.
Contudo,
a profissão ou a ocupação exercida de alguém é, geralmente, um elemento
valorizado na atribuição de prestígio, havendo hierarquias de prestígio nas
profissões. Por outro lado, o reconhecimento de prestígio depende também de
fatores relacionados com a pertença a certos grupos sociais, que podem ser
vistos como mais ou menos capazes de aceder ao prestígio. Admiração ou respeito
que se sente por certas pessoas, certas instituições, certos produtos, e outros,
devido à sua influência, importância ou sucesso e notoriedade.
Exemplo,
no caso do prestígio cristão. Observa-se o prestígio de um cristão no próprio
trabalho que pode ser o meio para atrair muitas pessoas à fé. Esta atitude no
ambiente organizacional ou familiar serve para orientar pessoas a aceitar a
Jesus Cristo, então é o prestígio das virtudes cristãs, vivificadas pelo amor,
compaixão, e também é o prestígio da pessoa trabalhadora, competente na sua
tarefa, justa, alegre, nobre e leal, honrada, amável, sincera, serviçal,
virtudes que podem ser vividas tanto no sucesso quanto no fracasso humano. Esse
é o prestígio de quem cultiva essas qualidades todos os dias, por amor a Deus e
aos outros e a falta de prestígio gera o desprestígio o induzindo ao estado de alienação.
[...] Para Marx, o processo de alienação manifesta-se no trabalho e na
divisão do trabalho. O trabalho é, para ele, o relacionamento ativo do homem
com a natureza, a criação do próprio homem (...). Com a expansão da propriedade
privada e da divisão do trabalho, todavia, o trabalho perde sua característica
de expressão do poder do homem; o trabalho e seus produtos assumem uma
existência à parte do homem, de sua vontade e de seu planejamento (Fromm, 1983,
p. 53).
Cito
outro exemplo, o prestígio de conselheiro pastoral, é o valor sociocultural
positivo atribuído a um indivíduo que ocasiona uma imposição em relação aos
demais como, respeito; admiração que se tem por atuar em aconselhamento
pastoral demonstrando o prestígio dos intelectuais teólogos, exercendo grande influência
sobre membros da igreja.
Aponto
outro exemplo, o prestígio de técnico em mecânica, é o valor de visão, de
missão e cultura positivo atribuído a um indivíduo que ocasiona uma imposição
em relação aos demais técnicos dentro de uma organização multinacional como,
respeito; admiração que se tem por desempenhar o papel de técnico em manutenção
de equipamentos pneumáticos e hidráulicos demonstrando o prestígio dos técnicos
intelectuais, exercendo grande influência sobre pessoas na gerência, supervisão
e colaboradores de chão de fábrica.
Isto
é também válido para o prestígio de psicólogo, de médico, de advogado, de
professor, de enfermeiro, de ferramenteiro, de empresário dentre outros. Por
isso a perda de prestígio associada a perdas de identidade profissional pode
originar no indivíduo o se sentir insuficiente, manifestadas por meio da emoção
de medo inconsciente, ou seja, sem que o sujeito perceba, por exemplo, medo de
rejeição, de nada dar certo, de ficar sozinho, de perder o emprego, de não
conseguir sair de um conflito familiar onde está inserido, de perder a
namorada, de se sentir culpado pela reação de alguém, de dar a própria opinião,
ou seja, medo de ser você mesmo e de se sentir culpado por algo que possa
acontecer. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa,
e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma
situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Este
sujeito precisa compreender que todos os dias milhares de trabalhadores estão
perdendo suas identidades profissionais e junto com elas o prestígio. E buscam
outras identidades profissionais que possa lhes conferir prestígio novamente. Mas
o necessário a saber é Quem Sou? Exemplo, apenas o Ser Humano [Singular na
Essência] ausente da atuação dos prestígios de teologia e psicologia, mesmo com
as perdas de prestígio na sociedade e comunidade perante os outros. Isto exige
do indivíduo a lei de adaptabilidade e autoconhecimento. [...] Charles
Darwin (1809-1882), naturalista inglês, desenvolveu uma teoria evolutiva que é
a base da moderna teoria sintética: a teoria da seleção natural. Segundo
Darwin, os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de
sobrevivência do que os menos adaptados, deixando um número maior de
descendentes.
Sendo
assim, o indivíduo entenderá que a perda de prestígio é algo natural e
inevitável e as vezes se torna necessário para o sujeito reavaliar-se e
procurar o autoconhecimento, a individuação e buscar saber quem é de fato
independente das perdas de prestígios que acontecem na sua vida.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
MARX,
Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. In: FROMM, Erich. O Conceito
Marxista
do Homem. 8a edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
Comentários
Postar um comentário