Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a repensar sobre a possibilidade de se
adaptar de maneira mais consciente, a algumas situações que lhe causa estresse,
raiva ou resistência a mudar atitudes, hábitos para que possa tirar algo de
valor da circunstância estressora. A sociedade passa constantemente por
mudanças e essas evoluções podem ser notadas principalmente no ambiente organizacional,
na instituição familiar. As empresas exigem cada vez mais de seus funcionários
e valorizam fatores como conhecimento técnico, comunicação, facilidade de
relacionar-se, ousadia e capacidade de adaptação. A adaptação às mudanças não é
tão simples. É mais fácil permanecer na zona de conforto da angustia com o
controle absoluto de todo o trabalho e sem a necessidade de preocupar-se com
grandes imprevistos que arriscar-se numa atividade ainda desconhecida e
enfrentar novos desafios. [...] “A angústia é, dentre todos os
sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao
encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela
imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o
homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar
pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais
profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
O
comportamento adaptativo diz respeito à funcionalidade do indivíduo, e é promotora
da sua adaptação nos contextos de vida. A adaptação do ser humano implica a
articulação de fatores internos [psicológicos] e externos [sociais, culturais],
expressa no desenvolvimento e implementação de estratégias que permitam a satisfação
das suas necessidades psicológicas [percepção de controle, autoeficácia, autoestima,
autonomia, relacionamento interpessoal]. Um indivíduo também se adapta, através
de recursos disponíveis para ele naquele exato momento, e deve saber
utilizar-se desses meios para adaptar-se a eventos extremos.
Entretanto
saber lidar com as alterações que acontecem no ambiente organizacional é um
diferencial muito valorizado pelas companhias. Mas também saber lidar com as
alterações que acontecem no ambiente familiar é algo muito importante, pois a
família não deixa de ser uma organização. O que se aplica ao ambiente
organizacional se aplica a instituição familiar, como valorização de
conhecimento, saber comunicar-se assertivamente por meio da comunicação não violenta e não
fazer uso de violência verbal ou física, ter facilidade para interagir com os
membros da família e capacidade para adaptação diante dos conflitos que surgem
devido a diversas contrariedades.
O
profissional da psicologia que deseja progredir em sua carreira precisa
compreender que mudar de acordo com a situação e adaptar-se a novos modelos de
atuação é, na realidade, uma ótima conduta, capaz de evitar a estagnação e até
mesmo a demissão. Quando o profissional desenvolve sua capacidade de adaptação,
ele se torna mais proativo e têm mais ousadia para adotar soluções práticas e
eficazes. E com isto consegue orientar os clientes na adaptação com eficácia,
pois já vivenciou a adaptabilidade.
Analisar
antes de criticar uma mudança recém-surgida, é importante para procurar
entendê-la para só depois, então poder tirar conclusões. O homem, por sua
constituição psíquica, mental, espiritual e física, é um ser adaptável a todas
as mudanças e a todas as situações em que a vida o coloca, na medida que avança
para seu aperfeiçoamento. A reação que o ser experimenta quando, premido pelas
circunstâncias, o faz aceitar situações às quais, por vontade própria não
haveria jamais se colocado a se adaptar ao desprazer. [...] Em sua obra
“Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a
repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade
alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo
para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Observo
que o tempo, com a série de reflexões que sustenta em seus poderosos meios de
expressão, faz com que o homem admita, aceite e se adapte a mudanças e a
situações que geram desconforto, desprazer, mas sem alcançar a compreensão
exata de tais fatos. Daí a diferença entre os que se adaptam por obrigação e os
que buscam a adaptação natural, com plena noção do que isso significa para seu
processo evolutivo.
Ao
não utilizar o poder de adaptação, o sofrimento se torna, em geral,
desesperante, consome a vida. A Lei de adaptação é tão inflexível que não
admite meio termo entre uma e outra situação, ou seja, muda-se ou não se muda.
De modo que, se aconteceu um fato que obriga a uma mudança, permanecer no mesmo
estado ou condição equivale a viver à margem da realidade e, portanto, a sofrer
intensamente. Isto é o que sempre acontece quando o homem resiste às mudanças;
daí é que surge por toda parte a dor, as misérias, as angústias.
Você
sabe o impacto que as mudanças têm sobre você? Todas as mudanças, mesmo as
pequenas geram um impacto em nós, na forma como nos portamos perante o mundo e
como nos sentimos no mais profundo do nosso ser. Para sabermos lidar com essas
mudanças nós, seres humanos, desenvolvemos um incrível poder da adaptação.
Desde
os primórdios da humanidade o indivíduo é submetido a mudanças,
consequentemente, desde sempre ele se adapta a novos ambientes e realidades
para que possa sobreviver. Esse poder da adaptação em sua maioria é utilizado pela
pessoa de forma inconsciente, por rigor das circunstâncias ou pela necessidade
de alcançar algum objetivo.
Ciclos
se fecham e outros se iniciam, pois as transformações fazem parte da vida e é
importante saber lidar com elas de forma positiva, a fim de extrair o melhor de
cada situação. O conceito de adaptabilidade se refere exatamente a isso, à
habilidade de se adaptar conforme as exigências externas e internas. Reclamar
ou fugir do novo não irá levar ninguém a lugar algum, já a adaptação traz a
oportunidade de vivermos novas experiências e muitos aprendizados. A capacidade
de adaptar-se às diversas circunstancias da vida está diretamente associada ao
adulto maduro, pois crianças são seres indefesos e não apresentam capacidade de
adaptação.
Pessoas
maduras estão dispostas a aceitar valores tradicionais da sociedade, e ao mesmo
tempo renovar-se a partir de novas ideias, ou seja, elas têm grande capacidade de
adaptação. Quando falamos em capacidade de adaptação, não podemos deixar de
ressaltar que, antes de aprendermos a nos adaptar ao meio ambiente, devemos
aprender a conviver, consciente e serenamente com nós mesmos. A vida é cheia de
inícios e fins e, mesmo que inicialmente o indivíduo não enxergue isso com
clareza, todos eles trazem consigo grandes oportunidades de evolução e
amadurecimento em algum aspecto, seja através de um conflito familiar,
desemprego, morte de um parente ou não.
Uma
mudança, por mais assustadora que possa parecer no início, é capaz de
proporcionar ao sujeito grandes conquistas e o levar a lugares extraordinários.
Acreditar na sua capacidade é o passo primordial para desenvolver a
adaptabilidade, pois é fundamental que tenha a consciência de que é forte o
suficiente para lidar com qualquer tipo de transformação e fazer disso uma
chance para ir além.
Na
vida de qualquer ser humano ocorrem mudanças a todo momento. Desde muito cedo o
sujeito aprende a se adaptar a novos ambientes e situações desprazerosas, seja,
na escola nova, novos amiguinhos, a chegada de um irmão, a transição de
carreira, conviver dentro de uma família repleta de conflitos familiares por
não dispor dos recurso financeiros adequados, a descoberta da paixão e também
da desilusão amorosa. Enfim, no decorrer de toda trajetória muitas alterações
de rota acontecem e todas elas são necessárias para o crescimento individual.
Sabemos,
porém, que todo movimento inesperado gera desconforto. Muitas vezes a pessoa está
de tal forma presa a uma zona de conforto que, mesmo se a situação que se encontra
não seja satisfatória, gera-se medo de se
mover em direção à uma mudança, seja ela no trabalho, em casa diante de um
conflito familiar, na escola ou num relacionamento. O medo do novo paralisa o
indivíduo deixando-o na compulsão a repetição e faz com que a pessoa permaneça na
mesmice. O ideal é enxergar a mudança como uma oportunidade de crescimento e
autoconhecimento. Esteja preparado para a mudança encarando as situações
inesperadas, sem se recusar a aprender a lição que o momento quer ensinar. [...]
Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que
começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
O
importante é saber como lidar com a nova fase e entender que ela é inevitável,
ou seja, exigirá que o indivíduo permaneça por um período na circunstância que
promove o desprazer e perceba os sinais de uma mudança eminente. De nada
adianta fingir que não enxerga o que está diante de você. Problemas de saúde de
algum familiar, Conflito familiar na família em que está inserido, tentativas
de inserção no mercado de trabalho sem resultados, prospecção de clientes na
internet sem resultados, reestruturação na empresa onde trabalha e comentários
sobre a necessidade de mudar algo em si mesmo. Todos são sinais de que algo
pode acontecer e alterar a sua rotina. Se estiver atento aos sinais poderá se
preparar para reagir melhor à mudança e pensar em maneiras de como
administrá-las com o menor sofrimento possível.
Analise
a situação e veja o que de pior pode lhe acontecer com um cenário diferente ao
seu redor. Com esta informação você poderá trabalhar sua mente para estar
preparado para a mudança e também traçar estratégias para amenizar o impacto e
evitar que o pior venha realmente a acontecer. Lembre-se que a pessoa não tem
controle sobre tudo na vida, mas pode controlar a si mesmos. A mudança pode
virar a vida de cabeça para baixo, mas como reagir e lidar com ela é que faz a
diferença.
Ou
seja, o sujeito não pode controlar o momento em que um cliente precisará de
serviços psicológicos, não pode controlar o momento que será aprovado em
entrevista de emprego, não pode controlar o momento em que o mercado de
trabalho lançará a vaga certa para tal profissional. E por tanto colocar a
culpa nos outros ou tentar controlar aquilo que está fora de seu alcance não
ajudará em nada.
Compreendo
que a mudança desestabiliza a vida e, por isso, ela pode ser considerada um conflito.
Todos os hábitos podem vir a ser questionados diante da interferência de uma
rotina diferente. Resiliência, a arte de adaptar-se, e na Psicologia usamos o
termo para designar uma pessoa que tem grande capacidade de adaptar-se às
situações mais difíceis, evitando o sofrimento desnecessário e obtendo evolução
pessoal.
Observe
o obstáculo ou a situação estressante. Reflita sobre em que parte você pode
agir e atue ou não pode agir e nem atuar.
O que não puder resolver agora, deixa para depois. O que não der para
ser solucionado por você mesm@, por seus medos, deixe para lá. E por meio da consciência,
entender que as pessoas ao seu redor que vivenciam conflito familiar não irão
mudar de atitudes, até que a angustia seja forte demais para provocar a mudança
de comportamento nelas, e não há nada que você possa fazer a não ser se adaptar
dentro do conflito até que surja oportunidade para escapar desta situação que causa
desprazer.
Portanto
o ser pode se adaptar à vontade e conscientemente a todas as situações ou
mudanças que a vida lhe apresenta, ou igualmente aos eventos que sua própria
evolução lhe impõe.
Referência Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In:
Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
FREUD, S. (1920), "Além do princípio do
prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996,
v. XVIII.
FREUD, S. (1996). Obras completas de S.
Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar
", v. XII
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