Ano 2020. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo
CRP 06Q147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor(a) a olhar para si mesmo e dizer – Eu
não sou perfeito, eu tenho defeitos, mas aceito e respeito a minha história de
vida e me sinto confiante o suficiente para conviver com todas estas imperfeições,
sem deixar que meus pontos de evolução, minha forma de pensar, sentir e agir,
sejam motivos de vergonha para mim.
O
sujeito ao optar conscientemente pelo isolamento social de modo a demonstrar
respeito para com sua própria vida e aos demais ao seu entorno, passará a
vivenciar alguns dos efeitos oriundos da sua escolha devido a quarentena.
Possíveis efeitos, irritabilidade, momentos de ansiedade, angustia. Neste
momento é necessário voltar o olhar para si mesmo, e procurar compreender que
se pode fazer apenas o possível dentro de suas limitações, sem idealizações de
soluções magicas baseadas inconscientemente em personagens de estória em
quadrinho, e que não existe super homem na Pandemia. [...] “A angústia
é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode
reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a
que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Parece
que este é o momento adequado para o indivíduo acolher a sua fragilidade, pois
não se trata de uma fraqueza, porém de uma condição da realidade. Acolher a
fragilidade não simboliza que o sujeito se declara impotente frente ao ambiente
em que está inserido, entretanto exige que se avalie a cada momento em relação
ao que pensa sobre si mesmo e ao que é capaz de realizar para si mesmo e para o
outro.
Chamo
a atenção para que o sujeito observe seus limites. Exemplo, respeite e vivencie
os dias ruins; procure não se sentir culpado em relação as suas fragilidades,
pois somos seres humanos e não super-heróis; compreenda o que é possível fazer
e o que não é possível fazer; entenda e de certeza a si mesmo, que está tudo
bem em não se sentir completamente bem diante de uma situação desconfortável;
perceba que a realidade das redes sociais não é, muitas vezes, a realidade do
nosso contexto; compreenda que a realidade de algumas pessoas ao seu redor ou
até mesmo celebridades e muito diferente da sua; telefone para seus amigos e
fale sobre outros assuntos; escreva sobre o que te angustia, rasgue e jogue
fora.
Num
tempo em que somos exigidos à perfeição, ao passar pelo período de Pandemia
ocasionado pelo Corona vírus, mostrar fragilidade emocional, para muitos, é
realmente um sinal de debilitação. Eu já penso exatamente o contrário, pois
acredito que é na fragilidade que damos espaço para nos conhecermos
verdadeiramente como somos e onde temos a chance de acessar nossa força
interior, vencer nossos bloqueios e aflições e ir além.
A
grande questão é que a sociedade da perfeição nos obriga a esconder a nossa
fragilidade e a ter vergonha dela. Não podemos dizer como nos sentimos na
realidade; não podemos expor nossas angustias; dizer que temos medos; que
muitas vezes somos inseguros; temos pensamentos ruins e que não nos achamos
sempre tão bons, fortes, bonitos ou importantes, isto é sinal de ser fraco. A
melhor maneira de lidar com as fragilidades é falando sobre elas. Não adianta
fingir que nada está acontecendo, ou que seus problemas emocionais não existem
agora em tempos de Pandemia ou não existiam antes. [...] Situações de
fragilidade social são situações que envolvem o risco de rotura do equilíbrio
existente entre o indivíduo e o meio social que caracteriza a integração, como
é o caso, por exemplo, da pobreza, do desemprego de longa duração, do insucesso
escolar, da doença mental, da deficiência, mas também por vezes da pertença a
minorias étnicas e culturais. São situações frequentemente caracterizadas por
ameaças de rotura do laço social de proximidade e de solidariedade e também do
próprio vínculo simbólico que caracteriza a adesão ao grupo, acarretando
frequentemente acumulação de insucesso, rejeição e exclusão social (Xiberras,
1996).
O
indivíduo e sua consciência sabem onde tudo isso lhe dói. Portanto, para deixar
de angustiar-se, de ser um fardo e motivo de se sentir envergonhado, é
essencial enxergar suas imperfeições e aprender a conviver com elas. E o que é
ser frágil? Bem, é mostrar-se como é, e não ter medo de julgamentos alheios. É
expor-se, indo na contramão da ditatura da perfeição.
Compreenda
agora sua fragilidade emocional, também como sua força? Somos seres em processo
de evolução, entretanto só evolui quem aceita que é locomovendo-se que se faz o
movimento. Só evolui quem entende que não nascemos prontos, mas sim que se
evolui todo dia um pouco mais. É assim que conhecemos e renomeamos os
sentimentos que nos sabotam e também aqueles que podem potencializar nossos
resultados, sucesso e tranquilidade. Acolha o sinal de fraqueza, como uma força
que poucos ainda ousam prestar atenção e que nem mesmo se permitem perceber em
si mesmos. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto
esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir
enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não
pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Observe
para aprender a lidar com sua fragilidade emocional, mas não lute contra ela,
pois quanto mais o sujeito resiste mais ela persiste. Aceite as imperfeições,
não tenha vergonha ou medo de ser vulnerável diante de determinadas circunstâncias.
Procure não ter medo de ser você mesmo. Ame-se, viva e respeite sua história!
Alguns
indivíduos não lidam bem com as emoções, e é sensível a tristeza, choro,
podendo desenvolver ansiedade, estresse e até depressão. Esta fragilidade pode até
indicar uns desses problemas. Observe alguns Sinais:
·
Reação exagerada as emoções de: raiva, tristeza
ou perda;
·
Sensação de vazio;
·
Baixa autoestima;
·
Incapacidade de controle das emoções;
·
Inseguros, visão negativa ao seu redor;
·
Intolerância a frustrações e negação.
A
fragilidade responde, acima de tudo, à falta de recursos internos para
gerenciar nossos estados internos mais complexos, bem como uma clara
dificuldade em lidar com as dificuldades mais simples da vida cotidiana. Podemos
entender que a partir do momento em que um comportamento/e ou atitude gera
apenas sofrimento, insegurança a pessoa tem a possibilidade de enxergar a sua limitação.
[...] A fragilidade pode constituir a fase inicial dum processo de exclusão
social, sendo este processo caracterizado por rupturas sucessivas, nomeada
mente com o mercado de trabalho e com os laços familiares e afectivos (Bruto da
Costa, 2001).
Assim,
enquanto as pessoas sensíveis têm a seu favor uma visão mais ampla de sua
realidade e uma maneira de se conectar melhor com suas necessidades e com as
pessoas que as cercam, as pessoas marcadas pela fragilidade emocional têm
perspectivas emocionais mais limitadas.
A maioria dessas limitações psicológicas tem sua origem nos estilos de
criação a décadas e os indivíduos estão cientes de que nossa sociedade exige
mais e mais capacidades para se desenvolver nela.
Isso
faz com que os pais intensificassem seus esforços para completar o treinamento
de seus filhos desde crianças. Um dos mais importantes é que eles são
protegidos contra falhas, de modo que muitos são incapazes de tolerar a
frustração, por menor que seja. Além disso, essas crianças dificilmente
aprendem a tomar decisões autonomamente; elas se sentem inseguras e são muito
desajeitadas quando se trata de administrar suas próprias emoções e que pouco a
pouco, eles percebem que aos olhos dos outros não são tão especiais, lhes
faltam habilidades, recursos internos e estratégias para poder reagir a
questões elementares. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer”
(1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
A
saúde emocional do sujeito depende, em muitos casos, da maneira como foi educado
e da qualidade dessas primeiras interações. No entanto, uma má criação ou uma
educação ineficaz não determina totalmente a pessoa.
Algumas
características que encontramos em indivíduos com fragilidade emocional são:
·
Incapacidade de administrar e entender emoções
como tristeza, raiva, desapontamento.
·
Sua reação a elas é muitas vezes exagerada.
·
Sensação de vazio constante.
·
Sensação de opressão diante dos problemas mais
simples, diante das desavenças, diante de qualquer circunstância que não seja
como se espera ou se deseja. Exemplo, quarentena ocasionada pelo Covid-19
·
Incapacidade de gerenciar a frustração.
·
Dificuldade para controlar a vida.
·
visão de que todos ao seu redor os desapontam ou
·
Problemas constantes em suas relações sociais,
traem.
·
Baixa energia, apatia, constante melancolia.
·
Elas são inseguras em quase todas as tarefas,
sentindo-se ineficazes e com baixa autoestima
·
Quando as coisas não saem como elas esperam,
querem ou desejam, elas podem reagir com raiva ou violência.
As
pessoas frágeis sentem-se vítimas do ambiente [isolamento social, familiar, organizacional e outros], da sociedade, das
pessoas ao seu entorno. Esses sujeitos apenas reagem, como a bola que é
arremessada contra uma parede e pula de novo e de novo. Ao invés de reagir
impulsivamente, deve-se agir racionalmente tomando o controlo e definindo um
senso de responsabilidade real e autoconfiante.
Esse
senso de responsabilidade exige, por sua vez, deixar de lado as experiências
passadas e gerar qualquer mudança mesmo que acompanhada por uma sensação de
medo, e ao superar esse medo perceberá que está mais seguro e no controle da
situação. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa,
e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma
situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Podemos
vencer a fragilidade emocional e adquirir recursos que a fortaleça e nos dê a
capacidade de gerenciá-la com inteligência. E o primeiro passo é tomar
consciência dessa fraqueza e procurar não se sentir envergonhado / e ou
culpado.
Referência
Bibliográfica
BRUTO DA
COSTA, A. (2001). Exclusões sociais. Lisboa: Gradiva, Colecção Fundação Mário
Soares.
CHAUÍ, MARILENA.
HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968.
XIBERRAS,
M. (1996). As teorias da exclusão. Lisboa: Instituto Piaget, Epistemologia e
Sociedade.
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