Agosto/2020.Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor(a) a olhar para o fenômeno rede de
apoio na sociedade. Uma rede de apoio, por conseguinte, é uma estrutura que dá algum
tipo de contenção a algo ou alguém. A ideia costuma referir-se a um conjunto de
organizações ou entidades que trabalham de maneira sincronizada para colaborar
com alguma causa. Ao existir uma rede de apoio, aquele que precisa de ajuda
recebe uma contenção integral. Dito de outra forma, o problema em questão é
atacado desde diversos sectores, o que permite aperfeiçoar o tratamento. Uma
rede de apoio, em sua maioria, é formada por pessoas quem se encontram numa
mesma situação de [angustia, desemprego, desabrigo, catástrofe natural e etc.] desse
modo, como os inseridos ali já tem experiência com essa situação, se torna mais
fácil uns apoiarem os outros. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da
existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua
totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na
monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem
elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas
mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais
profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Há
também a rede de apoio a pessoa idosa, a qual tem por objetivo auxiliar pessoas
na terceira idade para que tenham mais qualidade de vida, felicidade e
desfrutem dos anos. As redes de apoio exercem um importante papel na vida das
pessoas, seja melhorando seu bem estar, sua qualidade de vida e a saúde
também. O que podemos concluir aqui é que cada dessas redes foca numa pessoa e
situação. Entendo que as vezes o indivíduo na sociedade se encontra ausente de
rede de apoio, é claro em alguns seguimentos, exemplo na meia-idade a ausência
de apoio para reingressar ao mercado de trabalho, mesmo se beneficiando dos
aparatos de rede como Poupatempo, CPAT, Agência de emprego, Rede Network ainda
assim não é o suficiente e nem garantia de que o cidadão na meia-idade
conquistará o emprego, pois contamos com o preconceito, exclusão de
profissionais que atingem a meia-idade por conta da política hierárquica das
organizações. E neste caso o cidadão se apercebe desamparado no que tange a
condição de rede de apoio. [...] Em sua obra “Além do Princípio do
Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do
passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que
nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
Ou
seja, há a rede de apoio para jovens e adultos cidadãos que se encontram na
ociosidade involuntária, entretanto os excluídos do mercado de trabalho
[meia-idade] permanecem sem rede de apoio
isso é utopia, pois só tem
funcionamento até determinada idade, a partir da meia-idade o cidadão está por
conta e risco, ou seja, por si só e como regressar ao mercado? Por tanto existe
uma falha nestas redes de apoio ao trabalhador, onde se encontra a falha [na
meia-idade do trabalhador que é percebido como lento no exercício para
determinadas ocupações, nas políticas das organizações e outros que você
imaginar]. [...] Como resultado de processos
macrossociais das sociedades modernas, a perda da força e do significado dos
contextos locais estaria criando, nos indivíduos, uma sensação de estarem fora
da rede social e, consequentemente, de estarem alijados dos processos decisórios.
A percepção mais imediata seria a do esvaziamento das relações afetivas entre
as pessoas e, no plano político, do enfraquecimento da cidadania (Giddens,
1991).
Então,
rede é isso, é a união de muitas pessoas com um único objetivo, dar segurança,
não deixar que a pessoa se sinta sozinha, desamparada, mas que tenha força para
segurar o quanto for. Sempre que for lembrar de rede de apoio, é importante
lembrar da definição de rede, no sentido literal da palavra. Numa rede de apoio
pode conter, médicos, psicólogos, amigos, familiares, cônjuges, um grupo no
Facebook, Instagram, Twitter, um grupo de roda de conversa, ou seja, qualquer
pessoa à sua volta, pode ser a sua rede de apoio. Existe a diferença entre rede
de apoio e ajuda, a gente pode até confundir, de tão parecidos que os
significados possam ser. Como dito antes, a rede de apoio é feita por muitas
pessoas para auxiliar alguém, uma rede são pessoas que podem te ajudar a não se
sentir desamparada. [...] O apoio social que as redes proporcionam remete ao
dispositivo de ajuda mútua, potencializado quando uma rede social é forte e
integrada. Quando nos referimos ao apoio social fornecido pelas redes,
ressaltamos os aspectos positivos das relações sociais, como o compartilhar
informações, o auxílio em momentos de crise e a presença em eventos sociais. Um
envolvimento comunitário, por exemplo, pode ser significativo fator
psicossocial no aumento da confiança pessoal, da satisfação com a vida e da
capacidade de enfrentar problemas. Na situação de enfermidade, a
disponibilidade do apoio social aumenta a vontade de viver e a auto-estima do
paciente, o que contribui com o sucesso do tratamento (Minkler, 1985).
Estar
sempre disposta a socorrer e criar vínculos e laços. Já a ajuda, é um auxílio
momentâneo, ou seja, naquele momento. Por exemplo, você está precisando que um
colega de classe coloque seu nome no trabalho de engenharia, porque seu
computador está na manutenção e você não tem como fazer a sua parte do trabalho.
O que ele está fazendo? Te ajudando. Ou seja, não é algo constante como uma
rede de apoio. Parece que muita gente confunde rede de apoio com ajuda. É possível
a minha família ser minha rede de apoio? Bem, depende muito de que como agem os
membros da família. Pois é mais fácil repetir a ajuda do que realmente servir
de rede de apoio ao outro, porque não exige responsabilidade e compromisso
longo, pois na ajuda tudo é temporário para aquele momento e na rede de apoio
foge a temporalidade, preferem repetir a compulsão a repetição da ajuda. [...] Freud no seu texto
“Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Fazendo
um paralelo com o que foi falado sobre ajuda e rede de apoio, podemos concluir
que a família, é mais uma ajuda do que uma rede em si. Por outro lado, é
possível sua família ser seu apoio, mas é um pouco mais complicado neste caso. Existem
muitas pessoas que têm apoio da família sem que seja cobrada posteriormente por
isso, sendo essa a razão da rede de apoio. A mesma coisa com cônjuges ou
namoradas(os), todos podem te apoiar, de certa forma, porem como dito acima,
deve ser algo constante que você possa realmente contar. Contudo, chamo a
atenção para a rede de apoio familiar. Até onde a família está pré-disposta a
amparar um ente com transtornos psíquicos, um parente desempregado, um ente que
sofreu violência doméstica ou abuso sexual ou no caso de um quente querido com
doença terminal.
Percebo
que quando se trata em acolher o outro que se encontra desamparado em
detrimento de circunstâncias problemáticas, as pessoas procuram através do
mecanismo de defesa da fuga, fugir [medo] ao máximo em assumir
responsabilidades ao agirem como rede de apoio para o outro. Pois exige
compromisso, comprometimento e vínculo afetivo, alguns estão apenas dispostos a
receber do outro o vinculo afetivo, o compromisso, o acolhimento e não querem
retribuir, pois a retribuição exige a responsabilidade, a aplicação da empatia
sem cobrar o outro. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e
será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma
situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Empatia
caso você não saiba ou se já sabe, é colocar-se no lugar do outro imaginado que
está sentindo o seu sofrimento naquela situação, entretanto compreendendo que
não é o outro optando pela escolha em acolher o outro na responsabilidade em se
tornar sua rede de apoio ou simplesmente ajuda-lo naquele momento sem assumir
compromisso longo.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA.
HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
GIDDENS
A 1991. As conseqüências da modernidade. Editora Unesp, São Paulo.
MINKLER M 1985. Building supportive ties and sense of
community among the inner-city elderly: the Tenderloin Senior Outreach Project.
Health
Education Quarterly12:303-313.
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