Janeiro/2020. Escrito por Ayrton Junior - Psicólogo
CRP 06/147208
O presente texto chama a
atenção do leitor(a) a reflexionar sobre as ações consciente e inconsciente ao
se deparar com a escassez das janelas de oportunidade no mercado de trabalho e a
responsabilidade sobre suas escolhas que o leva a ficar decepcionado consigo
mesmo. Oportunidade significa uma ocasião favorável, ensejo, conveniência,
representa a qualidade de oportuno. Uma oportunidade é vista como um
acontecimento oportuno capaz de melhorar o estado atual de um indivíduo,
exemplo emocional, financeiro, realização profissional e outros, por tanto uma
situação nova que traga benefícios, ou seja, a condição de êxodo de uma
circunstância desfavorável, de desprazeres. Uma oportunidade de emprego é uma
possibilidade de trabalhar em troca de uma compensação financeira. Da mesma
forma, uma oportunidade de especialização em qualquer profissão consiste em uma
situação favorável para iniciar uma especialização. A expressão sentido de
oportunidade significa a capacidade de fazer uma coisa adequada no momento
oportuno.
Agora
as janelas de oportunidade são períodos raros, em que várias condições
convergem numa combinação incomum, criando ambientes perfeitos para grandes
transformações. Com começo e fim bem definidos, essas oportunidades podem levar
pessoas e países a novas e promissoras dimensões se acionados na hora certa e
do jeito certo. O termo oportunidade serve para definir o momento ou a ocasião
propícia para fazer ou aproveitar algo. Por exemplo: Uma pessoa deseja trabalhar.
Enquanto anda à procura de um emprego que vá ao encontro das suas necessidades,
tem conhecimento de que um site de vagas de emprego anuncia uma vaga que está
um pouco fora de suas qualificações, mas assim mesmo se candidata a vaga.
Trata-se,
portanto, de uma oportunidade para o desempregado agarrar. As oportunidades
surgem em certos momentos da vida e devem ser aproveitadas para evitar
quaisquer arrependimentos posteriores. Muitas vezes, há pessoas que se lamentam
por terem desperdiçado uma oportunidade pelos mais diversos motivos. O importante
é, por conseguinte, estarmos atentos às oportunidades que se apresentam em
qualquer âmbito e analisá-las para determinarmos qual é a opção que nos for
mais conveniente. Fala-se de oportunidades laborais ou profissionais para fazer
referência às chances que tem uma pessoa para melhorar a sua situação no
trabalho.
Uma oportunidade laboral pode ser a
possibilidade de uma promoção, uma oferta de contratação ou a proposta de
iniciar um novo empreendimento ou projeto. Exemplo, a secção de oportunidades é
a zona de um estabelecimento comercial [loja, supermercado, etc.], onde se
estão expostos artigos cujo preço de venda é mais baixo do que o habitual. Já a
secção de janelas de oportunidades de vagas de emprego no mercado de trabalho [concessionárias
de automóveis, empresas, escritórios, shoppings, supermercados, organizações,
instituições, escolas, universidades, hospitais e outros]
Talvez
não haja falta de janelas de oportunidades de emprego, contudo sim falta de
conhecimento sobre as oportunidades que já existem. Com um pouco de vontade de
se informar e de pesquisar, é possível notar oportunidades que a maioria não
consegue perceber e tentar se adequar a elas. Mas será que as janelas de
oportunidades que se apresentam no momento em que for feito a pesquisa atenderá
as exigências e quesito do profissional ou apenas está de acordo com as
exigências do contratante. Compreendo que todas as janelas de oportunidades que
se apresentam no mercado de trabalho são para profissionais específicos a elas.
Por tanto existe uma escassez das janelas de oportunidades, mesmo que um
profissional de outra área faça a escolha por uma determinada janela, ainda
assim não conseguirá essa oportunidade.
Neste
interim para onde as suas escolhas estão te levando? Toda escolha resulta em
consequências, sejam elas positivas ou não, porém não se deixe paralisar pelo
medo de ter, ou não, feito a melhor decisão ou ainda não enxerga a janela de oportunidade.
Hoje no mundo contemporâneo somos livres para ser e fazer o que quisermos.
Temos o poder da escolha, o livre arbítrio, o que pode nos levar a infinitas oportunidades/
e ou possibilidades, e por isso mesmo passamos a ter dificuldade em escolher,
ficamos sempre na dúvida, perdidos em nossas escolhas, ficamos sem direção e as
vezes optamos por seguir um modelo pronto, aquilo que achamos correto.
O
outro faz e dá certo, então tenho que tentar, pois é o melhor para mim também,
assim acreditamos. O que você está fazendo com as suas oportunidades ou vontades
próprias? No início do século passado, vivíamos uma imposição, éramos obrigados
a seguir a escolha do outro [nos casar, optar pelo mesmo caminho dos pais,
seguir a mesma religião] e hoje que nos julgamos mais livres fazemos o mesmo, reproduzimos
um modelo as vezes religioso, vivemos como robôs, fazendo sempre a mesma coisa,
procurando cumprir o que nos é imposto pela sociedade, pela religião, pelos
pais e o que vier a sua mente agora.
Somos
uma cópia, a imagem e semelhança de alguém! Fazemos conforme a vontade do outro
ou de Deus, novamente! Não tenha medo de ser e fazer diferente, arrisque, seja
você. Muito melhor é ter tentado, do que esperar a oportunidade perfeita e não
fazer. Claro
que há coisas que podem e são simultâneas, embora elas não nos dão angústia
porque não exigem decisão. É a escolha que nos angustia que nos tira do centro,
que nos faz repensar valores, prioridades, responsabilidades. É para isso mesmo
que vivemos o dilema das decisões, para nosso autoconhecimento. [...]
Em
sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão
a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
O
desconforto da escolha nada mais é do que um chacoalho para sairmos da zona de
conforto já conhecido e muito habitado e nos aventurarmos a olhar um cenário
mais amplo da vida. Há todo um potencial contido em cada escolha de
oportunidade. As coisas talvez não corram do jeito que imaginamos e até podemos
concluir que a oportunidade escolhida foi um erro; porém, de fato, toda
oportunidade nos ajuda a compreender um pouco mais dessa habilidade incrível
que é escolher.
Seguir
em frente, aprender e, às vezes, até refazer o percurso o que nunca é um
retrocesso é sempre um jeito novo de enxergar, com mais inteligência, depois de
um percalço, de um desafio, de um conflito ou de um insucesso. Tudo é apenas oportunidade
para novos e ainda mais amplos horizontes. E a chave para abrir esse portal de
oportunidades são as escolhas. Cada decisão nos leva a novos conceitos sobre
quem somos e o que queremos, mesmo que nossa escolha seja manter tudo como está
e isso fala mais de nós do que imaginamos.
Para
isso a responsabilidade é responder com habilidade, é habilidade para
responder. Essa responsabilidade que estou dizendo, nada tem a ver com pagar
contas na data certa, cumprir suas tarefas diárias, chegar pontualmente nos
compromissos. Estou falando de uma responsabilidade pelas nossas escolhas,
mesmo quando achamos que as escolhas não são tão nossas assim. Então, antes de
falarmos em responsabilidade, vamos falar de escolhas de oportunidade: 1. Eu
escolho atuar como retificador plano, por tanto abro mão da profissão de
técnico em mecânica. 2. Eu escolho atuar em telemarketing, então eu abro mão de
ser técnico em mecânica. 3. Eu escolho ficar solteiro, então eu abro mão de
construir uma vida com alguém, ter uma família. 4. Eu escolho ser autônomo, eu
abro mão de uma segurança que teria em uma empresa e de seus benefícios. 5. Eu
escolho trabalhar em uma empresa, eu abro mão de ter mais autonomia e liberdade
em minha vida.6. Eu escolho comprar um carro, eu abro mão de usar o transporte
coletivo urbano.
Não
quero dizer qual destas escolhas é melhor ou pior, mesmo porque cada um sabe da
sua vida [ou deveria saber, não acha], e sim para mostrar que se eu escolho
alguma coisa, renuncio outra, automaticamente e inconscientemente não reflito
sobre. E quando digo automaticamente, é como autômato mesmo, pois por vezes nem
percebemos essa renúncia, e aí é um passo para um dia jogarmos na cara de
alguém a renúncia que fizemos, pois a sensação é de que o outro que fez a gente
perder alguma coisa ou oportunidade.
É
muito importante termos consciência de nossas escolhas, mas talvez mais
importante ainda, é termos consciência de nossas renúncias. Só sabendo do que
estamos renunciando podemos ter plena consciência do que estamos escolhendo. E
só assim podemos nos responsabilizar plenamente pelas nossas vidas. Se tivermos
essa consciência, quando formos reclamar de algo, devemos parar e pensar se
escolhemos a situação pela qual reclamaremos. Se sim, reclamamos para quem?
Para quê? Isso faz com que aos poucos, percebamos que escolhas e mudanças que
devem ser feitas por más escolhas no passado, são absolutamente nossas e
ninguém nunca deve ser responsabilizado por isso, nem aquele seu chefe que te
trata mal, porque no fim a escolha de estar naquele emprego também é sua que
foi percebido naquele momento como uma oportunidade ímpar.
Enquanto
não escolhemos, tudo é possível é falsa, uma vez que toda escolha anula outras
possibilidades [inclusive, não escolher, que também é uma escolha] e que viver
é um processo de perdas de oportunidades/ e ou possibilidades. Quando se faz
uma escolha por alguma oportunidade, sempre se deixa de fazer outra e,
consequentemente, perde se alguma coisa. Não há como permanecer com todas as
possibilidades de forma contínua.
Pelo
contrário, quando não fazemos escolhas, passamos a seguir por caminhos
estranhos e com o tempo nos tornamos estranhos de nós mesmos. Deixar-se dominar
pelo medo das consequências de uma escolha, apenas impede que façamos as
escolhas que realmente queremos. Até mesmo porque, nunca haverá uma escolha que
seja perfeita, que não traga problemas e dificuldades.
Ou
estamos de acordo com a realidade ou estamos nos mantendo iludidos. Na
realidade, somos obrigados a escolher quando não estamos sendo capazes de nos
manter de acordo com a realidade. Desta forma fica obstruída a percepção da
oportunidade que está aberto bem a nossa frente. Somos, amiúde, levados a
julgar, estabelecendo o que é bom e o que é ruim. Num modelo primitivo de
perceber o mundo, de forma desintegrada. [...] Freud no seu texto
“Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
O
ser humano tem enorme dificuldade em atingir a maturidade suficiente para que
seja possível seguir sua janela de oportunidade, sem esperar recompensas em
troca. Portanto, pela predominância inconsciente do funcionamento mental, como
nos orienta a psicanálise, não nos permitimos ter consciência do nosso desejo e
isso nos faz incapazes de nos tornarmos donos de nossas escolhas. Da mesma
maneira, na ideia de Schopenhauer, que antecedeu a psicanálise, a vontade
imperiosa do corpo não nos permite desejar o que desejamos querer, fazendo que
nossa escolha seja sempre tendenciosa.
Na
perspectiva religiosa, onde a vontade de Deus sobrepõe à do humano, que mesmo
gozando do livre arbítrio, fica subordinado à vida material quando recorre a
suas escolhas. Ou ainda, na lei da natureza que sobrepõe à escolha humana, que
mesmo tentando ousa dominá-la sofre severas consequências. Sendo assim, fica a
indagação; o que realmente podemos escolher? A maioria das pessoas pensam que
são livres em suas escolhas, mas ocorre que não somos livres no sentido puro
quando tomamos determinado caminho ou escolhemos tal oportunidade. Dessa forma,
resta-nos indagar sobre o que se quer dizer com ser livre, sendo que essa
indagação nos levaria a outra, qual seja; o que é a liberdade? E o que seria
ser livre no sentido puro para escolher/ e ou renunciar alguma oportunidade?
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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