Janeiro/2020. Escrito por Ayrton Junior - Psicólogo
CRP 06/147208
A intenção deste artigo é
trazer reflexão ao leitor(a) sobre a percepção visual e a compreensão diante
das circunstâncias adversas e o sentimento de impotência/ e ou incapacidade. A
sensação é a capacidade de codificar certos aspectos da energia física e
química que nos circunda, representando-os como impulsos nervosos capazes de
serem compreendidos pelos neurônios, ou seja, é a recepção de estímulos do meio
externo captado por algum dos nossos cinco sentidos: visual, auditiva, tátil,
olfativa e gustativa. A sensação permite a existência desses sentidos.
Já
a percepção é a capacidade de interpretar essa sensação, associando informações
sensoriais a nossa memória e cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo
e sobre nós mesmos e orientar nosso comportamento. Por exemplo, um som é
captado pela nossa sensação auditiva, mas identificar se esse som é uma voz
humana, uma buzina ou um barulho de algo quebrando, fica a cargo da nossa
percepção auditiva. Da mesma forma, quando eu vejo um objeto captado pela minha
sensação visual, a percepção visual vai interpretar e associar aquela imagem a
um conceito, onde eu posso estar vendo um sofá, um rádio ou mesmo um animal de
estimação ou ainda um emprego.
Por tanto, a percepção é diferente da
sensação. A percepção possui ainda uma característica chamada constância
perceptual. Para os nossos sentidos, cada posição do objeto [perto, longe,
claro, escuro] produz uma imagem visual diferente, todavia para a percepção
trata-se do mesmo objeto. A percepção é apenas uma consequência da nossa
sensação e nem sempre está inteiramente disponível a nossa consciência, pois é
filtrada pelo mecanismo da atenção, sono e emoção. A percepção está ligada aos
nossos cinco sentidos e ainda temos a percepção temporal, espacial e
propriocepção.
Descrevo
aqui a percepção visual, uma das percepções mais desenvolvidas nos seres
humanos e é caracterizada pela recepção de raios luminosos pelo sistema visual.
O princípio do fechamento [Gestalt] é melhor compreendido em relação a imagens
do que a outras formas de percepção. A percepção visual compreende a percepção
de formas, relações espaciais [profundidade], cores, movimentos, intensidade
luminosa.
A
perda de controle sobre o ambiente ou a expectativa de descontrole aparecem
quando a pessoa realizou várias ações para sair de uma situação e não conseguiu
como na questão de desemprego enviar e-mail para vagas de educador social,
psicólogo social, telemarketing, tentou cadastrar-se para lecionar no estado,
tentou outras vagas. A pessoa sofre um desgaste e chega um momento no qual as
forças se esgotam e ela diz para si mesma se tiver que ser, será, pois ela
esgotou todas os modos de percepção visual.
Contudo,
isto não acaba aí. Esse sentimento de abandono costuma acontecer em outras
situações, já que a percepção de controle fica muito alterada. O pensamento é
claro; se não posso mudar nada, para que agir? Se chegamos à conclusão de que o
problema está em nosso próprio interior, automaticamente a diminui. Entretanto
se a situação é resultado de um fator externo, perdemos o controle e ficamos decepcionados,
tristes.
A
impotência aprendida é um processo mental e emocional que nos leva a agir de
determinada forma baseada nos estímulos ou experiências passadas, segundo a
nossa percepção. Ela costuma estar muito presente naquelas pessoas que foram
criadas sob um regime muito autoritário, com castigos frequentes e poucas
recompensas. Quando somos repreendidos constantemente e independentemente do
que fizermos, paramos de responder. Isso também acontece quando estas
recompensas existem, mas são independentes do que fizermos. Por isso a
importância dos prêmios e do momento de oferecê-los quando estamos educando
alguém.
Se
a impotência já estiver demasiadamente instaurada, não que não seja a
aprendida. Para uma ação, da mente, será muito difícil agir de outra forma se existe
sempre uma reação coercitiva. A boa notícia é que mudar este comportamento pode
levar tempo, mas o hábito não é impossível. Agora a impossibilidade, é a falta
de forças ou sensação de impotência diante de um evento ou pessoa. Muito comum
sentir tudo isso quando não podemos fazer nada diante de um problema, exemplo crise
de desemprego, crise econômica ou conflito e a solução não está ao nosso
alcance. Esses sentimentos de frustração/ e ou decepção podem levar as pessoas
a se sentirem sem valor, desmotivadas, e, por vezes, sem vontade de continuar a
viver. Se você está passando por algo assim, não vacile, procure o mais breve
possível conversar com um psicólogo sobre o assunto. [...] Freud no seu
texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Os
psicólogos aplicam seu conhecimento e métodos de pesquisa para identificar a
causa da sensação de impotência e auxiliam a pessoa a aprender a ter atitudes e
comportamentos para lidar com a situação. Além disso, o profissional evita que
a vivência de impotência se transforme na vitimização da pessoa, que pode se
encher de complexos e não aceitações. A psicologia consegue fazer, também, com
que o indivíduo aceite o seu limite de impossibilidade quando algo está, de
fato, fora de seu controle como a crise de desemprego e a dificuldade de se
reinserir novamente no mercado de trabalho, por exemplo. Orienta, ainda, o
paciente a olhar para os ganhos e não só para as perdas. Temos que aceitar que
não podemos tudo.
A
sensação de impotência, muitas vezes, é sentida em situações nas quais faltou
atitude à pessoa ou não. Então, ela começa a se culpar, às vezes se vitimiza,
porque algo deu errado e não conseguiu evitar. O ideal é mudar o foco da
preocupação e pensar em como alterar a situação em que se encontra e o que
aprendeu com isso, direcionando a energia libidinal para outra coisa [objeto]. Reflita
sobre a sensação de impotência para que você possa acreditar mais em si e se
sentir mais motivado. As nossas impossibilidades são sinais de que somos
imperfeitos, temos alguns limites e que precisamos lidar com eles diariamente.
Quando
não sabemos como lidar com determinadas situações, o melhor é manter a calma e
aceitar. Olhe para a situação da maneira como ela se apresenta e tente
descobrir de quais recursos precisa, sejam eles materiais ou não. Aceite os
fatos como eles são, sem aversão, sem pessimismo e sem passividade. Isso pode
fazer com que o sofrimento seja menor. Busque construir recursos internos que
favoreçam a construção ou manutenção do equilíbrio emocional, um forte aliado
nas situações difíceis. Procure pensar nas coisas que aumentam a sua
autoestima, pense em tudo o que está dando certo em sua vida.
Pense
nas áreas, nas situações, nos assuntos e nos interesses em que foi bem-sucedido.
Orgulhe-se de si mesmo. Precisamos reconhecer nossos limites, nossas
dificuldades e fraquezas, parar de nos culpar por cada passo em falso ou
problema nas nossas vidas, abandonar a mentalidade de vítima e nos libertar da
carga emocional negativa. Sempre há a possibilidade de superação para a
sensação de impotência caso reconheçamos, em nós mesmos, a capacidade de
responder positiva e construtivamente frente a essas fases, que nos põe à prova
muitas vezes. À medida que vamos superando as adversidades que surgem, sejam
elas grandes ou pequenas, ficamos mais autoconfiantes, seguros e capazes,
resilientes.
Quem
nunca parou para pensar o quanto a vida pode fazer com que a gente se sinta
incapaz de executar as tarefas mais simples? Pequenos desastres e acontecimentos
que não estavam no cronograma podem fazer com que você comece a pensar coisas
ruins sobre si próprio, não é mesmo? Olhar as redes sociais virou uma prova de
que os outros são mais capazes que você. Sem contar aquelas pessoas que estão
vivendo somente para apontar os seus erros, e que você passou a crer em tudo o
que elas falam.
O
organismo reage com pesar sempre que sentimos a perda de algo ou de alguém,
quando não conseguimos alcançar um objetivo a que nos propusemos, e saboreamos
o fracasso. Esse sentimento aparece como que um mecanismo de defesa, como que
um sinal para que não se continue a insistir em algo, que devido às
circunstâncias já está desprovido de propósito. Quando sentimos as nossas
forças se esgotarem-se, quando nos sentimos num beco sem saída, retiramo-nos
para dentro de nós, ficamos num estado de introspecção induzida. Tornamo-nos
pensativos, examinamo-nos. Quando a desesperança se instala, desenvolve uma
vida própria que já pouca ou nenhuma relação tem com as causas iniciais.
Chegamos
a um estado em que já não estamos tristes porque, depois de uma decepção o cérebro
necessita de algum tempo para procurar percursos alternativos, mas simplesmente
porque se instalou o hábito de estarmos tristes. Ficamos com dificuldade em
gerir as emoções, estas deixam de nos servir, pela persistência no tempo, e
viram se contra nós. Tem então início a espiral descendente dos estados
deprimidos e incapacitantes.
Sentimentos
negativos, irracionais e inadequados provocam pensamentos desesperados, que
acabam por exacerbar ainda mais o estado de abatimento em que nos encontramos.
Ao sentirmo-nos sem forças para mudar o rumo à nossa vida, acreditamos que nada
poderá mudar para melhor. É assim que os estados deprimidos conduzem de uma
forma perversa, uma situação em que o nosso desalento nos parece mais que
justificado. Sem dúvida alguma que quem cair neste círculo vicioso não pode ser
feliz. A depressão é a antítese da felicidade. [...] Em sua
obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a
repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade
alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo
para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Estes
estados de abatimento diário não são só incomodativos, como também acabam por
tornar-se em autênticos inibidores do prazer e da alegria de viver. Psicólogos
e investigadores na área da neurologia têm vindo a recolher evidências sobre a
plasticidade do cérebro e sua adaptabilidade infindável. Ele tem o poder de
mudar a sua própria estrutura, permitindo que nós possamos aprender a ser
felizes, mas também aprender os caminhos da infelicidade. Na verdade, tudo
indica que a tristeza profunda, a melancolia extrema e as preocupações
ruminativas não são mais do que um pedaço de infelicidade aprendida.
Para
conseguirmos atuar contra os sentimentos e pensamentos negativos temos de
perceber de onde eles vêm. Atualmente e de acordo com a abordagem da psicologia
positiva, parte-se do princípio de que um estado de abatimento duradouro advém
da experiência de uma situação desagradável e incapacitante para a qual e
apesar de a pessoa se ter esforçado, não foi encontrada uma solução
satisfatória. A pessoa aprendeu que independentemente dos seus esforços para
combater a situação todas as suas ações obtêm o mesmo resultado negativo, estamos
a falar do desamparo aprendido ou impotência aprendida.
Na
realidade, a coragem e a vontade de viver dependem muito mais do modo como
avaliamos uma situação do que da situação propriamente dita. São as nossas
crenças que determinam o que sentimos e como vamos agir em determinada
situação. É modificando/ e ou substituindo estas crenças que podemos mudar o
nosso estilo explicativo para um estilo mais optimista. [...] Formação
Substitutiva A representação do desejo inaceitável é recalcado no inconsciente.
Fica então uma falta que o ego vai tentar preencher de forma sutil e
compensatória. Tentará obter uma satisfação que substitua aquela que foi
recalcada e que obtenha o mesmo efeito de prazer e satisfação que aquela
traria, mas sem que essa associação apareça claramente à consciência.
Esta
tendência para a confirmação pessimista do estado deprimido, tem uma razão de
ser, o nosso lobo frontal, é uma parte do cérebro responsável pelas nossas
memórias e também responsável pelas emoções, ao estabelecer ligações entre os
dois canais de informação [memórias e emoções] gera-se uma tendência que todos
nós temos para recuperar recordações tristes quando nos sentimos desanimados e
deprimidos. É como se víssemos o mundo através de um [óculos escuros], a
tendência do cérebro é manter esse estado de espírito negativo, escolhendo os
estímulos que condizem com a situação emocional vivida.
Pensamentos
obscuros, experiências negativas, acontecimentos traumáticos, fracassos e
recordações amargas adquirem primazia, ocupando a nossa consciência e atenção.
Na grande maioria das vezes, os nossos estados incapacitantes e duradouros,
devem-se a um engano de raciocínio. Entender o sentimento de incapacidade e os
motivos que te levam a se sentir incapaz é o primeiro passo para suplantar esse
sentimento negativo. Por isso, a percepção está intimamente ligada ao
sentimento de incapacidade, associada a impotência aprendida que pode levar a
pessoa a acreditar que não é capaz. [...] Para Lamb (1996), a
incapacidade refere-se a problemas no funcionamento social e no desempenho de
atividades normais da vida diária e de papéis socialmente definidos dentro de
um ambiente particular sociocultural e físico.
Este
equivoco de raciocínio é induzido por uma tendência do nosso cérebro para ser
coerente na produção de pensamentos que comprovam os nossos sentimentos, e
aliado a tudo isto estão as circunstâncias eventualmente desfavoráveis que se
enfrenta, e ainda uma possível ausência de competências de combate à frustração
e resignação. Os recursos psicológicos e sociais de que o indivíduo dispõe são
um caminho na determinação das implicações da incapacidade funcional na vida
das pessoas afetadas. Os fatores psicológicos refletem a percepção subjetiva do
indivíduo e sua avaliação da situação, são importantes na adaptação à
incapacidade, funcionam como recursos de enfrentamento, atenuando a adversidade
de situações estressantes, e auxiliam no manejo do ambiente social e físico.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968.
LAMB, V. L. (1996). A cross-national study of quality
of life factors associated with patterns of elderly disablement. Social
Science and Medicine, 42(3), 363-377.
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