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Sentindo ou Sem-Sentido


Novembro/2019. Escrito por Ayrton Junior - Psicólogo CRP 06/147208
       O presente texto tem a intenção em demonstrar o conceito de Sentido e significado através da Psicologia social. Significado é um fenômeno do pensamento. É como o ser humano expressa seu pensamento através da linguagem, associando um pensamento a um objeto. O homem se torna um ser social a partir do significado que dá às palavras. Os significados são produções históricas, sociais, relativamente estáveis e, por serem compartilhados, são eles que permitem a comunicação entre os homens, além de serem fundamentais para a constituição do psiquismo. Portanto o significado é uma consciência social [coletiva].
O sentido é a subjetividade pessoal que cada um atribui ao significado das palavras. Tudo o que a consciência individual agrega à palavra, internalizando os significados sociais e transformando-os em sentido individual. Porquanto, o significado é estático e o sentido é mutável de acordo com o fator psicológico que atribuímos à palavra. Por tanto, sentido é um agregado de todos os fatos psicológicos que surgem na nossa consciência como resultado da palavra. Um exemplo a palavra automóvel, tem um significado social para cada indivíduo e pode ter um sentido. Automóvel: auto, carro, carroça, calhambeque e outros que você imaginar.
         Já as representações sociais são pensamentos construídos socialmente a partir do contexto no qual o indivíduo está inserido, dentro das condições socioeconômicas e culturais, que refletem nos atos e nas práticas sociais do grupo. Partindo do pressuposto que o pensamento ganha forma através da linguagem, o indivíduo irá se identificar com as representações sociais que expressam sua ideologia, suas emoções e ações. Assim, o indivíduo irá se situar dentro do gênero que representa sua identidade, independentemente de ser macho ou fêmea. Sendo um fator cultural, o gênero atribui os papeis masculino ou feminino, homem ou mulher, independentemente de como o ser biológico se apresenta.
Sentido aqui tratado neste artigo é definido como aquilo que está integrado num todo de valores como membro constituinte ou, por outras palavras, provido de sentido é aquilo que contribui para a realização de valores, o que amplia a função da Psicologia, de ser apenas explicativa para algo compreensivo. De nada adianta a execução de diversas tarefas se aquilo não vier provido de sentido e, a falta deste sentido/ e ou sem-sentido tem promovido diversos transtornos psíquicos nos ambientes organizacionais do trabalho e em outras áreas. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
O sentido da ação motivada, tal como Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise, a viu e descreveu aliás, descreveu-a, no início da sua teorização dentro dos limites daquilo que ele definiu como Libido, e que pode ser rapidamente conceituado como energia vital. Aos poucos a relação de sentido da ação motivada foi se ampliando, até compreender-se a concepção cada vez mais divulgada de que todo o nosso pensamento e procedimento visam a satisfação de determinadas necessidades e adquire o seu sentido a partir de tal necessidade ou desejo. Sob este ponto de vista, todo o procedimento é provido de sentido, uma vez que é determinado por motivos. Mesmo o pensamento e procedimento daqueles que estão em sofrimento psíquico têm sentido, isto é, tem em vista um objetivo, ainda que o sentido dos próprios objetivos seja mal compreendido naquele momento.
No entanto, uma vez que mesmo esse sentido mal compreendido é muitas vezes susceptível de ser interpretado pelo analista, é possível, em muitos casos, ajudar a pessoa a adquirir um melhor auto compreensão e a partir daí um modo de vida mais equilibrado e harmônico. Dentro de uma perspectiva psicanalítica, pode-se afirmar que até aquilo que se sonha é provido de sentido, visto que lhe é inerente uma finalidade dirigida no sentido da satisfação de necessidades. O sentido é a categoria do imaginário que responde ao significante que é do registro simbólico. O efeito de sentido é produzido pela fixação de um significante a um significado.
Ao pegar um objeto e o nomear, constrói-se uma representação desse objeto na própria mente [o objeto é mais ou menos o significante, enquanto a representação que se constrói a partir dele é o significado por exemplo]. Assim, ao se deparar com o nome [objeto] novamente, imediatamente se associa àquele objeto. Essa representação imediata do objeto podemos atribuir o nome de sentido.
Agora em termos biológicos, o sentido da vida é viver, auto preservar-se, manter-se vivo, e se reproduzir, gerar descendentes. Uma compreensão hedonista ainda acrescentaria: o sentido da vida é o prazer. Tudo o que fazemos é em busca de prazer e em fuga da dor, do sofrimento. Mesmo nossos maiores sacrifícios teriam como meta última, seja real ou fantasiada, uma situação mais confortável, a satisfação de algum desejo ou impulso que de sentido. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Contudo, os sentidos universais, impostos pela biologia, não costumam satisfazer o anseio metafísico das massas. As pessoas, de um modo geral, estão perguntando se há uma missão, um plano programado para nossa estadia nesta duração da vida e frágil existência. E não querem ouvir uma resposta que seja negativa. Dizer que não há sentido algum para a vida, neste caso, é ofensa. Ou seja, o sentido da vida é a morte. O sentido da vida é viver e se reproduzir. O sentido da vida é uma construção eminentemente individual.
Cada um atribui o sentido que lhe cabe. A concepção de qual é a finalidade da vida irá variar de pessoa para pessoa [ou de grupos para grupos de pessoas] segundo as circunstâncias, possibilidades, concepções, costumes e sonhos de cada um. Assim, o sentido não é universal, mas particular. Não é dado, e sim construído.
Compreendo que o ser humano não deseja apenas ser livre, ele deseja ser livre para algo, seus objetos ou propósitos, por exemplo. A busca pelo significado/ e ou sentido é vista como um desejo básico do ser humano. Quando a pessoa não consegue atingir o seu [desejo por sentido], suas vidas podem experimentar um abismo de falta de significado.
A liberdade, é definida como o espaço da vida de alguém dentro dos limites das possibilidades dadas. Ou seja, mesmo que não se possa mudar as circunstâncias [como estar em um estado de desemprego, em uma situação de dependência química, em um quadro de enfermidade ou iniciar um trabalho voluntário e em dado momento perceber que o voluntariado perdeu o sentido por exemplo], ainda assim, somos capazes de decidir como reagiremos, como seguiremos em frente, diante dessas circunstâncias que nos deixa sem sentido as vezes para outros objetos, até mesmo com a perda de sentido de viver.


  
Referência Bibliográfica
FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII


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