Novembro/2019. Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
A intenção deste texto é chamar a atenção
para olhar a discriminação na sociedade originada pelas atitudes das próprias
pessoas. Ser invisível é sofrer a
indiferença, é não ter importância. Essa maneira de discriminação está cada vez
mais inserida na sociedade moderna. A invisibilidade social é um conceito aplicado
a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença ou pelo preconceito. O
sentimento de invisibilidade está numa situação que vai contra o senso comum e
a lógica, e é particular à época contemporânea da hiper visualização na qual,
ser visível aos olhos dos outros é quase uma obrigatoriedade.
A invisibilidade profissional, é a espécie de
desaparecimento de um profissional na área da psicologia no meio de outros
profissionais da área da saúde e outras profissões, sendo assim, para com os
outros uma percepção social minada, é a expressão do fenômeno de caráter
crônico nas sociedades capitalistas. Ou seja, a invisibilidade profissional
como expressão/produto dos fenômenos do mundo capitalista: Submeter com
violência psicológica a profissão de um sujeito à de outro sujeito. E o homem é
aquilo que ele produz, e a forma de tratamento das relações humanas segue um
processo no mercado de trabalho. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto
esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir
enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não
pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Perante esta conclusão somos conduzidos à reflexão
diária das cenas em que passamos e nem ao menos nos damos conta e ignoramos o
transeunte, o mendigo, o gari, o morador de rua, o motorista de ônibus, o
médico clinico geral, o advogado, o estoquista do supermercado e todos os
demais que nada produzem para conosco. A invisibilidade profissional, dessa
maneira, não aparece como sintoma social, cristalização histórica de um
desencontro, mas pode apresentar-se à consciência do sujeito como fato natural.
Sendo assim, a invisibilidade profissional é um
fenômeno pelo qual um profissional é intersubjetivamente apagado por outro
profissional. É um processo, onde o ser é tornado invisível por sua
insignificância ou irrelevância aos olhos do outro. Dá para imaginar como deve
ter sido difícil para um profissional empreender seus esforços para adquirir
conhecimento, investir dinheiro na sua formação acadêmica e mesmo morando em um
bairro, numa cidade, mas os vizinhos mal o notavam. Como esse profissional tem
se sentido sozinho, invisível num ambiente com algumas milhares de habitantes
com dificuldade em ser notado, tornar-se visível aos olhares dos habitantes.
Esse
profissional devido as dificuldades de reinserção no mercado de trabalho podem
tornar-se um desalentado. Desde o início da civilização, os indivíduos foram
postos para conviver em grupo, mas tem-se percebido que essa situação está
mudando, ou melhor, mudou de uns tempos para cá. Hoje, com a correria e o
estresse do dia a dia, parece que os seres humanos deixaram de olhar para o
outro e passaram a olhar apenas para si mesmos, esquecem-se o quão é importante
o profissional da psicologia. E neste caso a invisibilidade profissional, é
aquela na qual a maioria das pessoas percebe o outro de acordo com o status
social de seu trabalho atribuindo um valor ou não ao profissional.
Podemos
ultrapassar as barreiras do estereótipo de invisibilidade profissional nos
conectando aos serviços de plantão psicológico a [moradores de rua], atuar como
colaborador em alguma instituição, ofertar o serviço de psicoterapia gratuita,
palestrar palestras gratuitas ou pagas, atuar dentro de uma organização de
maneira remunerada, consultório particular, prospectar clientes, divulgar
trabalhos de psicologia e outras formas. Considero levando em conta que estamos
programados para não enxergar pessoas que são diferentes de nós, seja cultural,
estética, social ou economicamente. O mesmo ocorre com a grande maioria das
pessoas do senso comum, que estão programadas para não enxergar a importância
da psicologia.
No momento em que não estamos reinseridos no
mercado de trabalho, estamos invisíveis aos olhares de algumas pessoas, das
instituições e com isso lutamos contra a nossa invisibilidade profissional.
Você enquanto lê este texto já se perguntou qual a sensação de se sentir
invisível? Como não é ser enxergado pela sociedade? Para profissionais de
diversas áreas, essa sensação se faz presente o tempo quase todo. Mesmo
desempenhando funções essenciais, como varrer as ruas, coletar materiais
recicláveis, dirigir um táxi, muitos trabalhadores são simplesmente ignorados
pela maioria das pessoas devido ao preconceito, estereótipos e discriminação. [...] Em sua obra “Além do Princípio do
Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do
passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que
nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
A
psicologia ainda é percebida de maneira preconceituosa diante de algumas
pessoas, o que torna as vezes o profissional invisível. E esta invisibilidade é
o resultado de um ciclo no mercado de trabalho, causado pela desigualdade e
pelo ato de isolar ou até excluir profissionais com pouca experiência, ser recém-formado,
estar na meia-idade, não ter uma especialização e outros.
Olho
com atenção, a invisibilidade tem como definição concreta, a falta de respeito
e o preconceito que muitos trabalhadores acabam sofrendo, ou seja, profissionais
acabam se tornando invisíveis aos olhos da sociedade capitalista. Enxergo que
alguns indivíduos são colocados como invisíveis por uma questão social ou
hierárquica, mas até que ponto o ser humano está se colocando invisível, pelo
fato de não conseguir reinserir-se no mercado de trabalho ou outros aspectos.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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