Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo tem a intenção de estabelecer relação do leitor a interpretar
suas atitudes na vida, quando se depara em diversos ambientes, seja
organizacional, familiar, amistoso com pessoas que adoram promover a intriga, a
intromissão, a difamação, a indiscrição, o falatório, a calunia, a maledicência
dentre outros adjetivos no que se refere a comportamentos de pessoas e observar
se também não está agindo como um indivíduo que comete o ato de futricar.
O
mexerico não é um fenômeno atual, porém, a propagação da onda do disse me disse
criou uma rede de relacionamentos galgada na incerteza, onde o sentido é
atribuído por qualquer um. Para começar, fofoca se antepõe, classicamente, à
informação dita séria. Fofocar é falar sem prova, normalmente baseado no que
uma pessoa sente, ou melhor, naquilo que quer fazer o outro sentir.
A
característica negativa da fofoca é muito mais comum que a positiva, por uma
razão simples: é exatamente a negatividade que justifica a não publicação
oficial do fato, pelas mais variadas razões morais, deixando e incitando que
ele – o fato – se espraie pela rede do disse me disse. O que quer dizer isso?
Elementar: a fofoca, exatamente por sua característica de incerteza, pede para
ser comprovada e não há melhor comprovação do que aquela oriunda do fofocado,
através de ações do gênero: desmentido irritação, agressão, disfarce.
O
fofocado nunca deve assumir o lugar de condenado que lhe é proposto, assim
fazendo, a fofoca voltará como descrédito a quem a inventou. Para psicanálise
as fofocas e os boatos têm no seu cerne – o ódio, o ciúme e a inveja – que são
dirigidos a instituições ou pessoas, a fim de envenená-las e destruí-las. As
fofocas e boatos são mecanismos defesa de controle social à custa da ruína dos
outros nas relações humanas, um tipo de fascismo que impõe julgamentos morais,
sem direito a defesa.
A
pessoa com ódio pode perder o juízo praticando atos criminosos ou se vingando
difamando e caluniando. O ciúme causa rivalidade, perseguição e maledicências.
Alguém invejoso desperta em si o desejo de prejudicar o próximo com as mentiras
e boatos, como uma forma de diminuir a pessoa de quem ela tem inveja. A pessoa
que fala mal dos outros, espalha boato, fofoca e fica reparando a vida alheia
sofre desequilíbrio psicológico, não tem princípio educacional e é portadora do
mau caráter.
Esse
tipo de sujeito é desequilibrado emocionalmente, perigosa, perversa e não é de
confiança. Muitas pessoas, famílias, grupos, projetos e instituições são
destruídos por causa da fofoca. Há contexto cultural que favorece a promoção do
mexeriqueiro devido à tradição, os costumes e a hipocrisia religiosa. Na sua
neurose de ser aceito no meio social é garantir seu espaço falando mal dos
outros e inventando histórias falsas reproduzindo a compulsão a repetição da
maledicência em todos os ambientes que se faz presente. [...] Freud no
seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a
pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
Na
verdade, essa pessoa vive um vazio na alma, um complexo de inferioridade,
insegurança e uma carência afetiva muito aguda. A ausência de um relacionamento
íntimo eficaz e prazeroso faz dela uma pessoa perturbada que canaliza toda sua
frustração, recalques e traumas num comportamento doentio, indelicado,
inconveniente, falso, mentiroso, de brigas, de inimizades e sem amigos tudo está
conectado, falar demais, fofocar e mentir.
Esta
é a trilogia mitomaníaca ou conexão mortal. Entra aqui o fuxico, futrica,
mexerico, xeretar, bisbilhotice, o ti ti ti e disse me disse. Essa atitude
maligna leva a invasão da privacidade, a criação ou divulgação de relatos
duvidosos, a distorção de fatos com a intenção de expor as pessoas e, muitas
vezes, de prejudicá-las e até levar a depressão e ao suicídio. Quem fala mal
dos outros é bizarro, excêntrico, nojento e violenta a dignidade da pessoa
humana.
O
caluniador não guarda segredo de ninguém e nem os seus. O seu veneno é ver a
infelicidade dos outros já que a sua vida é maldita. E, caso o desrespeitador
venha falar mal de alguém diretamente para você, elogie a pessoa que está sendo
o alvo da fofoca e defenda-a. Para quem sofre o mal da fofoca, existe
tratamento psicológico para se libertar desse vício terrível.
Quem
fala mal dos outros é um insensato, um desequilibrado que vive a crise baixa
autoestima. Possui uma energia negativa e não encontra um sentido feliz para
sua vida. Não é fácil para o fofoqueiro procurar o seu tratamento, mas alguém
que entende do seu desequilíbrio pode ajuda-lo com sabedoria a conduzi-lo ao
consultório do psicanalista ou do psicólogo.
Um
exemplo, no ambiente supermercado o difamador relata em reunião da equipe para
tratar de assuntos na melhoria na qualidade do atendimento ao consumidor que há
operadores que contam moeda no caixa com a gaveta aberta para não atender
clientes e com isso ele fica sobrecarregado atendendo demais os consumidores.
Mas, no mecanismo de defesa ato falho se esquece que também já reproduziu este
comportamento perante outros operadores e os mesmos escolheram não relatar
desveladamente a atitude inadequado do colaborador.
A
intromissor tem a intenção inconsciente de se passar como perfeito isento de
falhas comportamentais na presença da liderança e de outros colaboradores. E a
nítida intenção de denegrir a imagem daquele operador que se encontra na sua
consciência e não foi descortinado para o público na reunião no momento, mas já
foi desvelado para os colaboradores aos quais tem mais intimidade no seu círculo
de amizade. Quer dizer, a calunia já foi estabelecido entre os outros
colaboradores que propagam o boato ocultamente até chegar à liderança.
Outro
exemplo, o murmurador observa que outros colaboradores conversam paralelamente
enquanto atendem clientes lentamente e o mesmo faz uma leitura mental e
interpretação equivocada que está trabalhando mais que os outros e propaga a
fofoca sobre aqueles que conversam no caixa, por estar com raiva desses
indivíduos.
É
preciso trazê-lo à realidade, a uma vida normal, viver de forma saudável, ou
seja, no bem-estar físico psicológico. A terapia vai proporcionar a sua
integração no meio social da melhor maneira possível. Psicoterapia auxilia a
pessoa a uma nova vida. Para quem sofre o mal da fofoca, existe tratamento
psicológico para se libertar desse vício terrível.
A
fofoca nasce da fantasia oriunda da onipotência infantil de conhecer e dar a
conhecer a vida alheia. Saber da vida dos outros, invadir a privacidade, esse é
um dos desejos que sustentam a fofoca.
O
mecanismo de defesa da projeção, na qual a paranoia é projetada, o fofoqueiro
imagina saber o que se passa na vida do outro [assim como o paranoico imagina
que os outros sabem o que vai dentro de si]. Uma hipótese, a fofoca é também um
dizer às ocultas, dizer do oprimido, a fala que não pode ser pública. Ali onde
poderíamos ver a incontinência das mulheres, podemos ver, antes, um modo de
resistência, o medo não desvelado no presente. Diante da milenar proibição à
palavra pública, sobra o recurso à palavra escondida. Há a fofoca sádica,
aquela que visa denegrir, aumenta um ponto no conto inventado para destruir o
outro. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e
será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma
situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
Impossível
não trazer a inveja como parceira da fofoca. A inveja, tal como Melanie Klein a
conceituou: o ódio dirigido ao outro, que visa envenená-lo de todas as formas,
destruí-lo. A fofoca é uma arma de destruição do outro dentro do laço social. O
indiscreto produz uma imagem do outro que visa tornar impossível qualquer
redescrição, qualquer nova percepção que possamos ter de seu alvo. A alienação
pensada enquanto relato metonímico [uma pequena ação do outro tomada como
verdade plena da identidade do outro] ou a pura invenção mentirosa do que o
outro faz e é.
O
objetivo sádico através do mecanismo do sadomasoquista desse tipo de discurso é
mais evidente, trata-se de tirar o filho do outro, golpe narcísico sem
precedentes arrancar do outro aquilo que, na maioria dos casos, ele (a) tem de
mais valioso. E quais as diferenças entre falar mal do outro e julgar o outro,
reconhecer, em análise, os posicionamentos morais de cada objeto de amor que
nos circunda? Matizar o julgamento moral e seu endereçamento ao terceiro: é
esse exercício que a fofoca coloca em prática na análise.
Ou
em outras palavras, não se trata de proibir nossas conversas sobre terceiros
ausentes. É fundamental haver espaço de privacidade no qual possamos conversar
sobre um terceiro com alguém de confiança. Julgamentos morais complexos quase
nunca se constroem em conversas solitárias. A questão está em tornar essa
conversa como condição para incremento de conversas com esse terceiro que foi
alvo de investigação ou crítica.
Um
aspecto mais terrível da fofoca é o que podemos chamar de maledicência, gostar
de falar mal, de inventar mentiras, de caluniar, de ofender ou denegrir. Embora
as razões para tanto possam ser as mais variadas, é bastante provável que as
suas causas profundas residam em aspectos de rivalidade. Rivalidade que, no
fundo, acaba estando relacionada com o complexo de inferioridade.
Fofoca
é o nome dado ao fenômeno comunicacional que ocorre quando uma pessoa fala algo
de outra sem a sua ciência, cujo conteúdo possa ser verdadeiro ou não.
Geralmente este conteúdo pode ser distorcido com o objetivo de difamar ou
infringir algum dano moral à pessoa. Em primeiro lugar, olhemos para o
fofoqueiro, quais seriam as motivações deste tipo de pessoa? [...] Em
sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão
a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Ao
fornecer uma informação sobre alguém, o difamador se coloca no lugar de uma
pessoa poderosa, fonte de informação, consciente ou inconscientemente clamando
por atenção ao se parecer com uma pessoa fonte de credibilidade. Isso nos faz
pensar se, às vezes, o portador da fofoca não possa ser uma pessoa carente da
atenção despertada pela curiosidade daqueles que se interessam pela vida
alheia.
Em
segundo lugar, o futricador pode ser simplesmente um sujeito que também carece
do mal da inveja. Esta que é a vontade de ser ou estar no lugar de alguém. Todavia,
parece que a inveja, na maioria das vezes, é um mal inconsciente fruto da
incapacidade de autoanálise e de lidar com os desejos recalcados de seu
portador. Uma terceira possibilidade aparece no horizonte da análise do
fofoqueiro: Este pode ser uma pessoa que sente a necessidade de experimentar e
de demonstrar poder.
Sim,
muitas vezes esta vontade de poder não muito bem resolvida em uma pessoa, pode
ser levada a expressar-se da maneira mais fácil ou cômoda na vida da pessoa,
que na maioria das vezes é por via verbal. Outro ponto interessante é que uma intriga
pode ser facilmente combatida pelo tamanho da transparência que esta pessoa
possui diante das outras, pois um dos maiores fatores motivadores deste
fenômeno é a existência de segredos, ora, além de saber a quem confiá-los,
combater a fofoca diz também sobre o nível de tratamento que nossa autoestima
possui diante da estima alheia.
Neste
sentido, o que podemos dizer é que, a detratação é um mal para o ser humano na
medida em que este o importa, e na medida em que afeta a sua incapacidade de
resolver a si próprio em relação à estima alheia.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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