Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo instiga a atenção do leitor a observar auando a travessia da
incerteza se torna o momento de aprender. O momento é de olhar para novos caminhos
ou possibilidades e mapear os trajetos mais assertivos. Podemos sintetizá-lo em
vários adjetivos, mas proponho que o entendamos como desafio uma abordagem que
traz a perspectiva de novas possibilidades, aprimoramento e superação. O
fenômeno da incerteza e certeza. O epochê do fenômeno. Estamos acostumados a
olhar sempre para o aspecto que consideramos negativo como no caso a incerteza.
Este
sentimento é carregado de conhecimento e uma condição do que é incerto; estado
de espirito caracterizado pela dúvida e pela indecisão; irresolução e
hesitação. E com isso carregamos a emoção de medo e raiva junto com a situação
pontual. É também uma situação que acreditamos ser possível de acontecer, porém
que não se sabe se ou quando vai ocorrer. Impossibilidade de prever a evolução/
e ou desfecho de certa situação. Ou melhor dizendo, temos um saber insuficiente
de algo.
Por
tanto passamos a não levar em consideração o outro lado da moeda a certeza,
pois mediante o mecanismo ato falho, esquecemos da certeza porque teremos que
investir energia libido de desejo e vontade para desvelar a certeza sobre algum
objeto que desejamos e não conseguimos descortinar no momento por causa do
estado de incerteza.
Enfrentamos
turbulências sem precedentes na história recente pandemia, crises econômicas,
guerra, desemprego, polarizações políticas em diversos países, e todos os
impactos em cauda longa.
No
recorte do mundo corporativo, sabemos o quão intenso tem sido manejar tantas
transformações. Nesse contexto, inevitavelmente, emerge a incerteza um
sentimento que vem aparecendo com frequência em estudos, análises, discursos, e
também na esfera informal, cotidiana. Alguém que você conheça está 100% confiante
sobre tudo? Quem assim estiver, está em desconexão.
Mas,
é possível encarar essa travessia da incerteza com realismo. Distante da
positividade tóxica, tão nociva quanto a insegurança gerada pelo incerto,
proponho olharmos para os novos horizontes possíveis, que nos trazem um
respiro. E fôlego para seguir.
Trazendo
um recorte de uma situação pontual, onde um indivíduo desempregado no momento,
mas com formação técnica em mecânica e formado em psicologia, por estar na
meia-idade vivenciou e experienciou um período de 04 anos desempregado. Este
indivíduo não conseguia emprego na sua formação por existir o preconceito nas
organizações que não contratam pessoas na meia-idade.
Para
o subemprego, este candidato tem conhecimento elevado acima do que é exigido em
algumas empresas. Com isto era frequentemente desclassificado nos processos
seletivos. E quando se candidatava a vagas sem experiencia era também
desclassificado por não ter experiencia em cargos inferiores que não exigiam a
formação técnica.
Quanto
a formação de psicologia era com frequência desclassificados a vagas em outros
campos da psicologia, por não ter pós graduação, especialização ou experiência.
Imagine agora o tamanho da angustia deste ser humano que não era capaz de
conseguir trabalho para seu sustento. Gerou-se uma incerteza na vida deste
profissional que não sabia mais para qual caminho seguir em relação a
profissão. Encaminhando-o a desistir da psicologia e da carreira técnico em
mecânico e de buscar empregos inferiores. Até que logrou um emprego inferior
que não estava na lista de desejos.
Contudo
dentro do desemprego desperta o fenômeno incerteza-certeza, o epochê em
fenomenologia. Ou a reação de aproximação-afastamento, onde tem desejo de
trabalhar, entretanto o medo o mante afastado do desejo de conseguir um
trabalho porque a incerteza não deixa descortinar qual emprego seguir. O
fenômeno medo, traz consigo o epochê medo-desejo. Ou medo como conceito de
desejo. Aquele que tem medo de algo é porque deseja esse algo. [...] Esse
medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
A
epoché husserliana consiste em pôr "entre parênteses" o mundo quando
da apreensão do fenômeno. Dito de outra forma, a epoché consiste numa suspensão
momentânea da atitude natural de olhar observar uma situação pontual a qual
estamos inseridos, com a qual nós nos relacionamos com as coisas do mundo.
O
que significa epoché e qual a sua importância? Suspensão do juízo, que
significa colocar entre parênteses [a situação de incerteza], é a atitude de
não aceitar nem negar uma determinada proposição [situação real] ou juízo sobre
a circunstância. Ou seja, se existe a incerteza, é provável que há a certeza.
Este
sujeito desejava trabalhar, mas tinha medo de voltar a trabalhar em algum
subemprego que por sofrer uma onda de fracasso na psicologia, acabou colocando
a psicologia em segundo plano para não morrer de fome.
E
acaba aceitando por urgência um trabalho no subemprego para a sua sobrevivência
na sociedade. Compreenda que por traz da incerteza sempre existiu a certeza que
iria conseguir trabalhar em algum trabalho, mesmo que não fosse no campo da
psicologia. Este epochê ou compreensão só foi desvelado dentro do novo emprego,
onde a angustia o colocou em movimento para demover-se da situação pontual que
se encontrava na incerteza.
Este
sujeito evoluiu dentro do emprego que é descoincidente de toda sua formação acadêmica
e técnica e não percebeu que estava em estado de evolução em meio ao sofrimento
e angustia. Através do distanciamento psicológico podemos compreender que por
traz de uma situação que se apresenta como negativa há o outro lado para ser
observado e apreender que indica a probabilidade de algo acontecer de bom. Mas,
nos prendemos sempre a compulsão a repetição da dúvida. [...] Freud no
seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a
pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
Mas,
ao ingressar no cargo inferior começou a observar o ambiente organizacional e a
estudar o comportamento das pessoas envolvidas nas tarefas e o fenômeno ali
existente do comportamento de manada nos integrantes da equipe e descortina o
desejo e vontade de exercer e praticar a psicologia social.
Esse
desvelar por meio do fenômeno epochê só foi possível, depois que o candidato
ingressou no trabalho que destoa da psicologia, entretanto passa a observar o
trabalho com a lente da psicologia social, lhe descortinando a certeza por traz
da incerteza.
O
conceito de Rosling repensa, por exemplo, o medo e a urgência. Foram
ferramentas essenciais à sobrevivência dos nossos antepassados, mas, hoje, não
deveríamos estar tão suscetíveis a essas duas sensações. Evoluímos e alcançamos
habilidades e tecnologias que aprimoraram qualidade de vida, agilizaram
processos, reduziram ameaças, escalaram soluções.
Sabemos
que para essa transformação de fato acontecer, a aprendizagem dentro das
empresas precisa ser protagonista e estratégica, capacitando a força de
trabalho para esse novo momento organizacional. E sinceramente não vejo este
comportamento sendo aplicado nas empresas de subemprego que trabalhei e
trabalho atualmente.
Nesse
sentido, destaco 3 lições que observamos: Comunidade de aprendizagem – as
trocas potencializam a aprendizagem; Aprendizagem intencional – o aprender só
acontece quando há intenção, é ela que, de fato, potencializa absorção de
conhecimento, e, por isso, precisamos repensar formatos educacionais top-down;
Aprendizagem como estratégia – não é só dar treinamento, é impulsionar
resultados.
Períodos
como o atual sempre impõem retração. É inerente uma atitude de permanência em
lugares seguros e tradicionais quando estamos em rotas incertas. Mas não podemos ancorar em mares instáveis. É
justamente neles em que não podemos parar. Isso seria permanecer em modelos que
não funcionam e emperrar avanços ricos como os que temos tido em formatos de
aprendizagem disruptivos, modelos de trabalho híbridos, mais diversidade e
intra empreendedorismo. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer”
(1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Para
esse último trimestre, que invariavelmente vem carregado de fechamentos
reflexivos, trazemos uma proposta, encarar o cenário de incerteza como uma
travessia do aprender. Precisamos e podemos aprender a navegar esse momento, os
desafios, as mudanças. E com agilidade e construção conjunta das ferramentas,
para decifrarmos os mapas certos.
Referência Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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