Ano 2023. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo tem a intenção de expor para o leitor que existem finalidades
para a pratica do incesto entre alguns povos. É uma proposta que possibilita
entrar em novos modelos familiares, que Roudinesco, de forma provocadora,
intitula de família em desordem e convida para penetrar nos segredos de
diversos distúrbios. O incesto como um
ato de transgressão cometido sobre o corpo de uma pessoa, com a qual existe uma
relação de parentesco jurídico ou psíquico, isto é, um vínculo de sangue e/ou
simbólico.
O
Tabu é para o homem a expressão de como ele cria um conjunto de meios,
mecanismos e estratégias para lidar com a natureza desde um ponto de vista
amplo, ou seja, sua relação como o meio ambiente, até a sua dimensão mais
individual, fisiológica, biológica, que tem como consequência a explicitação do
ser social que constrói uma ética, uma moral, regras, leis e instituições, ou
seja, toda uma estrutura para objetivar-se em suas relações.
O
incesto é um fenômeno social que permite o desvelar do estudo das relações
entre existência biológica e social do homem, e que consequentemente comprovou
que a sua proibição não pertence exclusivamente nem a um nem a outra enquanto
que efetivamente esta regra se constitui na união de uma existência com outra.
Este
totem pode ser um animal comestível, ora inofensivo, ora perigoso, temido e,
mais raramente pode vir a ser uma planta ou uma força natural como a chuva ou a
água que se acham em relação particular com o grupo. O totem é em particular um
antepassado do grupo/clã, e em segundo lugar seu espírito protetor, o seu
benfeitor. O caráter totêmico é imputado a todos os membros do clã, e este se
transmite hereditariamente por linhagem paternal ou maternal.
O
totem, portanto, é a base de todas as obrigações sociais, maior inclusive que a
subordinação à tribo e ao parentesco de sangue. Para alguns estudiosos o totem
é uma fase necessária e universal ao desenvolvimento humano. Do ponto de vista
psicanalítico, o totem é uma Lei que estabelece que os membros de um único clã
/totem não devem manter relação sexual entre si e, portanto, não devem casar-se
entre si.
Está
é a Lei da exogamia inseparável do sistema totêmico. A proibição totêmica não é
automática, ela é vigiada pela tribo toda, porque aquele que viola as leis é um
perigo ameaçador a toda a tribo. Este perigo vem a ser o que modernamente
conhecemos por imoral do ponto de vista ético. O totem é um hereditário e não
sofre alterações com o matrimônio, portanto, os filhos são do mesmo totem que a
mãe e das irmãs.
O
totem é a família primitiva e estabelece relações de parentesco de sangue e de
parentesco hereditário. Donde o primeiro está submetido ao segundo, como já
afirmamos antes. O caminho que o sujeito constrói na sua vida avança na busca
de subtrair a traição do incesto. O desejo original de fazer o proibido
continua a existir nos povos em que há o tabu.
Eles
têm, em relação a tais proibições, uma atitude ambivalente; nada gostariam mais
de fazer, em seu inconsciente, do que as infringir, mas também têm receio
disso; receiam justamente porque querem, e o temor é mais forte do que o
desejo.
A
questão central da razão de ser da proibição do incesto consiste, assim, antes
de tudo, em se saber por que as pessoas, que estão na posição de pai e irmão,
não podem reivindicar como esposa aquelas que estão na posição de filha ou
irmã. Incesto é a atividade sexual entre membros de uma família ou entre
parentes que possui uma relação de consanguinidade [relações de sangue].
O
tabu do incesto é e tem sido um dos mais difundidos de todos os tabus
culturais, tanto no presente e em muitas sociedades antigas. A maioria das
sociedades modernas têm leis sobre incesto ou restrições sociais em casamentos
estreitamente consanguíneos. Em sociedades onde é ilegal, o incesto adulto
consensual é visto por alguns como um crime sem vítimas.
Algumas
culturas estendem o tabu do incesto a parentes sem consanguinidade, como irmãos
de leite e irmãos adotivos. Parentes de terceiro grau como meia tia,
meio-sobrinho, primo-irmão, em média, compartilham 12,5% de genes, e as
relações sexuais entre eles são vistas de forma diferente em várias culturas,
desde ser desencorajado a socialmente aceitável.
Uma
justificativa comum para a proibição do incesto é evitar o endocruzamento, uma
coleção de transtornos genéticos sofridos pelos filhos de pais com algum
coeficiente de parentesco Tais crianças estão em maior risco de transtornos
congênitos, morte e deficiência física e de desenvolvimento, o risco é
proporcional ao coeficiente de parentesco dos pais uma medida de quão
geneticamente perto os pais são relacionados.
A
atividade sexual entre parentes próximos adultos às vezes é atribuída à atração
sexual genética esta forma de incesto não tem sido amplamente relatada, mas
evidências indicam que esse comportamento ocorre, possivelmente com mais
frequência do que as pessoas imaginam. Relações sexuais entre primos são
estigmatizados como incesto em algumas culturas, mas tolerados em grande parte
do mundo.
Comunidades
como Dhond e Bhittani do Paquistão preferem claramente casamentos entre primos
porque acreditam que assegura a pureza da linha de descendência, fornecem
conhecimento íntimo dos cônjuges e asseguram que o patrimônio não passará às
mãos de estranhos, por isso se repete a compulsão a repetição do comportamento
recorrente do incesto. No Brasil, o incesto se ambos são maiores de idade e não
estão sob ameaça ou violência, é permitido pela lei brasileira, ainda que seja
um tabu moral e religioso, portanto pela lei brasileira o incesto não é crime. [...]
Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que
começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
O
desejo dessas novas famílias surge no meio de diversas alterações da
instabilidade econômica contemporânea, fazendo com que os seus membros mudem de
papel, sem abandonar a forma do agrupamento que sustenta e protege a
humanidade. Bem marcada é a concepção de família como instituição humana
duplamente universal.
Ela
resulta da associação da cultura com a natureza, que passa pela ordem do
biológico na reprodução, assinalando que a própria palavra família encerra
diferentes realidades, tendo, após longa evolução [séc. XVI ao XVIII], chegado
ao modelo nuclear do Ocidente.
A
família persegue o objetivo de uma defesa de vida para a criança com o processo
da educação, desde o cuidado físico, o desenvolvimento da capacidade de
relacionamento familiar e social, a aptidão para atividade produtiva e para a
inserção profissional, a transmissão e a criação de normas culturais destinadas
à convivência em geral.
Os
pais ensinam seus filhos por meio do ato de transmissão dos conhecimentos,
exercendo autoridade e ajudando, assim, os filhos a discernirem a fantasia da
realidade. Dessa forma, passarão a colocar limites para a contenção dos
impulsos destrutivos evitando a autoagressão, que é decorrente das pulsões de
vida e morte, expressos através da fantasia.
Tratar
da violência na família inclui abordar a violência social e econômica, uma vez
que seus reflexos incidem sobre a família, bem como sobre as empresas, escolas
e organizações diversas. A história da humanidade é repleta de atos
considerados violentos e agressivos, já descritos até mesmo na Bíblia e na
filosofia clássica. Jacques Alain Miller diz que se vive num mundo de guerras
permanentes, e o historiador e pesquisador brasileiro Luís Mir caracteriza
esses tempos como época de guerra civil (STOETZEL, 1967).
Com
a perda de antigas referências, pais e filhos encontram-se desorientados quanto
ao papel a ser desempenhado por eles mesmos. Há uma busca dos seus limites,
deveres e direitos, podendo constituir espaço para a violência. A falta de
comunicação e de valores podem ser os primeiros passos de uma crise de poder
que passa a ser um quesito gerador da violência. [...] Deslocamento,
este mecanismo está relacionado à sublimação e consiste em desviar o impulso de
sua expressão direta. Nesse caso, o impulso não muda de forma, mas é deslocado
de seu alvo original para outro. Exemplo, ao ser despedido de uma empresa, um
funcionário leal sente raiva e hostilidade pela forma como foi tratado, mas
usualmente tem dificuldade de expressar seus sentimentos de forma direta.
Quando
ocorre a violência física dentro da família, essa pode ser entendida como uma
ação imposta pelo poder do adulto fragilizado. Como os papéis dos pais não
estão claros, esses se tornam frágeis e transmite para os filhos, também,
insegurança. As famílias aparecem como vários egos, percebidos como pessoas com
estruturas psíquicas diferentes inclusas numa rede vincular (BERENSTEIN, 1990,
p. 54), ou seja, dentro da família, as pessoas relacionam-se
intersubjetivamente, desempenham diversas funções e estão afetivamente
investidas de significado. (GOMES, 2009).
O
incesto é uma situação triangular, com a mãe presente ou ausente. Segundo Cromberg
(2001) enuncia que a mãe também participa da construção do terreno incestuoso.
Há uma cumplicidade das mães em relação aos pais incestuosos. Segundo Barbosa
(2008), as mães (ou função materna) demonstram uma indiferença afetiva, não
apresentam vínculo amoroso e existe uma frieza em relação ao sofrimento e à dor
do filho. São colocados, também, sentimentos de rivalidade e de ciúmes em
relação à criança.
Os
lugares simbólicos de mãe e filho estão trocados. Como não assume a função de
proteção materna, a mãe deixa espaço para a solicitação erótica do pai. Na
violência incestuosa, ocorre uma desorganização psíquica na criança causada
pela confusão de sentimentos relacionados aos membros de sua família. A criança
apresenta sentimentos ambíguos [amor ódio] em relação aos pais e outros
familiares.
É
bastante conflituoso viver em um local em que as posições e os lugares são tão
confusos, que acabam gerando mal-entendidos nas relações. As famílias, em
situação de incesto, vivem histórias de violência e abandono por várias
gerações. Fuks (1998) denomina de transgeracionalidade a situação de repetição
em que uma mãe, abusada na infância, permite o abuso em seus filhos.
A
violência transgeracional é desenvolvida no interior da intimidade familiar e
favorece o segredo, impossibilitando sua ruptura por anos. Segundo Roudinesco e
Plon colocam o complexo de Édipo como uma noção tão central em psicanálise
quanto a universalidade da interdição do incesto, a que está ligado. O complexo
de Édipo é a representação do inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual
ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o
genitor do mesmo sexo.
Essa
representação pode inverter-se e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o
ódio pelo do sexo oposto. Chama-se Édipo à primeira representação, e o Édipo
completo é a mescla das duas. O complexo de Édipo aparece entre os três e os
cinco anos. Seu declínio marca a entrada num período chamado de latência, e sua
resolução, após a puberdade, concretiza-se num novo tipo de escolha de objeto
(ROUDINESCO E PLON, 1998, p. 166).
Não
casar com primo é pecado? casar com primo não é pecado. A Bíblia não proíbe o
casamento entre primos, mas proíbe entre parentes mais próximos. No entanto, é
importante analisar cada caso antes de tomar uma decisão. O casamento entre
primos em segundo ou terceiro grau não é errado, porque já são parentes muito
distantes. O casamento entre primos em primeiro grau é mais controverso e
precisa ser analisado com cuidado.
No
início da humanidade descrita na Bíblia, vemos que Deus criou homem e mulher e
ordenou que se multiplicassem. Nesse tempo a única forma possível de
multiplicação da espécie humana era através do casamento entre irmãos, mais
tarde entre primos e assim consecutivamente. Quanto mais crescia a quantidade
de pessoas sobre a terra, mais era possível que os casamentos fossem com
parentes mais distantes. Nessa época esse tipo de casamento era permitido por
Deus, portanto, não era considerado pecado.
Não
devemos confundir esse tipo de casamento (entre parentes) com os adultérios
que, mesmo antes da entrega da Lei, eram pecados. Apenas suposições que muitos
levantam. Uma delas aponta que, no início, o ser humano tinha uma pureza
genética em seu sangue que não causava problemas mais sérios nos fetos quando
houvesse o cruzamento entre familiares.
Porém,
com o tempo e as misturas genéticas que foram acontecendo, começaram a aparecer
os mais diversos problemas nesse tipo de cruzamento. O fato é que por um grande
período de tempo, esse tipo de união (desde que dentro da moralidade do
casamento ordenada por Deus) não foi reprovada por Deus. Foi nas leis que Deus
deu ao povo de Israel, no tempo de Moisés, que Deus proibiu vários tipos de
uniões, entre elas a união entre parentes, que originou o conceito de
“incesto”, ou seja, um tipo de união ilícita diante de Deus. Na Lei, Deus
deixou claro vários exemplos de uniões que não deveriam acontecer entre o seu
povo, entre elas as uniões com parentes.
O
incesto na Bíblia se refere a relações sexuais entre relações de parentesco
próximas que são proibidas pela Bíblia Hebraica. Essas proibições são
encontradas principalmente em Gênesis 20:11-13, Levítico 18:8-18 e Levítico
20:11-21, mas também em Deuteronômio. A Bíblia condena o namoro e casamento
entre parentes mais próximos. No entanto, não se fala nada especificamente
sobre relacionamento entre primos.
Segundo
a lei de Moisés, em Levítico 18:6-16, é proibido o casamento entre parentes
próximos. Casar com primo em primeiro grau não é listado como incesto e não há
nenhuma regra no Velho nem no Novo Testamento que diga que é proibido. Por
outro lado, depende da nossa definição de parente próximo. Parece que os
israelitas não viam os primos como parentes próximos; era bastante comum o
casamento entre primos em primeiro grau. Mas a Bíblia também não diz se era
certo ou não.
Casais
incestuosos na Bíblia, por exemplo, Abraão e Sara: Eram filhos do mesmo pai,
mas com mães diferentes. Permaneceram juntos até a morte de Sara, aos 127 anos
(Gên. 20:12). Nahor e Milca: O irmão de Abraão se casou com a sobrinha, filha
do seu irmão morto, Harã. Milca é irmã de Ló, que também teve uma relação
incestuosa. Mas sobre essa, a gente fala daqui a pouco (Gên. 11: 27,29). Anrão e Joquebede: Joquebede era tia de Anrão
por parte de pai. Eles tiveram três filhos juntos: Aarão, Moisés e Miriã. Sim,
aquele Moisés, o do Egito (Êxodo. 6:20).
Amnon
e Tamar: Amnon estuprou Tamar. Ambos eram filhos de David, mas de mães
diferentes. Dois anos após o estupro, Absalom, irmão de Tamar por pai e mãe – e
meio-irmão de Amnom – finalmente vingou sua irmã. Para
isso, ele preparou uma festança para a qual todos os filhos do rei David foram
convidados e mandou seus servos matarem Amnom quando ele estivesse muito bêbado
(II Sam. 13:2, 14, 28-29)
Ló
e suas duas filhas [aí são dois casais e uma história bizarra] não é só
incesto, é ménage? Não, cada uma dormiu com o pai um uma noite. Mas poderíamos
classificar as duas noites como abuso sexual. Mas calma, vamos do começo: Ló,
sobrinho de Abraão, morava em Sodoma com sua família. Antes de Sodoma e Gomorra
serem destruídas pela fúria de Deus, dois anjos foram enviados dos céus para
tirarem Ló, sua mulher e duas filhas virgens [a Bíblia não fala seus nomes] de
lá, pois eles não eram pecadores como o resto dos habitantes da região.
Eles
deveriam fugir sem olhar para trás. Mas, a mulher de Ló não resistiu, olhou e
virou uma estátua de sal – pã! Uma vez longe das “cidades do pecado”, Ló e suas
filhas se escondem em uma caverna. E é aí que a coisa perde os limites: as
filhas de Ló o embebedam uma em cada noite – e dormem com ele. Ló não se lembra
de nada. Mas, depois de nove meses, vê o resultado: nascem os netos-filhos
Moabe e Ben-Ami (Gên. 19:30-38). O incesto cometido entre Ló e suas filhas, foi
na intenção perversa das filhas em preservar a linhagem da família de Ló, pois
a mãe já havia falecido.
Em
(Gên. 19.30) A primogênita disse então à sua irmã mais moça: "Nosso pai já
é velho e não há homem no país para ter relações conosco segundo o costume de
toda a terra. Vem, demos de beber vinho a nosso pai e deitemo-nos com ele, e
preservemos descendência a nosso pai." Gên. 19.31, 32. E por tanto as
filhas assumem o papel de esposa levando Ló a gerar outros filhos para dar
continuidade na linhagem transgeracional da família.
A
ansiedade realística seria o medo de alguma coisa do mundo externo [por exemplo
a falta de homens na terra para casar e punição por cometer incesto com o pai].
Desencadearia a ansiedade moral aquela que decorre do medo de ser punido [sentirei
culpa se fizer o que estou querendo fazer que é ter relação com meu pai para
preservar a sua descendência na família, porque não existe homem na família e
sim mulheres]. A emoção da raiva associada ao medo e a culpa desencadeou o
incesto entre Ló e suas filhas, por se verem incapazes de contrair uma união
estável no futuro. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma
desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de
perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162).
Construindo e interpretando o sonho incestuoso seguinte em
que Fulano estava num local com sua prima de segundo grau Cicrana que estava
gravida e ambos estavam casados. E Fulano pergunta a ela porque se casou
comigo, pois nosso casamento dá a impressão para os demais que não dará certo. Fulano
não tem certeza de ser o pai do filho que Cicrana espera e tenta acariciar a
sua vagina, mas Cicrana o impede. Depois Fulano e Cicrana estão caminhando por
uma rua de mãos dadas, onde está acontecendo um arrastão de assaltantes com
revolver nas mãos e Cicrana é arrancada da mão de Fulano e a perde por entre as
pessoas.
Interpretando o sonho incestuoso, no qual o ego [cristão]
tem internalizado no superego a lei religiosa que casar-se com a prima de 2º
grau é pecado e tanto o desejo do ego como do id [cristã], se realizaram,
porque ambos estão conscientes e o incesto é consentido.
Por serem ego e id adultos conscientes não consideram a
pratica do incesto como pecado, nem muito menos um crime para serem punidos,
pois são primos distantes. Ego e id têm noção que só caracteriza crime no
incesto passivo de punição, se ego for maior em idade e id for menor em idade.
A intenção do ego e do id é estabelecer um relacionamento
entre a psique consciente e o inconsciente que gerará por meio do desejo do ego
e do id uma gravidez com o nascimento de um novo ego.
Mas, do ponto de vista jurídico o casamento do ego com sua
prima não tem validade legal. Entretanto o supereu a pulsão de morte tenta
causar separação entre o ego cristão e o id cristã por meio do medo e da
incerteza gerando culpa, ansiedade.
O ego cristão pai incestuoso não se submete a essa lei
primeira, ele abandona seu lugar simbólico de pai e coloca o Id cristão como
seu objeto de gozo, substituindo o lugar genital da mãe faltante. Essa mãe faltante
ocupa um lugar afetivo precário, e essa omissão é, também, muito cruel para o
Id cristã.
Ao permitirem que a satisfação incestuosa seja concretizada,
o ego e o id destroem os limites das referências amorosas infantis gerando uma
desordem na identificação interior na formação de uma família. O ego por meio
do mecanismo defesa regressão, tem o desejo de regredir ao útero materno para
renascer novamente, se tornando um ego dissemelhante do ego pai.
O
limite à sexualidade é o tributo que o ser humano paga para poder viver em
sociedade. Se não fosse assim, haveria briga entre os irmãos pela mãe e pelas
irmãs. Não haveria pacto social, nem haveria lei. A lei não é a única maneira
de manter uma sociedade funcionando. Existem também a moral e os bons costumes.
Lei,
moral e bons costumes, no entanto, nunca impediram alguém a viver como bem
entende, ainda mais quando se trata da sexualidade. Será que a lei deve limitar
as expressões da sexualidade humana entre pessoas adultas? Será que pode
proibir práticas sexuais, por mais estranhas que sejam? Tirar a sexualidade do
campo da lei, da moral e dos bons costumes e, portanto, da culpa, e colocá-la
no campo da ética e da responsabilidade íntima de cada pessoa singular é sábio.
O
complexo de Édipo é a formulação inconsciente, na criança, que abriga um desejo
pelo genitor do sexo oposto e, paralelamente, uma hostilidade para com o do
mesmo sexo relacionada a ciúme. Quando um adulto regride de modo incestuoso,
pode-se considerá-lo como tentando recarregar suas baterias, regenerar-se
espiritual e psicologicamente. Portanto, a regressão tem de ser avaliada como
alguma coisa mais que uma defesa do ego.
Para
uma criança [ou para um adulto incestuosamente fixado em uma pessoa], o
elemento sexual é o registro simbólico de tal estado e sua recompensa.
Refletindo simbolicamente, as duas pessoas que se estariam engajando no ato
sexual representam diferentes partes da psique que ainda não estão integradas.
A relação sexual assinala tal integração e o bebê que poderia resultar
simboliza crescimento e regeneração.
Exemplo,
do sonho incestuoso mencionado em parágrafo anterior, onde o ego mante-se
fixado ao id com o desejo de integrar a psique consciente com o inconsciente na
busca de um crescimento e regeneração. O sonho ilustra o desejo do ego em
tornar-se dissemelhante da figura original do próprio ego, por meio de um
renascimento ou regeneração ao desvincular-se da lei através do ato de incesto.
Para
um adulto, a regressão incestuosa não precisa necessariamente dirigir-se para
uma figura ou uma imagem em particular, embora muitas vezes seja assim [como em
uma paixão]. O estado em que uma pessoa se encontra também assinala tal
regressão serena, flutuante, sonhadora. Este é o estado da rêverie mística ou
criativa que aqueles que estudam os processos dos artistas observaram. [...]Mecanismo
defeso regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um
modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a
ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos
anteriores, reduziram a ansiedade.
Às
vezes a regressão incestuosa se torna uma busca por um tipo diferente de
unicidade poder e controle sobre os outros. Jung sublinhava que era vital
emergir do estado de fusão com um genitor. Isso é tanto uma tarefa de
desenvolvimento comum como, para um adulto, um confronto necessário com as
realidades adultas.
Por
sorte, existem desvantagens no estado de unicidade; este pode ser percebido
como perigosamente devorador e interminável. O tabu do incesto recebeu de Jung
um valor e uma função especificamente psicológicos. Isso além do reconhecimento
de seu papel na manutenção de uma sociedade sadia os relacionamentos conjugais
têm de se realizar fora da família de origem para que a cultura não se estagne
ou regrida. Mas seria um erro ver o tabu do incesto como uma proibição induzida
pela cultura ou superego contra um impulso de incesto natural.
O
impulso de incesto e o tabu do incesto são naturais um para o outro. Responder
apenas ao tabu, mas ignorar o impulso podem perfeitamente sugerir-nos uma
compulsão à consciência, baseada em frustração, que será espúria, seca, intelectual.
Por outro lado, agir pelo impulso e ignorar o tabu levam a uma valorização do
prazer imediato e da exploração da vulnerabilidade da criança pelo genitor.
Entretanto, em casos de incesto, a criança pode estar capitalizando sobre seu
relacionamento mais que especial com uma figura poderosa.
É
possível que as pessoas se sintam sexualmente atraídas por outras com quem
vivem na mesma casa e, consequentemente, mantêm laços emocionais estreitos. No entanto,
conforme aponta Forward (1989, p. 16), algumas proibições sociais são
essenciais para a coexistência pacífica, sendo o incesto uma das principais.
A
autora chega a dizer que as relações familiares já são complicadas demais sem a
interferência sexual e se o tabu do incesto não fosse difundido, a incerteza do
grau de parentesco entre os indivíduos abalaria os alicerces da estrutura
familiar. Utilizamos aqui o termo incesto consentido para as relações cm alto
grau de, ou seja, as relações entre pai e filho(a), mãe e filho(a) ou entre
irmãos quando ambos possuem consciência e estão de acordo com os atos. As
relações com crianças ou adolescentes menores de quatorze anos ou quando há
qualquer tipo de abuso (físico ou emocional) são desconsideradas por nós.
O
incesto é qualquer contato abertamente sexual entre pessoas que tenham um grau
de parentesco ou acreditem tê-lo. Forward (1989, p. 12) declara que o incesto é
democrático, ou seja, ele pode ocorrer em qualquer nível social e educacional,
tendo como marca o desenvolvimento em famílias perturbadas. Wenceslau &
Strauss (2012, p. 27) ressaltam que, nas relações entre parentes que foram
separados ainda pequenos e se reencontraram como adultos, a relação se constrói
de forma diferente.
Para
os autores, que fazem alguma concessão a uma visão biologista, a atração entre
incestuosos que não tiveram associação durante a infância é muito forte porque
eles se reconhecem. Esse tipo de atração por meio dos traços físicos parecidos,
gestos e até mesmo o cheiro é, segundo os autores, conhecida pela biologia e
ocorre também em outras espécies nas quais os indivíduos se reproduzem com
aqueles fenotipicamente parecidos
O
Édipo, que explicaria o complexo do mito de afirmar os autores. Como não foi
criado pelos pais, Édipo não criou uma aversão sexual à mãe, e quando se
encontram são atraídos pelas semelhanças fenotípicas entre eles. Esses desejos
incestuosos existem em todos nós, mas os negamos inconscientemente. Forward (1989,
p. 22) afirma que é impossível escapar desses desejos.
Para
a autora, eles estão na origem de toda a psicologia humana, como veremos mais
adiante com Freud. A única forma de a civilização resistir à atração sexual
genética seria o tabu do incesto. Para melhor entendermos o incesto consentido,
temos que compreender o tabu da proibição do incesto e a sua origem. Para isso
é necessário recorremos a Freud (2013). Segundo o autor, o tabu se divide em
duas direções opostas: santo, sagrado e perigoso, impuro, proibido.
Sendo
assim, o tabu exprime-se em proibições e restrições. Freud cita Wilhelm Wundt
quando afirma que o tabu é o código de leis mais antigo da humanidade,
considerando que o tabu é anterior a qualquer religião. Ainda assim,
esperava-se que a punição pela quebra do tabu viesse automaticamente do poder
do divino.
Na
medida em que logicamente, essa punição não vinha, a própria humanidade assumiu
a responsabilidade pelos a atos infratores, explica Freud (2013). O tabu seria
então toda restrição a que se submetem os povos. Isso ou aquilo é proibido, não
sabemos porque, também não lhes ocorre fazer a pergunta, eles apenas as cumprem
como algo óbvio, e então convencidos de que uma transgressão será punida
automaticamente, de forma severa.
Isto
demonstra que o ser humano age de modo alienado em algumas situações,
principalmente no quesito religião, pois toma como certo a pregação de púlpito
sobre o incesto sendo pecado e não analisa os aspectos relacionados ao incesto,
levando em conta a cultura de um povo. Pois o incesto foi introjetado no
superego como sendo pecado e de passível de punição de pronto.
Os
tabus brotam na origem dos instintos humanos, no temor aos poderes demoníacos
pulsão de morte não está abolida e sim reprimida e se a proibição cessasse, o instinto
alcançaria a realização. E quando isso ocorre o indivíduo viola o tabu e se
torna o próprio tabu, pois pode levar outros a seguir o mesmo caminho. O
casamento entre primos também possui sua origem no tabu do incesto, explica
Lévi-Strauss (2012, p. 181).
Logo
que não podem ter as mulheres da família, o casamento entre primos as mantém
próximas e garantem que os bens continuem na família. Posteriormente o casamento
entre primos também é proibido e acaba ocasionando o casamento por troca
restrita [mulher por mulher] e mais adiante a troca generalizada, no qual o
matrimônio se torna algo semelhante a uma venda [o preço da mulher depende da
sua categoria], esclarece o autor. A troca liga os homens entre si, superpondo
os laços naturais.
A
convivência familiar durante a infância enfraquece a atração sexual entre eles
e explicaria a aversão ao incesto, conforme Holanda (2017, p. 289). De acordo
com essa tese, parentes próximos separados ainda na primeira infância possuem
mais chance de terem relações consentidas. Como consequência de movimentos como
estes, as crenças da igreja são espalhadas como verdades absolutas que devem
ser respeitadas.
De
acordo com Saffioti (2003, p. 291) acredita que os indígenas brasileiros
sofreram grande influência cristã para proibir os casamentos consanguíneos, já
que em hordas isoladas da Amazônia era comum o incesto entre irmãos. Devido à
forte influência da religião na cultura, ela interfere na vida de todos os
indivíduos, participando ativamente da formação social do homem. Até mesmo
aqueles que não seguem nenhuma religião são afetados pelos valores religiosos.
O
incesto era cometido com a intenção de preservar a cultura e tradição dos povos
indígenas. E neste caso avaliam o incesto como transgressão independente da
cultura de um povo. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer”
(1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram.
A
ciência demostrou que os filhos que são fruto de relacionamentos incestuosos
são mais propensos a desenvolver fragilidades genéticas. Então, do ponto de
vista genético, o incesto é inconveniente para a raça humana. Se o incesto
tiver sido com a figura masculina, pode acontecer de jamais desenvolver um
relacionamento de entrega profunda com um homem, e o horror de si mesma tende a
fazer a projeção de hostilidade, dificultando até relação de amizade com outras
mulheres.
Embora
se o incesto ocorreu com uma figura feminina é capaz de desenrolar uma relação
de não entrega com uma mulher, que tende a projeção de agressividade,
contrariando a convivência de bem-querer com outros homens.
Se
na infância o incesto foi assustador, na adolescência pode entender que o sexo
é a representação simbólica do incesto e sentir profunda repulsa por ele,
bloqueando suas emoções e seu corpo físico, evitando sensações genitais. Craig
Buck ensina que pode haver um efeito rebote, onde a pessoa não mais encontra
prazer no sexo e, como forma de autopunição e auto degradação, pratica o sexo
com grande quantidade de homens, podendo tornar-se promíscuas, enquanto
procuram de forma simultânea, o afeto do ente querido. Confundem amor, culpa e
sexo e, com muita frequência acabam sendo usadas como objetos sexuais
O
incesto é uma ação de transgressão realizada no corpo de uma pessoa com relação
consanguinidade de primeiro grau ou com vínculo simbólico semelhante. É o que
coloca uma proximidade entre Lei, Transgressão e Desejo. É a violação do tabu.
Pode-se dizer que na lei há um desejo antagônico, um desejo que faz objeção à
lei. É uma condição estrutural da cultura, da civilização. Isso é uma
invariância; é observado em todas as culturas. Os elementos da estrutura podem
mudar, mas a estrutura do interdito permanece universal.
Falceto
e Waldemar (2013) e Pincus e Dare (1987) discutem a importância de se
considerar a família de modo integrado, não bastando analisar e compreender os
indivíduos que a compõem. Referem-se à família e às interações mantidas entre
seus membros considerando também o entorno social.
Essa
posição teórico metodológica permite estudar os papéis que os membros de uma
família atribuem uns aos outros, de forma consciente ou inconsciente, porque a
família inteira se estrutura sob a influência deles. A vinda de um bebê
instaura uma espécie de drama familiar no qual existem dois protagonistas, que
são o recém-nascido e a sua mãe, além de um ator coadjuvante imprescindível: o
pai.
Embora
nos últimos anos os papéis paternos tenham sido progressivamente mais reconhecidos
pela família, pela sociedade e pela comunidade acadêmica psicanalítica, quando
o bebê nasce, a ênfase tem sido dada à relação mãe-bebê. Entende-se aí a
importância de um terceiro, que no ideal de família seria o pai, para pôr
limites nesta relação, que, se perdurar por tempo maior que o necessário,
torna-se também abusiva e pode prejudicar o desenvolvimento saudável da
criança.
O incesto [sexo entre os pais e os filhos], se
ambos são maiores e nenhum está sob ameaça ou violência, é permitido pela lei
brasileira, ainda que seja um tabu moral e religioso. Mas, do ponto de vista
jurídico, ele jamais gerará uma união estável, ainda que os envolvidos queiram
criar tal união. Isso porque, ainda que a conduta não seja delituosa, ela é
rechaçada do ponto de vista cível, que não quer que pais e filhos, através de
um relacionamento sexual entre si, constituam famílias ou relações similares à
família (a união estável).
Isso
porque esse tipo de relacionamento criaria uma enorme instabilidade jurídica.
Por exemplo, no caso da matéria acima, se o homem morrer, a filha herdaria seus
bens como filha ou como parceira? Os seus filhos seriam tratados como netos ou
filhos dele? E para evitar essa confusão, a lei civil é clara, eles jamais
podem criar uma união estável, e ela sempre permanecerá na posição de filha. Em
um incesto, se a relação se torna estável, as pessoas serão tratadas como
concubinas (concubinato) e não como companheiros [união estável].
Referência
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