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Relação, Tóxica Abusiva

 2021 Escrito por, Ayrton Junior   Psicólogo CRP 06/147208

         Mediante este texto pretendo descortinar os relacionamentos com chefes, supervisores, pastores, namoradas, casamentos, pais e filhos, mães e filhas e outros como se livrar deste tipo de relacionamento, onde esses sujeitos sadomasoquistas estão envolvidos. Exemplo, um casamento, onde o esposo está na posição de sadomasoquista e a esposa masoquista e os filhos sofrem devido a esta relação abusiva. O esposo quando era criança foi criado em ambiente hostil, onde a figura materna assumiu o papel de sadomasoquista rejeitando o filho algumas vezes, ou seja, não lhe dando o amor materno que concebia em sua consciência e que também foi aprendido com a mãe e reproduzindo este comportamento. A mãe não cumpriu o papel de protetora, cuidadora assumindo a responsabilidade do filho. O perigo é perceber que os netos, podem reproduzir esse comportamento disfuncional abusivo no futuro com suas namoras e ou esposas.

Parece que o medo da perda do objeto esposa, faz com que o sadomasoquista lhe imponha sofrimento e dor através da violência física e verbal, pois percebe a esposa como a figura materna, projetando sua raiva, dor sobre a figura. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.

O mecanismo de defesa deslocamento, deslocando a raiva que seria direcionada a figura materna para a esposa. É triste, mas o esposo que foi educado num ambiente hostil, de sadomasoquismo, desrespeito, relação entre filho e mãe abusiva e as vezes nem pessoas intelectuais com formação em psicologia, teologia podem fazer alguma coisa, mesmo com tentativas de orientação e informação, pois não tem como impor o ajuste de comportamento aos membros se ambos não desejarem a alteração. [...] Mecanismo de defesa do deslocamento, Este mecanismo está relacionado à sublimação e consiste em desviar o impulso de sua expressão direta. Nesse caso, o impulso não muda de forma, mas é deslocado de seu alvo original para outro. Ex: Ao ser despedido de uma empresa, um funcionário leal sente raiva e hostilidade pela forma como foi tratado, mas usualmente tem dificuldade de expressar seus sentimentos de forma direta.

A forma como uma pessoa se comporta num relacionamento afetivo é o reflexo da forma como ela se percebe. Normalmente, as vítimas de relacionamentos abusivos aprenderam, em alguma fase da vida ou ao longo da vida, que isso é normal e aceitável. Provavelmente, essa pessoa tenha vindo de um contexto familiar desajustado, onde, dentre outras disfunções, presenciava o pai bater na mãe, a mãe agredir o pai, por exemplo. Ela aprendeu a associar o amor à dor e ao desrespeito, então, ainda que ela adquira esclarecimentos teóricos sobre a forma saudável de se relacionar, aquilo que ela viveu na prática ainda terá um peso gigante na sua percepção.

As vítimas de relacionamentos tóxicos não se percebem como pessoas dignas e merecedoras de afeto e respeito. No geral, elas não exigem nada do parceiro, no fundo, elas se percebem como inferiores demais para pedir algo ou manifestar alguma vontade. Tudo o que vier será aceito, e, como elas temem muito a rejeição, elas evitam, ao máximo, contrariar o parceiro. Reforçando que a construção da autoestima e a percepção de si próprio como um sujeito digno de amar, de ser amado, de ser respeitado e de ser tratado com dignidade poderá ser reforçado nos bancos das escolas e universidades, porém, essa compreensão será adquirida pelo sujeito no seu contexto familiar, o seu núcleo de referência. Contudo, vale lembrar que, no geral, o histórico de relações abusivas tende a se perpetuar se não sofrer uma interrupção, dessa forma, as vítimas farão novas vítimas, repassando o modelo doentio de se envolver afetivamente aos seus descendentes. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.

Obviamente, uma pessoa esclarecida intelectualmente e com independência financeira terá menor vulnerabilidade no que se refere às relações abusivas, uma vez que ela não terá a dependência econômica como um fator agravante que venha a dificultar a ruptura de uma união tóxica. Mas mesmo que a pessoa seja esclarecida intelectualmente embora esta privada de possuir pagar um aluguel, de manter as necessidades básicas de alimentação, de possuir um wi-fi de alta qualidade e outras coisas esse sujeito pode sim estar inserido num ambiente repleto de conflitos familiares, onde reina o sadomasoquismo e o indivíduo permanece ali até ter os recursos necessários para abandonar  a situação ou ainda pode optar permanecer no masoquismo por algo de interesse particular como ao wi-fi a boa alimentação, o sexo, o Netflix e outros.

Embora pareça, para quem observa de fora o relacionamento, a coisa mais simples e sensata a se fazer, muitas pessoas não querem, não podem, não conseguem ou não suportam abrir mão desse ‘tipo’ de relação, pois é justamente aí, nesse “modelo” de relacionamento, que elas  acredite  obtêm maior prazer e satisfação ao lado de sujeitos com atitudes de ladrão, prostitutas, usuários de drogas, machistas e outros que vier a sua imaginação.

Muitas pessoas sentem prazer e satisfação justamente na dor e no sofrimento. E essa atitude, esse comportamento pode ou não ser consciente. Por isso, não é raro elas ou eles buscarem um parceiro ou parceira que faz jus à esta causa. Muitas pessoas sentem prazer e satisfação justamente na dor e no sofrimento. E essa atitude, esse comportamento pode ou não ser consciente. É um relacionamento cujas bases se assentam no sadomasoquismo, onde enquanto um goza maltratando, o outro goza sendo maltratado. E vice-versa. Contudo, quando esses bate-bocas, mal-entendidos e desentendimentos acontecem de modo intenso e recorrente, talvez seja o momento de você se distanciar um pouco e refletir sobre o seu relacionamento.

 

Referência Bibliográfica

FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.

FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII

FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968.

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