Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a perceber como está enxergando as
coisas ao seu redor devido as contrariedades que a realidade apresenta. Não há
como encontrar prazer numa ocupação inferior se o indivíduo cursou uma
universidade e vai trabalhar num cargo que não é compatível com seu perfil
acadêmico. Neste caso o juízo de valor do profissional e a competência pessoal ficam
afetadas, pois estão além do exigido na ocupação inferior. [...] Em sua obra
“Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a
repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade
alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo
para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Juízo
de valor é o julgamento feito a partir de percepções individuais. Ele pode se
basear em ideologias, preconceitos, costumes, valores de natureza moral,
tradições culturais, tendências de personalidade e outros e geralmente consiste
em uma avaliação crítica sobre alguma coisa [objeto, emprego] ou sobre alguma
pessoa. Exemplo, um cidadão tem a formação técnica em mecânica e se apercebe
obrigado a exercer uma função incompatível de telemarketing, neste episódio o
juízo de valor deste profissional técnico baseado nos códigos de conduta e
moral da formação técnica se torna incoerente se comparado ao código de conduta
de telemarketing.
Percebe-se
o preconceito, discriminação e estereótipo no juízo de valor do profissional técnico
ao exercer o cargo inferior de telemarketing, o que reside numa avaliação crítica
sobre cargos inferiores. Percebe-se que se o profissional técnico mecânica
atuar como telemarketing, indica que as competências técnicas estão além das
competências de telemarketing, ou seja, são incompatíveis ou incoerentes, que
são o conjunto de habilidades ou aptidões harmonicamente desenvolvidas e que
caracterizam a profissão específica de técnico, e será por meio do mecanismo de
recalque, reprimida no inconsciente, gerando estresse no profissional. E
manifestam-se aspectos da cultura como juízo de valor e como produção social. [...]
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento
em sua
O
juízo de valor, pode ser visto como algo problemático, pois é possível que o
indivíduo, ao fazê-lo, esteja se deixando levar por suas inclinações pessoais
sem atribuir em suas conclusões o devido peso aos fatos e ao pensamento racional.
Isso
pode levar a julgamentos injustos e permitir que preconceitos consigam se
furtar de exame racional e permaneçam intactos. O juízo de valor tem, porém,
qualidades positivas que devem ser consideradas. Especialmente se o juízo de
valor estiver baseado em valores de natureza moral e ética de aplicação
universal. A verdade é que nossos códigos de conduta, de modo geral, são
baseados em juízos de valor.
E
no caso os comportamentos são a forma como agimos e nos comunicamos, eles nos
mostram características muito úteis e importantes, tais como: Introversão,
extroversão, ritmo, tom de voz, gestão do tempo, atenção a detalhes, interação
com as pessoas, ambiente organizado, conclusão de projetos entre outros. Já o
quanto compreendemos e valorizamos nossas capacidades, habilidades e talentos,
são nossas competências que se dividem em técnicas e pessoais.
É
importante perceber a diferença entre habilidade e competências, pois
regularmente são confundidas. A habilidade é associada ao saber fazer, a uma
ação física ou mental que indica uma capacidade adquirida, já as competências
técnicas, são o conjunto de habilidades ou aptidões harmonicamente
desenvolvidas e que caracterizam uma função ou profissão específica.
Vamos
supor que você tem a formação técnica e vá procurar emprego como técnico
mecânico em uma empresa que faz exigências técnicas, porém acaba não se
inserindo no mercado de trabalho na atual formação. De repente surge a
oportunidade de trabalhar em telemarketing, provavelmente não dará muito valor
ao cargo, pois não é compatível com o entendimento e julgamento de valor de
técnico, na perspectiva de desempenhar a função.
Contudo,
se você oferecer o cargo a um telemarketing, ele provavelmente se interessará
por ele, pois o valor é compatível com o entendimento e julgamento de valor
dele, na perspectiva de desempenhar sua função, ou seja, um mesmo cargo pode
ter diversos julgamentos, dependendo do profissional e da atividade
desempenhada. Ocorre o mesmo com o juízo de valor das competências pessoais,
para se desempenhar um trabalho qualquer, há uma variação para cada pessoa. E o
profissional se posiciona inserido na compulsão a repetição das competências.
[...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em
que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir
enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não
pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
As
Competências pessoais e axiologia, sinalizam que todos somos indivíduos únicos
com personalidades formadas por diversos aspectos, e quando falamos de
competências pessoais, estamos falando sobre a maneira com a qual entendemos,
valorizamos e sentimos diversos aspetos com relação a nós mesmos e ao mundo a
nossa volta, sobre a perspectiva de uma atividade que desempenhamos.
Então
o significado para axiologia seria, o estudo do valor. A axiologia se refere a
um conceito de valor, para entender melhor este conceito, logicamente seria necessária
uma formação específica, contudo vamos tentar definir aqui, de maneira bem
simples, a axiologia voltada à análise do valor das competências pessoais
profissionais. Conceitualmente as competências pessoais são atributos que
permitem que alguém interaja de forma eficaz e harmoniosa com outras pessoas.
As
competências pessoais básicas são comuns a todas as profissões, já as
competências pessoais complementares, podem variar de uma profissão para outra.
O conceito de que a competência técnica é formada por três dimensões
independentes, mas interligadas:
ü Conhecimento,
saber o que é preciso ser feito e por que. [Informação]
ü Habilidades,
saber como deve ser feito. [Técnica ou Especialidade]
ü Atitude,
ter o desejo e a iniciativa de fazer quando é necessário. [Determinação]
Competências
básicas sobre o mundo:
ü Julgamento
ü Controle
emocional
ü Relacionamentos
interpessoais
ü Coesão
com as pessoas, propósito e visão de futuro.
Competências
básicas sobre si mesmo:
ü Autojulgamento
ü Autocontrole
ü Consciência
do próprio valor
ü Engajamento
com as pessoas
ü Identidade
e direcionamento de carreira
Segundo
Marques, Define-se competência como o conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes necessárias para exercer determinada atividade. Dentro do contexto
organizacional, as competências devem agregar valor às pessoas e às
organizações. “As competências técnicas são aquelas obtidas com a faculdade,
cursos, treinamentos, palestras, congressos, livros, entre outras fontes de
conhecimento. Já as competências comportamentais são conquistadas a partir do
autoconhecimento, caminho que proporciona a compreensão e domínio sobre suas
próprias habilidades, capacidades, oportunidades de melhoria e
potencialidades.” (Marques, 2016)
A
competência não é um conhecimento adquirido. Possuir conhecimento e habilidades
não significa ser competente, pois é possível ter conhecimento sem saber
aplicá-lo (BRONCKART; DOLZ, 2004). Logo, as competências não são asseguradas
por diplomas, não são inatas e, ainda, não são totalmente dominadas, já que são
construídas ao longo da vida do trabalhador, sendo formadas com base em
aprendizagem em ambientes formais e informais.
Cito
a funcionalidade do mapeamento de competências usado pelas organizações, que é
contratar as pessoas certas para os cargos certos. Conhecer as competências
técnicas e pessoais dos candidatos a determinado cargo de uma empresa permite
alinhar as características dos candidatos aos valores e expectativas da
empresa, oferecendo um ambiente de trabalho mais coerente, harmonioso e com
melhores resultados. No caso das organizações de telemarketing, parece haver
mínima exigência quando se trata de competência técnica e pessoal dos
candidatos contratados.
O
que indica que se um profissional de formação técnica ou acadêmica, atuando
dentro de um ambiente organizacional como telemarketing, este profissional
estará desalinhado em relação aos valores e expectativas da empresa, pois seu
juízo de valor perceberá o ambiente de trabalho hostil, incoerente,
desarmonioso e os resultados serão insatisfatórios, porque estão em desacordo
com seu juízo de valor e competência.
Assim,
sendo a competência de um indivíduo é composta de cinco elementos mutuamente
dependentes segundo Sveiby (1998):
ü Conhecimento
explícito: O conhecimento explícito envolve conhecimento dos fatos e é
adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal.
ü Habilidade:
Esta arte de “saber fazer” envolve uma proficiência prática física e mental – e
é adquirida sobretudo, por treinamento e prática. Inclui o conhecimento de
regras de procedimento e habilidades de comunicação.
ü Experiência:
A experiência é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos
passados.
ü Julgamento
de valor: Os julgamentos de valor são percepções do que o indivíduo acredita
estar certo. Eles agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo
de saber de cada indivíduo.
ü Rede
social: A rede social é formada pelas relações do indivíduo com outros seres
humanos dentro de um ambiente e uma cultura transmitido pela tradição.
A Psicologia organizacional chama de [CHA] competência, habilidades e atitudes:
ü A
HABILIDADE: capacita fazer mais com menos: ser eficiente [produtividade,
desempenho].
ü A
ATITUDE: possibilita fazer a coisa certa: ser eficaz [qualidade, conformidade].
ü O
CONHECIMENTO: induz fazer o que tem que ser feito: ser efetivo [sustentabilidade,
transformação].
Constata-se
que as vezes o juízo de valor de um profissional o contraria em atuar ou
permanecer atuando num cargo inferior, devido a ideologias, preconceitos,
costumes, valores de natureza moral, tradições culturais, competências pessoais
e técnicas e tendências de personalidade. Sua competência pessoal pode estar
muito além da exigida numa ocupação inferior gerando no profissional desprazer,
por não conseguir aplicar as competências técnicas, que são o conjunto de
habilidades ou aptidões harmonicamente desenvolvidas e que caracterizam uma
função ou profissão específica. Um profissional para exercer um cargo
incompatível com a sua formação, é obrigado a ajustar seu juízo de valor, abrir
mão de sua competência técnica, repensar na competência pessoal e isto tem um
preço alto a ser pago no estado emocional.
Pois,
estes ajustes para este profissional são percebidos como incoerente diante de
seu julgamento, porque exige essa atitude apenas para se manter no cargo
inferior por falta de oportunidade para exercer o cargo compatível. Para que um
profissional consiga atuar em cargo incompatível com sua formação será
necessário que o indivíduo se exima do seu juízo de valor e competência para que
possa ser internalizado no superego um novo juízo de valor e competência
relacionados a organização que está trabalhando.
Sabemos
que diante de um cenário de crise de desemprego, os profissionais não tem
escolha, até porque é uma forma de sobrevivência e adaptação. O equilíbrio
seria o profissional trabalhar em áreas próximas ou semelhantes a formação e
não em áreas muitos afastadas ou desiguais, até como forma de preservar seu
estado emocional e manter a integridade do ego / e ou identidade profissional
intacta.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
MARQUES,
J.R (2016) Competências comportamentais mais valorizadas.
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